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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Hora de reciclar...




Eu (também) sou educador popular. De vez em quando eu me aventuro por esse mundão pra dialogar com pessoas e tentar transmitir algum tipo de informação (como já contei aqui). No caso em questão, no último fim de semana fui dialogar com catadores/as de materiais recicláveis, através de um projeto chamado CATAFORTE, bancado pelo governo e executado pela Cáritas Brasileira do/no Pará. Fui falar com pessoas que estão, talvez, no trabalho que as pessoas menos desejam nesse país, mas que é fundamental para a nossa sociedade. Pessoas que ganham a vida catando e triando o lixo que sai de nossas casas, empresas, escolas, etc. e ajudam a devolvê-lo reciclado. Dessa forma, contribuem para que não fiquemos mergulhados no lixo. Pessoas que, aos olhos de muitos, não tem diferença nenhuma em relação aos mendigos da praça ou aos urubus do ver-o-peso. Pessoas que ganham muito mal (injustamente) e que ainda precisam conviver com o preconceito e a idiotisse das pessoas.

Você provavelmente deve estar se perguntando que tipo de pessoa poderia querer um trabalho desses. A resposta é simples: uma pessoa como qualquer um de nós que não tem, literalmente, ocupação melhor para não morrer de fome. Eu admito que mexe muito comigo a realidade vivida por essas pessoas. No caso desses que visitei em Igarapé-Miri, nem tanto, pois até galpão pra trabalhar eles tem, mas eu já senti dó de ver pessoas trabalhando a céu aberto em lixões, sem proteções mínimas como luvas, máscaras e botas. Me dói mais ainda saber que, por mais incrível que pareça, o negócio da reciclagem é milhonário, mas, por estarem na base da cadeia produtiva, e pelo estigma de serem pessoas que literalmente sobrevivem disso, o preço que recebem por tamanho esforço é ridículo.

Nesse projeto, meu trabalho, basicamente, é transmitir uma palavra de estímulo que melhore a auto-estima deles/as. Já que eles tem esse trabalho, então que eles possam trabalhar com dignidade, em algo que, como já disse, é essencial para a nossa sobrevivência. A missão do CATAFORTE é estimular a articulação da categoria no estado para que saibam cobrar a plena implementação da lei de resíduos sólidos que obriga as prefeituras a despejarem o lixo em aterros sanitários e não mais em lixões e que orienta que cooperativas de catadores façam a coleta do lixo e não mais as empresas que ganham milhões e não fazem o devido tratamento do material, além de retirar os/as catadores/as dos lixões e colocá-los em galpões, devidamente equipados. O sonho nosso e o sonho do Movimento Nacional de Catadores é ver a categoria articulada, para que as prefeituras não utilizem falsos catadores como laranjas para lucrar com o negócio e que, finalmente, num futuro próximo, a categoria domine toda a cadeia produtiva da reciclagem.

Nas conversas que tive com os/as catadores/as esse fim de semana, me contaram seus sonhos. Ninguém sonhava com riquezas, palácios, carros. Tudo o que querem é um lugar digno para trabalhar, segurança pra sua pequena comunidade, que a igrejinha fique pronta e que a cooperativa deles tenha mais apoio do poder público para sobreviver e expandir. Almocei com eles no quintal sob várias árvores e a companhia refrescante do vento. Cada vizinho trouxe uma coisinha pra ajudar. Tomei açaí até me esbaldar (a cidade é uma das maiores exportadoras de açaí do Brasil). Ouvi histórias de caças, de colheitas frustradas, de partos inusitados. Quando eu cheguei lá, assim como qualquer um talvez, eu vi apenas camponeses, catadores, desdentados, mal vestidos, analfabetos, e saí de lá sentindo saudades de pessoas lindas, que apesar da casca maltratada pela ausência plena do estado, possuem cada um/a alguém maravilhoso/a como recheio.

Todas as vezes que forem jogar o lixo de vocês, lembrem de separar lixo seco do não seco. Essa simples atitude pode ajudar e muito os trabalhadores da coleta, sobretudo os que (ainda) atuam nos lixões. Todas as vezes que virem alguém catando material reciclável, pense em como ajudar, pois idiotas para discriminarem, certamente, já há demais. E digo mais: de todas as muitas coisas que tenho feito ultimanente, trabalhar com os catadores é que tem me feito sentir mais útil.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Prêmio Blog de Ouro - eu admiro este blog


Eu recebi do meu amigo Antônio Rosa, done de um dos melhoress blogs da língua portuguesa chamado Cova do Urso este selo. Diz a regra que cada recebedor deve entregar pra mais dez pessoas, mas como para mim as regras foram feitas para serem desobedecidas, eu dou, e quem quiser dar que dê. Fiquei muito hornado com a lembrança e dei para alguns dos blogs que mais admiro. Como não deu pra presentear a todos, trago aqui uma amostra dos blogs que tanto admiro, e de uma lista que poderia ser de mais de cem, trago aqui dez, que exponho de forma aleatória:










quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Jesus não tem votos no país dos falsos profetas

Ontem estávamos meus amigos e eu numa esquina qualquer dessas da vida quando passou um conhecido nosso. Alguém perguntou pra esse um em quem ele votaria, e o cara respondeu que votaria nos pastores da igreja dele. Em seguida questionaram se ele sabia das intenções políticas dos caras, se alguma coisa entre as propostas deles beneficiaria de fato o povo, mas ele desconversou e foi embora. Recentemente, também, um bispo desses aí que nem vou dar o nome pra não dar moral pro cara, disse que nenhum católico deveria votar em Dilma porque ela é a favor do aborto, dando claramente a entender que os fiéis católicos só deveriam votar em quem estivesse de acordo com o código moral(ista) da igreja (ou seja, quem é contra o aborto, o casamento de homossexuais, a separação de casados, etc). Aí, fiquei me perguntando, será que Jesus votaria nos pastores candidatos desse cara? Será que Jesus deixaria de votar em Dilma ou em qualquer um só, e somente só, porque este não se adequasse ao códico canônico católico?

Jesus de Nazaré, como costuma comentar Frei Betto, foi vítima de pelo menos dois processos políticos, e só foi parar na cruz graças a articulação das autoridades judaicas e a conivência oportunista do império romano. Não foi só por ingratidão que a multidão escolheu Jesus para ser crucificado no lugar de Barrabás. Óbvio, que antes daquele momento, as autoridades religiosas judaicas e romanas fizeram uma campanha política contra Jesus. O nazareno ia de encontro a toda forma de autoridade que se valia dos títulos para oprimir a população/ os fiéis em cima de embasamentos deturpados da lei romana e das escrituras sagradas judaicas. Então, obviamente, Ele ameaçava os privilegiados pelas instituições, ameaçava o plano político dos poderosos que quando não tem poder querem dominá-lo, e quando o detém, vendem a mãe para não perdê-lo.

No entanto, apesar de vítima fatal de perseguições políticas, não podemos nos enganar, Jesus foi o maior e o melhor político que já existiu na face da terra, só comparado, nos últimos séculos, pela proeza de Ghandi na Índia. Todos lembram como a morte de Vargas foi providencial para o último trunfo do maior político da história do Brasil contra os adversários; nesse sentido, nunca na história desse planeta houve uma vitória política maior do que a de Jesus ao ser crussificado. Após o evento, os discípulos de Jesus passaram a ganhar mais e mais adeptos no oriente médio e da Europa oriental, ao ponto de, um outro político muito esperto, o imperador romano Constantino, usar o crescimento dos cristãos como estratégia política para não perder as rédeas do poder e do império. Para os cristãos, foi uma mão na roda, pois, de marginal a religião cristã passou a ser oficial, mas para o cristianismo, começou aí toda a excrescência política que os cristãos ainda hoje perpetram em "nome de Deus". A partir desse momento, a religião e o poder jamais largaram as mãos, e foram parceiros em holocaustos e masacres de povos inteiros, como os originários do Brasil e da África, por exemplo.

Nos últimos séculos, as guerras santas, a opressão a pessoas homoafetivas, os conflitos entre protestantes e católicos, tudo isso tem haver com poder - conquista de mais e/ou a manutenção dele. Quando os/as primeiros cristãos/ãs saíam em busca de novos/as fiéis, acredito que era por puro amor a uma causa (também política), mas atualmente, é por arrogância, vaidade e apego ao poder que dá ser "o dono da verdade cristã" que leva as pessoas, até mesmo da própria família, a digladiarem-se por contra de diferenças (frescuras) teologais. Mas o que há de mais podre mesmo nessa história é apego ao poder, ao dinheiro e uso oportunista da fé dos/as religiosos/as nas escrituras, além de acordos entre impérios que oprimem o povo feitos pelas grandes instituições religiosas "cristãs". As igrejas cristãs, como se costuma dizer, são como uma prostituta, abrem as pernas pra quem dá mais dinheiro (e que as putas me perdoem pela comparação).

É claro que eu estou generalizando. Sei que a maioria dos fiéis, se não são de acordo, ao menos são inocentes nessa sujeirada. Já vi muitos fiéis envergonhados de suas congregações, por atitudes nefastas de políticos oportunistas travestidos de pastores. Já vi muito católico envergonhado por ver a autoridade eclesiástica punir severamente os não moralistas e chamar de meninos malvadinhos os verdadeiros safados.  Contudo, "não podemos nos calar diante do que vimos e ouvimos" (At 4, 20), e, não tenho dúvidas em afirmar que todo aquele que luta por poder para beneficiar a si próprio e a suas respectivas instituições, como fizeram os sacerdotes e as autoridades do império a Jesus, ao invés de buscar ser grande servindo mais (Mt 20, 26), como fez o Cristo comete pecado.

Finalmente, não estou dizendo aqui que o cristão ou a cristã não deve se envolver com política (partidária ou não). Como já afirmei, Jesus foi um excelente agente político e politizador. É impossível viver a fé de verdade sem a devida consciência política, pois, política é vida, e ainda que existam no poder políticos que retratam o que há de pior em nossa sociedade, satanizar a política em si é amarrar nossas próprias mãos e entregar o país a quem não é tão burro assim. O que eu estou dizendo é que a diferença entre políticos safados (partidários ou não, candidatos ou não) que são autoridades religiosas para os que não são é que os primeiros me enojam mais.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sinuca de bico

Matheus era um rapaz mais fodido que qualquer um de nós, mas gostava de parecer o tal. Na geladeira dele, o pai marceneiro e a mãe balconista mal podiam colocar ovo, água e cebola, mas ao guarda-roupas do rapaz, não podia faltar roupas de marca; no bolso, sempre o melhor celular da rua. Matheus estava naquela fase mais aborrecente da adolescência. Tudo pra ele era mico. Nem chamar mais de Matheusinho a mãe  podia mais, quando ele estava perto dos amigos.

Como os pais eram assalariados, quase sempre faltava algo para acompanhar o feijão com arroz à mesa deles. Quando acontecia isso, a solução, obviamente, era comprar ovos, a verdadeira comida dos pobres brasileiros. Mas claro que Matheus jamais ia comprar, a não ser que os ovos viessem acompanhado de uma farta compra, o que, nesses almoços improvisados, nunca acontecia.

Certo dia, a mãe de Mathues chegou doente do serviço. Muita febre e muita dor no corpo.

- O que a gente vai comer, mãe?

- Pega cinquenta centavos na minha bolsa e compra dois ovos lá, meu filho.

***

O cara gelou. Normalmente o que faria numa situação dessas era bater o pé e dizer que não ia e pronto. A mãe, sempre complacente, sabia que nem poderia contar com ele pra essas coisas, e sempre ia comprar. Mas nesse dia, Matheus sabia que era diferente, porque além da mãe estar doente, ele estava morrendo de fome, e comer um ovo pra quem está faminto e não tem mais nada pra comer com feijão, arroz e farinha é um verdadeiro banquete.

***

A mercearia ficava bem na esquina. O sol escaldante da Amazônia era completamente inofensivo contra o suor frio do menino. Tudo o que ele queria, era que ninguém mais estivesse na rua. Seu sonho naquele momento era fazer o trajeto de ida e volta da casa até  a mercearia (cerca de 100m ao todo) despercebido. Não pode haver vergonha maior para um adolescente com mania de grandeza do que ser visto comprando ovos pra almoçar.


***

No dia anterior, a prima de uns amigos chegou à rua, vindo de uma colônia no interior do estado para estudar na casa dos tios. Darlene o nome dela. Quando ela chegou, por acaso, ele estava lá com seu celular de último tipo e suas roupas absolutamente descoladas e cabelo cheio dessas frescuras que se usam hoje em dia. Ele a percebeu impressionada com ele. Estava em seus planos ir de novo à casa dos amigos pra ver se conseguia alguma coisa com ela.

***

Para o bem de Matheus, não havia ninguém na mercearia. Ele pediu os ovos com a rispidez de um chefe comandando um empregado ineficiente. A dona da mercearia olha feio pra ele, mas evita entrar em discussão. A mulher põe os dois ovos no saquinho de plástico transparente. "Não tem uma sacola plástica daquelas brancas?", pergunta ele, recebendo resposta negativa. "Puta que pariu!", pensa ele.

Pra piorar, próximo à taberna, Darlene sai da casa dos tios ainda recebendo comandos do que comprar. Apesar de ela já estar na rua, Matheus percebe que Darlene não o avistou, devido as últimas instruções da tia. E, a partir daí, enquanto o cu dele aperta mais forte que as mandíbulas de um jacaré, começa a fervilhar em sua mente um verdadeira enxurrada de idéias do que fazer a respeito. (digoaelaqueéprafazerbolo?devolvopramulheredigoquedepoispego?saiocorrendodaqui?digoqueépromeuvizinho?caralhooooooooooooooooooo!!!!).

A solução que ele encontra é tirar rapidamente do saco e colocar cada ovo em um dos bolsos da frente de sua bermuda. Como os bolsos eram grandes, ele conseguiu disfarçar pra ela o que era. Ele vai andando com o olhar leve, aliviado, e a encara muito mais regozijando o recém-triunfo do que qualquer outra coisa. Mas para ela, o sorriso estampado no rosto dele era um cumprimento qualquer. Ela fica esperando ele dizer oi. Ele não diz porque tudo que ele quer é chegar logo em casa. Ela passa por ele, e só aí parece que ele volta a respirar novamente. Alíviu...

De repente, uma tapa forte. Era a mão dela batendo no bolso dianteiro dele, objetivando bater na mão daquele menino tão legal que conhecera no dia anterior e que parecia estar tirando com a cara dela. A mão dela bate na mão dele. A mão dele bate no ovo. CRACK!

- Ei! Não vai falar comigo, não?!

- FILHA DA PUTA!

***

Com um ovo, um ego e uma futura namorada a menos, ele finalmente chega em casa e frita o único ovo que sobrara para a mãe. A ele, restou comer arroz e feijão com farinha para aquele almoço, e a lembrança traumática para o resto da vida.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

As mulheres que me odeiam

Se você me achou/ acha um cafajeste, estúpido, chato, tarado e/ou muito antipático, cuidado: você pode estar querendo dar pra mim. Já me acusaram de cafajeste, de estúpido, chato, tarado e de antipático, mas nunca pesou-me qualquer acusação de estuprador. Portanto, minha querida, não quer dar pra mim? É só não dar e pronto.

Sim, eu sou mesmo como os mendigos do Ver-o-peso; é verdade que eu só como o que me dão, mas isso não quer dizer que eu coma tudo que me dão. Se alguém achar que eu tiro brincadeiras pesadas com as meninas que mal conheço, é porque ainda não viu que tipo de brincadeiras eu tiro com minha irmã, com minhas amigas de infância ou com meus amigos. Mas eu não faço isso necessariamente pra ver se cola, muito pelo contrário. Se fosse assim eu seria incestuoso porque quando eu vejo minha irmã, eu vou logo pegando na bunda dela. Além disso, eu não acho que uma mulher é vagabunda porque se permite brincar de ter tesão por um homem, ou que trepe no primeiro encontro, nem tão pouco, acho que seja uma santa uma mulher que está com a calcinha melada e fica dizendo que não quer dar. E vejo que no falso brilhante que tentam lapidar à sociedade essas meninas é que reside todo o enchimento de saco que tenho sofrido ultimamente.

Sabe o que é mais engraçado? Algumas mulheres ficam com raiva de mim quando (disque) me dão um fora. Quando é uma pessoa por quem eu tenho um dado apreço, confesso que dói. E olha que quando percebo uma amizade florescendo por uma menina com essa característica, ou seja, que não se sente a vontade de tirar certas brincadeiras, eu tento fazer o mínimo possível trocadilhos infames ou dar abraços mais sugestivos e coisa e tal. Daí, quando entende que eu estou querendo alguma coisa (e as vezes estou mesmo) e decide não retribuir (as vezes mesmo estando afim), ela simplesmente decide ficar com raiva de mim. Agora, senhor Deus dos tarados incompreendidos, me diga por quê? O normal não seria quem leva o fora ficar com raiva ou sem graça? Não seria mais lógico quem não me quer me ignorar ao invés de forjar uma briga que entre nós jamais existiu?

Tá, eu entendo todo esse papo psicológico sobre a opressão sexual e sentimental que as mulheres sofrem por causa do machismo velado que ainda impera na sociedade tupiniquim. Entendo mesmo. Por isso que vim escrever aqui esse desabafo.Geralmente, quando tenho oportunidade de conversar com uma dessas, eu tento falar com todo o jeito sobre como eu não sou esse tipo de homem seletivo que só come mulher que ainda respira. Mas quem disse que elas acreditam? Em geral, fazem biquinho e ficam imaginando que essa é só mais uma cantada. Penso que no fundo elas prefeririam que eu fosse mesmo, pois, mulher de verdade gosta mesmo é de homem safado, meus amigos cornos que o digam (geralmente homem corno é homem besta, ao contrário do que dizem as puristas). Eu também sei que o problema está mais em mim do que nelas, pois quando você fala a mesma coisa pra muitas pessoas e nenhuma entende, o problema está no emissor e não na receptora. Mas isso não precisa impedir-me de esporrar, né?Acho que estou com TPM reprimida, só pode!
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Galera, ganhei mais um selo! Dessa vez recebi de um grande blogueiro, Agente Foose, pelo qual tenho profunda admração.







quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Dicionário pós-moderno

As vezes, o inútil pode ser útil, sabiam?. Por isso, vamos tirar a poeira de palavras pomposas que só advogados e literatos esnobes usam apenas como forma branca de pisar nos outros. Que o "Orélio" me perdoe, mas me baseei nele...


Ambidestro - adj. e s.m. Que se masturba, com a mesma facilidade, com as duas mãos.

Alouvo - s.m. Entusiasmo da menina indo comprar o primeiro sutiã; do menino indo comprar a primeira revista pornô.

Balbúrdia - s.f. Cair algumas notas de cem reais no meio da multidão; aparecer homem pelado num convento lotado.

Belicoso - adj. Provocar mulher com TPM.

Fleumático - adj. e s.m. Homem que segura o orgasmo por mais de uma hora; mulher que vai ao shopping com R$ 10.000,00 na bolsa e não compra nada.

Frugal - adj. Que come pouco; marido fiel.

Incólume - adj. Mulher lésbica de família arcaica que envelhece e morre virgem (disque).

Irrupção - s.f. Entrada violenta; ui!



Pacóvio - adj. Eleitor brasileiro - não preciso dizer mais nada, né?


Pândego - adj. Pessoa no motel na hora de acender o cigarro; Pastor da Universal quando vê entrar na igreja o maior empresário da região pela primeira vez.

Taciturno - adj. Pessoa que calada já está errada.

Tênue - adj. Fidelidade num relacionamento desgastado.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A Igreja como ela é - Seminário

Baseado na obra de Nelson Rodrigues, conto aqui histórias que deveriam ser mentirosas, mas não são.

Seminário

Pela primeira vez em dias, os seminaristas tem oportunidade de ficarem a sós. Longe do reitor, que saiu mas não demora, o líder deles convoca a todos para uma reunião de emergência. Em menos de cinco minutos todos estavam lá. Alguns contrariados porque preferiam estar usando o telefone do seminário para ligar pra namorada, outros que gostariam de ficar olhando mulher pelada na internet, mas, sem exceção, todos os dez moradores atuais da casa compareceram. Sabendo que não tinham muito tempo, assim que o último seminarista chega à sala de reuniões, a reunião começa.

- Antes de começarmos, gostaria de dizer que este assunto não deve sair daqui. Eu estou monitorando quando padre chega por esse monitor do circuito interno de segurança e[fala logo o que tu qué, rapá!]...

- Tá. O negócio é o seguinte: eu fiquei responsável pela limpeza do quarto do reitor ontem, como vocês sabem. E eu encontrei uma camisinha usada no lixeiro. Depois disso eu pensei e pensei, e cheguei a conclusão de que não há uma outra possibilidade que não à do padre tá pegado alguém daqui lá, porque ontem ninguém além de nós entrou aqui.

- Sim... tu não acha que o padre pode ter usado a camisinha pra bater punheta? Não lembra que todos nós entramos aqui só depois de ele perguntar "qual seria o nosso refúgio?"... esse padre só pode ser um punheteiro.

- É.. eu pensei nessa possibilidade também, mas acho que o reitor não tem mais idade de fazer isso. Acho que ele comeu ou tá comendo alguém daqui.

- E por que tu acha que alguém aqui revelaria alguma coisa? Tu tá ficando doido?

- Bom, porque vocês sabem que eu sou meio espião, né? Quando eu quero saber de uma coisa, eu dificilmente não descubro. Por isso, como minha curiosidade transborda pelos poros e eu estou numa semana boa, eu quero dizer que aquele que se confessar comido pelo pau santo do padre, vai ter meu sigilo. Maaaas... se eu descobrir só, todas as madrinhas do seminário vão saber no mesmo dia.

- Tu é um fresco mesmo, seu filho da puta. Pensa que eu não sei que tu dava o cu pro p[vai te fuder, veado]adre.

- Ah, quer saber? Eu vou pro meu quarto estudar o que é.
- Té parece que eu não sei que tu vai ficar olhando mulher nua na net[Fresco].
- Bom, eu confesso que to morrendo de curiosidade pra saber quem teve coragem de dar pra esse padre feio que só a porra.

A discussão continuava. Todo mundo falava alguma coisa, ou pelo menos ria. Menos um rapaz, que tinha quase 19 anos e chegara há menos de dois meses ao seminário. Os seminaristas mais veteranos estavam tão acostumados a não ouvir a voz dele que nem repararam que ele era o único que não ria, não reclamava, e nem ao menos olhava nos olhos de ninguém. De repente, o seminarista que propôs a conversa também pára de falar e passa a fitar os olhos do novato. Lágrimas. Quando a primeira se esparrama no assoalho, a certeza enxuta brota imediatamente no lugar.

Um a um, todos os outros seminaristas foram parando de rir, ou xingar. Os lábios esticados, lentamente, vão dando lugar a uma expressão sisuda e espantada ao mesmo tempo. Não era preciso mais perguntar nada. Inclusive, tudo o que os seminaristas não sabiam era como lidar com aquilo. Quando as lágrimas descortinaram a vista do novato, e ele percebeu que todos perceberam, tudo o que estava preso nele (o que quer que fosse) passou a desabar como cachoeira em sua fronte. Ele era o maior em estatura ali, tinha um rosto grave e imponente, que, somado ao estilo sereno desencorajava até mesmo o mais atirado dos seminaristas a tirar brincadeira com ele. Naquele momento, todo o sentimento que eles nem imaginavam que ele pudesse sentir era escancarado entre o contorcer de ombros e o soluçar da boca.

Em silêncio, todos olham o carro do reitor estacionando no patio. Com o ar de "o que foi que fizemos?" cada um se desloca para os devidos lugares sem falar nada. O único a correr é o novato, que se tranca no quarto. O padre chega. No dia seguinte, o novato sai. Nas semanas seguintes, poucas piadas. "Finalmente esse povo tá se ajeitando", deve ter pensado o padre.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Panteão Cristão


Por volta do século II, um homem chamado Marcião tentou pela primeira vez reunir os livros utilizados pelos primeiros cristãos em seus cultos (prática que nenhuma expressão religiosa do império romano além de judeus e cristãos tinham) numa única publicação canônica. Os cristãos déspotas que hoje usam a bíblia como escudo devem muito a esse cara, por ter tido essa idéia brilhante. Antes disso, todos os “livros sagrados” que conhecemos e outros que provavelmente jamais chegaremos a conhecer (como o apocalipse de Pedro, por exemplo) eram lidos de forma avulsa, dependendo da preferência de cada comunidade. Marcião entendia que o Deus de Jesus Cristo não poderia ser o mesmo Deus dos judeus. Ele não conseguia entender como o Deus que mandava apedrejar mulheres adúlteras poderia ser o mesmo que entregava seu filho para expiar os pecados dos injustos, por isso, dos livros que reuniu, nenhum pertencia aos livros da lei judaica.

Não gostaria de entrar nos méritos dos escritos em si por enquanto, gostaria de dividir com vocês uma inquietação. Ora, alguém poderia me responder quem criou o que primeiro? Deus criou a humanidade ou a humanidade criou Deus? Alguns poderiam me dizer que Deus, no alto de sua maravilha, se revela à humanidade limitada pouco a pouco, então jamais teremos a capacidade de compreender Deus integralmente (Agora vemos em parte, mas então veremos face a face - 1 Cor 13, 12), mas nem esse argumento me convence, porque o que questiono aqui não é a diversidade de cultos cristãos, não é as diferentes interpretações dos livros sagrados, o que questiono, é como um mesmo Deus pode ser tantos.

Quando Lutero denunciou os abusos da Igreja Católica, ação seminal (e sem querer?) da reforma protestante, tenho quase certeza que ele não esperava tantos "protestos" assim, ao ponto de hoje haver quase mais igrejas cristãs do que pecadores. Claro que aí já estamos falando da comercialização da fé, mas, o problema é que hoje podemos visualizar vários deuses diferentes dos "mesmos" cristãos. E qual é o Deus verdadeiro? Aquele que diz que somos meros pedaços de bosta, que Ele é tudo e que para irmos pro céu basta fazer coisas como não chamar palavrão, não gozar antes de casar e viver numa redoma de vidro isolados do “mundo”? Aquele que só está de verdade na "minha" igreja e no máximo visita a dos outros? Aquele que nos mima com bens materiais e prosperidade em troca de gordos dízimos? Ou aquele que faz opção preferencial pelos pobres? E NÃO VENHAM ME DIZER QUE PARA CONHECER DEUS BASTA LER A BÍBIA, PORQUE TODOS ESSES DEUSES ESTÃO “MOSTRADOS CLARAMENTE” NA BÍBLIA.

Só que eu, se fosse criar um Deus, criaria um que não perdesse o tempo se preocupando se eu trepei antes do casamento, se ponho as espadas ou as aranhas pra brigar (gay e lésbica, respectivamente), se eu decidi não ser infeliz num casamento eterno. Um Deus que não achasse que o próprio filho não tem capacidade de caminhar só, e que não apoiaria a institucionalização da fé da mesma forma como seria absurdo estabelecer leis para o amor. Um Deus que visse o meu valor pelo bem que faço aos outros e a mim mesmo mais do que pelo hino que eu canto. Um Deus que preferisse um maconheiro justo do que um limpo que só olha pro próprio umbigo.

E se eu descobrisse que Deus é um desses boçais que perdoa pedófilos e excomunga quem salvou a vida de uma criança estuprada, que exige que eu cante somente músicas de pecadores da minha igreja, que apóia líderes filhos da puta que se aproveitam da fé dos outros pra ganharem votos, que se preocupam mais com o cu e a buceta dos homossexuais do que com a própria imundisse da sua igreja, e/ou que me mandasse parar de falar palavrão porque é feinho, eu certamente o mandaria tomar no seu divino cu e pediria pra me mandar logo ao inferno, que lá, simplesmente por não ser da parte desse Deus, deveria ter muito mais amor, inteligência, generosidade e ternura do que "esse" céu.

É aí que concordo com Paulo apóstolo: De que adianta ter tanto Deus no coração se não amo? Prefiro os que amam, que defendem os mais necessitados e que vivem a sua própria vida sem pisar na dos outros, ainda que sejam ateus. O amor, para Paulo, está acima da fé e da esperança, ou seja, o culto e a Bíblia são ferramentas para nos animar a amar. A igreja é dispensável, o amor não. E só há tantos deuses assim, porque existe muita gente que quer se aproveitar de gente. E o Brasil, mesmo tendo tantos deuses... é o Brasil. Pronto, falei.

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Imagem: extraída do Google, da obra de Portinari.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

O Canalha - Caça 3



CHÁ DE BEBÊ NÃO É PRA CANALHAS.

O canalha chegou com sua namorada. No ambiente a espera deles, nada de interessante haveria de ter. Por muito pouco ele não ficou em casa vendo algum filme. Seria bem melhor do que ir a um chá de Bebê de uma fulana que ele mal conhecia. Se a namorada dele não fosse tão boa de cama e se o tesão imenso que sentia por ela no atual momento do relacionamento deles não o fizessem quase ser fiel, ele jamais teria ido.

Eles entram.

Na visão dele: Sorrisos e gestos pré-moldados a cumprimentá-los; menos comida aparentemente gostosa na mesa do que ele previa; a irmã mais nova da grávida ao lado dela, mais gostosa ao vivo do que pelo orkut;

Na visão da namorada: Amigos e amigas de longa data comemorando a chegada de mais um membro do clã; uma decoração que ela certamente não quererá no chá de bebê do filho dela; a amiga dela engordou muito mais do que declara.

Na visão da irmã da grávida: O namorado da amiga da irmã tem um olhar cínico; será?;

Enquanto a brincadeira (sem graça) rolava, o Canalha notou que a irmã da grávida estava próxima a comida, e que naquela festa ao menos não se tinha protocolo para comer. Então ele foi lá, atrás de comida. Enquanto ela pegava macarronada, ele se aproximou por trás e quase sussurrou ao ouvido dela:

- Será que eu vou gostar de comer isso?

- Por que não provas pra descobrir? Respondeu ela com o mesmo tom de voz e sem olhar pra trás foi comer mais adiante.

Quando ele terminou de pegar a macarronada, virou-se. No caminho, encontrou com a moça de frente, sentada perto do banheiro e fitando-o. Ela chupava o macarrão de uma forma bem convidativa. Naquele momento ele desconfiou da própria capacidade de abater uma caça tão rapidamente, e desviou o olhar meio sem graça. Mas como não custava nada, ele olhou pra trás e a viu, com aqueles típicos olhares femininos que nos (des) armam, levantar e entrar num lugar que parecia o quarto da empregada, que ficava bem ao lado do banheiro. Os passos dela foram os mais sensuais e lentos que ele já viu alguém dar na vida.

Enquanto voltava para a sala...

Ele reparou: que a mina entrou no quarto, não acendeu a luz e não fechou totalmente a porta; que ainda haviam muitos presentes para serem descobertos na brincadeira chata do chá; que a namorada participava muito concentrada e entusiasmada.

A namorada reparou: o namorado voltava da cozinha com um semblante estranho; que a irmã da namorada tinha ido mesmo se deitar como havia anunciado para a irmã - a namorada do Canalha sabia disso porque perguntou por que ela saiu com uma cara de desânimo. "Sono", respondeu a amiga grávida.

- Onde é que fica o banheiro? Perguntou o Canalha mesmo já tendo visto que ficava bem próximo do quarto da empregada na cozinha.

- Fica por ali. Apontava a grávida, quase não conseguindo falar, tamanha a euforia em que se encontrava.

- Eu vou lá, amor. Apontou com os lábios para a namorada e foi. A namorada nem chegou a consentir, tamanha a atenção que dava à brincadeira correndo solta.

No caminho, ele pensava que de todas as loucuras que já fez na vida, essa era a mais imbecil. Afinal, se desse errado, ele poderia sair daquele lugar morto, ou pior, capado. Mas o instinto dele quase o ensurdecia para qualquer aviso da consciência que o afastassem daquele quarto.

Ele entrou no quarto da empregada, e notou em meio a escuridão que a irmã da grávida estava deitada, de peito pra cima. Ele notou que a chave estava pelo lado de dentro da porta, mas o coração dele começou a arder tanto de entusiasmo que a adrenalina não permitiu que ele fizesse outra coisa que não fosse deitar imediatamente em cima dela.

Estava escuro, mas ele conseguiu encontrar os lábios. "Será que é hoje que eu morro por causa de mulher?" pensou ele durante os poucos segundos que separaram o momento em que ele quase exitou da hora em que ele notou que ela não só abria a boca para receber seu beijo como também abria um pouco as pernas. Ele a beijou. A tocou e tocou e tocou. E, percebendo que definitivamente não era o único maluco ali, correu com a máxima agonia e sutileza que um homem de pau duro pode ter para trancar uma porta. Porta trancada, ele partiu pra cima dela que já estava sem calcinha e a penetrou.

Ele não saberia dizer se aquele beijo ou aquela penetração foram as melhore de sua vida, mas certamente foram as mais perigosas. Eles sabiam que não podiam demorar, então ninguém se segurou - alías, seguraram o máximo que puderam as respirações ofegantes e os gemidos. Em menos de cinco minutos todos ali já haviam gozado.

Ele se vestiu. Abriu a porta lentamente após ter certeza que não havia ruído algum na cozinha. Chegou na sala.

Na visão dele: Pela forma como estão me olhando, eu prefiro que todos achem que eu estava trepando com a irmã da grávida;

Na visão da namorada: Será que esse menino passou mal?

Na visão da grávida: Que minha irmã não tenha nada haver com isso; que minha irmã não tenha nada haver com isso; que minha irmã não tenha nada haver com isso...

- Por que você tá tão suado amor? Sussurrou ela ao ouvido dele discretamente.

- Porque a cagada foi muito boa, amor. Respondeu.
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Agradeço aqui, muito honrado, pelo selo que ganhei de Raquel Carvalho do bog Contando Pensamentos.



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um dia de fúria de um repórter...


  • Marcelo D2, se todo mundo sabe que você continua fumando maconha, por que ninguém te prende mais?

  • Xuxa, você deixaria a Sasha assistir o Show da Xuxa? E teus filmes antes de ser apresentadora?

  • Dunga, você dá um beijo em nossa boca? Afinal, você já nos fodeu mesmo...

  • Papa, quantas punhetas um padre precisa bater até chegar ao pontificado? Se não é com o pênis que se consagra nada, porque a mulher não pode ser sacerdote?

  • Bispo Macedo, se aparecessem os herdeiros de Cristo, você repartiria toda a fortuna que ganhou manchando o nome do cara e enganando otários(as) oportunistas? Você acha que charlatanismo é universal?

  • Parlamentares do Brasil, vocês se candidatariam se a função que exercem funcionasse em regime de voluntariado? Vocês deixariam a gente votar o salário de vocês ao menos? E uma última pergunta: vocês darão um dia direito à aposentadoria para as mães de vocês que trabalham na zona?

  • Obama, você demora quanto tempo pra pegar no sono a noite, sabendo que a política econômica por você liderada, diariamente, mata milhares de pessoas de fome, entre elas, principalmente crianças e pessoas idosas?

  • Jader Barbalho, você trocaria pelo meu voto a prestação de todas as tuas contas dos últimos trinta anos?

  • Hillary Clinton, se você perdoou teu marido que tragava mas não fumava, dava o pau pra estagiárias chuparem mas não fodia, então por que tanto rancor com o Irã que enriquece urânio mas não quer fazer bomba atômica?

  • Ronaldo Fenômeno, se até o Faustão emagreceu, por que tu não consegues? Por que você não contrata um personal trainer travesti pra te ajudar?

  • Geisy Arruda, sinceramente: você pagou quanto pra te xingarem na faculdade?

  • Gugu Liberato, já pensou se idiotice doesse?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O jardim, o muro e o quintal ou As lutas de classe na pós-modernidade


A vida é divida por um imenso muro. Em cada lado um extremo. Para um canto, um jardim ensolarado e sorridente; para o outro, um quintal soturno e imundo. E no meio do muro, caminham quase todas as criaturas medrosas e manipuláves, bípedes e míopes, que morrem de medo de tomar qualquer posição que as tire da condição de pessoas que brincam de ser felizes e fogem incessantemente da dor para/com e pelo bem do Deus-mercado.

Embora tanto os habitantes do jardim como os ocupantes do quintal precisem de quem está em cima do muro para conseguirem aplicar seu plano de poder, quem habita o lugar mais perto do céu, nas alturas dos tijolos, não se importa muito com nada disso desde que continue se divertindo. E o problema não está no sim ou no não, mas no talvez. E o que seria da lei se não fosse o pecado? Haveria o oi sem o tchau? O problema, de fato, reside mesmo no radicalismo dos moderados.

É óbvio que o muro não interessa a quem está na lama, pois quem está na lama quer mais é chegar no lugar abastado. O muro, como não poderia deixar de ser, serve a quem domina o jardim. Os proprietários do jardim permitem que um ou outro habitante do muro visite ou passe a morar lá, desde que os verdadeiros jardineiros continuem no quintal, ainda que toda a beleza daquele paraíso só exista por causa do suor daqueles trabalhadores. O muro, portanto, é mais do que um refúgio. É uma barreira de proteção, que precisa permanecer assim para que não desabe por sobre a realeza no jardim.

Na verdade, o muro não é o melhor refúgio que existe. Muitos reclamam dos buracos e da falta de acabamento que assola quase toda a extensão da covardia acimentada. Mas, para o desespero dos jardineiros, consertam-se os buracos, reparam-se as pinturas, sem haver no muro quem ouse questionar o próprio muro. O sonho dos jardineiros é que os próprios murenses ajudassem-nos a destruir o muro; para os moradores do jardim, não haveria jardim sem muro. E para quem está em cima do muro... tanto faz. Eis o momento, portando em que não tomar posição torna-se uma tomada de lado da forma mais eficaz e imbecil possível.

"Aqueles que não gostam de política
são dominados por aqueles que gostam"
(Frei Betto)
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Imagem extraída do blog http//:3.bp.blogspot.com

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Galos, Noites e Quintais - Aventura 3

DESVENTURAS DO MEU PRIMEIRO BEIJO

Eu já contei aqui que comecei a sair regularmente para a rua já com sete ou oito anos. Nessa idade os meninos e as meninas com quem convivi já estavam cobras criadas. É impressionante o nível de maturidade de uma criança da periferia em relação aos "meninos de prédio"*, principalmente no quesito sexualidade. Até então a única noção que tinha sobre sexo descobri lendo lgumas revistas pornôs do papai que achava escondidas embaixo do colchão. No primeiro momento, aquelas imagens pareciam mais uma agressão do homem contra a mulher.

Mas eis que, numa festa organizada por meu tio, um amigo meu e eu brincávamos com uma menina já conhecida dele, mas não minha. A vi pela primeira vez ali naquele quintal enorme. Brincamos a tarde toda de namorar com ela, e disputávamos pra ver quem a ganharia de fato. Brincando disso. Nós três. E nos divertimos muito esta tarde.

No outro dia pela manhã, quando chegava da escola, minha mãe disse que a minha namorada estava me esperando no quintal. O.o Como assim namorada? Minha única noção sobre namoro era que namorados se beijavam. Além disso, eu nunca tinha pensado em ter uma namorada de verdade. Meio desesperadamente, do portão de casa até o quintal onde ela me aguardava eu pensava: "Por que ela não resolveu namorar de verdade com o outro?" Como me livraria dela?

Claro que minha mãe não se importou com o fato de ter uma menina me esperando no quintal, afinal ela é super machista ("prendam suas cabritas, pois meus bodes estão soltos"). Mas eu me importava. Não entendia de namoro mas não queria ter uma namorada, só não sabia como dizer à minha "namorada " isso. No fim das contas, passamos a manhã quase toda juntos. Eu sem graça, ela com aquela cara estranha de entusiasmo. Até que voltamos ao mesmo quintal onde nos conhecemos, onde morava um amigo meu mais velho. Arrumei algo pra ela fazer, não lembro o quê. Minha estratégia era deixá-la distraída enquanto tentava descobrir com um cara mais velho como me livrar dela.

- Ailton, ela tá dizendo que é minha namorada. Mas não quero namorar com ela. O que eu faço?

- É simples, Agô, fala pra ela que tu só namora se ela deixar tu comer ela.

Eu não sabia o que era comer, mas achei uma ótima estratégia (afinal não tinha outra mesmo). Então a levei para o banheiro da casa dele (localizada nos fundos da casa, na verdade), como me foi sugerido, e falei exatamente como me disse: "só namoro contigo se tu deixar eu te comer". Percebi que não foi a coisa mais esperta do mundo quando ela arriou a saia e a calcinha na minha frente com a maior naturalidade do mundo e disse "tá". Quando ela abriu um pouco as pernas e encostou na parede, eu lembrei daquelas revistas do papai e olhei para a minha "arma de agressão"  mais encolhida do que meu ego ao me perceber "vítima de uma sacanagem". O detalhe interessante da cena é ela na minha frente nua e eu olhando por dentro do meu short o meu pênis mole, mole, enquanto tentava desesperadamente encontrar uma saída.

Só consegui foi dizer a ela que não ia fazer aquilo porque não queria namorar, por isso seria sacanagem (deveria ter dito isso antes, mas tenho extrema dificuldade pra dizer não). Porém pedi pra não dizer contar a ninguém minha "falha". Finalmente, para compensar tudo eu daria um beijo nela. Ela topou. Vestiu-se tão naturalmente quanto se despiu e eu, pra beijá-la, fiz aquele biquinho de selinho e fui em direção à boca dela (ridículo, né?). Quando eu dei por mim ela já tava com a língua dela fincada na minha boca e eu lá chupando. Ou seja, por muito pouco no mesmo dia do meu primeiro beijo também não deixei de ser P.V. Foi minha primeira broxada também. A menina deveria ter uns nove anos e eu uns sete. Ela já havia transado com pelo menos uns cinco meninos e eu nem batia punheta ainda. Obviamente ela contou pra todos os meus amigos minha moleza e no outro dia ela foi trepar com o outro namorado da brincadeira. Eu, sinceramente, na época não entendia patavinas daquela malhação sofrida durante algumas semanas. Nem me importar eu conseguia. Hoje em dia dizer "só se eu te comer" é tão difícil de dar certo...

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*Expressão que aprendi com minha amiga Sara Portal.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Entre as paredes do quarto


Os extremos são amantes que jamais mantém coito, eles fodem mesmo
fodem com a vontade de quem fode com(o) a evolução natural do carinho
gozam ainda que carreguem a culpa por qualquer pecado inventado
e gozam mesmo, sabendo que o prazer reprimido é prazer otimizado, melhorado, estimulado

Para os amantes que admitem na mais profunda razão e loucura que são safados
A safadeza não é a barreira que atrapalha
mas o estímulo que os faz suar frio

O pecado e a lei dividem as paredes do quarto
entre o espelho no teto e a cama redonda, a culpa é a melodia cantada em gemidos
O pecado e a lei repartem as paredes do quarto
entre o espelho no teto e a cama redonda estão mais do que o marido e a mulher
lá estão antes namorado e namorada, cueca e calcinha, pau e buceta
Carinho e Safadeza.

O pecado e a lei nasceram juntos
Morrerão juntos
E nós
tu e eu
extremo e extrema
gozaremos juntos até essa hora chegar.

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Imagem: http://semeaduradeluz.blogspot.com

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Eu, tu e a terceira pessoa ou A despedida

- O que estás fazendo?

- Eu estou chorando, como podes ver.

- Por que tu estás fazendo isso?
- Pelo mesmo motivo que tu. Ou essa fala engasgada e esse olhar lacrimoso mentem?

- Eu vou casar com ele. Estou muito nervosa, com muito medo, mas nesse momento sei que farei a coisa certa.

- Podes me pedir todo o cosmo que por mais que eu sue para catar de astro a astro eu ainda assim te entregaria sorrindo, mas não me peça para te dar força nisso. Eu te amo demais pra te prender, e seria realmente torturante saber que um inbecil sortudo teve a ousadia de te fazer infeliz, por isso, o meu desejo incondicional que sejas feliz permite-me dizer sinceramente que espero que dê certo, e nada mais que isso.


- Você sabe que desde que te conheci a incerteza é minha mucama, ainda que a escrava da dúvida não seja ninguém melhor do que eu. No baile da minha consciência dançam sem música alguma a felicidade e o desespero incessantemente, mas eu tive mesmo assim que fazer uma escolha...

- Sei que no fundo gostarias que eu fizesse como ele. Te batesse, chorasse, entrasse em desespero ou coisa assim, mas recomendo que desistas, se for o caso. No meu quintal jamais faltou cantoria de pássaros, mas jamais houve uma gaiola. Não sou da tua classe como ele, não sou tão lindo como ele, tua família não me aceita como aceita a ele, mas sei que o nosso problema, no fundo, não está com ele...

- Nós dois sabemos que eu sou uma covarde.

- Não me entenda mal. Sei que cada um decifra o indecifrável de si mesmo. Ainda que concordasse que você é covarde, ainda assim não a condenaria. Se fazes isso é porque sente-se melhor dessa forma. Só uma pessoa muito imbecil pra discordar de sentimentos.


- Pensei em várias formas de desenhar, dançar, cantar ou até mesmo berrar o que vim te dizer aqui, mas não consegui achar forma melhor para dizer do que falar simplesmente que te amo.

- Eu sei, apesar de tudo, que me amas. Eu também te amo de uma forma que Paulo ficaria feliz de ver, pois meu amor por ti tudo suporta, nada inveja e nada toma de assalto para si. Mas nada disso me impede de chorar.

- Você é a melhor pessoa que um dia eu já tive. Vou viver esse momento com outro, porque no labirinto da vida esse é o melhor caminho que encontrei para a felicidade. Não tenho realmente forças para suportar a felicidade e a angústia que seria ficar contigo. Se é minha covardia que é gigante ou meu amor que não é tão imenso assim ou ainda que meu amor por ele é maior, penso que só poderei descobrir vivendo, dando um passo de cada vez.

- Existe algum final melhor do que tchau para isso?
Pois não suporto mais falar sobre isso em voz alta. Já não basta o que ficarei falando comigo mesmo no silêncio de minhas insônias vindouras...

- Sim, há uma coisa:



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Imagem: Google.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pena de Dumbo


"As pessoas tem que acreditar
em coisas invisíveis pra fazer o bem
Tudo o que se vê não é suficiente
E a gente sempre evoca o nome de alguém"
(John - Pato Fu)

Quando era criança, lembro de ter visto o filme do Dumbo, um elefante que tinha as orelhas tão grandes que com elas podia voar. O filme mostra que alguns corvos percebem que aquele defeito (orelhas enormes) do elefantinho poderia tornar-se em uma grande virtude, mas não conseguiam convencer o animal depressivo disso. Para tanto, os corvos deram uma pena qualquer para o Dumbo, e convenceram-no de que aquela pena tinha poderes mágicos, e com ela ele poderia voar, bastando que ele batesse as enormes orelhas como asas. Funcionou. O elefante aprendeu a voar acreditando no poder da pena. Mas na hora da apresentação ao público da façanha, o elefante perdeu a pena, daí os corvos tiveram que convencerem-no de que a pena era uma mentira, e que na verdade o elefante voava porque simplesmente tinha essa capacidade. E com muito custo conseguiram, inclusive.

Para mim, essa história é o arquétipo das religiões, que utilizam simbologias para convencer os fiéis a fazerem o bem. Na verdade, gostaria de associar a estória do Dumbo ao processo de amadurecimento na fé. Pois, pergunto eu, como já perguntei antes aqui inclusive: Se inventássemos uma máquina do tempo para voltarmos dois mil anos atrás e descobríssemos que Jesus não ressuscitou ao terceiro dia e nem fez todos aqueles milagres tal como a Bíblia diz, será que ainda restariam muitos cristãos na face da terra? Provavelmente não.

Os corvos poderiam arranjar qualquer pena e dar ao Dumbo, e com isso continuar enrolando o "cara". Mas não. Preferiram revelar a verdade num gesto de amor. Entretanto, as religiões quase nunca fazem isso. Elas se apegam (e fazem apegar) mais à pena do que com a superação pessoal e social dos fiéis. A pena, ao invés de ser instrumento de um vôo libertador então acaba sendo um instrumento de dominação, segregação, e, por que não dizer, de burrificação. Toda fé que não amadurece ao ponto de perceber que a pena é uma mentira (bem intencionada ou não) é uma fé burrificada, superficial e demasiadamente apegada à instalação hidráulica em detrimento da água.

Um pastor que admiro muito (Carlos da Igreja Metodista) certa feita disse que a maior descoberta da vida dele foi perceber que Deus não é cristão. Está certo ele. Deus não é cristão, não é islâmico, não é hindú, etc. As religiões são dispensáveis. Deus não é, se for um Deus que até usa a estratégia da pena, mas que no fim contribui para que seu amigo (isso mesmo) voe por si só, mas não para si só, que seja verdadeiro e lute pelo que é verdadeiro, que tenha fé mas não renegue a inteligência. Se na tua igreja não te disseram que Adão e Eva e toda a bíblia são metáforas da vida e não A VERDADE ABSOLUTA, por exemplo, desconfie. Podem estar querendo que tu fiques dependente da pena, pra que na verdade tu fiques na mão de corvos malvados.

"É certo que milagre pode até existir
mas você não vai querer usar
Toda cura para todo mal
Está no Hipoglós, no Merthiolate, Sonrisal"
(John - Pato Fu)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Igreja como ela é - restauração da família

Baseado na obra de Nelson Rodrigues, conto aqui histórias que deveriam ser mentirosas, mas não são.

RESTAURAÇÃO DA FAMÍLIA

Periferia de Belém. Mais do que o casamento, a fiel cristã evangélica não aguentava mais carregar todo o peso do lar em suas costas. O marido bêbado e desempregado e os três filhos que teve com o alcoólatra crescendo e necessitando não só de alguma coisa pra comer e vestir, mas principalmente de uma estrutura pra mais tarde poderem usar aquele velho clichê com sinceridade em relação a família ser a base de tudo e tal. Tudo isso fez com que a fiel procurasse ajuda do pastor que pregava coisas tão emocionantes aos sábados em que ela conseguia ir à igreja carregando sua prole consigo.

Ela começou a fazer o tratamento espiritual sempre indo só à casa do Pastor que ficava num bairro distante dali. Ia lá porque a capela estava ainda em construção, e no lugarejo em que morava não havia espaço apropriado para uma conversa e uma experiência de oração tão sensível como a que estava posta. Para conseguir participar, ela deixava os moleques na casa da mãe. Enquanto o marido estava numa sarjeta qualquer tomando todas ela estava orando junto com o Pastor na casa dele, orando, chorando ou ambas as coisas (na maioria das vezes).

Mas, sem qualquer motivo e imersos a muita culpa, os interesses dela passaram a mudar à medida em que o tratamento ia ganhando contornos de intimidade. Em seus pensamentos, pelo menos, a partir da terceira sessão já não se tinha a real medida de quando começava a fiel e terminava a infiel. Os olhares deles, mais do que qualquer palavra, passaram a se cruzar. No início, cada um se perguntava "será?". Mas logo cada um se perguntava "será que alguém viu?".

Depois de dois meses de tratamento, a palavra "restauração familiar" não era mais discutida entre eles. Na verdade, nem ao trabalho de orar eles se davam. Quando não estavam transando com aquele misto de prazer e pecado que só aumentava a intensidade do orgasmo que tinham, estavam discutindo como sair do armário.

O pastor saiu daquele bairro. Ela saiu daquele casamento. A fiel voltou a ser fiel. E ao interior que foi, o pastor continuava pregando a indissolubilidade radical do casamento. As vezes até usava um daqueles três filhos que ganhou em sua família pré-moldada como exemplo da necessidade do matrimônio sólido, conforme diz a Bíblia. Amém!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Aborto e o maniqueísmo

Hoje o "Eraldo e suas paulinisses" completa exatamente um ano. Como presente, apresento o texto mais difícil que já escrevi em todo esse ano. Ensaiei escrever sobre isso mais de dez vezes, mas jamais consegui, pois eu poderia não estar aqui hoje, já cogitaram me abortar, e, além disso, sei que toco aqui em assuntos que sensibilizam a todos: Criança e Mãe. Tentando "sentir com inteligência e pensar com emoção" (Letra de Gessinger) escrevi o presente... Vamos ao debate:



Sou católico, mas também faço parte de um grupo de religiosos que defendem o diálogo inter-religioso, e fazer um diálogo com pessoas diferentes só é possível se a pessoa, munido de plena convicção em relação a sua fé, tem a civilidade de entender que a outra pessoa tem o direito de não ter a mesma fé. Mais do que isso, tanto os princípios do religioso como de qualquer ateu, devem estar voltados para a justiça e à valorização da vida e do bem estar de todos/as se quiserem seguir a trilha do bom senso, e para isto, inexoravelmente, cada um e cada uma deve estar pronto/a para abrir mão de algo pelo bem de todos, ou seja, por aquilo que é mais justo.

Falei tudo isso até agora para dizer que, mesmo sendo católico, sou contra a aprovação do estatuto do nascituro em tramitação da Câmara do Deputados. O estatuto, se aprovado, cometeria uma grande injustiça contra as mulheres e contra o princípio da laicidade do Estado brasileiro. O estatuto visa proteger os não nascidos desde a sua concepção, e com isso, mulheres vítimas de estupro e/ou correndo risco de morte por conta da gravidez estariam proibidas de interromper a gestação, sem falar no uso da pílula do dia seguinte que também seria considerado crime.

Segundo prevê o estatuto, para as mulheres estupradas, o estuprador deverá pagar uma espécie de "bolsa estupro", ou seja, uma pensão alimentícia para a criança até que ela complete 18 anos, ou caso o mesmo seja desconhecido ou encontre-se preso, o estado assumirá o ônus, assim como mães de filhos anecéfalos (crianças sem cérebro), deverão levar gestação até o fim, mesmo sabendo-se que a criança certamente morrerá horas depois de nascida. Criar uma relação absurda da mãe com o estuprador e submeter mulheres a passarem por uma experiência de gravidez que não desejam seria realmente necessário, se considerarmos que a vida humana começa indubitavelmente a partir da concepção, no entanto, essa é uma tese defendida por alguns cientistas e é sustentada por (grande parte dos) cristãos, mas, absolutamente, não é um consenso nem na esfera científica e muito menos entre as demais pessoas - até mesmo a Igreja Católica já teve um posicionamento diferente desse há séculos atrás.

Entre os brasileiros, por exemplo, a tese mais aceita a respeito do que seja de fato a vida humana reside no pleno funcionamento do sistema nervoso - especialmente do cérebro. Baseados nesse princípio, não achamos uma crueldade a doação de órgãos. Hora, compreende-se como morte cerebral a morte do ser humano em si, ainda que os outros órgãos do corpo ainda funcionem. Por isso, há quem defenda que da mesma forma como não é crime retirar órgãos de pessoas com morte cerebral, não é crime interromper a gravidez antes do sistema nervoso do feto estar plenamente formado. E esta é somente uma das teses a respeito de quando inicia a vida. Quem vai dizer o que é certo? Nesse caso, o único argumento incontestável é que não há argumento incontestável. Apesar dos argumentos contra o aborto (com certa razão) valerem-se de artifícios que mecham mais com a sensibilidade, a Igreja e os contra o aborto cometem o grave erro de satanizar quem é pró-aborto, e quem é a favor, costuma subestimar a inteligência de quem é contra. Sei que provavelmente estes grupos divergentes jamais chegarão a um acordo, mas sem dúvida esta visão maniqueísta de parte a parte não é a saída para mal algum.

Quem pode atirar a primeira pedra em uma mulher que não quer ter o filho do cara que a estuprou? Quem pode atirar a primeira pedra na mulher que não quer morrer antes mesmo do parto? Quem pode atirar a primeira pedra na mulher que, se errou em transar sem camisinha errou em dupla, mas sozinha terá que arcar com as consequências? Quem pode atirar a primeira pedra em quem entende diferente a origem da vida? O aborto, para as mulheres normais, é por si só uma experiência traumática e/ou perigosa. É evidente que as mulheres sempre evitarão passar por isso. Rotular a mulher que interrompe a gravidez de assassina é uma possibilidade, sim. Pode ser considerado abominável, sim. Mas também pode não ser. Entender isso poderia fazer com que as igrejas e os contra aborto fizessem campanhas educativas para as suas, ao invés de ficar criminalizando e oprimindo as mulheres que não estão ao seu lado nisso. Afinal, segundo os preceitos cristãos, não se combate mal com mal. Maltratar a mulher que aborta não trará o feto de volta, ao contrário, a misericórdia é a maior arma para desarmar qualquer mal que se acredite haver.

A descriminalização poderia favorecer, sim, àquelas mulheres sem escrúpulos que poderiam sair transando sem camisinha indiscriminadamente sabendo que o aborto estaria garantido caso engravidasse, ainda que transar sem camisinha e o próprio procedimento possam acarretar consequências irreversíveis para a sua vida, mas, não é salutar pensar nos insanos quando estamos decidindo uma lei. Seria como condenar o Bolsa Família só porque há pessoas que recebem e não precisam, ou porque há gente que sai por aí fazendo filho pra ganhar mais dinheiro. Que o programa se acabe ou modifique-se por outros motivos, mas não por estes, porque sabemos que a maioria dos que recebem precisam, e seria injusto acabar com um programa porque alguns fazem mal uso deste, pois a melhor saída para isto é melhorar o monitoramento ou tornar o programa menos eleitoreiro. Da mesma forma, seria absurdo a liberação do aborto ou de qualquer procedimento envolvendo a saúde pública sem os devidos mecanismos de controle e sua consequente fiscalização.

A criminlização do aborto é uma questão de saúde pública. Sabe-se que em todo Brasil milhares de clínicas fazem esse tipo de cirurgia sem qualquer regulamentação. Pelo menos 1 milhão de mulheres praticam aborto por ano, e cerca de 400 mil acabam com sequelas irreversíveis ou morrendo no processo. Quem pode pagar, faz um procedimento seguro. Quem não pode (a maioria), se submete à mão de açougueiros e pílulas ilegais. O estado deveria garantir o direito de ser, pensar, e agir diferente, desde que isto não fira a Constituição, como fere o ato de instituir leis baseados em fundamentos religiosos desobedecendo o princípio do livre pensar e da livre profissão de fé de um estado laico. Qualquer lei (somente) deve estar de acordo com a Constituição, que é um primoroso fruto da construção coletiva de diferentes grupos da sociedade, inclusive das Comunidades Eclesiais de Base.

Os cristãos, especialmente, têm todo direito de ser apreensivos quanto ao pluralismo no qual se envolve a cada dia a sociedade atual. No entanto, o pluralismo já está assegurado na Constituição. E, se para as algumas religiões é importante evitar o pluralismo que fragmente seu código moral ou seus princípios, para a salada mista que é o Brasil seria desastroso atender a somente um desses grupos. Por isso, sou a favor da permanência da lei a respeito do aborto como ela está, e, caso a prática seja liberada, que garanta-se a livre manifestação dos contrários e as devidas regras para garantir o direito pleno e sagrado da mulher decidir.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Postagens Retrô - 4

Esse eu tenho certeza que a maioria ainda não leu! (viu, Tânia?! rsrs) Eu o publiquei quando tinha só 3 seguidores. É um texto doce e sensível - editado.

PALAVRÃO É O CARALHO

Alguém já pronunciou "Puta que Pariu" num momento de raiva? Não? Então Experimentem. É uma verdadeira terapia pronunciar essas palavras dando ênfase nas sílabas "PU" e "PA"; garanto que é algo verdadeiramente terapêutico. Acho cafona a visão que muitos/as tem hoje em dia dos palavrões, como se fosse algo pervertido, digno de tapinhas na boca, mesmo em pleno século XXI.

Ano passado, em São Paulo e na Bahia, livros didáticos foram "flagrados" contendo palavrões em tirinhas ilustrativas. Aí pronto, toda a sociedade moralista se viu revoltada com isso. Até penso que pais e educadores devem ter pensado "puta que pariu! quem foi esse filho da puta que deu essa mancada?!", mas é inconcebível seus filhos e filhas dizerem o que todo mundo diz, nem que seja em pensamentos. E até parece que os palavrões contidos nas tirinhas seriam alienígenas para as crianças. Sei que há pessoas que não chamam palavrão, mas não há pessoa com mais de 6 anos que não conheça um vasto repertório de palavrões.

Os palavrões carregam discriminação tamanha consigo devido a sua origem quase sempre associada a sexualidade, e nós, cidadões e cidadãs do século XXI, ainda não nos sentimos a vontade com temas envolvendo foda e seus adereços. Mas acontece que na grande maioria das vezes os palavrões são usados como interjeição, e nesses casos, as pessoas usam para expressar com mais vigor seus sentimentos, e nem o dizem pelo sentido literal da palavra. por isso, para mim, é inconcebível tamanha espécie causada por essas palavras mágicas. Na verdade, é um paradoxo que justamente a caretisse das pessoas dêem o devido gosto aos palavrões. Tenho certeza que se fosse permitido, chamar alguém de "culhão" não seria tão bacana.

Eu acho lindo crianças e mulheres chamando palavrão. Não porque eu de fato veja muita graça nisso, mas toda vez que eu vejo mulheres e crianças chamando palavrão, eu penso que um pouco da hipocrisia do mundo está caindo. Afinal de contas o que é foda, no sentido literal do palavrão? É sexo, é fazer amor; o que tem de demoníaco nesse prazer que Deus deu às pessoas? O que são caralho e buceta? São órgãos genitais que as pessoas convivem diariamente, seja com os seus próprios, seja com o dos outros; de uma forma tão natural como convivem com braços e pernas, então por que condenar uma criança que chama caralho ou buceta? O que é puta que pariu? é uma profissional do sexo que deu a luz a uma criança; como é que isso pode ser visto como algo feio por alguém? Ou seja, mesmo os palavrões em sentido literal não têm nada demais.

Até entendo palavrão como indelicado em alguns casos, porque devemos respeitar a cabeça dos outros. E como não sou "dependente químico" de palavrão, eu aceito não chamá-lo em certos ambientes para não causar desconfortos gratuitos, mas quando alguém usa o discurso de que isso é pecado ou falta de educação, eu me pergunto sobre o que é pior para a sociedade, as pessoas encararem sua sexualidade com maior serenidade e maturidade ou manter essa manta hipócrita sobre temas envolvendo sexo como se foder não fosse uma coisa do caralho, e como se estar afinado com sua sexualidade não fosse essencial para o bem viver de todos/as.

Se não gostaram, podem mandar eu tomar no cu ou ir pra casa do caralho...

PS: Não admitam que "Cu"seja considerado palavrão... pois tem só duas míseras letras!
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Imagem extraída do blog Correio de Notícias, no qual encontrei um debate na linha desse texto que escrevi, demonstrando que o que falo sobre palavrão e relaxamento está comprovado cientificamente (viu? Num disse?!). Vale a pena ler.

domingo, 13 de junho de 2010

Sobre o título deste blog...


Neste mês de aniversário desta casa, partilho com vocês...

Meu nome de batismo é Eraldo Paulino Rodrgues Junior. Mas jamais fui chamado de Eraldo Paulino por ninguém. As pessoas me chamam ou de Eraldo ou de Agô (isso mesmo). Por isso, quando eu assinava algum texto, sempre usava Eraldo Rodrigues ou Eraldo Junior. Pra mim, o nome "Paulino" sempre foi uma espécie de inquilino do limbo, uma inutilidade que escrevia quando me era exigido o nome completo. Não conseguia me ver como Paulino. Sempre preferi, até mesmo, ser chamado de Agô a Eraldo, nome pelo qual todo mundo de casa e da rua me chama. Porque Agô remete a uma originalidade que busco quase que patologicamente, ou seja, não conheço ninguém que se chame Agô; portanto Agô sou eu e pronto.

Recebi esse apelido de minha irmã, que ao tentar me chamar de "Eraldôôô!" quando éramos crianças, me chamava de "Agôôô!", devido a dixão ainda em desenvolvimento. Inclusive, entre meus irmãos e eu, todo mundo se apegou aos "desusos" de dixão. Assim, Mike é "Back", e Naiá é "Iaiá" e Eraldo é "Agô" ( o único que exige explicação mais detalhada).

"Eraldo e suas paulinisses" possui a subjetividade que não se explica pelo mesmo motivo que ninguém me explica porque se fecha os olhos durante o beijo. Se pudesse, eu daria um jeito de incluir "Agô" no título, mas sei que esse é um espaço feito pelo paulino que há no Agô, e pelo Agô que há no Eraldo. Pela riqueza da peculiaridade que só em mim há, assim como todo mundo faz a sua própria careta ao chupar limão.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Postagens Retrô - 3

Nesta postagem, trago um dos poucos textos românticos que já postei. Só depois de iniciar minha peregrinação para ajustar as marcações fui perceber isso. Então trago a vós o texto que mais gostei de ter escrito neste estilo. Na próxima postagem, deixarei minha moleza de lado e postarei algo inédito.

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TWITTANDO

06h00m -
Acordo esfregando os olhos... acenderam a luz... pelas minhas mãos cerradas o sonho que tive com você se esvai.. como água
07h14m - Caminhando para o trabalho, sinto seu cheiro. Olho pra trás... não era você... não era ninguém.
08h46m - Estou trabalhando. Sinto seus lábios nos meus... sua língua está em minha boca... NÃO ESTÁ? Não está...
09h12m - No intervalo pro café. Estou sorrindo... nos divertimos tanto naquele dia... - Você tá ficando maluco? - não (risos constrangidos); não é nada. Estou lembrando de uma coisa...
10h10m - Meu colega de trabalho fala a mesma palvra que você me disse após nosso último encontro... Minha calça fica apertada na região genitária... meu coração fica apertado na região da saudade... minha alma fica em frenesi na região do fogo ardente...
11h49m - estranho... reparo que não estava pensando em você
12h00m - Meu peito formiga qual d'uma golada desavisada de cachaça... é você?!... ... ... não. Claro que não é... nem poderia...
14h15m - Chego em casa finalmente. Estou com muito sono. Durmo. ... seria tão bom continuar o sonho que tive pela manhã
15h57m - Conseguimos finalmente encaixar nosso beijo... estamos num só ritmo... nossos corpos estão muito encostados... você pressiona seu quadril contra mim... friccionando... acendendo... um poste sai voando... minha mãe fala bom dia enquanto a beijo... um cachorro mia com a capa do Crypto... ... ... acordo! Suado!
16h00m - ...
17h44m - Levanto bastante apressado... ... ... dessa vez não sonhei com você... chato
18h12m - Vou pra faculdade. Um vazio preenche meu peito. A luz de seus olhos enubrecem minha vista... estou cabisbaixo tal qual um herói pedindo socorro, ou um palhaço pedindo alegria...
por que
você não está aqui?
19h27m - O professor entra na sala. Entra sorrindo. Começa a explicar sobre a noticiab(o amor que sinto por você é tão lindo. Me faz bem amar tão profundamente uma pessoa tão especial como você)ilidade...
20h34m - Trabalho complexo... concentração.
23h56m - Sinto falta de entrelaçar meus dedos em suas mãos em uma tarde quente de Belém... te chamar de safada enquando fazemos amor... ver as maçãs do seu rosto avermelharem quando digo que você é linda... falar com voz de criança que voxê é meu bebexinho... ouvir você cantar em meu ouvido "Eu preciso dizer que te amo/ Te ganhar ou perder por engano"... olharmos um nos olhos do outro e simplesmente dormir fitando o universo que aparentemente nos pertence...
23h57m - Queria que você existisse...