Seguidores

Nuvem de Tags

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Postagens Retrô 6

Ando completamente sem tempo para escrever coisas novas. Apresento aqui mais um texto que escrevi quando ainda não blogueava.

Maioridade penal não é brincadeira de criança.

Existem determinadas opiniões que caem no senso comum. Uma delas diz respeito à maioridade penal. A maioria das pessoas costuma dizer que deveriam mesmo reduzir a maioridade penal para que os delinquentes de 16 anos paguem o preço justo pelas barbáries cometidas. Entretanto, infelizmente a maioria da população não consegue ver o que de fato rege este debate, se é de fato a luta por justiça ou simplesmente empurrar a sujeira para debaixo do tapete.

Programas policiais proliferaram a roposta da diminuição da maioridade penal na televisão a serviço da sede de sangue do povo, e para que a população pense que a emissora está de fato agindo em favor do povo. Nessas lástimas televisivas sempre tem um apresentador com pose de justiceiro propondo que se ponham na cadeia os bandidos, que político tem que ir para a cadeia ou discursos superficiais do tipo. No entanto, o que quase não se vê é uma análise mais profunda que de fato apresente à população o que está realmente acontecendo, algo que forme e não somente informe.

A favor da diminuição da maioridade penal existem basicamente argumentos que dizem que se uma pessoa de dezesseis anos vota, se tem direito a participar da decisão política do país, por que não poder responder criminalmente pelos seus erros? Há também quem diga que qualquer jovem de dezesseis anos já sabe o que é errado ou certo, ainda por cima em plena era digital, por isso um adolescente que comete um crime hediondo pegar três aninhos no máximo de "castigo" não faz justiça. Entre outros argumentos que perpassam sempre pelo viés de que uma pessoa de dezesseis anos - idade para a qual se pretende reduzir a maioridade penal, que na lei em vigor é de 18 anos - já pode ser responsabilizado pelo crime que comete.
Então tá certo. Agora eu gostaria de ver se a filha de quem prega esse tipo de coisa engravidasse aos dezesseis anos, será que ela deveria cuidar da criança só? Será que pelo fato de uma adolescente de dezesseis anos já saber praticar sexo ela já tem maturidade para assumir um filho só, sem a ajuda dos pais? Claro que não, ainda que ela deva sim assumir a responsabilidade pelos seus atos, não podemos dizer que é a mesma coisa uma pessoa de dezesseis anos ou uma de trinta engravidar. É óbvio que, por mais que se tenha uma quantidade de formação absurda sendo acessíveis a adolescentes, uma pessoa passa por etapas, e quando essas etapas não são respeitadas surgem problemas. E negar educação a quem comete crimes, ou erre, é negar a oportunidade de termos adultos melhores. Por isso, para o bem dos adolescentes e de toda a sociedade, um jovem de dezesseis anos não deve ser responsabilizado da mesma forma que um adulto.

Mesmo porque isso não resolveria o problema social que gira em torno da criminalidade neste país. É evidente que a falta de políticas públicas, que a desestruturação familiar, que a falta de emprego, sobretudo nos grandes centros urbanos, que a escassês de terras no campo para o povo, e tantas outras mazelas terceiromundistas contribuem para o auto índice de criminalidade no país. Construir cadeis, ou mesmo entupí-las não tem se mostrado a melhor solução. Hoje, no Brasil, 65% da população carcerária são jovens de 18 a 29 anos, dentre os quais 85% não terminaram sequer o ensino fundamental. Ou seja, não seria uma solução muito mais benéfica para o país se a educação fosse de maior qualidade e mais acessível aos adolescentes do que jogar um/a indivíduo/a numa cadeia por ter roubado uma carteira e lá o/a preso/a adolescente conviver com todo/a tipo de criminoso/a, fatalmente fazendo com que essa pessoa imatura passe por uma faculdade do crime com direito a mestrado e doutorado?

Falo isso porque não existe lei perfeita. Se existisse lei perfeita, não existiria advogado ou juiz. Uma lei que poderia muito bem ser justa para alguns casos, seria de uma crueldade imensa para com a maioria epobrecida. Alguém imagina que fazer uma reformulação da maioridade penal sem reformular todo o judiciário não faria com que só adolescentes pobres pagassem pelo crime que cometerem? Ou alguém aqui acha que diminuindo maioridade penal a justiça vai reinar nesse país como num passe de mágica? Se o Estatudo da Criança e do Adolescente (ECA) existe, e nós vemos nossas crianças e adolescente a cada dia mais abandonados, imagina se a partir de agora, ao invés de criarmos leis que defendam os adolescentes nós comecemos a criar leis que os prejudique? Nem todo crime acontece por razões maniqueístas. Nem todo mundo que está cadeia é um sujeito mal natural e definitivamente.

Se adiminuição da maioridade penal acontecer, os traficantes vão usar pessoas ainda mais jovens para o crime. Se nem um debate mais maduro acontecer antes disso, e o congresso e o Ministério da Justiça se contentarem a fazer meras enquetes - que toda vez aparecem favoráveis a diminuição - ,daqui a pouco vamos fazer o mesmo debate sobre adolescentes de quatorze anos, alegando que há adolescentes de quatorze anos bem entendidos etc.

O mais sensato seria fazer uma reformulação no ECA, para que penas mais rígidas ou formas alternativas de penalizações a adolescentes já próximos a maioridade penal garantissem maior justiça a crimes brutais cometidos por adolescentes, pois sei que sempre há excessões. Mas antes disso, deveriam ser reformulados por completo os centros de tratamento de adolescentes infratores, que por mais que esteja menos pior hoje, ainda que tenham mudado o nome, não conseguiu deixar de ser a FEBEM dos nossos pesadelos na prática. Antes disso também, deveriam ser votadas leis que garantissem melhores condições de trabalho aos professores, reformular o ensino público, garantir políticas públicas para a infância e juventude, garantir que o estado seja reconhecido como um protetor para que o adolescente não veja no dono da boca esse papel. Garantir que os jovens do campo possam ter condições de viver sua vida no campo, para que diminua o inchaço populacional, e por consequência a violência nas cidades. Depois que o Estado garantir isso, ou pelo menos dar prioridade a essas discussões, aí eu penso que seria justo rever alguns pontos do ECA.
__________________
Imagens: Google.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Postagens Retrô 5

Este texto eu escrevi ano passado. Se enquadra bem com esse momento introspectivo que as paulinisses minhas se encontram esses tempos. Texto editado.

Infância...


"Oh que saudades que eu tenho da aurora da minha vida
da minha infância querida
que os anos já não trazem mais"
Casimiro de Abreu

Não sei se é por eu ter vivido uma adolescência muito obscura, mas o fato é que eu venero a minha infância, mais precisamente a faixa etária entre 7 e 11 anos, quando eu brincava na rua quase todos os dias, quando eu vibrava a cada selinho que eu dava nas meninas, quando eu jogava bola de dia de tarde e de noite, quando os meus piores dias tinham só pouca diversão.

Quando leio o poema do Casimiro de Abreu* me vem um misto de prazer e tristeza. Lembrar da infância me deixa triste ao perceber que eu não sou mais tão livre como naquela época, como já não experimento o novo com a mesma voracidade, mas ao mesmo tempo, ao relembrar daqueles dias felizes eu me sinto feliz no presente também, é como se eu me transportasse de novo, e sentisse o perfume da manhã, ainda que artificialmente de certa forma.

É claro que é impossível voltar no tempo. A montanha da vida tende sempre a nos levar para cima (até a derradeira queda), mas é inevitável experimentar o sabor do tempo passado com certo pesar. A impressão que tenho é que quanto mais eu tenho saudades do passado eu fico mais velho. Hora isso me chateia, hora não.

O criador do Menino Maluquinho, o cartunista Ziraldo, conta que a idade da personagem é essa, entre 7 e 11 anos, porque é a fase mais feliz da pessoa. É quando não temos mais uma inocência demasiada, ou seja, quando já fazemos uma leitura de mundo interessante, mas ao mesmo tempo não temos os conflitos da adolescência e o peso do mundo adulto. A partir do que ele diz, eu sou o arquétipo do Menino Maluquinho, pois quando era criança aprontava horrores e era feliz de dormir quase toda noite sorrindo (como minha mãe conta).***

Mas a minha adolescência foi muito difícil, obscura e insalubre. Tenho a impressão que há uma lacuna em minha vida; parece que eu vivi até os 11 anos, quando começaram a aparecer as minhas primeiras espinhas, e voltei a viver com 21. Na adolescência, eu me escondia, era perfeccionista ao extremo, tinha medo de não beijar direito, medo de todo mundo me achar o cara mais feio do mundo, tinha medo de conversar com os outros, enfim, eu vivia numa escuridão da noite sem luar e sem estrelas. Não é que eu não entenda a importância dessa fase para eu ser o que sou hoje, pois foi nessa fase que eu descobri as grandes bandas, os grandes literatos, a militância, enfim, o norte para o qual meu nariz aponta, mas definitivamente não tenho saudades dessa fase.

Eu nem sei porque eu estou escrevendo isso, e acho que nem quero. As respostas dos adultos por vezes são muito mais irritantes que os Perguntas das crianças. Viver de forma sem dar bola demais para a seriedade sisuda no mundo adulto parece síndrome de Peter Pan, mas pensando bem, o mundo dos adultos é que parece a verdadeira Terra do Nunca. Não é que eu não goste de crescer, na verdade, o que eu não gosto é de envelhecer, no sentido fiosófico da palavra. A aurora da minha vida é realmente a infância, mas o sol continua nascendo todo dia, e me dizendo toda vez que ilumina a minha pele a mesma mensagem de amor que todos adoramos ouvir: sempre podemos fazer novo de novo**, e até morrermos, sempre teremos mais uma chance de dormir sorrindo. Obrigado sol, por me mostrar que a criança está aqui sempre que preciso.

Canção de Milton, interpretada pelo 14 Bis e Samuel Rosa que tem tudo haver!

_________________
**Parafraseando verso de Paulinho Moska
*** Não entrei em detalhes de minha infância aqui, porque já o faço na série que publico nesse blog chamada Galos, Noites e Quintais.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Infinito Particular




"Só não se perca ao entrar
no meu infinito particular"

(Monte, Antunes, Brown)

Nossa primeira mensagem ao mundo é um choro. O choro que anuncia a vida, a fome, o medo da porta imensa que se abre. O choro que fala da dor de cólicas, da manha pelo bem não adquirido ou mesmo um protesto pela mãe que abraça um outro alguensinho. Infelizmente, o mundo parece ter perdido a capacidade intrínseca da poesia, ou talvez no momento em que substituímos o choro pelos verbos esqueçamos de trazer as interpretações do olhar, do corpo, do contexto, que faz a mãe não se desesperar ao extremo quando observa o pequeno amado a plenos pulmões. O mundo parece estar cada dia mais literal, seja no tiro que mata alguém na esquina, seja no gozo puro e simples dos casais do agora ou nunca, seja no sim e no não demasiadamente objetivos que muitas vezes amputam as utopias e tornam os sonhos mais insossos, pré-rotulados, tabelados e com preços afixados em etiquetas de plástico.

Mas tudo o que fazemos é chorar. Choramos pelo salário maior cortejando o que apetece o chefe. Choramos pelo corpo desejado, pelo amigo perdido, pela mãe envaidecida, pelo mendigo que provoca o desviar de olhares. Choramos, porque ainda hoje não sabemos o que dizer. As guerras são choros de meninos mimados e malvados que querem o brinquedo do outro. Choramos porque temos medo. Choramos porque temos medo de chorar. Choramos até mesmo em nosso silêncio.

As palavras não passam de choros artificiais, um revestimento muitas vezes fajuto de nossas almas. Quantas vezes a palavra é um choro metido a besta? A palavra, assim como o choro, sempre quer dizer alguma coisa, o problema é que, ao contrário da mãe que entende a essência do filho, nos preocupamos muito com o que dizem, e quase nada com o que as pessoas querem dizer. Nem tudo que queremos cabe numa gramática.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dois.



Ela tinha um namorado. Ele não. Ela orava todas as vezes que namorava, no pátio de casa; uma oração inicial, uma oração final, alguns beijos insossos no meio disso, muita conversa, e o medo de pecarem demais temperava aquela relação de dar orgulho à toda família. Ele, digamos, não namorava assim. Ela sempre orava antes de dormir. Ele lia qualquer coisa de Galeano na maioria das noites, pois se lendo-o acordado já sonhava alto, nos sonhos teriam um potencial de grandeza e maravilhas ainda maiores dessa, acreditava. Ela era famosa por ser virgem, a única da turma (segundo ela mesma). Ele já tinha comido quase todas as outras.

Ela via nele a criatura mais agradável do mundo profano, pois apesar de todo aquele jeito extravagante era muito simpático. Ele a via como a mensagem mais legal do reino dos céus, pois apesar de ser da igreja, não mantinha certas frescuras típicas. Ela respeitava a doidice dele e ele adorava entender a (para ele) exótica caminhada dela.

Certa vez, sob os sinos do acaso, eles conversavam despretensiosamente, entre alguns amigos em comum. A conversa foi vestindo-se de uma estampa agradável. No meio do grupo, os dois passaram a protagonizar os temas polêmicos, discordando um do outro, mas apesar disso, cada vez mais interessados pelo que o outro dizia. Súbito, se viram a sós. Estavam na faculdade. Por acaso todos/as os/as outros/as tiveram de sair, e eles estavam no meio de um assunto muito interessante, por isso nenhum dos dois estava com vontade de deixar o papo pra depois. A conversa fluía com tamanha naturalidade, que diversas vezes entre um assunto e outro eles se perguntavam como em mais de 6 semestres aquela era a primeira vez que conversavam daquele jeito. Ela sem achá-lo mais um a querer tirar a virgindade dela e ele vendo nela a amiga inatingível, a beleza de uma mulher além do sexo.

- O que você está bebendo?
- Nem sei, só sei que tem álcool.
- Tá forte?
- Não, mas eu não vou te dar.
- Por quê?
- Ah, eu não quero que isso ganhe contornos de cena clichê em que o menino danado dá bebida à menina inocente e linda pra tentar abrir as pernas dela mais facilmente depois.

Os dois riram. A conversa continuou fluindo. Mas depois da última cena, o tema passou a ser relacionamentos. Ela finalmente pôde ouvir alguém coerente falando sobre relações efêmeras e ele teve a oportunidade de ouvir ótimos argumentos interessantes em favor de relações duradouras. Ele vai ao banheiro. Deixa o copo. O copo estava perto dela. Ela estava perto do copo. A mão no copo. O coração pulsante. O copo estava perto da boca. Ela com aquela excitação intelectual. A boca estava no copo. O peito arde. O gosto é bom. Ela bebe mais. O peito arde. Ele volta. O copo entre eles.
Estavam num daqueles típicos lugares em que estudantes vão fazer aquelas coisas "erradas" que (como todo mundo sabe) os estudantes fazem, como fumar maconha e transar no campus. No caso em questão, estavam perto de uma lagoa. O clima era ótimo, o vento era gostoso, e o papo aproximava o casal mais e mais. Os outros estudantes foram saindo. Estava para começar uma festa, até que naquele lugar levemente escuro e aconchegante restaram poucas pessoas. Por um acaso, as/os remanescentes não podiam vê-los e vice-versa, devido a um arbusto entre o casal e o resto.

Aquele sorriso dele, aqueles argumentos, aquele charme de homem safado, aqueles ombros, tudo passou a cativar a moça que já pouco falava. Ele começou a estranhar o silêncio dela. Ele, que nunca imaginou um dia poderia ficar com aquela, pois além de ser a mais bela da turma ainda era toda certinha, começou a temer por ela fosse dizer a qualquer momento "já vou embora". Ele então passou a quase tagarelar. Ela, por sua vez, não podia esperar mais e tomou mais um gole, agora na presença dele.

- Caraaaaaaalho...
- Eu tomei enquanto não estava.

Ela se deitou um pouco. Fitando-o. Ele não era o melhor aluno da turma, não era o mais inteligente, não era o mais bonito, não era quase porra nenhuma que prestasse para o mercado ou para a sociedade certinha, mas poucos na faculdade ou no mundo (segundo ele mesmo) conseguiam fazer a leitura do olhar feminino como ele. De repente, um filme começou a passar na mente dele numa fração de segundos: O gole. A saia. O lugar. O isolamento. A chance que ela provavelmente nunca se permitiu de imaginar fazer aquilo. O deitar. 

O olhar. O possível tapa. O possível beijo. Os lábios dela. Os lábios dela. Oslábiosdela...

Ele foi. Ela inicialmente se voltou pra trás. Mas como o tapa não veio, ele foi mais. Chegou perto dos lábios dela, e , percebendo que ela já esperava o beijo, foi ele quem parou, a centímetros dos lábios dela, os dele aguardavam a reação dela. Ela reagiu. Ele surpreendeu-se com a qualidade do beijo. O amolecer dos lábios dela, a língua  invadindo a boca quase gritando pra ser chupada. Ela não pensava em nada, só pirava. O corpo dela retorcendo-se e encaixando no dele. O beijo demorado demorando. ficando cada vez melhor, a cada nova inclinação de cabeça, a cada apertar de nuca. Algum tempo depois ele colocou as mãos sob a saia dela, pegou na coxa e ela levou mão de dele até a vagina. Estava molhada. Muito molhada. O coração dele disparou ainda mais, e o pênis dele ficou tão duro que parecia  não caber mais nas calças. O beijo fluiu com a mesma harmonia do papo. Ele já chupava com certa voracidade os seios, ao som dos gemidos mais maravilhosos do mundo  quando ela arredou a calcinha. Ele colocou o dedo. Depois mais um. Ele pôs o pau pra fora. Ela pegou. No início não soube o que fazer, mas depois de algumas instruções passou a manejar como uma veterana. Num momento de loucura, ele tentou perguntar se ela queria mesmo aquilo, e ela, a pessoa mais inteligente dali, interrompeu perguntando se ele não ia fazer logo aquilo direito.

Ele então tirou a calcinha. Ia com toda sede para chupar a buceta dela quando ela segurou a cabeça dele. O olhar dela era quase um implorar.

- É agora ou nunca. Sussurrou ela.
- Então vai ser agora.

Ele deveria ir devagar, afinal de contas tratava-se de uma virgem. Mas não foi. Ela gemeu o mais alto que poderia gemer num local público.Aquela dor passou a diluir-se na melhor sensação que já sentira na vida. E Ele quase não sentiu dor, mesmo depois que as unhas dela provavelmente já haviam arrancado todas as espinhas da costa dele. Ele já tinha transado duas vezes naquele dia. Estava longe de gozar, permitindo que apesar de aquele ser o momento mais sensual da vida dele, só gozasse depois de vê-la chegar ao orgasmo duas vezes. A última vez eles chegaram juntos.

...

O que ele mais temia ao fim daquilo, era ouvir no outro dela que estava arrependida. O que ela mais tinha medo era que ele não quisesse mais, enjoasse dela após comê-la já no "primeiro encontro". Ela não disse. Ele quis mais. Ele namorou sério pela primeira vez na vida. Ela NAMOROU pela primeira vez na vida. O amor, para eles, passou a ser  uma quimera. Sublime e safado, e eterno mesmo depois do fim. Os pais dela o gostaram muito dele, pois, para eles, ela dizia que estava conseguindo convertê-lo. Os  dois saíam muito para ir a vigílias. Os pais dele também gostaram muito dela, e sempre topavam omitir certas bobagens aos sogros do filho, ao não dizer, por exemplo, que a vigília a qual eles iam toda semana eram na verdade no quarto dele.


PS: o que aconteceu com o namorado dela fica por conta da imaginação de vocês!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A mão (d)e cada dedo

Meu grupo político e eu estávamos trabalhando com afinco esses últimos dias. Trabalhamos à moda antiga, mais por convicção política do que pelos dividendos que porventura isto pode ou não gerar. Quando a gente trabalha assim, dá ainda mais raiva quando as pessoas preferem votar em candidatos que compram votos ou que nitidamente concorrem apenas pelo dinheiro. Logo depois do processo eleitoral, ainda com sangue quente, me juntei a meus companheiros na reclamação geral contra os que tem vocação para acreditar mais em mentira do que na verdade. Mas depois, com mais calma, cheguei a conclusão de que não é correto ficar com raiva de quem acredita em outra coisa, ainda que essa outra coisa seja mentira, porque além de a idiotice fazer parte da democracia (queira ou não), lá na frente podemos precisar dessas pessoas, e não falo apenas do ponto de vista eleitoral.

Se tem uma verdade sobre a humanidade é que nós não sobrevivemos isoladamente. Nossa eficiência e nosso progresso só são alcançados quando aprendemos a utilizar o que o outro tem de melhor coordenado com o que também fazemos bem. Se eu como, é porque outro plantou, se eu compro é porque o outro vende, se eu trafico é porque o outro é viciado, se eu roubo é porque o outro tem, ou seja, vivemos numa grande teia de necessidades. Mas atualmente, mais que nunca, nossas pretensões são a antítese dessa necessidade básica. Na esteira do comportamento induzido pelo mercado, nós estamos cada vez mais valorizando o nosso eu, o nosso nós mais próximo, a nossa casa acima da rua, o nosso bairro acima do país, o nosso acima do deles. Nos comportamos como idiotas egoístas achando que isso é esperteza.

Se o mundo vive um colapso ecológico, se as cidades vivem um caos urbano, se a política é sinônimo de safadeza, tudo isso é fruto da pseudo-esperteza do ser humano. Esquecer a importância do outro em nossa vida e o peso negativo de nosso comportamento efêmero e imediatista é a verdadeira burrice dos espertos, pois tudo que fazemos contra o outro se volta contra nós de uma forma ou de outra, porque o tempo todo precisamos das outras pessoas, e chega uma hora que aquilo que fizemos de ruim pode voltar-se contra nós com a precisão newtoniana, por isso esperto é aquele que faz o bem, não importa a quem e nem quanto custa. Ter tolerância, ao contrário do que afirma nossa impaciência intrínseca e cosmopolita, é o verdadeiro investimento de vida.

Uma amiga minha costuma dizer que tudo é pedagógico. Concordo com ela. Tudo é pedagógico, e todo caminho que trilhamos é um eterno semear, mesmo na hora em que estamos colhendo. Valorizar nossa individualidade deve começar pela valorização da individualidade do outro, celebrar nossa inteligência é respeitar que o outro pense diferente. Viver, sobretudo viver bem, é saber conviver.