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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Canalha - Caça 7

Ele. Ela. O Canalha estava indo pagar uma conta. Ela estava indo comprar roupas. Se encontraram no sinal. Os dois se viram. Os dois fingiram que não se viram. Namoraram há bastante tempo, na adolescência, durante um certo veraneio. Ela ficou achando que ele nem a notara. Ele a achou mais linda do que antes. Ele ficou achando que ela acharia horrível a barriguinha avantajada dele. Ela não lembrava como o bumbum dele era bonito. Atravessaram juntos. Ele olhando para um lado. Ela olhando para outro.Tentaram se evitar e conseguiram.

Ele entrou no banco incomodado consigo mesmo. "Como é que eu não falei com ela?", se culpava. Ele lembrou como era tímido na adolescência, como aquilo, de encontrar uma namorada da adolescência, de repente o afetava. Súbito, uma enorme crise existencial acometeu o Canalha. "Não. Espera. Tenho que ser racional.", começou a refletir consigo mesmo o nosso anti-herói. Ele lembrou que um amigo dele poderia ter o número dela, pois estudou com ela anos depois, e descobriu que já tinham namorado. Deu certo. Número na mão. Agora o que fazer? "Já sei", decidiu.


- Alô.
- Alô. Quem é?
- Se você me viu e também fingiu que não viu no sinal, vem ao banquinho em frente ao carrinho de pipoca, no segundo piso do Shopping agora.
- Como assim? Onde é isso? Perguntou ela, mas percebeu que após o convite, ele encerrara a ligação e também o próprio aparelho.


Ela ficou num enorme dilema. Mas a curiosidade era insuperável. Ela foi. Ao chegar, viu o banquinho, mas não havia ninguém. Ele fez a clássica brincadeira de vendar os olhos delas com a mão. "Eu sei que é você. Não acha que isso é óbvio demais?", perguntou. "Eu não estou querendo que você adivinhe quem é, só estou te ajudando. Você ia fechar os olhos mesmo que eu sei", provoca ele, enquanto se põe diante dela e encosta o rosto próximo. Tira as mãos e fala com os lábios quase encostados que está com saudade. A abraça. Mais forte. Beija o rosto. O canto da boca. Ela não resiste. Ela abre a boca. Espera o beijo. Ele se afasta. Ela fica sem entender.

"Vem aqui", disse ele, puxando-a pela mão. Entraram numa das áreas de acesso de funcionários que a maioria das pessoas nem notam que existe. "Você tá me levando pra onde?", perguntou ela, ao mesmo tempo surpresa e sem palavras. "Pra onde você vai descobrir que quer ir tanto quanto eu", respondeu ele. Ele a encosta contra a parede. Olha nos olhos dela, e sem dizer nada a beija e a aperta contra ele. Ela se sentiu dominada, a mercê das ordens dele, e ensopada de vontade de obedecer. As mãos dele passeavam, ela até ensaiava dizer não, mas a boca dele, o jeito dele de conduzir era irresistível demais. Ele pôs o pênis pra fora e olhou nos olhos dela. "Vem". Ela foi. Pôs na boca. Movimentou as mãos. Ele segurou o cabelo dela. Ela gemia enquanto chupava. Gozou só de fazer sexo oral nele, ele disse que estava difícil de segurar. Ele a levantou, quis abaixar pra beijá-la também. "Não. Vem logo, antes que chegue alguém". Saia levantada, perna esquerda dela na mão direita dele, calcinha arredada... Ele foi.

Os dois gozaram juntos. Ela não gemeu mais alto dessa vez, mas ele percebeu porque ela também perdeu um pouco da força nas pernas. "Queria te dizer uma coisa", disse ele enquanto se recompunham. Ela fez sinal que ele poderia dizer. "Eu já te disse hoje que estava com saudades?", perguntou ele com um olhar cínico. Ela riu. Eles continuaram o "reencontro" depois...

domingo, 16 de outubro de 2011

Santinha


Pode me chamar de retrógrado
machista, ou o que for,
mas gosto das sonsas,
das mulheres que se escondem atrás do "amor"...
...das mulheres que se negam a demonstrar a própria devassidão.
Gosto do jogo de palavras, dos olhares que dizem sim enquanto a boca diz não.

Gosto da malícia de quem se oferece se negando
de quem é santa na igreja e vadia na cama.
Gosto que não goste de ser literal.
Gosto que não goste que te levem a mal.
Não tenho nada contra as livres,
até feminista eu sou, se for o caso,
acontece que nos seus labirintos eu me acho.

Não quer homem safado? Tudo bem, é só você que eu amo.
Não gosta de putaria tanto quanto eu? Tudo bem que só eu não preste.
Não quer sair para transar? Tudo bem, vamos jantar.

Eu gosto, santinha
 do contorno que suas neuras me fazem dar...
...até chegar lá.
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A resposta para este poema você encontra clicando na imagem abaixo

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Juventude 2011: é o novo ou o de novo?

"É tudo novo de novo?" Amanhã, 15 de outubro, Belém viverá um dia histórico: o 15 O, dia alusivo ao 15 M, movimento que invadiu as praças da Espanha, especialmente a Puerta del Sol em Madri, e mais do que isso, tenta fazer chegar a Belém a maré que invade o mundo, com manifestações mundo afora, enfrentando impérios estabelecidos ao longo da história, seja os mais totalitários, como no caso dos países árabes, seja os mais veladamente tiranos, como no caso da falsa democracia do primeiro mundo ocidental em países como Grécia, Inglaterra e Estados Unidos, desmascarada pela crise que mina os sonhos da juventude, esta mesmo que até podia ser chamada de apática no século 21, até 2011, o ano em que, do ponto de vista de explosões de manifestações históricas pelo mundo, já é considerado 1968 ao cubo. Mas, volto a primeira questão: e depois?


"Se não nos deixam sonhar, não vos deixaremos dormir",
diziam cartazes do 15M

Não vamos muito longe, basta olhar para o Congresso brasileiro, para os principais nomes que conduzem a política brasileira para chegarmos á conclusão de que "aqueles garotos que iam mudar o mundo" na década de sessenta no Brasil frequentam agora, com a cara mais lavada, as festas do "Grand Monde", eu diria até que são o "Grand Monde". Fernando Henrique Cardoso, o intelectual de esquerda daquela década foi o presidente que consolidou o neoliberalismo; Dilma Russef, outrora torturada pela ditadura, implementa na Amazônia Belo Monte, projeto da ditadura que a torturou, de forma mais avassaladora e incisiva que nem os próprios militares ousaram; José Genoino, outrora guerrilheiro do Araguaia, tem hoje sua biografia manchada pelo mensalão; só para citar alguns.


"Esqueçam o que escrevi".
frase que FHC diz que não disse, mas não pode negar que o fez

Impressionante como o establishment mais parece um vírus indestrutível, com sua capacidade inequívoca de se adaptar a cada nova praga contra ele. Che, de revolucionário passa a ser ícone pop; sindicatos, outrora braço da revolução anarquista hoje é elemento da legitimação do Estado como ele é; a pauta ambiental que antes servia para denunciar o modelo de desenvolvimento predatório hoje não passa de uma política de sustentabilidade da Vale.

"Museu de grandes novidades": museu Reina Sofia (Madri) e gravuras originais do Maio de 68 francês
Não escrevo isso com o pessimismo de quem teme o amanhã, e sim com o otimismo de que não quer ver repetir-se esta parte do ontem. Que o mundo como está não deveria estar é óbvio, sobre isso as crianças que morrem desnutridas na Somália derrubam qualquer argumento contrário a isso. Mas espero que possamos beber das experiências dos revolucionários de ontem e opressores de hoje para que a geração atual (na qual me incluo) diga e faça algo de novo e não de novo.
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Hoje também, com muita alegria e honra, estou no quadro Nossas Marés, do blog Entre Marés, da querida amiga blogueira Suzana Martins. Clique na imagem para navegar até lá.

domingo, 9 de outubro de 2011

Círio de Nazaré

Detalhe do cartaz: rostos anônimos por trás da maior festa religiosa do Brasil.
Na casa do Pai, eu não vou. Sou macumbeiro, sou do demônio; sou maconheiro, sou um transtorno; sou protestante, não vou pro céu; sou homossexual, mereço viver mas não mereço ser eu mesmo; sou artista, e na minha arte não está explícito que Deus é tudo e eu não sou nada então eu não sou ungido; sou católico, mas não praticante;

Mas pra casa da mãe eu vou, pois ela me aceita como sou.

No segundo domingo de outubro, Mãe Nazica faz famílias contemporâneas inteiras sentarem na mesma mesa, comer a mesma maniçoba, tomar o mesmo tacacá, mas não é natal, tem fogos mas não é ano novo. Graças a nossa mãezinha do céu, formamos todas e todos um imenso rio de gente de todas as classes sociais, de muitas denominações religiosas, todos os gêneros e orientações sexuais, indo para o mesmo mar.

São coisas que só uma verdadeira mãe consegue fazer. O Círio é lindo! Há cores, dores, flores, fogos, chuvas de papéis picados, de lágrimas salgadas, e uma assunção de fé incondicional e cativante, inundando cada beco da cidade morena da Amazônia. Mas como é uma festa de mãe, ouso dizer, que é lindo mesmo, porque quem mais precisam são os que fazem a melhor parte da festa. Porque mãe é assim, ama cada filho igual, mas sempre dá mais atenção a quem mais precisa de colo.
A maior compressão de seres humanos num só espaço: Corda do Círio.

Festa da Chiquita: Homenagem da comunidade LGBT a Nossa Senhora.

É Círio hoje. É Círio sempre.

Amém, axé, awerê e aleluia!
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Falo mais sobre o Círio e suas contradições aqui.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Uma questão de fé

*Xô xuá cada macaco no seu galho
Xô xuá eu não me canso de falar
Xô xuá cada macaco no seu galho
Xô xuá o seu é em outro lugar
É preciso ter fé para acreditar que Deus existe. É preciso fé pra acreditar que não.
...
Ele poderia estar estudando, mas sai de casa com a Bíblia em punho, no peito um fanatismo travestido de missão, além da empolgação de um cego que recebe o comando de caminhar para o outro lado se não quiser cair num abismo infinito. Ele sobe no ônibus, não pergunta se alguém ali quer salvação, não se importa de estar parecendo (e sendo) idiota, simplesmente recita versículos descontextualizados de uma teologia digna de qualquer manicômio, e começa a pregar que vai pro inferno que não faz o que ele diz, como um piolhento fazendo propaganda de shampoo. Ele desce do ônibus, sem evangelizar ninguém, sem convencer ninguém, sem salvar ninguém. Encosta a cabeça no travesseiro, e dorme satisfeito consigo mesmo. Quem sabe um dia ele acorde.
...

Ele poderia estar namorando, mas senta em frente ao PC e com bastante informações científicas a respeito das contradições da Bíblia e dos pontos falhos das doutrinas opressoras das grandes religiões ele resolve criar um blog para dizer que quem tem fé é burro e quem é ateu é gênio. Se delicia com os fanáticos religiosos nos tempos de retorno ao fanatismo religioso; derruba cada pseudo-argumento. Partilha sua alegria com os amigos ateus, e, sem fazer bem a ninguém, muito menos a si mesmo, ele vai dormir a noite, fazendo uma verdadeira oração ao Deus do orgulho besta.

...

Eu gostaria que respeitassem meu direito de crer ou de não crer, ainda que eu vá pro inferno ou que morra burro. A idiotice de quem distribui violência gratuita para divulgar a própria convicção não deveria nascer do barro, nem do Big Bang.
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*Cada Macaco no Seu Galho (Caetano Veloso)