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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

2009 já era...

Não sei se estou ficando velho, mas esse ano o tempo me assustou. Eu nunca fui exatamente um relapso, mas em 2009 foi a primeira vez que eu percebi o quanto a vida passa rápido, e quanto as muitas revoluções que acontecem a cada segundo nos empurram a um emaranhado de acontecimentos ao ponto de nos deixar num verdadeiro labirinto enfeitado do espaço-tempo.

Eu comecei a entrar nessa viagem em meados de novembro, quando eu estava olhando no meu orkut as fotos do Fórum Social Mundial que aconteceu em Belém do Pará em janeiro, e a sensação que eu tinha era que aquilo havia sido há cem anos atrás (Meu Deus! Foi em janeiro!). Com a globalização sentada e coçando o saco no sofá de nossas salas, temos bilhões de informações caindo em nosso colo de pernas abertas, e gozamos sempre muito rápido cada uma delas. É mais ou menos assim: Oi/ Tchau! Num piscar de olhos. Não parece que foi há muito tempo que o Michael Jackson morreu? Parece que foi esse ano que nos borramos de medo da gripe do porco? É assustador!

O homem historicamente buscou grandes realizações para garantir a eternidade. Praticamente todas as religiões e crenças oferecem respostas a essa preocupação da humanidade com a mira certeira do tempo. Se antes a preocupação se materializava nas gravuras, nas múmias, na promessa de vida eterna/ reencarnação ou algo do tipo, atualmente nós veneramos o imediato através de imagens em vídeos e fotos digitais de alta resolução e/ou louvando o senhor em cultos espetacularizados. Antes priorizávamos a perfeição, o conteúdo, a durabilidade, para garantir a eternidade. Atualmente buscamos o prático, o divertido, o passageiro, para garantir o melhor agora possível. Com a avalanche de informações e a aparente praticidade de todas as coisas, nosso olhar ao além e ao aquém aparentemente atrofiou. Só temos tempo e saco para o já e o aqui.


O ano de 2009 já está acabando. Breve ele será apenas aquela imagem salva no HD, aquele beijo que aguardamos tanto, aquele herói que se foi, ou seja, um mosaico de sensações diluído no rio da vida que corre sempre, apesar de tudo. Gostaria que ao invés de só gozarmos a vida tivéssemos mais paciência pras preliminares, pras conversas e carícias do depois, mas percebi em meu amargo novembro que não tem sido bem assim. Parafraseando o acidentado Dinho Ouro Preto e seu parceiro Alvin L, declaro a quem possa interessar:

2009 em breve será só mais um ano

Uma camisinha na lixeira

Um osso sem tutano

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Feliz 2010 a todos e todas que têm a paciência homérica de me ler! Aos muitos que comentaram por telefone, pelo msn, pelo orkut e morrem de vergonha de exporem seus comentários, meu muitíssimo obrigado; aos meus visitantes de sempre, que deixam suas marcas de altíssimo nível aqui, saibam que minha gratidão não cabe neste peito magro. Para finalizar este primeiro ano com blog, faço a promessa de melhorar a aparência desta casa, porque nem eu mesmo tenho muito saco pra ela desse jeito, e deixo aqui as 7 melhores paulinisses segundo o Eraldo desse ano (eu já disse que amo fazer listas?). Cafungadas no cangote de todos e todas.

PS: Na dúvida sobre qual cueca ou calcinha usar na virada, não use nada – pode ajudar. XD

Dezembro:
Twittando...


Novembro:

Receita_para_ser_um_bom_universitário


Outubro:
nalireCo


Setembro:
Infância...


Agosto:
Ditados_Pós-modernos


Julho:
Pipas


Junho:

Michael_Jackson

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Deus e o Diabo - Oração de Natal!


Escuridão, enxofre e luzes roxas formavam o cenário do encontro dos párias transcendentais. Um exército reunido às margens do fogo do inferno atendendo à articulação do Diabo. Algumas criaturas do outro mundo reunidas ali apelidavam a ação convocada pelo Belzebu de "Operação Feliz Natal!". O plano era fazer um grande ataque ao Reino dos Céus e acabar com o Plano de Deus Javé no dia que a humanidade celebrava o nascimento do filho de Altíssimo. Estavam presentes os deuses nórdicos, greco-romanos, entidades das florestas amazônica, da América do Norte, e de todas as outras existentes em algum "outro lugar" da existência, assim como todas as outras forças do outro mundo que não são reconhecidos pelo ocidente como coisa do bem. Houve quem tivesse avistado Buda, mas isso não pôde ser confirmado.

Fileiras enormes com milhares de demônios e formavam o que de longe mais parecia um grande formigueiro organizado sobre uma planície seca e mórbida. Inclusive, somente de muito longe era possível ver de fato o tamanho daquele batalhão. 
Eis que surge em meio a uma grande explosão de enxofre o Tinhoso. Seus chifres aparentemente estavam lustrados, sua pele estava mais vermelha que de costume, sua calda recebera um enfeite dourado na ponta; com os dentes cerrados olhou para todos e soltou um ruído que no início parecia inaudível, tamanha a agudez, mas em seguida mais parecia um ronco suíno carregado no colo por um mega sistema sonoro. Era a saudação do Coisa Ruim.

- Meu bravos, Feliz Nataaaal! Berrou ironicamente o Tinhoso, arrancando gargalhadas até mesmo de Apolo.

- Hoje é dia do fim da hipocrisia no mundo. O Deus que combateremos é o Deus da presunção, autor da manipulação travestida de livre arbítrio, cegueira e moralismo apelidados de liberdade. Chega! O mundo não é apenas de um Deus ciumento e bobo, há lugar para tudo. Haverá um dia em que cada um aqui poderá agir no mundo como queira de verdade, e nesse dia, meus bravos, esse tal "Todo Poderoso" de merda não mais existirá, porque agora mesmo nós vamos acabar com ele!Quem como eu não perdoa tanta sandice confundida com fé, me sigam!

Uma grande euforia acometeu todos os presentes nas profundezas do Inferno, pouco antes de serem transportados diretamente ao Reino dos Céus. Quando apareceu todo o exército do Diabo, perceberam que diante deles estava um exército do mesmo tamanho, se não maior, formado por anjos, querubins, arcanjos, profetas e santos. A presença deles ali, de forma tão organizada ante o pretenso ataque surpresa do Cão dos Infernos era mais uma evidência da onisciência de Deus, conforme refletia Oxum. O Diabo liderava o exército do mau enquanto a frente do exército de luz estava o arcanjo Gabriel.

Não houve palavra alguma. Não havia verbalização na corrida dos dois exércitos, um ao encontro do outro, de fazer tremer as estruturas celestes. Contudo, havia poesia naquele lugar dividido ao meio; de um lado um céu sorridente e azul, do outro, um céu sisudo e cinza, e na fronteira dos firmamentos havia muita luz e muita fumaça. A batalha se iniciara.

Enquanto os demônios pulavam nas costas dos anjos e dos santos e davam mordidas vorazes, os anjos revidavam com feixes de luz que desfazia os chifrudinhos.

A batalha entre Lúcifer e Gabriel seria épica se não fosse tão breve. Antes mesmo de qualquer ataque efetivo de Gabriel, o tridente do Tinhoso o atravessou, fazendo voar penas.
Logo em seguida, eis que surge Deus Javé.

- Basta! Esbravejou o Altíssimo.

De repente uma grande onda gigante apareceu em cada flanco do exército diabólico, e parecia que os espremeria. Mas não chegou a atingi-los porque Poseidon não permitiu. Toda a energia do Deus grego garantiu que as ondas voltassem de onde vieram. Este foi o primeiro dos deuses convidados a entrar em ação. Depois dele, Zeus, ao lado de Júpiter e Odim lideravam o exército divino aliado do diabo que avançavam por sobre as fileiras do Deus único.

Os anjos e arcanjos se posicionaram a frente de Deus e combateram bravamente todos os deuses e entidades. Mas foram todos derrotados. Maria, por exemplo, com toda a sua oração não pôde com Iemanjá e a egípcia Ísis.

Deus enviava raios, que eram desviados por Thor; tentou desabar o sol sobre os inimigos, mas Apolo não permitiu. Javé ficou encurralado. O céu azul passou a ser tragado pela sombra. O Diabo correu em direção a Deus, babando como o cão sarnento que é; O Deus único, mesmo sendo onipresente e onisciente não conseguiu impedir o ataque feroz dos espíritos amazônidas e asiáticos aliados. Ficou atordoado. O chifrudo então pulou sobre as costas sagradas DELE, derrubou e pisou em seu pescoço enfeitado pela límpida e perfumada barba branca.

- Inspire alguma daquelas parábolas agora, seu desgraçado. Gritou o "Você-sabe-quem".
- Sabe porque eu o derrotei? Sabe?! Você, com essa ambição de ser o Deus único se sobrecarrega. Enquanto sua Maria precisa orar pra você ainda ver se fará alguma coisa, Iemanjá e Isis são fortes por si mesmas. Enquanto você é o único Deus, Júpiter, Zeus e Odin não foram egoístas a esse ponto e criaram criaturas com poderes. Criaturas que podem bem mais do que resolver problemas de matemática aplicada, física quântica, compor sinfonias ou decorar o rosário. Todos os que acreditam terem sido criados por você até agora só fizeram se destruir. Seu mundo já foi derrotado por mim, agora o Deus desse mundo é quem vai perecer aos meus pés, concluiu o Diabo, enquanto o tridente já descia entre as duas mãos cerradas de Lúcifer contra a cabeça de Deus.

Silêncio.
No momento em que as criaturas estavam prestes a soltar berros eufóricos de comemoração, tudo o que puderam fazer foi silêncio. De repente a criatura aos pés do Inimigo dissolveu-se. O céu se refez, mas não era dia e sim noite, com a mais bela das luas cheias já existente. De cima, descia o que para uns era um senhor branco, de barba e cabelos grisalhos, pra outro era indígena, pra outros era negro, pra outros era como o vizinho da esquina, e assim por diante. Trazia uma criança no colo enquanto um vento com um ruído que mais parecia uma doce sinfonia cercava a todos.

- São Pai, Filho e Espírito Santo. Reconheceram os anjos, santos e profetas, todos já com aparência de ilesos, que logo se ajoelharam.

- Ele nos enganou! Avante! Berrou o Satanás.

- Tomem. Eu vos ofereço meu único filho. Disse Deus, com lágrimas perfeitas caindo de seus olhos benévolos. Lacrimejante, Deus ergueu seu filho, e todas as criaturas que ali estavam paralisaram.

- Isso é um truque! Não acreditem nele. Ele posa de bonzinho, mas em breve vai mandar esse filho dele voltar e acabar com tudo o que conhecemos. Ele é uma ameaça. Em frente. Esbravejava Lúcifer.

Os demônios e todas as criaturas malignas continuaram o ataque, mas foram barradas pelos deuses, entidades da floresta, e outras criaturas que não desejam o mal gratuitamente a ninguém.

- Seu argumento é falacioso a partir do momento que ele se torna uma meia verdade. Disse calmamente Odin, deixando Loki aparentemente constrangido.

De repente, todos os que não eram demônios começaram a sumir, indiferentes às súplicas do Diabo.

Ares, antes de sumir, colocou as mãos nos ombros de Lúcifer.

- Nenhum de nós jamais faria tamanho sacrifício. Isso perdeu a graça.

- Mas como, com um único gesto esse sonso pôde convence-los? E os fiéis dele?! Vocês não querem mais?

- Você nos convenceu a vir aqui pelo prazer de derrotá-lo. Nós o derrotamos, ele permitiu que nós soubéssemos como seria uma batalha de verdade. Aproveitamos cada segundo, foi ótimo. Ninguém gosta mais de guerras do que eu, mas muitos de nossos deuses já fizeram sacrifício semelhante. Você não entende porque parece não ter nascido pra entender. E percebemos que sermos liderados por você não seria muito diferente de ser liderado por Ele. Para nós, esse jogo maniqueísta não tem mais a menor graça.

Deus e o Diabo ficaram frente a frente novamente, depois de todo o exército do mal desaparecer enquanto tudo de ruim que fizeram no Reino dos Céus foi se consertando. A direita de Deus, Jesus já não era mais um menino, e sim a mais perfeita intercessão entre Deus e o homem. A melodia cantada pelo vento agora tinha um tom mais grave, parecido com uma marcha fúnebre.

O Diabo fitou os olhos que ainda a pouco estavam abaixo dele cantando o refrão dos derrotados. Refrão que agora era entoado pelos olhos do Satanás.

E assim, mas uma vez, O Diabo e todos os demônios desceram ao inferno, no dia em que entre o céu e o inferno haviam muitos presépios e presepadas demais. Esse último detalhe pelo menos confortava o Tinhoso. "Eles em dois mil anos não entenderam o que aqueles putos entenderam em segundos. Todo Deus é uma merda mesmo", pensou enquanto voltava para o fogo do Inferno.
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Outras orações:
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sábado, 19 de dezembro de 2009

A música simplesmente é

Blogagem Coletiva: Vamos Falar de Música
Uma verdadeira orgia musico-blogal!


Não há ambiente sem música. Até mesmo o silêncio é uma sinfonia de sensações que imprime o ritmo de nosso humor em meio ao nosso tudo particular submerso naquele nada aparente. Quando estamos no trânsito, mesmo sem um aparelho de Mp3 ligado, ou sem aquela radio cafona sintonizada pelo motorista do ônibus, o som das buzinas são uma espécie de improviso jazzístico sobre a voz rouca do motor. O que dizer então dos berçários e todos aqueles vocalistas de Rock'n Roll disputando pra ver quem dá o maior agudo, além daquelas rechonchudas musas do pop desferindo aqueles gemidos sensuais, fazendo caras e bocas? O que dizer do fulano que chega em casa? Introdução: Campainha em lá menor. Base: Passos ritmados - velocidade dependendo da preguiça ou da idade do anfitrião. Solo: cumprimentos que de tão formais e automáticos, são como uma letra de rap. Tem a canção do namoro, com estrofes melodiosas e refrões profundos e pegajosos - muitas vezes viris, outras vezes capazes de nos fazer lacrimejar. Há a música do trabalho, com o canto gregoriano entoado pelos puxa-sacos ao Deus da repartição, ou o batuque dos canibais famintos que aparentemente estão ao seu lado, mas na verdade estão temperando sua carne para a janta de daqui a pouco. Jamais podemos esquecer a música instrumental dos olhares incandescentes a flertar, ou do contratempo semitonado dos ambientes de debate e seus acordes muitas vezes dissonantes. Obviamente também existe a música dos motéis, duetos que em ocasiões especiais podem ser quartetos, semelhantes aos corais entoados singelamente pelos estudantes em viagens livres de censura, onde a criatividade artística não só é liberada como insentivada. Existe a canção do lar, composta por muitos parceiros e parceiras, reanrranjada diariamente, sempre no mesmo tom. Existe música na feira também, como não? É na feira que a composição dos aflitos se junta à metáfora dos versos livres para formar a canção dos desgraçados sorridentes. Não poderia deixar de haver música para surdos e mudos, ou seja, aquelas entoadas por políticos sobre o palanque.

O fato é que a música está em todo lugar, porque é de todo lugar que ela brota; uma música pode nascer de uma paisagem disneysíaca ou de uma espremida no banheiro. A música brota do limbo, do purgatório que separa o céu do inferno, das palafitas que separam os transeuntes dos igapós.

A música não tem obrigação de ser nada, nem tem culpa do pai ou da mãe que têm. A música simplesmente é. Não serve pra educar, nem serve pra ser nada. Uma música de vanguarda para analfabetos é como ouro era para os nossos antepassados indígenas. Aliás, musicais mesmo eram eles, pois preferiam os espelhos, ou seja, algo que os fizessem refletir o que de fato eles eram a se iludirem com um brilho que não era de fato deles.

A música é feita com uma poção mágica, cujos ingredientes são:

- Uma pitada de Ar
- Duas doses de Diafragma
- Articulação ósseo/muscular a gosto
- Doses generosas de Alma

A música, pra ser entendida, deve ser sua.
















Um dos critérios obrigatórios desta blogagem coletiva é elaborar uma lista com as melhores músicas segundo nosso próprio gosto, o que é muito difícil - ainda que fosse um top cem seria complicaddo. Por isso eu vou expor não necessariamente as minhas músicas prediletas (amo elaborar listas de melhores qualquer coisa), mas sim aquelas que melhor refletem meu jeito de ser e de pensar no presente momento que vos falo agora neste exato instante:

1 -Eu Quero Apenas (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

2 - O Vencedor (Marcelo Camello)

3 -Do the evolution (Pearl Jam)

4 - Roda Viva (Chico Buarque de Hollanda)

5 -Eu era um lobisomem juvenil (Dado Villa-lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Nós e a Legião


"Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
que tudo era pra sempre,

sem saber que o pra sempre sempre acaba" (R. Russo)

Ontem reencontrei um dos meus primeiros amigos de colégio, chamado Edinan, mais conhecido como Edinho. Foi ele quem me apresentou ao mundo dos video games. No auge do console Super Nintendo ele vivia desenhando (e muito bem) em seu caderno os personagens do jogo que era febre na época, Street Fighter 2, e pela curiosidade de saber de onde brotava toda aquela inspiração aceitei o convite dele e fui até uma locadora de vídeo games. Pagamos um real cada e jogamos por uma hora. Na verdade só ele jogou, eu só perdi. Pior. Deixei cair o joystick - crime!. Perdemos 15 min de nosso tempo. Depois disso eu passei a ir sozinho pra aprender. Aprendi.

Manhêêêê!!! Quero um Super Nintendo!

Dona Fátima suou e eu ganhei um. Virei fera. Era um dos melhores da rua.

Nesse meio tempo me distanciei de Edinan, por todos os motivos que todos estão cansados de saber: distância geográfica, de almas, de sortes, de corpos, etc.

Por ironia do destino eu virei dono de uma locadora de vídeo games anos depois. E voltamos a conviver nessa época. Mas não ficamos próximos como antes. Nós viramos rivais de vídeo game. Ficávamos horas disputando. Delícia ter algum bom desafio desse tipo. Não substituía o prazer de namorar e jogar bola, mas depois dessas coisas jogar com quem sabia jogar era o que mais gostava de fazer.

Anos depois, já quase no fim da era da locadora em minha casa, quando já não tinha o mesmo barato jogar vídeo games, inclusive, por um acaso nos pegamos conversando sobre Legião Urbana entre amigos em comum. Edinho já era fã da legião a mais de dez anos na época, e eu conhecia não fazia nem um ano. Ele, portanto, fazia parte daquela religião renatorrusseana que não só sabia de cor todas as letras como se orgulhava de ser um dos poucos que além de ouvir também entendiam o que diziam as letras densas da banda.

Quando ele percebeu que eu gostava e ainda comentava veio até minha casa no dia seguinte e puxou logo o assunto da legião. Depois eu percebi que ele veio na verdade me testar pra ver se eu poderia ser considerado membro da seita ou algo assim:

Edinho: Cara, o que você entende quando o Renato Russo canta "e lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa"?

Eu: Acredito que seja uma crítica ao egoísmo, como se eu estivesse dizendo que as pessoas não são dignas de minha ajuda, que minha solidariedade é maior do que qualquer um.

Edinho: O.o

Fui aprovado com folgas. Edinan não era porra nenhuma na época além de gostar a mais tempo de legião, mas passar no teste dele foi uma das coisas que mais me deu orgulho nessa vida. Senti que a partir dali eu poderia me considerar um legionário. Então, periodicamente nos reuníamos para fazermos as viagens existenciais que as letras de Manfredini proporcionam. Em nossa conversa era fácil se ouvir questionamentos como:

- Por que o mundo é assim?

- Por que esse país não vai pra frente?

- Por que vivemos num mundo tão cruel?

- Por que que a gente é assim?

Até que chegou um momento em que isso passou a ficar desgastante. Sabe quando você mesmo começa a se achar um chato? Ele saiu dessa viagem antes de mim. Eu demorei mais a me tocar que ficar numa viagem existencial de vez em quando é até saudável, mas viver permanente mente assim é assinar um contrato de exclusividade com a tristeza, a chatice e a depressão gratuitas. Nos distanciamos de novo. Ele parou de só questionar e passou a viver de lá, e eu também parei de me auto-flagelar e viver de cá. Como moramos próximos, nos vemos com certa frequência, mas daquela forma como todos os ex-amigos íntimos se falam, ou seja, numa fração de segundos que separa o oi da resposta passa o flash back de nossa história, e ao mesmo tempo fazemos um raciocínio lógico: distância + tempo = falta de entrosamento.

Nos encontramos no ponto de ônibus. Nos falamos normalmente - Fala! Eaí?! - cada um em seu próprio universo e sem descer de sua nave estelar . Nenhum de nós pareceu disposto a forçar uma intimidade em nome dos velhos tempos. Seria meio ridículo àquela altura, penso. Ao invés de perguntar se eu estou trabalhando/ em que, ele olhou a minha bolsa do trabalho, e eu ao invés de perguntar aonde ia, observei que ele tomou um ônibus para a universidade. Simples assim. Sem ter de passar pela frescura da formalidade obrigatória ele seguiu. Eu também. Enquanto isso, assustadoramente, o mundo continua girando.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Por uma cultura de paz!


Eu gostaria de pensar que é só em Belém, mas infelizmente creio que não seja o caso. Aqui existe um costume sádico de espancar pessoas que são pegas roubando, costume esse que é aplaudido pela ampla maioria. Tais espancamentos na maioria das vezes resultam em morte, ou, se não for o caso, em mutilações decorrentes de surras cruéis, com direito a pauladas, pedradas e facadas.

Ontem, quando voltava pra casa, pela primeira vez eu vi uma cena dessas. Os justiceiros que capturaram o suposto ladrão não pareciam ter plena certeza de que o infeliz fosse realmente ladrão, mas isso não impediu que o capturado levasse pelo menos uns dez socos, todos no rosto. Um deles pareceu ter quebrado o nariz do cara. O homem que segurou pela camisa o 'acusado' era forte, cerca de 1,85 m, altura semelhante a do capturado. Dava pra ver nele, em meio a gritos de desespero de "não fui eu! Eu não roubei!" que o rapaz era forte, que sozinho ganharia de quase todos, caso a briga fosse justa. Mas não era. O cara então preferia levar socos de pessoas menores do que ele a correr o risco de ser jogado no chão e levar toda sorte de pancadas com diferentes objetos - tentaram derrubá-lo umas três vezes, mas ele resistiu.

Não vi como a confusão começou. Na verdade, só vi porque o trânsito estava engarrafado, e a cena estava rolando bem diante de mim. Normalmente eu me esquivo de coisas assim. Detesto violência. Não sei se o soltaram ou se terminaram de espancá-lo, pois o trânsito fluiu.

Eu tive sorte - na verdade quem teve sorte foi o rapaz - porque no geral, quando são pegos, os jovens não tem muita escolha a não ser rezar pra desmaiar com alguma pancada, ou pedir a Deus que toda aquela brutalidade não resulte em sua morte. Só em Belém, este ano, dezenas de jovens foram vítimas de extermínios do tipo. Ai eu pergunto: quem nos deu o direito de decidir o destino das pessoas?

Não quero aqui fazer qualquer apologia a marginais, ao contrário, pra começo de conversa muitas dessas histórias seriam evitadas se os marginais que governam esse país fossem pra cadeia. Quero aqui fazer um desabafo sobre o quanto a violência está banalizada. Não é aceitável que gestos de violência sejam cometidos por supostas pessoas de bem e ninguém reaja a isso. Os corpos das vítimas de espancamentos ficam completamente desfigurados. Aí eu pergunto: ninguém se importa com as famílias dessas vítimas? alguém se coloca no lugar de uma mãe que vê seu filho num estado desses? Não. Ninguém pensa nada. O que leva as pessoas a cometerem tamanha atrocidade é a selvageria, provocada pela ausência do Estado - se essa porra não tem lei, façamos do nosso jeito - e pela completa falta de compromisso real com a vida, com a vida a ser vivida plenamente, da melhor forma possível.

Eu já fui roubado três vezes. A primeira delas em casa. O ódio que invade nosso peito em momentos como esse não se pode medir com números humanos. No entanto, imagina se eu tivesse uma arma na hora. Imagina se eu mato o infeliz que me assaltou. Ele roubou porque não se importou comigo, com minha história de vida, com minha família. Exterminá-lo me tornaria melhor que ele?

O caminho mais humano a ser tomado deveria ser entregar o ladrão para a policia. A polícia não presta? Por que não canalizar as energias então pra lutar contra isso? A justiça é lenta? Quer dizer que é mais fácil espancar um indefeso do que lutar por seus direitos? O índice de violência está atrelado diretamente à desigualdade social. Por que não canalizar as energias pra se lutar pelo fim disso?

Vivemos numa sociedade em que nos vendem a ilusão de que podemos comprar tudo pronto, mas a felicidade não vem no saco do Papai Noel, e não nos livraremos de nossa mediocridade comprando o livro da moda. É necessário a construção coletiva de uma cultura de paz. A paz não vai ser alcançada com mais violência - até a Xuxa sabe disso, pelo amor de Deus - e sim com uma nova postura social que deve ser construída de baixo para cima. É IMPOSSÍVEL COMPRAR A PAZ! A PAZ SERÁ ALCANÇADA COM JUSTIÇA! A JUSTIÇA SÓ SERÁ ALCANÇADA COM AMOR - ou alguém consegue ser justo com ódio no coração?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sabe...? Devaneio 5*

Sabe quando aquele filho da puta que te enche o saco pra caralho abre a guarda por tempo suficiente pra você detoná-lo, e no exato momento de fazê-lo você sente pena? Não?!
Sabe quando você deixa de enxergar um filho da puta e só consegue ver um pedaço de merda inútil em sua frente?
Mas afinal quem tem tempo pra ficar revirando lixo?
Pois é!


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* Outros devaneios:

Sabe...? Devaneio 4

Sabe...? Devaneio 3

Sabe...? Devaneio 2

Sabe...?

domingo, 6 de dezembro de 2009

Twittando...

06h00m - Acordo esfregando os olhos... acenderam a luz... pelas minhas mãos cerradas o sonho que tive com você se esvai.. como água

07h14m - Caminhando para o trabalho, sinto seu cheiro. Olho pra trás... não era você... não era ninguém.

08h46m - Estou trabalhando. Sinto seus lábios nos meus... sua língua está em minha boca... NÃO ESTÁ? Não está...

09h12m - No intervalo pro café. Estou sorrindo... nos divertimos tanto naquele dia... - Você tá ficando maluco? - não (risos constrangidos); não é nada. Estou lembrando de uma coisa...

10h10m - Meu colega de trabalho fala a mesma palvra que você me disse após nosso último encontro... Minha calça fica apertada na região genitária... meu coração fica apertado na região da saudade... minha alma fica em frenesi na região do fogo ardente...

11h49m - estranho... reparo que não estava pensando em você

12h00m - Meu peito formiga qual d'uma golada deavisada de cachaça... é você?!... ... ... não. Claro que não é... nem poderia...

14h15m - Chego em casa finalmente. Estou com muito sono. Durmo. ... seria tão bom continuar o sonho que tive pela manhã

15h57m - Conseguimos finalmente encaixar nosso beijo... estamos num só ritmo... nossos corpos estão muito encostados... você pressiona seu quadril contra mim... friccionando... acendendo... um poste sai voando... minha mãe fala bom dia enquanto a beijo... um cachorro mia com a capa do Crypto... ... ... acordo! Suado!

16h00m - ...

17h44m - Levanto bastante apressado... ... ... dessa vez não sonhei com você... chato

18h12m - Vou pra faculdade. Um vazio preenche meu peito. A luz de seus olhos enubrecem minha vista... estou cabisbaixo tal qual um herói pedindo socorro, ou um palhaço pedindo alegria...
por que
você não está aqui?

19h27m - O professor entra na sala. Entra sorrindo. Começa a explicar sobre a noticiab(o amor que sinto por você é tão lindo. Me faz bem amar tão profundamente uma pessoa tão especial como você)ilidade...

20h34m - Trabalho complexo... concentração.

23h56m - Sinto falta de entrelaçar meus dedos em suas mãos em uma tarde quente de Belém... te chamar de safada enquando fazemos amor... ver as maçãs do seu rosto avermelharem quando digo que você é linda... falar com voz de criança que voxê é meu bebexinho... ouvir você cantar em meu ouvido "Eu preciso dizer que te amo/ Te ganhar ou perder por engano"... olharmos um nos olhos do outro e simplesmente dormir fitando o universo que aparentemente nos pertence...

23h57m - Queria que você existisse...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Irmã Dorothy vive!

Dia 12 de fevereiro de 2005, uma senhora que não só nunca fez mal a ninguém, mas dedicou toda a sua vida em prol da promoção de vidas humanas excluídas do direito a viver dingamente, foi brutalmente assassinada. Vitima da falta da presença do Estado para resolver as questões agrárias na Amazônia e no Brasil, Dorothy tombou na terra que tanto defendeu ser de todos/as, para ser usada de forma sustentável, responsável e democraticamente.

Dia 10 de dezembro de 2004 Irmã Drothy recebeu o Prêmio "José Carlos Castro",criado pela OAB para homenagear os defensores dos direitos humanos no Estado do Pará.

Dia 10 de dezembro de 2009 o assassino confesso de Irmã Dorothy será julgado em Belém.

Condenar um assassino mandado é uma questão de justiça. Mas a paz no campo só será garantida quando houver um processo sério de reforma agrária nesse país.

Mudar os paradigmas do desenvolvimento da Amazônia, de um modelo efêmero e e predatório para um modelo sustentável e longínquo não será uma tarefa fácil. Enquanto hipocritamente os governos capitalistas mundiais discutem redução de emissão de gazes, vidas como as da Ir. Dorothy sangram na floresta por não esperarem que essa mudança caia do céu, ou de um gabinete.

A arma que matou Ir. Dorothy foi disparada pelo pistoleiro Raifran das Neves, mas por trás deste infeliz, está a quadrilha dos grileiros, o agro-negócio e os madeireiros que destroem a biodiversidade e a cultura da amazônia em detrimento da monocultura e da maximização inconsequente dos lucros.

Enquanto existir o sonho de uma Amazônia verdadeiramente livre das garras dos gananciosos, Ir. Dorothy viverá.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Crise Existencial



Entrevista exclusiva de mim comigo mesmo:




Eu: Você é feliz?

Eu mesmo: Caramba! Tinha que começar logo com essa pergunta?

Eu: Resposta errada. Se tivesse respondido de outra forma, acabaria logo com a entrevista (risos). Agora me diga quantas vezes você já tocou sua existência essa semana.

Eu mesmo: Gostaria algumas vezes de fazê-lo menos, mas ouvi muita Legião Urbana em minha adolescência pra não me perguntar ao menos uma vez por dia por que eu vivo nesse inferno celestial.

Eu: Te incomoda conviver com tantas pessoas que são tão diferentes de você?

Eu mesmo: Normalmente não. Mas me magoa a intolerância das pessoas. Sabe, as pessoas costumam colocar uma redoma de proteção com auto falante ao redor de si. Além de se protegerem dos outros exageradamente, ficam escutando initerruptamente uma frase repetindo sempre coisas como"eu sei", "eu posso" "eu estou certo", "só eu...". Isso me deixa depressivo.

Eu: Vale a pena se sentir assim pelas outras pessoas?

Eu mesmo: Pensando rapidamente, sem muita reflexão, a primeira coisa que pensamos é que não vale a pena. No entanto, se eu começar a pensar assim, não serei melhor do que os que critico.

Eu: Mas você não acha que mesmo assim, ao se achar melhor do que os outros, ainda que de uma forma mais eloquente, você também se coloca no mesmo patamar de eusismo?

Eu mesmo: Cara, não acho que seja errado, de forma alguma, pronunciar eu; mas os pronomes pessoais do caso reto são seis, e apenas dois deles apontam pra nossa própria direção. Além do mais, não acho que somente eu penso assim, absolutamente. Do contrário, estaria digitando isso de um manicômio.

Eu: Mas e você, como se sente em relação a si mesmo?

Eu mesmo: O maior genocida da humanidade pela manhã, o salvador do mundo a tarde e a crise do oriente médio a noite. Nem sempre nos mesmos horários, alguns nem sempre no mesmo dia.

Eu: E agora, como está se sentindo?

Eu mesmo: Bem melhor. Acho que já posso começar a ficar pior de novo.

Eu: Muito obrigado pela entrevista. Sou seu fã.

Eu mesmo: Eu que agradeço, mas infelizmente não posso fazer o mesmo elogio a você.