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segunda-feira, 18 de março de 2013

O Canalha - Caça 9


Era uma festa normal. Com risos fáceis e nem sempre honestos; porres chatos se achando muito simpáticos; pessoas falsas, porém amáveis e olhares de todo tipo, alguns curiosos, outros ligeiramente pidões e um ou outro explicitamente tarado. O Canalha estava cercado por rapazes e moças. Gente charmosa. Gente formada. Gente bonita. Bando de gene chata, na verdade, que parecia ter saído da mesma forma, daquelas que ainda se escreve com circunflexo. Não que o nosso anti-herói não tenha tesão por mulher bonita, é que ele tinha enorme dificuldade para se relacionar com gente que não era muita coisa além disso.

Eis que ela chegou. Não era feia, mas era uma de beleza difícil, que não pairava na superfície, e sim nas profundezas de tudo aquilo a transbordar dela naturalmente. Ficava a maior parte do tempo escondendo o sorriso, de repente porque tinha um dos dentes um tanto envergado para trás. Tinha os ombros meio fechados, de quem aparentemente passou parte da vida querendo esconder os seios fartos que ela cobria bem demais, pro gosto do Canalha, com uma blusa sem qualquer decote; mas mesmo assim era volume demais para passar despercebido. Ela devia ser afim de um dos caras ali, o mesmo que fez uma enorme careta para o lado quando a percebeu vindo em direção ao grupo. Aparentemente ele a convidou por convidar, como convidara um monte de gente do trabalho dele. E ela, como meio que estava sem programa e sem vontade de ficar em casa mesmo, foi.

De repente ela começou a discordar deles, falar sobre outras bandas menos modinhas e comentar sobre a profundidade de terminologias e a relação disso com as ideologias. No início, todos meio que tentaram embarcar na onda, até que ela sobrou nos argumentos, e aí ninguém mais quis mentir pra si mesmo que queria sair da comodidade da superfície e cansaram de tentar ser simpáticos com a “esquisitinha” e foram saindo um por um.

Antes que a moça terminasse sozinha na mesa, ela ouviu um determinado “discordo” do Canalha. A partir daí, ela argumentava, e ele contra-argumentava. Ela citava uma fonte, ele associava com uma letra de música argentina, angolana ou algo assim. Ela se surpreendia com o conhecimento dele, ele ficava cada vez mais excitado com a inteligência rebelde dela. Quando a conversa engrenou, a cada fala que ela fazia ele se perguntava se ela não faria finalmente a pergunta-chave. Conversaram mais. Muito mais. A essa altura já estavam a sós na mesa enquanto os outros dançavam ou interagiam com outras turmas. E a pergunta não vinha. Ele não poderia fazer indireta nem fazer a pergunta primeiro. Tinha que partir dela.

Enquanto a pergunta não vinha, o tesão dele só aumentava. “Será que ela não está mesmo se interessando? Será que ela está mesmo apaixonada por aquele cara?”, eram alguns dos questionamentos que invadiam a mente já alcoolizada do Canalha. A pergunta que ele tanto esperava era simples: “Você tem namorada?”. Quando essa pergunta surge em meio a uma conversa interessante entre pessoas que estão se conhecendo, sobretudo quando há charme despejado de alguma parte, quase sempre significa que algum interesse já surge da outra parte.

Mas a pergunta não vinha. Até que o Canalha parou de achar que ela viria, porque a conversa fluía muito bem. Então ela elogiou um verso que ele recitou. “De quem é esse poema?”, perguntou a moça. “Ah, é só uma bobagem que eu escrevi um dia desses”, respondeu, sem falsa modéstia. “Gostei muito”, disse ela, invadindo os olhos dele com os dela. Ele soltou um sorriso tímido, desviou o olhar, demonstrando certa fragilidade. “Você tem namorada?”, perguntou ela, inclinando a cabeça pra ver se recuperava aquele olhar que a pouco dominara.

Ele retribuiu o olhar. Não respondeu nada. Chamou-a para mais perto de si, a abraçou forte, deslizou as mãos sobre as costas dela, colocou os braços dela em volta do pescoço dele, e passeou mais com as mãos, chegando ora perto dos seios e ora perto do bumbum. “Não vai responder?”, perguntou de novo. Ele a puxou mais contra ele e pediu ao ouvido dela para ela repetir a pergunta. Ela repetiu. Ele começou a beijar o rosto dela, encostou os lábios carnudos dele o máximo que pode na bochecha macia dela e vagarosamente foi beijando até a boca. Ela comentou que ele tinha jeito estranho de responder as perguntas. Os dois riram. “Estou tão afim de você, que mesmo que eu fosse o Papa eu diria que estou livre, por isso minha resposta é o que menos importa nesse instante”, provocou. Ela tentou dizer que não ficava com homem comprometido, mas antes que ela começasse a língua dela estava o máximo possível dentro da boca dele, sugada, lambida... gostosamente chupada.

Ela demorou alguns segundos para perceber que estava andando para trás enquanto era beijada de forma alucinada. Aí percebeu que estava sendo levada ao banheiro. Tentou dizer que estava tudo indo rápido demais, mas já tinha percebido que era tarde pra isso, porque ela já estava ajudando ele a desabotoar a calça enquanto ele tirava o cinto. Ela queria muito fazer sexo oral nele, mas a vontade dele de descortinar aquele espetáculo no tórax dela era mais desesperado. Ela normalmente gostava de ser beijada ali com carinho, porque doía gestos mais vorazes do parceiro naquela região. Pensava nisso enquanto ele a chupava com força, mordia e apertava bem o outro seio. Ainda doía, mas era muito gostoso ao mesmo tempo. “Acha mesmo que vai me convencer a fazer isso?”, questionou a moça. “Quer argumento melhor do que esse?”, provocou o Canalha, enquanto o dedo dele a invadia vagarosamente. “Posso ao menos dizer pra você continuar, só pra não ficar por baixo?”, perguntou ela, meio rindo, meio gemendo. Depois disso, ouvia-se apenas alguns grunhidos e gemidos abafados vindo de algum lugar entre uma privada tampada e uma porta trancada de um toalete movimentado.

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Post dedicado à Mirella de oliveira (que não é a moça da história)

terça-feira, 5 de março de 2013

Sobre ser e desobedecer

"Vou errando enquanto o tempo me deixar"
(George Israel/ Paula Toller)

"Ai que prazer
não cumprir um dever"
(Fernando Pessoa)


"Outros que contem passo por passo
eu morro ontem"
(Vinicius de Moraes)

"Nossa cidade é tão pequena
e tão ingênua
Estamos longe demais das capitais"
(Gessinger)

"Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta,
que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda"
(Cecília Meireles)

Por Santiago S.V.


Definitivamente não nasci para frequentar lugares onde há certezas demais, onde tudo é muito certo dos caminhos e as regras merecem ser cumpridas. Deve ser por isso que eu nunca abandonei definitivamente a Igreja Católica Apostólica Romana, de repente porque nela encontro-me entre uma minoria de vozes que fazem eco à subversão que em mim habita, independente de ideologias. Deve ser por isso, aliás, que nunca me senti plenamente à vontade em partidos políticos, em grandes movimentos sociais ou algo assim, pois em geral sinto minhas contradições sufocadas nesses espaços e já me basta uma só religião a seguir.

Não desobedeço por desobedecer e não creio que todos devam pensar/ agir como eu, mas é muito chato estar em lugares onde minha beleza não tenha espaço para ser horrível; onde eu não possa ser idiota sem perder o status de inteligente; onde eu não possa ser revolucionário e ao mesmo tempo amar um sectário da mesma forma que amo um pelego ou um doce repressor; ou onde eu não possa fazer a coisa errada tendo a certeza que é a maneira mais certa de agir.

Tem gente que não percebe o "Cabeça Dinossauro" em gente que nunca lançou (ou talvez nunca lance) um álbum melhor que "Televisão". Há gente que enxerga apenas a própria coerência ou a coerência daquele dado grupo pelo qual é "devoto" como luz, sem levar em consideração que o foco dessa luz direciona as sombras. Há gente que entende de jardim, entende de buquê de rosas, de arranjo de margaridas, mas não repara numa flor sequer, muito menos se atenta à beleza subestimada dos espinhos. E há gente que não.

Contudo, já reparei que a gente se sente mais à vontade quando aponta nos outros os defeitos que nós mesmo temos de mais grave.
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Este post foi inspirado no delicioso blog 2 + 2 = 5