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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

nalireCo


- Eu quero morrer! Grita o homem.

- Morre aí! Responderam todas as outras pessoas ao demonstrar todas as formas existentes da indiferença humana.

- Eu já morri! Gritou novamente o homem.

- Fica aí então! Falavam gargalhando os transeuntes com passos de formiga e pegadas de elefantes.

- Na verdade eu queria viver. Sussurrou o homem mais baixo que o som de suas lágrimas caindo ao chão.

Em seguida nada ouviu a não ser o barulho da multidão que silencia a voz de cada um que quer falar livremente.

- Na verdade eu queria amar como eu quero, abraçar como eu gosto, beijar como eu desejo, gargalhar da unica forma que sei.

O homem então, percebendo que nem mesmo ele ouvia o que falava, escreveu em qualquer lugar com um pedaço de qualquer coisa:

- Sabe o que é viver sem ter o privilégio de morrer?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

31/10 - PJA EM MARCHA CONTRA A VIOLÊNCIA

Corações que milagrosamente ainda pulsam, almas que ainda se revoltam, vozes com a divina capacidade gritar, pés queteimam em trilhar o rumo da paz, da justiça e do amor, Vamos à luta! No próximo sábado, 31, a partir das 16h30m no Ginásio D. Vicente Zico (Abacatão - C.Nova 8, Ananindeua/PA), a Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Belém convida a todos e a todas que com a graça divina não perderam a capacidade de se revoltar diante da barbárie a engrossarem as fileiras de nossa caminhada. Violência e extermínio são as palavras chave da comemoração pelo Dia Nacional da Juventude, cujo tema deste ano é "Contra o extermínio da juventude. Na luta pela vida", e o lema é "Juventude em marcha contra a violência".

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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Deus e o Diabo - Oração 2


Deus estava deitado no jardim. Flores, canto de pássaros e barulho do baile das águas eram captados pelos sentidos divinos do criador. Sob suas costas a grama recebia feliz o peso sublime do Todo-Poderoso enquanto um odor de enxofre passou a atrapalhar a santa harmonia daquele ambiente. Os passos inaudíveis do diabo seguiam pela planície paradisíaca, enquanto Deus via aproximar-se uma criatura do mal, de expressão tensa, não parecendo em nada com o semblante sarcástico tão típico do Beusebú.

- E depois? Me diga agora! O que acontecerá comigo depois do fim? Gritou o Diabo, com tanta raiva que haveria quem pensasse que ele lagrimava, caso houvesse lá alguém para assistir a discussão.

- Qual escravo tentaria com gritos ameaçar o senhor, o dono dos chicotes? Questionou Deus.

- Chega! Continuou gritando o tinhoso. Eu é que não vou ficar aqui babando ovo para suas parabolasinhas. Eu sou o mal que Tu, "Ó Pai", colocou no mundo, agi melhor do que qualquer criatura sua. Agilizei o processo do fim da humanidade e já estimulei a destruição do mundo que nos últimos três séculos se deteriorou mais do que em milhões de anos; inventei o sistema capitalista de produção e hoje em dia todos olham primeiro pra si, e depois jogam as migalhas para os outros; estabeleci como parceiros fiéis aquele povinho escroto que se auto-denominam americanos; fiz a mensagem do mal passar a ser mascaradamente passada inclusive nas igrejas que se dizem adoradores de Ti, e muito mais. Mas e depois? Depois eu simplesmente sumo? Do que meu trabalho vai adiantar se quando aquele seu filho metido voltar à Terra eu sumirei pra sempre?

- Pois eu vim te falar um coisa, seu Deus sádico metido a santinho, se eu não tiver garantia de que continuarei existindo, eu vou parar de ser o atual Rei do mundo, parar de ser o mal para equilibrar o seu bem, e aí eu quero ver como é que você vai testar quem merece ou não entrar no céu.

Deus levantou-se, caminhou até um rosal, vendou os olhos com um lenço amarelo e começou a balançar seus braços rapidamente sobre os galhos das rosas. Depois voltou para frente do Diabo e mostrou seus pulsos sangrando. Antes que o Coisa Ruim fizesse qualquer comentário Deus se desvendou e disse:

- Se até um cego sem muito esforço e planejamento encontra mais facilmente espinhos do que pétalas, me diga, será difícil arranjar quem queira fazer o mal?

O Cão dos Infernos então então virou-se de costas para o Bem Maior, e caminhando com seus passos imperceptíveis comentou:

- Me alegra saber que eu não vou ser a úinica criatura que você já disse que amou a pagar o preço por não se deixar levar por suas regras absurdas.

Antes de descer para as profundezas do inferno o Diabo ainda olhou pra trás uma vez, viu no rosto de Deus a lembrança de todas as escolhas que fez, e antes de cumir, gargalhando, com o sorriso amarelo banhado por lágrimas esbravejou:

- Já que eu não posso viver como você quer, morrerei e levarei tantos outros a morte como eu, e tão somente eu quero.

- Aquele que escolhe caminhar o dia todo sobre a mentira jamais poderá descansar sobre a verdade após o crepúsculo. Disse Deus, que após a conversa teve vontade de olhar o sol, uma de suas criações prediletas.
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domingo, 25 de outubro de 2009

Deus criou o pecado?


No antigo testamento, mais precisamente no livro do Gêneses, existe uma das histórias mais famosas do mundo: A saga de Adão e Eva. Os escritos bíblicos vez ou outra são muito incisivos, no entanto, é um equívoco ver as escrituras sagradas como um livro científico, ou como uma constituição. ou qualquer outro tipo de documento oficial, pois a Bíblia é o relato da caminhada do povo de Deus, portanto, é um livro de/ pra vida. Porém, levando-se ao pé da letra esses textos ao invés de fazermos a devidacontextualização, podemos cometer verdadeiras heresias, como por exemplo, concluir que Deus é o maior responsável pelo pecado no mundo a partir da história vivida pelo casal original no Jardim do Éden.

Hora, se Deus criou um paraíso e queria mantê-lo intacto, por que raios criaria uma fonte de pecado? Sim, porque Adão e Eva não criaram o pecado, o pecado já estava lá, ou seja, foi criado por Deus. Se Deus não queria que a mulher convencesse o homem a comer o fruto, por que a criou com curiosidade e a ganância? Se Deus não queria que houvesse pecado no mundo não seria mais fácil não criar o fruto proibido e a serpente? Por que raios um Deus perfeito criaria criaturas tão frágeis? Não parece que Deus criou um joguinho meio sádico, a parir de uma leitura fria da história dos pombinhos seminais?

E pensar que muitas pessoas brigam por não entenderem que o propósito da bíblia não é fazer imposições e sim repassar mensagens lindas pelas quais deveríamos nos espelhar da mesma forma como os apaixonados se baseiam em metáforas para descrever seus sentimentos. A bíblia,como costuma dizer Ruben Alves, é o livro de crônicas e poesias mais belo do mundo. Levar ao pé da letra o que diz os escritos sagrados é pecado, pois Deus deu aos homens e às mulheres o dom de pensarem, raciocinarem. Não tenho nada contra quem simplesmente não conhece uma forma plausívelde ler a bíblia, mas me causa espécie as pessoas que usam palavras tão maravilhosas para se darem bem ilicitamente, para disseminar preconceitos, intolerância, e se aproveitarem da dor e da aflição alheia para vender soluções práticas e mentirosas.
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*A forma mais interessante que encontrei de partilhar a palavra deDeus, sobretudo em pequenos grupos, é a prática da Leitura_Orante_da_Bíblia.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Jovens na luta contra o extermínio da juventude



A juventude de Belém, cansada de tanta violência e injustiça, se une para debater sobre a questão da violência nos próximos fins de semana na Região Metropolitana de Belém. No próximo sábado (24/10), realizaremos um seminário para debater sobre o extermínio da juventude na luta pela vida da juventude na Fundação Curro Velho das 9h às 15h. No sábado seguinte (31/10), realizaremos uma marcha contra a violência seguida de show cultural. A marcha tem concentração agendada para as 16h em frente ao Ginásio Dom Vicente Zico, na Cidade Nova 8, e segue para o encerramento com show cultural na Praça da Bíblia, na Cidade Nova 2.

As atividades marcam o Dia Nacional da Juventude (DNJ) que a Pastoral da Juventude de todo o Brasil realiza anualmente sempre no último fim de semana de outubro. Esse ano, o DNJ tem como tema: “contra o extermínio da juventude. Na luta pela vida” e como lema “Juventude em marcha contra a violência”.

Segundo os organizadores, a temática da violência está sendo debatida este ano também pela Campanha da Fraternidade. “A violência é um problema que atinge a juventude de todas as classes sociais, mas sem dúvida as maiores vítimas disso é a juventude empobrecida, especialmente os afro-descendentes”, afirma o funcionário público Flavio Viana, da coordenação do evento. Flávio fala ainda que segundo dados do IBGE, nas periferias, todos os dias jovens são chacinados principalmente por policiais ou por chefes de tráfico. No Brasil, 70% dos presos não terminaram o ensino fundamental, e 10% são analfabetos.

“É mais do que uma mera escolha discutir a questão da violência, para os jovens que moram nas periferias esse assunto bate em nossas portas, nos acerta com uma bala perdida, nos humilha nas blitz policiais, nos segrega quando estamos em ambientes sociais das elites. Precisamos debater sobre o assunto porque se a violência bate nas cercas elétricas dos condomínios, é ao coração dos pobres que ela atinge mais violentamente”, desabafa o militante Eduardo Soares, 25, morador do Bairro do Benguí e coordenador do evento. Para ele, é muito bom poder contar com diversas entidades que tem a preocupação comum a respeito da violência, e principalmente com o apoio massivo da juventude.

Para a estudante e militante da Pastoral da Juventude Mery Almeida, 26, a juventude merece ter momentos como esse, com um nível de debate tmaduro, e poder celebrar tudo isso com um show cultural. “Espero poder ver a juventude discutindo seriamente no seminário, na marcha, e se divertindo no show, porque a juventude pode se divertir intensamente sem deixar de ser comprometida”.

O seminário deste sábado (24) inclui debate sobre os temas: "Juventude Violência e Exclusão"; "Extermínio da juventude"; "Jovens Construtores/as da Justiça e da Paz". No show cultural que encerrará a marcha do dia 31, haverá participação da Banda Suzana Flag, do Grupo Cultural Pará Nativo, e Alan e Silvia – A dupla do tecno.

O evento é organizado pela Pastoral da Juventude (PJ) da Arquidiocese de Belém em parceria com o Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs (CAIC,) Jesuítas, Juventude Cabocla Socialista do Pará (JCSP), Pastoral da Juventude Marista (PJM), Fórum de Juventude Negra (FOJUNE), UNICEF – Rede Vitória Régia, Instituto Universidade Popular (UNIPOP), Prefeitura Municipal de Ananindeua, SEJUDH e SECULT – Fundação Curro Velho.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Ambiente de Trabalho - Guerra de Vaidades!!!


Em grande parte dos casos, no ambiente de trabalho, várias frentes de batalha costumam estar em jogo. Nisso, desde a questão financeira até questões de ego são testados todos os dias a cada fala, a cada sorriso, a cada abraço, a cada pergunta, a cada crítica. É muito comum as pessoas viverem dias muito carregados de preocupação e nervosismo mediante ao caos das relações humanas no emprego. Sorrisos falsos, apunhaladas disfarçadas por tapinhas nas costas, disputa pra ver quem é mais esperto do que o outro, fazem parte do jogo das relações de/pelo poder no ambiente profissional, e quase sempre nessa história o bem sai perdendo.

Para o filósofo alemão Nietzsche, tudo o que eleva o homem é o sentimento de potência, a vontade de potência, a própria potência. Nesse sentido, entendo que o ego fala mais alto na hora de aquecer o infernal ambiente de trabalho. Com um querendo aparecer mais que o outro, o que se vê são vaidades postas à prova e dotes exibidos a superiores como rabos de pavão. Tudo isso em busca de reconhecimento, seja por um elogio, seja por uma promoção, seja por um reajuste de salário. Algumas pessoas que conheço preferiram pedir demissão de um emprego pra trabalhar em outro, mesmo ganhando menos, para poder aproveitar a dádiva de um sono tranquilo. E, em grande parte dos casos, quem não entra no jogo de encenações, de aliciamentos e de exibições, acaba ficando excluído das mamadas mesmo, fazendo com que os guetos se formem, e quem não se enquadrar em um dado grupo, ou conseguir um belo peixe, acaba se fudendo legal.

Claro que conflitos nas relações humanas não acontecem só em ambientes profissionais, no entanto, a maioria das pessoas passam mais tempo trabalhando do que fazendo qualquer outra coisa, e viver a maior parte do tempo jogando ou sendo esmagado num jogo que não se quer jogar é uma tortura que não consegue ser compensada nem com o maior salário do mundo. Eu penso que se você realmente tem talento, se você é realmente bom ou boa, não precisa ficar lançando holofotes pra si o tempo todo, mesmo porque somente é genuíno o elogio feito pelo outro espontaneamente, qualquer outra forma de elogio torna-se uma reverência paraguaia. Claro que em muitos casos ficar na sua não é suficiente pra que se garanta a paz, mas penso que exibicionismo é o grito de alguém que não merece ser ouvido.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Infeliz, infelizmente, dia dos professores

A bandeira do Brasil expõe a frase "Ordem e Progresso", slogan da corrente positivista que era seguida pelos coronéis e militares fundadores da República Federativa do Brasil, e já naquela época, com os países imperialistas expandindo-se, e com novas nações aderindo ao perfil capitalista de gerir o Estado, já se tinha a consciência sobre a importância da educação para avanço de uma nação. Mas o Brasil, que até hoje é comandado por elites que preferem estampar nas bandeiras, nos cartazes e nas telas mensagens mentirosas, é o país do futuro incerto, porque não valoriza o papel da formação, da capacitação do povo e da tomada de consciência que uma política de educação eficiente pode proporcionar. Com isso, do ponto de vista da educação, vivemos plenamente a desordem e o atraso.

Meus amigos e eu costumamos comentar que as elites terceiromundistas são as mais idiotas do planeta, porque desprezam seus conterrâneos mais pobres e tiram deles o direito de crescer, porém, somente com um número maior de pessoas formadas e ganhando bem podemos ter um país grande, mesmo do ponto de vista do sistema capitalista de produção, afinal de contas, quanto maior o poder de compra das pessoas, mais a economia se aquece. Mas ao contrário do que acontece em países como a Itália, por exemplo, nós tratamos os/as educadores/as como profissionais marginais, e a educação pública como uma esmola educacional aos empobrecidos, fazendo com que a maior parte das pessoas tenha péssima formação intelectual e profissional.

O discurso por uma educação de qualidade é meramente um clichê eleitoral, mas todo e qualquer investimento feito até hoje pela educação foram passos muito curtos para um país com o potencial como o nosso. Claro que os/as educandos/as são as maiores vítimas dessa situação, mas na semana em que a comunidade escolar goza de um feriado prolongado pelo dia dos professores é salutar comentar o quão os/as educadores/as deste país são desvalorizados. Este ano, por exemplo, os/ professores/as paraenses tiveram que fazer mais de um mês de greve para que conseguissem que seu salário base ficasse compatível com o ( já minúsculo) salário mínimo, e ainda foram taxados de vagabundos por alguns setores da mídia. A consequência disso é que temos profissionais frustrados/ desmotivados em sala de aula, e consequentemente a educação, de forma geral, é empurrada com a barriga (vazia).

Quando falo de profissionais desmotivados, infelizmente, não me reporto apenas ao profissionais da rede pública, pois as escolas particulares também vivem um caos. Eu que dei aula particular durante algum tempo para alunos de escolas privadas, percebi o quanto a educação privada se diferencia da pública apenas no âmbito estrutural, mas no que tange ao processo pedagógico, na maioria dos casos o que vemos são métodos robotizantes de ensino, que Paulo Freire chamava de educação bancária, ou seja, professores depositam conhecimento, os pais cobram notas, os alunos aprendem a decorar fórmulas, e bingo! Pensadores do futuro que só pensam merda serão os que comandarão a nação dos vícios permanentes.

Na 5ª série eu tive um professor que mudou a minha vida. Nem lembro o nome dele, infelizmente, mas ele era/é professor de história. Lembro que ele chegou um dia na sala e chamou a Princesa Isabel de vagabunda, porque ela libertou os escravos mas não deu condições para que o povo negro pudesse viver como gente. Se eu não tivesse tido essa aula, talvez eu não seria o que eu sou hoje. Além de dar aulas maravilhosas, ele fazia questão de deixar claro que dava a mesma aula nas escolas particulares. Ele representa uma pequena parcela de educadores que reconhecem a importância da educação, que não se calam diante da realidade, mas também não deixam que isso interfira em sua missão como professores/as, porque sabem a importância de termos um povo que enxerga suas próprias feridas e aprende a analisar de onde elas vieram.

O Brasil tira dez colando a política (econômica) dos grandes, mas tira zero na hora de olhar pra si, sobretudo aos seus pequenos. Por isso vivemos ontem mais um infeliz, infelizmente, dia dos professores.
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Esse artigo é dedicado a Carol e a Alice, anjinhos que tem saco de ouvir meus devaneios e minhas pirações - não por muito tempo é claro, mas ninguém é de ferro.

sábado, 10 de outubro de 2009

Crise Econômica Mundial: O que aprendemos com ela?



Crise Econômica é uma das palavras mais ditas nos tempos atuais, e infelizmente as abordagens feitas sobre esse tema tem se resumido a ponderar sobre quais soluções tirarão da lama as grandes empresas e as grandes economias mundiais, e não se vê uma abordagem realmente crítica sobre o que de fato provocou a crise econômica mundial, e está provocando o colapso ecológico visto por nós todos os dias na TV sob a máscara das catástrofes: A crise ética/ humanística e a crise ecológica.

A crise econômica mundial é uma crise ética, porque é resultado de poucas pessoas que se apoderaram de quase toda riqueza do mundo, riqueza esta que em grande parte se tornou fictícia, e resultou na quebra dos bancos e conseqüentemente na quebra das grandes seguradoras. Quando se precisou que os títulos se transformassem em dinheiro de verdade, não havia dinheiro, e a falta de crédito e de confiança fez com que os investimentos parassem. Assim a crise provocada pelos ricos fez com que os trabalhadores ficassem sem emprego, e, pior, teve a riqueza que os impostos dos trabalhadores geraram direcionadas a ajudar os promotores da crise.

No mundo todo, 80% da riqueza está concentrada nas mãos de 20% da população mundial, e essa pequena parcela da ricos, responsável única pela crise, acabou gerando sua própria saída. É como se o ladrão que nos roubou viesse pedir ajuda pra manter sua riqueza, e nós o ajudássemos sem saber que estamos ajudando. Para sair da crise, grandes empresas receberam mais ajuda em dois anos do que recebeu o continente africano em mais de 40 anos. Infelizmente tal fato não está ensinando o mundo a perceber que somente uma visão humanística nos salvará do caos. Enquanto não mudarmos a lógica do desenvolvimento, pobres continuarão pagando pela crise, e ao sair desta crise, a próxima crise, cada vez pior que a antecessora, será só um questão de tempo - como já previa Karl Max a milhões de anos. Mas até lá, não sabemos se haverá mundo para viver uma crise mundial.

O capitalismo gerou uma lógica de produção/ consumo que devasta os recursos naturais terrestres. A mãe Gaya reage a este ultraje, e o desequilíbrio provocado pelo homem acaba gerando grandes catástrofes naturais. Tem ficado cada vez mais comum ouvirmos notícias como “a maior catástrofe dos últimos cem anos”, “o maior terremoto dos últimos 80 anos”, a maior enchente dos últimos 30 anos”, ou seja, cada catástrofes que tira a vida de milhares de inocentes é o grito de desespero da mãe terra contra os que tem uma visão efêmera de desenvolvimento.

Leonardo Boff, um dos grandes ecologistas do mundo, costuma dizer que a terra produz já 40 % acima do limite. E se tivéssemos 100% da população mundial rica ao invés de 20 %, precisaríamos de pelo menos mais três planetas Terra para suprir a demanda produtiva, porque esses ricos, baseados no modelo de consumo estadunidense, enricam pra esbaldar e desperdiçar. Portanto, essa crise também é uma crise ecológica. Ecologistas do mundo todo afirmam que se não mudarmos radicalmente a forma de desenvolvimento e de consumo, até 2025 podemos estar vivendo o apocalipse climático. Se a crise econômica já esboça uma superação, ainda que superficial, a crise ecológica grita todos os dias com os índices de desmatamento aumentando, e o aquecimento global provocando secas e alagamentos, além de seguidos terremotos e ameaças de tsunami.

É uma pena que recaia sobre aqueles que verdadeiramente denunciam os meandres da crise o estigma de bagunceiros, desordeiros e outras vãs ciladas midiáticas. Somente com a ampliação de debates públicos, com a população ciente de seus direitos e seus deveres, e consequentemente organizada em favor de um objetivo único poderemos sair realmente da crise humanística e ecológica que vivemos. Se são os exageros que afastam do gosto popular as lutas, somente com a apropriação do povo dessas demandas poderemos ter não só a melhora das práticas militantes em voga, mas também, tão somente, poderemos ter um futuro melhor irradiando luz em nossas janelas obscuradas pelo manto da hipocrisia e do cinismo das elites.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Palavra

Há uma riqueza universal entre os seres humanos: a chamada palavra de honra. Pode ser preto, azul ou amarelo; pode ser rico, mendigo ou político, sem palavra, ninguém merece respeito. A única coisa que ninguém pode perder é a confiança daqueles que o/a amam, porque sem ela, o/a indivíduo/a perde a credibilidade junto a vida, e entra no limbo da descrença, pagando todas as consequências resultantes disso. Uma pessoa sem palavra é uma pessoa com passaporte eterno para o país dos aflitos.

O Brasil é a terra do jeitinho, a terra da malandragem, mas mesmo em nosso país, com o descrédito que a verdade vem merecendo, apenas os que mantém a sua palavra honrada conseguem viver em paz. Temos muita sujeira no congresso, no mundo empresarial, no seio familiar, mas não tem jeito, somente aqueles que valorizam a sua palavra conseguem deitar-se ao travesseiro e dormir direito.

Eu não sou contra a mentira em todas as instâncias, ao contrário, acredito que a mentira em muitos casos é uma forma de controle social. Paulo Autran, um dos maiores atores que esse país já teve, costumava dizer que todos nós somos atores da vida, mas atores profissionais são os que conseguem mentir e serem convincentes diante de uma câmera ou de uma platéia. Quando uma pessoa que gostamos muito está com uma vestimenta infeliz, e não queremos pegar pesado com o comentário, é comum maquiarmos a verdade, por exemplo. E isso não invalida o caráter do comentarista, ao contrário, pois a diferença entre o falso e o simpático está no objetivo da mentira. No entanto, a palavra a qual me refiro aqui é a palavra de compromisso mesmo.

Nós brasileiros temos o hábito de ter medo de dizer não. É muito comum recebermos um convite que sabemos que não vamos cumprir e, pra não passarmos por "moles" dizermos talvez, ou dizermos que vamos, mas na realidade sabemos que não poderemos. Está no manual dos safados e das safadas, inclusive, nunca dar fora definitivo em ninguém, porque um dia pode bater a liga e a pessoa querer se vingar do fora recebido. Esse tipo de comportamento se extende a casos mais graves, como no caso em que pessoas que não valorizam o comprometimento sincero alcançam o poder - seja a forma que for.

A falta de palavra faz com que policiais exterminem jovens inocentes e passem a mão em traficantes. A falta de honra faz com que políticos iludam comunidades inteiras em troca de voto. A falta da valorização da palavra faz com que, em última instância, a pessoa perca o crédito perante os demais. A pessoa pode até manter-se no poder sem palavra, mas esta será vista com desconfiança por todos e todas, e, no fim das contas, duvido que o poder e o dinheiro conseguido as custas da enganação não provoque uma falta de amizades verdadeiras e o consequente caos social pra esta pessoa.

Portanto, manter a palavra pode até não garantir grandes riquezas materiais, poder e status nessa sociedade nossa de cada dia, mas garante o que de há de mais palpável em termo de felicidade que é manter pessoas que amamos ao nosso lado. De que adianta dar uma de esperto se tudo o que podemos conseguir com isso é o descrédito daqueles/ daquilo que realmente nos trás felicidade. A enganação só nos trás de lucro amizades falsas e interesseiras, poder paliativo que pode sumir quando a fraude for descoberta, e vícios em entorpecentes e outras formas de fulgas da realidade para poder suportar a dor existencial. Por sua vez, tudo o que realmente trás a verdadeira felicidade, como o sorriso de uma criança, o colo de um amigo, o araço de um irmão, etc. só estão com conosco se fizermos por merecer a confiança plena daqueles que amamos.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sabe? (Devaneio 3)

Sabe quando você está perdido e não consegue olhar para o horizonte sem tremer de medo, a ponto de você procurar colo em tudo e em todos e só conseguir constatar o quanto as pessoas são insensíveis para os problemas alheios? Sabe quando tudo o que você queria era o colo de sua mãe, mas sabe que sua mãe não teria tempo de dar colo a você? Sabe quando tudo o que você queria era o afago de seu amor, mas o seu amor não existe de verdade a ponto de colocar os dedos em seu cabelo e dizer "tá tudo bem"? Sabe quando tudo o que você queria era dormir mas tem medo de descobrir que isso o que você está vivendo agora pode ser um sonho e que a realidade pode ser muito pior? Não?! Mas afinal quem nunca se perdeu? Você? ah, mas mentir eu também sei...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Boletim do últimos tempos - Fatos que mudarão o mundo

  • Durante o show de Paralamas e Titãs em Belém, um rapaz achou um celular de última geração. Ao invés de guardá-lo no bolso, o jovem saiu perguntando para o povo de quem era o celular. Ninguém mentiu. Então o rapaz pediu que avisassem a quem aparecesse procurando o celular que o aparelho estava guardado com ele. Ao fim do show o dono reencontrou o aparelho.
  • Um casal estava brigando enquanto seu primeiro filho tentava andar sozinho pela primeira vez. Antes que rolasse a primeira ofensa mais séria, o bebê deu seus primeiros passos em direção ao casal. Depois disso, o casal desistiu de brigar para ficar incentivando o filho a andar de um lugar para o outro da casa.
  • Uma mãe que havia expulsado o filho homossexual de casa após descobrir a orientação sexual dele foi atrás de sua cria. A mãe arrependida preferiu declarar seu amor ao filho independentemente de sua orientação e impedir que um aliciador o levasse para a prostituição.
  • Um homem que havia tido um dia horrível no trabalho conseguiu paz ao ver o sorriso de uma criança. No retorno para casa depois de um dia estressante, um homem foi interpelado por uma criança linda que nunca tinha visto. A criança abriu um sorriso espontâneo e maravilhoso e disse apenas “olá”, mas serviu para o homem perceber que um coração pulsava em seu peito acima de tudo e que a vida é maravilhosa.
  • Duas crianças de diferentes classes sociais brincaram juntas no parque. Uma criança loura, filha de empresários, brincou com uma criança negra, filha de uma empregada doméstica solteira, no parquinho do Bosque Rodrigues Alves. Brincaram intensamente sem enxergar qualquer diferença entre elas. Após muito brincarem, as crianças beberam suco no mesmo copo e foram embora pra suas casas.
  • Um garoto de periferia que havia planejado seu primeiro assalto com os amigos foi aprovado na peneira do Paysandu. Sem muita coisa pra colocar na cabeça, o rapaz via no assalto a chance de poder conseguir algo fora das regras, já que as regras formais não o favoreciam. Aprovado inesperadamente na peneira, o jovem cancelou seus planos criminosos porque no horario que havia pensado em roubar haverá seu primeiro jogo com a camisa do papão.
  • Um rapaz tímido e excluído das grandes rodas em sua escola ganhou o beijo mais disputado do colégio. A menina mais disputada da escola conversou por acaso com o menino que quase não falava com ninguém, e percebeu que apesar de falar pouco, o garoto falava muito melhor que a maioria dos meninos populares. Após o beijo, o moleque não se sentiu mais inferior a ninguém.
  • Um rapaz que era acostumado a jogar lixo na rua ganhou uma bronca da nova namorada. Todo bombom que consumia, todo picolé que chupava, toda embalagem que descartava geravam sujeira na rua porque o rapaz não tinha o hábito de jogar lixo no lixo. Ao ver seu namorado fazendo isso, a garota deu-lhe um sermão de quase meia hora, e o garoto prometeu que nunca mais jogaria lixo na rua.
  • Uma senhora de oitenta anos recebeu bom dia e ajuda de motorista de ônibus.Quando a senhora fez sinal para o ônibus, se quer esperava que o coletivo fosse parar. Mas além de parar para a senhora, o motorista desejou bom dia com um sorriso terno e ainda ajudou a cidadã experiente a subir os degraus altos do ônibus. Somente após a senhora estar completamente acomodada o motorista arrancou devagar e seguiu.
  • Durante uma apresentação do governo no Hangar – Centro de convenções da Amazônia – um portador de necessidades especiais recebeu muita ajuda. Após a apresentação, o governo ofertou um lanche para os participantes. No entanto, como o lanche era servido em bandejas, um rapaz com dificuldades de locomoção não podia se meter no meio do povo porque poderia cair, então ficou lá sentado sem falar nada pra ninguém. Quando ele menos esperava, várias pessoas espontaneamente começaram a levar lanche pra ele. O portador foi uma das pessoas que mais comeu nesse dia.

Círio de Nazaré - Festa do Povo ou da Igreja?


Outubro em Belém tem cheiro de maniçoba, cor de tucupi e zuada de filhos indo ao encontro da mãe. No segundo domingo de outubro, todos os anos Belém realiza a maior festa religiosa do Brasil, o Círio de Nazaré, que é a homenagem do povo paraense a Nossa Senhora de Nazaré, padroeira Estado. Mas apesar de o Círio ser considerado uma celebração católica, podemos considerar o Círio uma festa que pertence mais ao povo paraense do que à Igreja Católica Apostólica Romana.

Na América Latina, o processo de evangelização dos povos se deu de forma muito violenta. Por isso, a figura materna de Maria passou a ser um sinal de ternura numa terra de opressões. Enquanto Deus Pai passou a representar o arquétipo do sujeito que ama filhos padronizados e que impõe o temor como forma de obter respeito, Maria por sua vez passou a representar o arquétipo da mãe que põe o filho no colo, afaga seus cabelos com suas mãos suaves e diz com seus lábios doces “eu te amo incondicionalmente meu filho precioso”. Dessa forma, Maria que para a Igreja representa uma pessoa bem aventurada que leva o pedido do povo a Jesus (Jo 2, 1 – 12), passou a ser vista como milagreira, uma Deusa tal qual Javé pelo povo oprimido.

Por isso que no Círio, por exemplo, os homossexuais, as prostitutas, os mendigos, os macumbeiros e todos/as os/as excluídos/as não só pela Igreja Católica, mas por todas as outras denominações cristãs, manifestam sua devoção a Maria, uma Mãe poderosa e acolhedora. O Auto_do_Círio e a Festa_da_Chiquita são manifestações ignoradas pelo calendário oficial da Arquidiocese de Belém, mas são símbolos de como o Círio é uma festa que transcende o limite imposto pela hipocrisia que infelizmente ainda habita os templos e impedem que o povo enxergue no Deus Pai também a ternura da Mãe. O Círio, nesse contexto, é uma manifestação sincrética e cultural realizada pelo povo, e da qual a Igreja e o Estado colhem os maiores louros*.

O Pará é um dos estados que lideram os índices de crescimento das igrejas protestantes, sobretudo de linha pentecostal, e na terra do Círio isto representa um dado curioso. Quer ver um protestante e um católico terem uma discussão besta? Toca no nome de Maria. Maria, a figura feminina de maior destaque no Novo Testamento, a merecer destaque inclusive no Alcorão islâmico, é superestimada por católicos e avacalhada por protestantes, de uma forma geral. É aquela história, se você quer conviver bem, fale do que você tem em comum com o outro, mas se você está afim de provar quem é o melhor e se lixa pra paz, então reforce suas diferenças. Muitas igrejas protestantes crescem em cima da demonização de Maria, entretanto, isso não impede que os “irmãos” participem do Círio fazendo vendas na festa, por exemplo.

O Círio de Nazaré, portanto, é a celebração da fé que extrapola os limites acimentados e enrugados da Igreja. Porém, a doutrinária Igreja Católica finge não ver a mega contradição do Círio: Maria não realiza milagres, do ponto de vista da fé cristã, e não dá pra não dizer que o Círio só é a festa que é porque o povo vê na Imagem Peregrina a força de uma Deusa**, e a Igreja diante disso oportunamente se cala. Por que a Igreja é tão firme em seus princípios na hora de discriminar e oprimir, mas na hora de se dar bem é flexível? Porque as Igrejas se tornaram algo que Cristo tanto criticou, ou seja, instituições burocráticas que veem a Lei acima do bom senso.

Mas do ponto de vista da cultura paraense e da religiosidade popular – que se lixam pra regras absurdas – a energia positiva que se sente quando a Imagem passa nos provoca um êxtase e uma paz de espírito únicos. Além disso, nos tempos atuais reunir famílias inteiras ao redor da mesma mesa***, e formar um imenso rio de fé com pessoas de todas as classes sociais, de muitas religiões, todos os gêneros e orientações sexuais, são coisas que só uma verdadeira mãe consegue fazer.
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*A festa do Círio movimenta cerca de R$ 650.000.000,00 em Belém que recebe cerca de 66.000 visitantes – número que aumenta – todos os anos; O Círio já rendeu à Igreja de Belém a visita do Papa João Paulo II em 1980.

**Muitas pessoas não passariam horas espremidas entre centenas de pessoas numa corda e/ou não fariam o percurso quilométrico do círio de joelhos se não vissem Maria como Deusa.

***O almoço do Círio com comidas típicas da região é tão tradicional quanto a própria festa.