Outubro em Belém tem cheiro de maniçoba, cor de tucupi e zuada de filhos indo ao encontro da mãe. No segundo domingo de outubro, todos os anos Belém realiza a maior festa religiosa do Brasil, o Círio de Nazaré, que é a homenagem do povo paraense a Nossa Senhora de Nazaré, padroeira Estado. Mas apesar de o Círio ser considerado uma celebração católica, podemos considerar o Círio uma festa que pertence mais ao povo paraense do que à Igreja Católica Apostólica Romana.
Na América Latina, o processo de evangelização dos povos se deu de forma muito violenta. Por isso, a figura materna de Maria passou a ser um sinal de ternura numa terra de opressões. Enquanto Deus Pai passou a representar o arquétipo do sujeito que ama filhos padronizados e que impõe o temor como forma de obter respeito, Maria por sua vez passou a representar o arquétipo da mãe que põe o filho no colo, afaga seus cabelos com suas mãos suaves e diz com seus lábios doces “eu te amo incondicionalmente meu filho precioso”. Dessa forma, Maria que para a Igreja representa uma pessoa bem aventurada que leva o pedido do povo a Jesus (Jo 2, 1 – 12), passou a ser vista como milagreira, uma Deusa tal qual Javé pelo povo oprimido.
Por isso que no Círio, por exemplo, os homossexuais, as prostitutas, os mendigos, os macumbeiros e todos/as os/as excluídos/as não só pela Igreja Católica, mas por todas as outras denominações cristãs, manifestam sua devoção a Maria, uma Mãe poderosa e acolhedora. O Auto_do_Círio e a Festa_da_Chiquita são manifestações ignoradas pelo calendário oficial da Arquidiocese de Belém, mas são símbolos de como o Círio é uma festa que transcende o limite imposto pela hipocrisia que infelizmente ainda habita os templos e impedem que o povo enxergue no Deus Pai também a ternura da Mãe. O Círio, nesse contexto, é uma manifestação sincrética e cultural realizada pelo povo, e da qual a Igreja e o Estado colhem os maiores louros*.
O Pará é um dos estados que lideram os índices de crescimento das igrejas protestantes, sobretudo de linha pentecostal, e na terra do Círio isto representa um dado curioso. Quer ver um protestante e um católico terem uma discussão besta? Toca no nome de Maria. Maria, a figura feminina de maior destaque no Novo Testamento, a merecer destaque inclusive no Alcorão islâmico, é superestimada por católicos e avacalhada por protestantes, de uma forma geral. É aquela história, se você quer conviver bem, fale do que você tem em comum com o outro, mas se você está afim de provar quem é o melhor e se lixa pra paz, então reforce suas diferenças. Muitas igrejas protestantes crescem em cima da demonização de Maria, entretanto, isso não impede que os “irmãos” participem do Círio fazendo vendas na festa, por exemplo.
O Círio de Nazaré, portanto, é a celebração da fé que extrapola os limites acimentados e enrugados da Igreja. Porém, a doutrinária Igreja Católica finge não ver a mega contradição do Círio: Maria não realiza milagres, do ponto de vista da fé cristã, e não dá pra não dizer que o Círio só é a festa que é porque o povo vê na Imagem Peregrina a força de uma Deusa**, e a Igreja diante disso oportunamente se cala. Por que a Igreja é tão firme em seus princípios na hora de discriminar e oprimir, mas na hora de se dar bem é flexível? Porque as Igrejas se tornaram algo que Cristo tanto criticou, ou seja, instituições burocráticas que veem a Lei acima do bom senso.
Mas do ponto de vista da cultura paraense e da religiosidade popular – que se lixam pra regras absurdas – a energia positiva que se sente quando a Imagem passa nos provoca um êxtase e uma paz de espírito únicos. Além disso, nos tempos atuais reunir famílias inteiras ao redor da mesma mesa***, e formar um imenso rio de fé com pessoas de todas as classes sociais, de muitas religiões, todos os gêneros e orientações sexuais, são coisas que só uma verdadeira mãe consegue fazer.
Na América Latina, o processo de evangelização dos povos se deu de forma muito violenta. Por isso, a figura materna de Maria passou a ser um sinal de ternura numa terra de opressões. Enquanto Deus Pai passou a representar o arquétipo do sujeito que ama filhos padronizados e que impõe o temor como forma de obter respeito, Maria por sua vez passou a representar o arquétipo da mãe que põe o filho no colo, afaga seus cabelos com suas mãos suaves e diz com seus lábios doces “eu te amo incondicionalmente meu filho precioso”. Dessa forma, Maria que para a Igreja representa uma pessoa bem aventurada que leva o pedido do povo a Jesus (Jo 2, 1 – 12), passou a ser vista como milagreira, uma Deusa tal qual Javé pelo povo oprimido.
Por isso que no Círio, por exemplo, os homossexuais, as prostitutas, os mendigos, os macumbeiros e todos/as os/as excluídos/as não só pela Igreja Católica, mas por todas as outras denominações cristãs, manifestam sua devoção a Maria, uma Mãe poderosa e acolhedora. O Auto_do_Círio e a Festa_da_Chiquita são manifestações ignoradas pelo calendário oficial da Arquidiocese de Belém, mas são símbolos de como o Círio é uma festa que transcende o limite imposto pela hipocrisia que infelizmente ainda habita os templos e impedem que o povo enxergue no Deus Pai também a ternura da Mãe. O Círio, nesse contexto, é uma manifestação sincrética e cultural realizada pelo povo, e da qual a Igreja e o Estado colhem os maiores louros*.
O Pará é um dos estados que lideram os índices de crescimento das igrejas protestantes, sobretudo de linha pentecostal, e na terra do Círio isto representa um dado curioso. Quer ver um protestante e um católico terem uma discussão besta? Toca no nome de Maria. Maria, a figura feminina de maior destaque no Novo Testamento, a merecer destaque inclusive no Alcorão islâmico, é superestimada por católicos e avacalhada por protestantes, de uma forma geral. É aquela história, se você quer conviver bem, fale do que você tem em comum com o outro, mas se você está afim de provar quem é o melhor e se lixa pra paz, então reforce suas diferenças. Muitas igrejas protestantes crescem em cima da demonização de Maria, entretanto, isso não impede que os “irmãos” participem do Círio fazendo vendas na festa, por exemplo.
O Círio de Nazaré, portanto, é a celebração da fé que extrapola os limites acimentados e enrugados da Igreja. Porém, a doutrinária Igreja Católica finge não ver a mega contradição do Círio: Maria não realiza milagres, do ponto de vista da fé cristã, e não dá pra não dizer que o Círio só é a festa que é porque o povo vê na Imagem Peregrina a força de uma Deusa**, e a Igreja diante disso oportunamente se cala. Por que a Igreja é tão firme em seus princípios na hora de discriminar e oprimir, mas na hora de se dar bem é flexível? Porque as Igrejas se tornaram algo que Cristo tanto criticou, ou seja, instituições burocráticas que veem a Lei acima do bom senso.
Mas do ponto de vista da cultura paraense e da religiosidade popular – que se lixam pra regras absurdas – a energia positiva que se sente quando a Imagem passa nos provoca um êxtase e uma paz de espírito únicos. Além disso, nos tempos atuais reunir famílias inteiras ao redor da mesma mesa***, e formar um imenso rio de fé com pessoas de todas as classes sociais, de muitas religiões, todos os gêneros e orientações sexuais, são coisas que só uma verdadeira mãe consegue fazer.
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*A festa do Círio movimenta cerca de R$ 650.000.000,00 em Belém que recebe cerca de 66.000 visitantes – número que aumenta – todos os anos; O Círio já rendeu à Igreja de Belém a visita do Papa João Paulo II em 1980.
**Muitas pessoas não passariam horas espremidas entre centenas de pessoas numa corda e/ou não fariam o percurso quilométrico do círio de joelhos se não vissem Maria como Deusa.
***O almoço do Círio com comidas típicas da região é tão tradicional quanto a própria festa.
**Muitas pessoas não passariam horas espremidas entre centenas de pessoas numa corda e/ou não fariam o percurso quilométrico do círio de joelhos se não vissem Maria como Deusa.
***O almoço do Círio com comidas típicas da região é tão tradicional quanto a própria festa.
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