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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011, pode entrar!

Eu costumo dizer que as festas do fim de ano não são lá coisas que me alegram muito, nem me deixam lá muito animado pra sair e fazer as coisas que todo mundo costuma fazer por essa época. Mas eu não poderia deixar de dizer a todas as pessoas que me curtem, seja aqueles que me conhecem pessoalmente ou não, que foi ótimo poder viver o ano de 2010 perto de vocês. Seja perto de suas palavras ou perto do calor do vosso abraço, eu me tornei melhor esse ano por causa de vocês. Eu acredito no ser humano. Acredito em todas as pessoas que tem a capacidade de amar e de superar as dificuldades. Acredito na vida que resiste apesar de tudo que se faz contra ela.

Sei que em 2011 as pessoas continuarão agredindo a mãe terra, que a elite mundial continuará promovendo a desigualdade, que continuarão(emos) oprimindo os menos favorecidos, e que continuará sendo uma verdadeira aventura continuar vivendo com bom humor na face da terra, por isso, desejo aos blogueiros que sigo e que me seguem, a todos os meus amigos e amigas, familiares e toda a constelação de pessoas que amo a força para resistir e continuar buscando a plenitude da vida e a felicidade que não seja forjada sob a infelicidade de ninguém.

Bons orgamos aos que fodem!
Boas vigilias aos que oram!
Boas noites aos que dormem!
Bons sonhos ao que ousam!
Bons ventos aos que nele cavalgam!
Boas notas aos que não cansam de ser avaliados!
Bons perdões aos que se enxergam!
Boas festas aos que não deixam que elas acabem nunca!

E Paz a todos e todas que nela creem com todo o fervor de seus atos!
Amém!
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*To de volta!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

No Ramal - Parte 3 de 3

Em muitas noites, quando crianças ou não, quiseram acordar de um pesadelo os dois gaúchos, mas noutros, como no vivido por eles agora, gostariam de não estar acordados, e sim  dormindo sob o manto cosmopolita e subtropical do Rio Grande. Estavam  diante da praga, mas não podiam bater ou correr simplesmente porque não sabiam se poderiam. Devido a iluminação de velas, os outros não poderiam ver o semblante de medo dos dois. Ele lembrou o que havia prometido a ela, mas conforme recordava não era no mesmo dia que se pagavam as dívidas prometidas à Matinta, e sim no dia posterior. E ainda assim, conforme lembra muito bem o gaúcho, seria uma velha a desgraçada a perturbar e não uma nova como aquela.

"Bom, como estamos todos estão apresentados, vamo lá pra beira do rio ver a noite passar, depois, quando tiverem pedindo arrego de tão cansados, vocês dois vão dormir aqui com a nossa anfitriã, pois lá na casa do trapiche não tem mais espaço pra atar rede", disse o amigo paraense aos gaúchos, mas a sulista logo disse da melhor forma como conseguiu disfarçar o desespero que não seria de bom tom eles ficarem lá, pois, pareceriam privilegiados perante os outros. O paraense tentou explicar que a razão, de fato, era a da ordem de chegada mesmo, pois quem chegou primeiro atou lá fora suas redes e, além do mais, a dona da casa odiaria ter de dormir só, e, quando soube da chegada de pessoas de outro estado, foi ela mesma quem pediu para se alojarem dentro da casa mesmo.

"Tá bom, a gente vai ficar aqui mesmo", disse calmamente o gaúcho. A gaúcha arregalou os olhos claros e ficou a imaginar que seu companheiro já estaria sob algum tipo de feitiço quando, percebendo instintivamente como ela o encarava, ele mexeu os lábios enquanto subia as sobrancelhas e disse sem precisar de voz: "CAL-MA". Para tomar aquela decisão, ele começou a imaginar que jamais houve qualquer história comprovada cientificamente. As lendas não eram apenas lendas, e, se aquele grupo já teria ido lá várias vezes e nunca aconteceu nada, ao ponto de sempre voltarem lá ano após ano, não seria só ficando com o cu na mão que entenderia aquele mistério. Depois de breve argumentação, ainda sob discreto protestos da moça, o casal de fora resolveu ficar ali dentro. A parceira conseguiu se acalmar um tantinho com a segurança passada a ela pelas palavras do agora destemido gaúcho. Depois do último "boa noite! Vamos deitar porque já estamos cansados", seguido de "nós vamos brincar de beber um pouco lá fora", agora eram só ele, ela e a Matinta na casa.

Foi tudo muito rápido. A porta bateu. A iluminação em todo o ambiente ficou completamente cinza. Ela se mijou mas não conseguiu se contorcer de vergonha. Os olhos dele arregalaram-se, mas não conseguiu gritar. A Matinta não se movia, mas ao mesmo tempo parecia estar em todos os lados; hora distante, hora encarando-os nariz a nariz, hora era um pássaro, hora era a jovem horripilante. Diferente do que aconteceu na mata, eram eles mesmos quem não se moviam. Tinham vontade de gritar, mas não conseguiam; tinham vontade de sair correndo mas as pernas estavam imóveis; tinham vontade até mesmo de pular no pescoço dela pra ver o que acontecia, mas nem isso. Estavam, acordados, vivendo um pesadelo, e o pior: não havia ninguém ali a não ser eles mesmos. Pior do que sentir o terror e o medo, é não conseguir externar tudo isso. Estavam presos num pesadelo alojado dentro de si.

De repente, tudo o que era cinza, passou a ficar absolutamente escuro. E no breu total, ele recuperou os movimentos. "Eu poderia comer os dois aqui e agora, mas não. Vou comer só essa branquinha aí, só pra ela deixar da pavulagem dela", sussurrou a Matinta ao ouvido do forasteiro. Ele, que havia lido sobre a "lenda" mas jamais leu ou entendeu o porquê de temerem-na tanto, agora não conseguia responder nada. Ele esperava resolver aquilo com a razão, mas não há razão sem experimentação, sem certeza previamente testada, e aquele momento era absoluta e aterradoramente inédito. Mesmo tremendo, só conseguiu foi sussurrar, não porque queria falar baixo mas porque só foi possível emitir aquele tanto de voz: "Tenho como te arranjar tabaco agora". Conseguiu ainda pedir, para a criatura deixá-la em paz e levá-lo no lugar. Mas ela somente começou a assobiar como resposta. Todo o breu começou a ser salpicado por pequenos mas constantes flashes de luz. O assobio aumentava, o vento também, os flashes seguiam o mesmo ritmo, e agora ele é quem gritava, dessa vez com a permissão da Matinta. Súbito os flashes pararam, e ainda com a mesma intensidade de ventania e de assobios, ele viu a boca com dentes encavalados da Matinta crescer, alargar-se, dilatar-se até consumir toda a sua amiga gaúcha. Ele correu pra impedir, mas de repente toda aquela boca escancarada virou-se para ele. Ia engoli-lo...

...

O gaúcho acordou com a gaúcha chorando ao lado dele no mesmo colchonete. "Ela me engoliu", dizia ela com o rosto ensopado de lágrimas. "A mim também", pensava ele tentando consolá-la. Suavam frio. Se abraçaram. Eram por volta das seis da manhã. Depois de um tempo abraçados, passaram a ouvir o som dos punhos de uma rede reclamando por ter de balançar. Era um som constante e semelhante ao de uma porta sem lubrificação abrindo e fechando rapidamente. A garota arredou para trás. O coração dele esfriou de novo. Os dois deitaram e ficaram esperando os outros acordarem. De repente bateram muitas dúvidas nele. Aconteceu mesmo aquilo tudo na noite anterior? Como os amigos não ouviram os gritos? Por que não morreram? Como ele e a amiga lembravam a mesma coisa? Bater nela? matá-la? Fugir dali? "Eu não comi vocês porque não estava com fome, mas não prometam mais tabaco se não têm. Eu  já fumei a maconha que vocês tinham aí e estou bem. Só nunca contem essa história a ninguém, a não ser como se fosse lenda", disse a voz entre entre idas e vindas daquela rede encardida.
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* Antes de mais nada gostaria de dizer que amo gaúchos, conheço vários virtual e pessoalmente, e quando pensei em pessoas para ilustrar este conto, não tive dúvidas em por estes.
** A história é baseada em muitas histórias que ouvi a minha vida toda por aqui, e que, por incrível que pareça, adoraria tê-las vivido eu pessoalmente.
***Meu HD queimou, e estou temporariamente sem PC, por isso demorei a postar, e não tenho visitado vocês. Mas prometo que logo-logo volto a encher o saco de todos de blog em blog.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

No Ramal - Parte 2 de 3

Depois do primeiro capítulo...

Quando ele percebeu o assobio aumentar vertiginosamente, ao mesmo tempo em que uma aterradora ventania começou a balançar as folhas, ele quase gritou. Conforme um amigo paraense havia contado e o como ele mesmo já havia lido em livros didáticos, algumas centenas de anos atrás, a Matinta Perera era uma ave que assobiava e assombrava até se transformar em uma velha feia que só a porra; e a monstra só descansava quando o/a perturbado/a em questão prometia tabaco a ela.

Só aí ele percebeu que sua colega de caminhada pelo ramal já estava quase roxa de gritar. Ele teve muita vontade de encher a cara branca dela de tapas, mas seria mais masoquismo do que produtivo, então a abraçou. Nisso, o céu de 18h finalmente desabou dando lugar a uma escuridão total. O assobio parou. A ventania também. Eles ouviram o som de algo pousar, algo pesado, fedorento. De repente, a lua apareceu cheia, mas não iluminava toda a mata. Como um holofote, destacava só aquela criatura, franzina, vestindo um trapo que mal cobria-lhe as pernas magras e o busto. Fedia. Mas não era uma velha, era uma moça.

A gaúcha achou a bruxinha uma coisa horrível. Dentes encavalados apesar de branquinhos, cabelo suplicando por hidratação, unhas sujas, pernas muito tortas, enfim, toda sorte de defeitos que uma mulher consegue achar em outra numa frações de segundo. O gaúcho achou-a tal qual a comida do Ver-o-Peso experimentada naquele mesmo e fatídico dia: meio estranha mas dá pra comer. "Se tu for embora e deixar a gente ir, passa mais tarde lá pra pegar tabaco", disse ele com o cu na mão, lembrando-se da saída sugerida nos livros para aquela situação.

Ocorreu que a jovem Matinta sumiu. Na verdade, nem foi ela quem sumiu, a lua simplesmente deixou de focá-la. Tudo escureceu novamente, e num piscar de olhos, os relógios voltaram ao normal e a lua nova voltou para o lugar de onde não deveria ter saído. Eles se abraçaram. Ela chorava e ele apenas respirava aliviado. Momentos depois eles ouviram vozes. Eram os amigos paraenses que, por já se tratar de mais de dez da noite e sem qualquer contato resolveram verificar se havia algum problema. De fato, havia, mas nenhum dos dois turistas teve força pra contar. "Nos perdemos", justificaram.

Chegaram estourados. A casa onde ficariam era simples. Não dava pra ter muito a dimensão do espaço porque a noite já se ia com muita profundidade. Restou a eles, antes de repousarem, conhecer os anfitriões. "Vamos te apresentar quem está tomando conta da casa. A avó dela, a simpática senhora que sempre nos recebeu aqui já não se encontra entre nós. E esta, gente fina como é, está aqui ao invés de estar viajando a Belém apenas para nos acolher", apresentou o paraense amigo do gaúcho. A anfitriã apareceu lentamente, contra a luz. Os cabelos ressequidos, as unhas, a perna torta. Era ela. Quando os viu, focou toda a sua atenção à gaúcha, e sorriu com os dentes encavalados. A anfitriã era aMatinta. e o cu dos dois voltou a contrair...

Conclui sexta que vem.
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Recebi este selo do meu amigo Antônio Rosa, do maravilhoso blog Cova do Urso.

Como regulamento, para este selo, devo ainda divulgar uma imagem e dizer o que vejo demais nela. A imagem é esta:

Escolhi essa porque representam as coisas com que mais aprendi na última década.

E também recebi da maravilhosa So Sad, de um dos blogs mais originais da blogsfera, chamado 2 + 2 = 5


Gostei muito de receber estes prêmios, mas, quebrando completamente o protocolo por completa falta de jeito pra cumprir a tarefa de escolher entre os blogs que amo, anuncio aqui que esses dois selos são presentes para todos os que sigo e que me seguem. Beijos e Abraços!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

OS 10 FILMES DA DÉCADA

A primeira década do milênio está acabando. Passou rápido, não acham? E nesses períodos é sempre bom revisarmos o que guardaremos no relicário de nossas almas ou no armário das coisas que só não jogamos fora porque não escolhemos ter mal de Alzheimer. Nisso, meu amigo Adison Cesar  do blog ...Lenda Pessoal teve mais uma das suas brilhantes idéias e desafiou a blogueira e jornalista Yorrana Oliveira e eu para junto com ele postarmos a nossa lista de melhores filmes da década. A lista dele, com a qual tenho muita afinidade, já pode ser vista aqui, hoje é a minha vez e amanhã será a vez da Yorrana (não, não somos cavalheiros).

Como não combinamos de fazer exatamente um ranking e sim uma lista, então preferi dividir por categorias que mais gosto, sendo assim...

10 - Adaptação de Obra Literária:
Lavoura Arcaica
Baseado no romance homônimo de Raduan Nassar, o diretor Luiz Fernando Carvalho fez a melhor adaptação de uma obra literária para as telonas nesta década, na minha modesta opinião. O filme é lindo e tem o melhor roteiro, os melhores diálogos e uma das melhores fotografias desta lista. Além do mais, conta no elenco com Selton Mello, Raul Cortez e Leonardo Medeiros.. ôh!




09 - Ação
Kill Bill
Eu poderia dizer aqui somente que o filme é de Quentin Tarantino e pronto, que já estaria de bom tamanho. Mas devo acrescentar ainda que eu não sou fã de filmes de ação, e o desgraçado desse diretor pegou os elementos mais clichês de um filme de ação, como vingança e violência, misturou a uma puta atriz mais um roteiro digno de Tarantino e deu nisso: dois volumes que quem gosta de filme bem feito no mínimo deve assistir.





08 - Documentário
Fahrenheit - 11 de Setembro
"...nós vivemos em um tempo de ficção. Nós vivemos em um tempo em que resultados fictícios de uma eleição proclamam um presidente fictício. Vivemos em um tempo em que esse homem (Bush) nos leva a uma guerra por razões fictícias...", discursou Michael Moore na premiação do Oscar 2003 quando ganhou a estatueta de melhor documentário. Metade da platéia engomada aplaudiu, outra não, enquanto as tropas estadunidenses invadiam o Iraque. Esse discurso me fez correr pra assistir, e amei. Pra quem não viu, aviso, ou você odiará ou amará.





07 - Independente
As Filhas da Chiquita
Quem pensa que o Círio de Nazaré é a maior festa religiosa do Brasil pode não saber que é também uma das maiores manifestações culturais e democráticas do mundo. Uma celebração sem fronteiras, sendo inclusive pluri-religiosa. Aqui, a ótima cineasta paraense Priscila Brasil conta como a comunidade LGBT participa da festa. Vale a pena conferir aqui.





06 - Adaptação de Heróis das HQs
Batmam, The Dark Knight
Esta década também foi marcada por grandes possibilidades de adaptações dos quadrinhos, setor que carrega muito preconceito ainda, mas autores como Alan Moore e Frank Miller, autores nos quais este filme de Cristopher Nolan se baseou, mostram que HQ também pode ser literatura #defendo. E nesse filme, Heath Ladger (que também arrasa em outro filme da década chamado "A Última Ceia") dá show como o melhor vilão dos quadrinhos na minha opinião, o Coringa, que é demente, e alegra-se com a injustiça, o posto do Batman que também é demente, mas é sisudo para superar qualquer injustiça. O filme e a dupla fazem uma ótima reflexão sobre o bem e o mal.

05 - Romance
Closer, Perto Demais

Se não pelo ótimo roteiro, pelo ótimo elenco e por um filme romântico como só os ingleses sabem fazer, pela trilha sonora, se não viu, não deixe de ver. É ótimo. Abaixo deixo aqui a música da trilha da qual foram feitas versões por Ana Carolina e Seu Jorge & Zelia Duncan e Simone, mas, assim como as músicas da Legião Urbana, nenhuma versão supera a original.



          The Blower's Daughter de Damien Rice
04 - Drama
Crash
Cara... vê isso, se não viu. Eu só posso dizer que na cena que ilustra esta imagem, eu chorei. Chorei muito.É a cena mais emocionante da década pra mim.










03 - Ficção
O Senhor dos Anéis
J.R.R. Tokien escreveu no século passado uma história que tem o nível de "Alice no Pais das Maravilhas", "Peter Pan" e outros, mas com uma riqueza de detalhes impressionante jamais vista. Tanto que o filme de Peter Jackson, que é perfeito, está longe ainda de alcançar a grandiosidade desta obra literária. E este monstrinho aqui na imagem é o melhor ator virtual da década.

02 - Filme fora do eixo Brasil-língua inglesa
O Segredo dos Seus Olhos
Original. Lindo. Lindo. Nem dá pra lembrar da arenga futebolística nesse maravilhoso filme argentino. Oscar de melhor filme estrangeiro foi pouco pra ele (valeu, Prof. Ismael, pela indicação).








01 - O filme da década.
Linha de Passe
Tá, se você me olhar bem sério e perguntar de novo, eu vou ficar sem graça. Não é de fato O MELHOR FILME. Apesar do ótimo Walter Salles ser o diretor, talvez se as pessoas virem o filme não acharão lá tuuuuudo isso. Mas, eu me vi no filme. Não que seja a minha história lá, mas é a história de tudo aquilo que me cercou e que me cerca. Dificuldades e sonhos das periferias. As mazelas, a beleza, os talentos desperdiçados, a invisibilidade perante as elites. Saí da sala de cinema agradecido por ter chegado onde nem cheguei. E quando pensei no filme da década, pensei em minha história que tanto mudou radicalmente neste descabaçar de milênio. Esse filme é no que mais me vi e o que mais vivi nessa década.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Se não pode com eles...

Tá certo. Eu estou errado, vocês estão certos. A partir de hoje:

  • Eu vou casar para fingir ter uma estabilidade familiar enquanto minha esposa e eu brincamos para ver quem trai mais e melhor sem ser descoberto. E vamos ter filhos para a TV e a internet tomarem conta enquanto compramos nossa ausência enchendo os fedelhos de mimos que saciem os fetiches incorporados como vírus pelas babás eletrônicas a quem os confiamos solenemente.
  • Eu vou acreditar num Deus que vai me encher de dinheiro se eu começar a só ouvir canções melosas que falem de Deus, passar a viver numa redoma religiosa cercada de verdade por todos os lados  e passar a só ler passagens bíblicas que justifiquem a maldade e a imbecilidade das pessoas contra quem elas não aceitam. E vou dizer que foi o Espírito Santo que agiu toda vez que eu chorar na catarse montada pelo circo da fé nas igrejas e vou crer plenamente que as esmolas que eu dou aos pobres e as gorgetas que dou aos líderes religiosos caem diretamente na minha conta lá no céu.
  • Eu vou começara votar no cara mais arrumadinho, que fale macio, diga que ama os pobres e que saiba contar as mentiras certas que me motivam sem que eu jamais lembre que existem ideologias e que não é pra promover festas e dar esmolas que os políticos são eleitos.
  • Eu vou acreditar que o trabalho dignifica as pessoas, que o meu chefe é o representante de Deus na terra e é por isso que trabalharei para que ele enriqueça mais enquanto eu continuarei fodido.
  • Eu vou sonhar com a mulher ideal, aquela que saia direto da tela da TV, do cartaz do bar, da parede da oficina ou da minha punheta mais bem batida, e acreditarei que ela vai me amar mesmo pobre e feio assim como eu sou.
  • Eu vou fazer agora só aquilo que me dá dinheiro. Vou transformar minhas amizades em clientelas, ao invés de ser namorado vou ser cafetão e ao invés de amar vou vender; No lugar da familia vou por sócios minoritários e no lugar dos sonhos elaborarei uma planilha com projeções de lucro.
  • Vou ouvir só músicas modinhas, assistir e ler coisas com hemorragias de pobres e vestir só, somente só aquilo que algum estilista leso lá da casa do caralho diga que é pra eu vestir.
  • Vou dar porrada no meu filho se o vir andando com um gay, dizer que macumba é coisa do demónio e que espiritismo é coisa de Deus, que homem pode ficar porre mas mulher não pode porque é feio e que em Belém só tem índio e que a gente usa jacaré como transporte alternativo reiteranto sempre e em todo momento QUE EU NÃO TENHO PRECONCEITO!

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Eu postaria hoje a segunda parte de No Ramal, mas esta postagem já estava programada a um tempinho e eu não lembrava; sexta feira que vem trarei a continuação.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conjuntura da Guerra

Antes:

  • Negros são trazidos pra trabalharem como animais para os brancos.
  • A princesa liberta os negros.
  • A princesa não torna os negros livres.
  • Os negros vão para os morros.
  • Todo mundo que não tem casa vai para os morros.
  • Os negros que não tem trabalho começam a roubar.
  • Os negros e favelados descobrem que traficar aos branquinhos lá de baixo dá muito mais grana que só ficar roubando merreca deles.
  • A polícia percebe que ajudar os traficantes é muito mais lucrativo que correr o risco de prendê-los.
  • Quanto mais os traficantes conseguem poder, mais há lucratividade para o mercado alternativo da lei.
  • A cidade ganha a oportunidade de sediar importantes eventos.

Agora:


  • Depois que a coisa fica demais, a polícia e as forças armadas entram lá pra tirar os brinquedos que eles próprios deram aos traficantes. Querem arrumar a casa para as olimpíadas e pra copa, e para os tantos eventos internacionais que se aproximam. Jamais uma ação policial ganhou tanto apoio local e nacional como o de então.
  • Após tantas vidas perdidas graças ao estado não ter agido assim a anos, o complexo do alemão, o maior conjunto de favelas à mercê dos traficantes assim como a vila Cruzeiro estão tomados pelo  estado.

Depois:


  • Se o estado tiver entrado lá primeiro pensando em libertar o povo (na sua ampla maioria) honesto e trabalhador que mora no morro e depois pensando nos branquinhos lá de baixo e de outros continentes, se o estado apurar, prender e condenar todos os servidores públicos que historicamente colaboraram para que a coisa ficasse como ficou (incluindo policiais e autoridades do alto escalão do estado), se as políticas públicas forem mais contundentes (pra não dizer eficientes) do que até agora as bases da polícia pacificadora instauraram nos morros ocupados, e se o sistema penitenciário for completamente reformado para deixar de escritório gradeado para bandidos e ser faculdade do ódio para os bandidos que voltarão (caso não morram antes) a conviver conosco eu juro que ficarei feliz de verdade.
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Imagem: Wilton Junior A/E.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

No Ramal - Parte 1 de 3

A vontade de chegar logo quase cegou os olhos do casal para a estonteante vista da baía do Guajará e o belo por do sol que havia como decoração. Cruzaram numa embarcação diferente, apelidada pelos moradores de Belém de "pô-pô-pô" devido o barulho típico do motor. No início da viagem, inclusive, entenderam logo o porquê do apelido, mas só notaram mesmo o quão barulhenta foi a viagem quando o motor foi desligado, tamanho o alívio para os tímpanos. Após desembarcarem, um ônibus os aguardava próximo ao porto com destino a uma pequena comunidade ribeirinha que despertava o interesse dos dois pelo fato de lá não haver energia elétrica, televisão, e/ou apetrechos "urbanizantes" do tipo. E para quem veio de Porto Alegre passar as férias na Amazônia pelo exotismo, aquele programa os excitava e muito.

Desceram num ramal*, só os dois. Já estava quase na hora das 18 quando sentiram um estranho frio no espinhaço. Um olhou para o outro, e sem falar nada continuaram. 18h em ponto o relógio dele apitou. A hora do remédio teria de esperar um pouco até chegarem ao alojamento. Pelo caminho, só mata os acompanhava de ambos os lados. Durante a andança reparavam que as árvores maiores ficavam  mais ao extremo nos flancos enquanto uma vegetação densa, fechada e aparentemente homogênea faziam uma espécie de muro verde para caminhos brancos encardidos e paralelos, entrepostos por uma espécie de pentelho verde demarcando nitidamente um caminho forjado por pneus. Ela, decoradora, se encantou por um tronco à beira do caminho, pois poderia servir de encantadora mobília para uma casa naquela região equatorial. Depois de andarem bastante, ele resolveu ver quanto tempo já haviam caminhado. Para a surpresa dele, ainda eram 18h. E, mesmo sabendo que o celular estava sem rede, resolveu confirmar a hora. Para o espanto dele, também eram 18h ainda. Ela também olha a hora no celular: 18:00. Frio na barriga. Nas duas.

Uma angústia começou a sambar no peito dos dois. Agudo. Um grito. Uma árvore. Uma possível mobília. A mesma árvore por onde haviam passado estava novamente diante deles. O que era virtualmente impossível até mesmo porque eles estavam caminhando a quase meia hora numa linha reta. Era improvável terem voltado. Eles, desesperados, sem combinar nada um com o outro resolveram correr. E correram. E correram. Correram por um caminho melancolicamente familiar, e novamente chegaram à mesma árvore. Ela começou a gritar. Ele, psicanalista mais ou menos experiente, teve vontade de bater na cara dela mas preferiu pedir calma. Ele precisava pensar. Ela precisava gritar.

Nesse momento, ele lembrou do que o amigo paraense havia falado a respeito dos ramais daquela região. "Como vocês são sulistas é melhor virem no barco das 16h, porque assim vocês caminharão no fim da tarde e não tostarão. Só tomem cuidado pra não entrarem depois das 18h, porque a mata se fecha", recomendou o amigo em tom de brincadeira, avisando ainda que depois das seis da tarde os guias da mata não gostam de visitas sem autorização. Naquele caminho fechado e transbordando de desespero, ele parou, e quando ela chorando gritava para ele falar alguma coisa o gaúcho notou um assobio agudo de uma ave e cada vez mais crescente. "Puta que pariu, agora todas as lendas da Amazônia resolveram sair dos livros didáticos?", pensou ele. Na mata (fechada), o choro, o desespero e a agora a Matinta Perera.

Continua na próxima sexta-feira.
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* Ramais são caminhos quilométricos que ligam pequenas comunidades, ribeirinhas ou não, a estradas viscinais.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Final Vagabundo

"Vamos começar colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal de que tudo na vida tem fim"
(Paulinho Moska)

Acabou. O quê? Não sei, só sei que acabou. Se o fim é o começo de outro ciclo ou se o recomeço é o primeiro passo para outro fim eu não sei, só sei que acabou. Se a fênix ou Jesus Cristo renascem do que acabou eu não sei, no entanto, acabou. O que acabou eu não sei dizer, entretanto, acabou. Se as plantas alimentam-se do que aparentemente estaria morto, se o fim de uma transa as vezes é o início de uma vida, se o nascer é o primeiro dia da contagem regressiva até a morte eu não sei, porém, acabou. Se o fim de um relacionamento as vezes dá início a outro, ou se o fim de um relacionamento se dá justamente pelo início torto de outro, eu não sei, todavia, acabou. O que é o fim? Eu não sei. O que é o começo? Eu não sei. Só sei que não existe mais, definiu-se, escafedeu-se, morreu, se fodeu, selou, findou, esgotou, fechou, encerrou,  levou o farelo, deu tchau, adeus, até mais, até, bye bye. Acabou o que começou ou acabou de começar? Eu não sei, não obstante, acabou. Se acabar pode ser simplesmente acabar eu não sei, mas acabou. E eu ainda queria começar...










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Imagens: Grupo de Comunicação. & Google.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Canalha - Caça 4

Certa vez, por completa ausência de coisa melhor pra fazer, o caçador acabou transando com uma dessas mulheres sexualmente descoladas, do tipo que dá quando e pra quem quiser sem se importar com qualquer crítica ou avaliação machistas. No meio da transa, que já durava mais de duas horas, ele percebeu que a respiração dela, assim como o gemido indiscreto não oscilavam. "Essa porra ainda não gozou?". Até que ele não aguentou mais e perguntou se ela ia ficar lá a noite toda e não ia gozar. Para o espanto dele, ela revelou nunca ter gozado na vida. "Nem com teu namorado que te come há 3 anos?", perguntou ele. Ela balançou a cabeça negativamente. Nesse momento, se o pênis dele gemesse quando broxasse, provavelmente dessa vez ele gritaria. "Lembrei que tenho que ir lá no trampo urgentemente", disfarçou ele, e saiu correndo dali.

"Como pode uma mulher, que não é reprimida, que é jovem, que transa tão bem assim ainda não ter gozado?", divagava ele quase toda hora a partir daquele dia. Então decidiu: ela gozaria no pau dele.

Ele passou a encontrá-la quase diariamente. E ele tentava de tudo. Sexo anal, a mão, a boca, os tapas, os cintos, o gelo, o iogurte, a banana quente (ele sempre agradecia ao Cidade de Deus pela ideia), a ajuda de um outro amigo, a ajuda de uma outra amiga, quase todas as posições do camassutra, transar em locais públicos, transar com uma galera, etc. E além de nenhuma funcionar, quando ele mostrava a "ação do dia" ela sempre comentava algo do tipo "eu sempre amei fazer isso".E como nenhuma doidice certo, ele resolveu fazer alguma coisa mais normal.

Na manhã de domingo, chegaram flores a ela junto com um lindo café da manhã. Ele sabia que ela não era chegada a flores mas adorava comer. Por isso mandar flores com o café garantiriam que ela preferisse comer a quebrar galhos de flores. A tarde, ele telefona e a convida pra sair. Ela quer saber em qual motel é e ele só pede para ela vestir algo fino. Ele a apanha na porta da casa, e ela entra num local aberto, cheio de gente, e fica a imaginar qual tipo de presepada erótica ele estaria inventando. Pra surpresa dela, eles sentaram numa mesa perto de um palco intimista e ouviram boa música a noite toda. Antes da última música, o Canalha foi até o palco e declarou-se apaixonado por ela. Ela levou na brincadeira, e não acreditou até ele lagrimar.

Aquilo ficou martelando na cabeça dela. "Esse filho da puta pensa que eu sou otária! Vê se pode um negócio desses. Que absurdo!". Ela não consegue dormir por dois dias, até ir ao encontro dele. Durante a conversa, ele não dizia nada. Até ela explodir. "Fala alguma coisa, caralho!", esbravejou ela batendo nele. Ele parou, a encarou e pediu um abraço. Ela, completamente desnorteada, o abraçou. Ao ouvido dela, ele começou a sussurrar declarações. "Não é só porque você é moderna que não possa amar como antigamente". Ela o sentiu duro, mas as mãos deles foram suaves. Transaram, mas dessa vez foi diferente. Ele não a tratou de maneira estranha. Depois de terminarem ficaram conversando um papo adorável enquanto ela ganhava colo. Na segunda, ele percebeu que o olhar dela estava diferente. Ponto pra ele. Depois, antes de a penetrar, ele olhou bem nos olhos dela e disse que jamais se sentiu tão bem com alguém como ali.

Ela estava acostumada a ouvir isso dos romantiquinhos comumente apaixonados por ela. Mas de alguém como o canalha, havia uma veracidade irresistível. Aquele corpo, aquele rebolado em cima dela, aquele olhar profundo e ardente, tudo fez com que ela fosse subindo pra um lugar que ela nunca chegou. Ele ficou embaixo. Ela começou a se mexer. Mexia estranhamente sobre ele, procurando apenas pressionar o clitóris. "Me bate um pouco, vai", pediu. Ele começou a ficar nervoso, com medo de fazer alguma coisa errada. Mas resolveu simplesmente continuar. "Eu te amo! Eu te amo", falava enquanto ela fazia uma expressão facial diferente.

A respiração aumentou. O gemido era diferente. A diferença? Só o Canalha pode explicar. Ela gozou. Várias vezes naquela noite, inclusive. O Canalha, que pela primeira vez teve de cuidar de alguém de verdade, chegou a achar que poderia estar mesmo apaixonado por ela. Estava? Ele não sabe. Mas depois disso ela deixou o namorado e só transava com ele, e ele retribuiu a mesma fidelidade embora não tenham combinado nada.
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Ganhei este presente da minha amiga Sol Barreto, do blog Caminhos e Descaminhos. Um blog leve e empolgante.

O premio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e o reconhecimento por um trabalho que agregue calor à web.

É um selo trocado entre blogs amigos. Eis as regras:
- Exibir a imagem do Selo no blog.
- Exibir o link do blog que o indicou.
- Presentear 10, 15 ou 30 blogs e avisá-los.

Portanto, estão aqui os blogs que indico:

De tudo fica um pouco
Batom e Poesias
Eduardo da Amazônia
Crônicas do Cotidiano
Com a Palavra
Arte para subsistência
Rasuras
Meu Reino
Meus Devaneios
Sussurros Íntimos

domingo, 7 de novembro de 2010

Sobre o Tropa de Elite 2

“Como pode a gente ter uma polícia cujo o símbolo é uma caveira? 
Ter uma polícia cujo o símbolo é a morte?”
Frase do "Cara dos direitos humanos"

Eu lembro que vi o primeiro filme numa daquelas cópias piratas que vazaram antes mesmo de ser lançado nos cinemas. Em resumo, o que comentei sobre a película na época foi que apesar de ser uma porcaria policial com violência gratuita, pelo menos era uma porcaria bem melhor que as porcarias holywoodianas. Tropa de Elite apresentava um formidável anti-herói, o Capitão Nascimento, fazendo exatamente tudo aquilo que a elite gostaria de (ver) fazer com a ralé da sociedade: cuspindo, torturando, matando, executando, humilhando, etc. Mas ganhava dos filmes policiais tradicionais (segundo os padrões estadunidenses) porque ao mesmo tempo que saciava a sede de sangue do povo, também fazia uma certa reflexão social a respeito da violência. Inclusive, apontando o dedo rude na cara dos próprios filhos branquinhos da sociedade. 

Mas em última análise, não gostei do primeiro, porque apesar da qualidade inegável do filme, ao fim, parecia que todos os problemas do mundo seriam resolvidos pelo BOPE. Aliás, nunca na história do cinema mundial vi um filme se pendurar tanto nos colhões de um batalhão especial como aquele. O filme parecia ter sido encomendado pela PM, sinceramente. Com essa impressão eu fui com meu amigo ver o segundo. Compramos exatamente os últimos ingressos da última seção para ver o filme.

No início, o principal algoz de Nascimento é exatamente um defensor dos direitos humanos. A platéia lotada, óbvio, ficou incondicionalmente ao lado de seu herói, o agora Coronel Nascimento, quase de forma passional, ainda que o roteiro muito bem escrito dispusesse o militante fazendo uma reflexão serena e madura a respeito da violência policial. Parecia que a própria platéia estava afim de pegar uma daqueles fuzis do BOPE e sair atirando em pretos favelados toda vez que Nascimento criticava o "cara dos direitos humanos". Mas, no decorrer do filme, experimentei uma das melhores sensações da minha vida, pois, na medida em que a trama ia se desenrolando, Nascimento ia desconstruindo a sua própria tese e vendo que o inimigo era outro: o sistema. E o público outrora xingando os direitos humanos, descobriu ao lado do herói todos os alicerces da carnificina em nome da lei perpetrada pela polícia e pelo próprio BOPE ruírem sob a sujeira do sistema.

Me lembrou a história que nunca confirmei ser verdadeira utilizada por um pai para convencer o filho a deixar de usar drogas. O coroa começou a se drogar junto com o filho. O filho então, percebendo que o pai estava mal por sua sua causa, resolveu de desintoxicar junto. Foi exatamente essa a sensação. E já que a história era uma ficção, eu saí da sala de cinema pensando se talvez o diretor José Padilha arquitetou isso desde o primeiro filme. Pensem comigo: o filme vaza, e estoura, trazendo todos os elementos que certamente o povo adoraria, como violência desmedida, um personagem bonitão e carismático etc. Depois, o próprio diretor lança um outro filme corajosamente "desdizendo" tudo dito no primeiro sem deixar a peteca (do carisma de Nascimento) cair. Uma forma perfeita de fazer o povo refletir dando exatamente aquilo que o povo quer e depois fazendo o próprio povo ver o que nem sabia se poderia.

O Coronel Nascimento não subiu só de patente do primeiro para o segundo. Mas, levando milhões de espectadores consigo, percebeu que somente a inteligência dos incomodados superará aquilo que causa a maioria dos males de nossa gente: a inteligência dos ímpios. Se ao fim do primeiro filme temos vontade de sair atirando, ao fim do segundo, saímos cometendo a heresia contemporânea de refletir sobre a vida. E quem disse que o maniqueísmo não pode ter fins pedagógicos? Eu por exemplo, antes já cogitava, agora decidi que vou fazer meu TCC sobre a influência da mídia sobre a violência nas periferias - outro elemento muito bem apresentado no filme.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sabe...? Devaneio 5

Sabe quando você olha pra dentro de si e vê um monte de nada? Sabe quando você começa a achar que se a voz do povo é a voz de Deus, então o Todo-Poderoso só pode ser muito burro? Sabe quando você caminha em direção alguma achando que está no rumo certo? Sabe quando as lágrimas caem naturalmente? Sabe quando você ama e é amado mas não está vivendo esse amor por nenhum motivo que preste? Sabe quando você simplesmente só sente vontade de gritar? Sabe quando você sabe que tudo isso vai passar, mas isso não te impede de neurar? Não?! Mas afinal quem não vive um dia após o outro? Pois é...

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Imagem: Google.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Postagens Retrô 6

Ando completamente sem tempo para escrever coisas novas. Apresento aqui mais um texto que escrevi quando ainda não blogueava.

Maioridade penal não é brincadeira de criança.

Existem determinadas opiniões que caem no senso comum. Uma delas diz respeito à maioridade penal. A maioria das pessoas costuma dizer que deveriam mesmo reduzir a maioridade penal para que os delinquentes de 16 anos paguem o preço justo pelas barbáries cometidas. Entretanto, infelizmente a maioria da população não consegue ver o que de fato rege este debate, se é de fato a luta por justiça ou simplesmente empurrar a sujeira para debaixo do tapete.

Programas policiais proliferaram a roposta da diminuição da maioridade penal na televisão a serviço da sede de sangue do povo, e para que a população pense que a emissora está de fato agindo em favor do povo. Nessas lástimas televisivas sempre tem um apresentador com pose de justiceiro propondo que se ponham na cadeia os bandidos, que político tem que ir para a cadeia ou discursos superficiais do tipo. No entanto, o que quase não se vê é uma análise mais profunda que de fato apresente à população o que está realmente acontecendo, algo que forme e não somente informe.

A favor da diminuição da maioridade penal existem basicamente argumentos que dizem que se uma pessoa de dezesseis anos vota, se tem direito a participar da decisão política do país, por que não poder responder criminalmente pelos seus erros? Há também quem diga que qualquer jovem de dezesseis anos já sabe o que é errado ou certo, ainda por cima em plena era digital, por isso um adolescente que comete um crime hediondo pegar três aninhos no máximo de "castigo" não faz justiça. Entre outros argumentos que perpassam sempre pelo viés de que uma pessoa de dezesseis anos - idade para a qual se pretende reduzir a maioridade penal, que na lei em vigor é de 18 anos - já pode ser responsabilizado pelo crime que comete.
Então tá certo. Agora eu gostaria de ver se a filha de quem prega esse tipo de coisa engravidasse aos dezesseis anos, será que ela deveria cuidar da criança só? Será que pelo fato de uma adolescente de dezesseis anos já saber praticar sexo ela já tem maturidade para assumir um filho só, sem a ajuda dos pais? Claro que não, ainda que ela deva sim assumir a responsabilidade pelos seus atos, não podemos dizer que é a mesma coisa uma pessoa de dezesseis anos ou uma de trinta engravidar. É óbvio que, por mais que se tenha uma quantidade de formação absurda sendo acessíveis a adolescentes, uma pessoa passa por etapas, e quando essas etapas não são respeitadas surgem problemas. E negar educação a quem comete crimes, ou erre, é negar a oportunidade de termos adultos melhores. Por isso, para o bem dos adolescentes e de toda a sociedade, um jovem de dezesseis anos não deve ser responsabilizado da mesma forma que um adulto.

Mesmo porque isso não resolveria o problema social que gira em torno da criminalidade neste país. É evidente que a falta de políticas públicas, que a desestruturação familiar, que a falta de emprego, sobretudo nos grandes centros urbanos, que a escassês de terras no campo para o povo, e tantas outras mazelas terceiromundistas contribuem para o auto índice de criminalidade no país. Construir cadeis, ou mesmo entupí-las não tem se mostrado a melhor solução. Hoje, no Brasil, 65% da população carcerária são jovens de 18 a 29 anos, dentre os quais 85% não terminaram sequer o ensino fundamental. Ou seja, não seria uma solução muito mais benéfica para o país se a educação fosse de maior qualidade e mais acessível aos adolescentes do que jogar um/a indivíduo/a numa cadeia por ter roubado uma carteira e lá o/a preso/a adolescente conviver com todo/a tipo de criminoso/a, fatalmente fazendo com que essa pessoa imatura passe por uma faculdade do crime com direito a mestrado e doutorado?

Falo isso porque não existe lei perfeita. Se existisse lei perfeita, não existiria advogado ou juiz. Uma lei que poderia muito bem ser justa para alguns casos, seria de uma crueldade imensa para com a maioria epobrecida. Alguém imagina que fazer uma reformulação da maioridade penal sem reformular todo o judiciário não faria com que só adolescentes pobres pagassem pelo crime que cometerem? Ou alguém aqui acha que diminuindo maioridade penal a justiça vai reinar nesse país como num passe de mágica? Se o Estatudo da Criança e do Adolescente (ECA) existe, e nós vemos nossas crianças e adolescente a cada dia mais abandonados, imagina se a partir de agora, ao invés de criarmos leis que defendam os adolescentes nós comecemos a criar leis que os prejudique? Nem todo crime acontece por razões maniqueístas. Nem todo mundo que está cadeia é um sujeito mal natural e definitivamente.

Se adiminuição da maioridade penal acontecer, os traficantes vão usar pessoas ainda mais jovens para o crime. Se nem um debate mais maduro acontecer antes disso, e o congresso e o Ministério da Justiça se contentarem a fazer meras enquetes - que toda vez aparecem favoráveis a diminuição - ,daqui a pouco vamos fazer o mesmo debate sobre adolescentes de quatorze anos, alegando que há adolescentes de quatorze anos bem entendidos etc.

O mais sensato seria fazer uma reformulação no ECA, para que penas mais rígidas ou formas alternativas de penalizações a adolescentes já próximos a maioridade penal garantissem maior justiça a crimes brutais cometidos por adolescentes, pois sei que sempre há excessões. Mas antes disso, deveriam ser reformulados por completo os centros de tratamento de adolescentes infratores, que por mais que esteja menos pior hoje, ainda que tenham mudado o nome, não conseguiu deixar de ser a FEBEM dos nossos pesadelos na prática. Antes disso também, deveriam ser votadas leis que garantissem melhores condições de trabalho aos professores, reformular o ensino público, garantir políticas públicas para a infância e juventude, garantir que o estado seja reconhecido como um protetor para que o adolescente não veja no dono da boca esse papel. Garantir que os jovens do campo possam ter condições de viver sua vida no campo, para que diminua o inchaço populacional, e por consequência a violência nas cidades. Depois que o Estado garantir isso, ou pelo menos dar prioridade a essas discussões, aí eu penso que seria justo rever alguns pontos do ECA.
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Imagens: Google.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Postagens Retrô 5

Este texto eu escrevi ano passado. Se enquadra bem com esse momento introspectivo que as paulinisses minhas se encontram esses tempos. Texto editado.

Infância...


"Oh que saudades que eu tenho da aurora da minha vida
da minha infância querida
que os anos já não trazem mais"
Casimiro de Abreu

Não sei se é por eu ter vivido uma adolescência muito obscura, mas o fato é que eu venero a minha infância, mais precisamente a faixa etária entre 7 e 11 anos, quando eu brincava na rua quase todos os dias, quando eu vibrava a cada selinho que eu dava nas meninas, quando eu jogava bola de dia de tarde e de noite, quando os meus piores dias tinham só pouca diversão.

Quando leio o poema do Casimiro de Abreu* me vem um misto de prazer e tristeza. Lembrar da infância me deixa triste ao perceber que eu não sou mais tão livre como naquela época, como já não experimento o novo com a mesma voracidade, mas ao mesmo tempo, ao relembrar daqueles dias felizes eu me sinto feliz no presente também, é como se eu me transportasse de novo, e sentisse o perfume da manhã, ainda que artificialmente de certa forma.

É claro que é impossível voltar no tempo. A montanha da vida tende sempre a nos levar para cima (até a derradeira queda), mas é inevitável experimentar o sabor do tempo passado com certo pesar. A impressão que tenho é que quanto mais eu tenho saudades do passado eu fico mais velho. Hora isso me chateia, hora não.

O criador do Menino Maluquinho, o cartunista Ziraldo, conta que a idade da personagem é essa, entre 7 e 11 anos, porque é a fase mais feliz da pessoa. É quando não temos mais uma inocência demasiada, ou seja, quando já fazemos uma leitura de mundo interessante, mas ao mesmo tempo não temos os conflitos da adolescência e o peso do mundo adulto. A partir do que ele diz, eu sou o arquétipo do Menino Maluquinho, pois quando era criança aprontava horrores e era feliz de dormir quase toda noite sorrindo (como minha mãe conta).***

Mas a minha adolescência foi muito difícil, obscura e insalubre. Tenho a impressão que há uma lacuna em minha vida; parece que eu vivi até os 11 anos, quando começaram a aparecer as minhas primeiras espinhas, e voltei a viver com 21. Na adolescência, eu me escondia, era perfeccionista ao extremo, tinha medo de não beijar direito, medo de todo mundo me achar o cara mais feio do mundo, tinha medo de conversar com os outros, enfim, eu vivia numa escuridão da noite sem luar e sem estrelas. Não é que eu não entenda a importância dessa fase para eu ser o que sou hoje, pois foi nessa fase que eu descobri as grandes bandas, os grandes literatos, a militância, enfim, o norte para o qual meu nariz aponta, mas definitivamente não tenho saudades dessa fase.

Eu nem sei porque eu estou escrevendo isso, e acho que nem quero. As respostas dos adultos por vezes são muito mais irritantes que os Perguntas das crianças. Viver de forma sem dar bola demais para a seriedade sisuda no mundo adulto parece síndrome de Peter Pan, mas pensando bem, o mundo dos adultos é que parece a verdadeira Terra do Nunca. Não é que eu não goste de crescer, na verdade, o que eu não gosto é de envelhecer, no sentido fiosófico da palavra. A aurora da minha vida é realmente a infância, mas o sol continua nascendo todo dia, e me dizendo toda vez que ilumina a minha pele a mesma mensagem de amor que todos adoramos ouvir: sempre podemos fazer novo de novo**, e até morrermos, sempre teremos mais uma chance de dormir sorrindo. Obrigado sol, por me mostrar que a criança está aqui sempre que preciso.

Canção de Milton, interpretada pelo 14 Bis e Samuel Rosa que tem tudo haver!

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**Parafraseando verso de Paulinho Moska
*** Não entrei em detalhes de minha infância aqui, porque já o faço na série que publico nesse blog chamada Galos, Noites e Quintais.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Infinito Particular




"Só não se perca ao entrar
no meu infinito particular"

(Monte, Antunes, Brown)

Nossa primeira mensagem ao mundo é um choro. O choro que anuncia a vida, a fome, o medo da porta imensa que se abre. O choro que fala da dor de cólicas, da manha pelo bem não adquirido ou mesmo um protesto pela mãe que abraça um outro alguensinho. Infelizmente, o mundo parece ter perdido a capacidade intrínseca da poesia, ou talvez no momento em que substituímos o choro pelos verbos esqueçamos de trazer as interpretações do olhar, do corpo, do contexto, que faz a mãe não se desesperar ao extremo quando observa o pequeno amado a plenos pulmões. O mundo parece estar cada dia mais literal, seja no tiro que mata alguém na esquina, seja no gozo puro e simples dos casais do agora ou nunca, seja no sim e no não demasiadamente objetivos que muitas vezes amputam as utopias e tornam os sonhos mais insossos, pré-rotulados, tabelados e com preços afixados em etiquetas de plástico.

Mas tudo o que fazemos é chorar. Choramos pelo salário maior cortejando o que apetece o chefe. Choramos pelo corpo desejado, pelo amigo perdido, pela mãe envaidecida, pelo mendigo que provoca o desviar de olhares. Choramos, porque ainda hoje não sabemos o que dizer. As guerras são choros de meninos mimados e malvados que querem o brinquedo do outro. Choramos porque temos medo. Choramos porque temos medo de chorar. Choramos até mesmo em nosso silêncio.

As palavras não passam de choros artificiais, um revestimento muitas vezes fajuto de nossas almas. Quantas vezes a palavra é um choro metido a besta? A palavra, assim como o choro, sempre quer dizer alguma coisa, o problema é que, ao contrário da mãe que entende a essência do filho, nos preocupamos muito com o que dizem, e quase nada com o que as pessoas querem dizer. Nem tudo que queremos cabe numa gramática.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dois.



Ela tinha um namorado. Ele não. Ela orava todas as vezes que namorava, no pátio de casa; uma oração inicial, uma oração final, alguns beijos insossos no meio disso, muita conversa, e o medo de pecarem demais temperava aquela relação de dar orgulho à toda família. Ele, digamos, não namorava assim. Ela sempre orava antes de dormir. Ele lia qualquer coisa de Galeano na maioria das noites, pois se lendo-o acordado já sonhava alto, nos sonhos teriam um potencial de grandeza e maravilhas ainda maiores dessa, acreditava. Ela era famosa por ser virgem, a única da turma (segundo ela mesma). Ele já tinha comido quase todas as outras.

Ela via nele a criatura mais agradável do mundo profano, pois apesar de todo aquele jeito extravagante era muito simpático. Ele a via como a mensagem mais legal do reino dos céus, pois apesar de ser da igreja, não mantinha certas frescuras típicas. Ela respeitava a doidice dele e ele adorava entender a (para ele) exótica caminhada dela.

Certa vez, sob os sinos do acaso, eles conversavam despretensiosamente, entre alguns amigos em comum. A conversa foi vestindo-se de uma estampa agradável. No meio do grupo, os dois passaram a protagonizar os temas polêmicos, discordando um do outro, mas apesar disso, cada vez mais interessados pelo que o outro dizia. Súbito, se viram a sós. Estavam na faculdade. Por acaso todos/as os/as outros/as tiveram de sair, e eles estavam no meio de um assunto muito interessante, por isso nenhum dos dois estava com vontade de deixar o papo pra depois. A conversa fluía com tamanha naturalidade, que diversas vezes entre um assunto e outro eles se perguntavam como em mais de 6 semestres aquela era a primeira vez que conversavam daquele jeito. Ela sem achá-lo mais um a querer tirar a virgindade dela e ele vendo nela a amiga inatingível, a beleza de uma mulher além do sexo.

- O que você está bebendo?
- Nem sei, só sei que tem álcool.
- Tá forte?
- Não, mas eu não vou te dar.
- Por quê?
- Ah, eu não quero que isso ganhe contornos de cena clichê em que o menino danado dá bebida à menina inocente e linda pra tentar abrir as pernas dela mais facilmente depois.

Os dois riram. A conversa continuou fluindo. Mas depois da última cena, o tema passou a ser relacionamentos. Ela finalmente pôde ouvir alguém coerente falando sobre relações efêmeras e ele teve a oportunidade de ouvir ótimos argumentos interessantes em favor de relações duradouras. Ele vai ao banheiro. Deixa o copo. O copo estava perto dela. Ela estava perto do copo. A mão no copo. O coração pulsante. O copo estava perto da boca. Ela com aquela excitação intelectual. A boca estava no copo. O peito arde. O gosto é bom. Ela bebe mais. O peito arde. Ele volta. O copo entre eles.
Estavam num daqueles típicos lugares em que estudantes vão fazer aquelas coisas "erradas" que (como todo mundo sabe) os estudantes fazem, como fumar maconha e transar no campus. No caso em questão, estavam perto de uma lagoa. O clima era ótimo, o vento era gostoso, e o papo aproximava o casal mais e mais. Os outros estudantes foram saindo. Estava para começar uma festa, até que naquele lugar levemente escuro e aconchegante restaram poucas pessoas. Por um acaso, as/os remanescentes não podiam vê-los e vice-versa, devido a um arbusto entre o casal e o resto.

Aquele sorriso dele, aqueles argumentos, aquele charme de homem safado, aqueles ombros, tudo passou a cativar a moça que já pouco falava. Ele começou a estranhar o silêncio dela. Ele, que nunca imaginou um dia poderia ficar com aquela, pois além de ser a mais bela da turma ainda era toda certinha, começou a temer por ela fosse dizer a qualquer momento "já vou embora". Ele então passou a quase tagarelar. Ela, por sua vez, não podia esperar mais e tomou mais um gole, agora na presença dele.

- Caraaaaaaalho...
- Eu tomei enquanto não estava.

Ela se deitou um pouco. Fitando-o. Ele não era o melhor aluno da turma, não era o mais inteligente, não era o mais bonito, não era quase porra nenhuma que prestasse para o mercado ou para a sociedade certinha, mas poucos na faculdade ou no mundo (segundo ele mesmo) conseguiam fazer a leitura do olhar feminino como ele. De repente, um filme começou a passar na mente dele numa fração de segundos: O gole. A saia. O lugar. O isolamento. A chance que ela provavelmente nunca se permitiu de imaginar fazer aquilo. O deitar. 

O olhar. O possível tapa. O possível beijo. Os lábios dela. Os lábios dela. Oslábiosdela...

Ele foi. Ela inicialmente se voltou pra trás. Mas como o tapa não veio, ele foi mais. Chegou perto dos lábios dela, e , percebendo que ela já esperava o beijo, foi ele quem parou, a centímetros dos lábios dela, os dele aguardavam a reação dela. Ela reagiu. Ele surpreendeu-se com a qualidade do beijo. O amolecer dos lábios dela, a língua  invadindo a boca quase gritando pra ser chupada. Ela não pensava em nada, só pirava. O corpo dela retorcendo-se e encaixando no dele. O beijo demorado demorando. ficando cada vez melhor, a cada nova inclinação de cabeça, a cada apertar de nuca. Algum tempo depois ele colocou as mãos sob a saia dela, pegou na coxa e ela levou mão de dele até a vagina. Estava molhada. Muito molhada. O coração dele disparou ainda mais, e o pênis dele ficou tão duro que parecia  não caber mais nas calças. O beijo fluiu com a mesma harmonia do papo. Ele já chupava com certa voracidade os seios, ao som dos gemidos mais maravilhosos do mundo  quando ela arredou a calcinha. Ele colocou o dedo. Depois mais um. Ele pôs o pau pra fora. Ela pegou. No início não soube o que fazer, mas depois de algumas instruções passou a manejar como uma veterana. Num momento de loucura, ele tentou perguntar se ela queria mesmo aquilo, e ela, a pessoa mais inteligente dali, interrompeu perguntando se ele não ia fazer logo aquilo direito.

Ele então tirou a calcinha. Ia com toda sede para chupar a buceta dela quando ela segurou a cabeça dele. O olhar dela era quase um implorar.

- É agora ou nunca. Sussurrou ela.
- Então vai ser agora.

Ele deveria ir devagar, afinal de contas tratava-se de uma virgem. Mas não foi. Ela gemeu o mais alto que poderia gemer num local público.Aquela dor passou a diluir-se na melhor sensação que já sentira na vida. E Ele quase não sentiu dor, mesmo depois que as unhas dela provavelmente já haviam arrancado todas as espinhas da costa dele. Ele já tinha transado duas vezes naquele dia. Estava longe de gozar, permitindo que apesar de aquele ser o momento mais sensual da vida dele, só gozasse depois de vê-la chegar ao orgasmo duas vezes. A última vez eles chegaram juntos.

...

O que ele mais temia ao fim daquilo, era ouvir no outro dela que estava arrependida. O que ela mais tinha medo era que ele não quisesse mais, enjoasse dela após comê-la já no "primeiro encontro". Ela não disse. Ele quis mais. Ele namorou sério pela primeira vez na vida. Ela NAMOROU pela primeira vez na vida. O amor, para eles, passou a ser  uma quimera. Sublime e safado, e eterno mesmo depois do fim. Os pais dela o gostaram muito dele, pois, para eles, ela dizia que estava conseguindo convertê-lo. Os  dois saíam muito para ir a vigílias. Os pais dele também gostaram muito dela, e sempre topavam omitir certas bobagens aos sogros do filho, ao não dizer, por exemplo, que a vigília a qual eles iam toda semana eram na verdade no quarto dele.


PS: o que aconteceu com o namorado dela fica por conta da imaginação de vocês!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A mão (d)e cada dedo

Meu grupo político e eu estávamos trabalhando com afinco esses últimos dias. Trabalhamos à moda antiga, mais por convicção política do que pelos dividendos que porventura isto pode ou não gerar. Quando a gente trabalha assim, dá ainda mais raiva quando as pessoas preferem votar em candidatos que compram votos ou que nitidamente concorrem apenas pelo dinheiro. Logo depois do processo eleitoral, ainda com sangue quente, me juntei a meus companheiros na reclamação geral contra os que tem vocação para acreditar mais em mentira do que na verdade. Mas depois, com mais calma, cheguei a conclusão de que não é correto ficar com raiva de quem acredita em outra coisa, ainda que essa outra coisa seja mentira, porque além de a idiotice fazer parte da democracia (queira ou não), lá na frente podemos precisar dessas pessoas, e não falo apenas do ponto de vista eleitoral.

Se tem uma verdade sobre a humanidade é que nós não sobrevivemos isoladamente. Nossa eficiência e nosso progresso só são alcançados quando aprendemos a utilizar o que o outro tem de melhor coordenado com o que também fazemos bem. Se eu como, é porque outro plantou, se eu compro é porque o outro vende, se eu trafico é porque o outro é viciado, se eu roubo é porque o outro tem, ou seja, vivemos numa grande teia de necessidades. Mas atualmente, mais que nunca, nossas pretensões são a antítese dessa necessidade básica. Na esteira do comportamento induzido pelo mercado, nós estamos cada vez mais valorizando o nosso eu, o nosso nós mais próximo, a nossa casa acima da rua, o nosso bairro acima do país, o nosso acima do deles. Nos comportamos como idiotas egoístas achando que isso é esperteza.

Se o mundo vive um colapso ecológico, se as cidades vivem um caos urbano, se a política é sinônimo de safadeza, tudo isso é fruto da pseudo-esperteza do ser humano. Esquecer a importância do outro em nossa vida e o peso negativo de nosso comportamento efêmero e imediatista é a verdadeira burrice dos espertos, pois tudo que fazemos contra o outro se volta contra nós de uma forma ou de outra, porque o tempo todo precisamos das outras pessoas, e chega uma hora que aquilo que fizemos de ruim pode voltar-se contra nós com a precisão newtoniana, por isso esperto é aquele que faz o bem, não importa a quem e nem quanto custa. Ter tolerância, ao contrário do que afirma nossa impaciência intrínseca e cosmopolita, é o verdadeiro investimento de vida.

Uma amiga minha costuma dizer que tudo é pedagógico. Concordo com ela. Tudo é pedagógico, e todo caminho que trilhamos é um eterno semear, mesmo na hora em que estamos colhendo. Valorizar nossa individualidade deve começar pela valorização da individualidade do outro, celebrar nossa inteligência é respeitar que o outro pense diferente. Viver, sobretudo viver bem, é saber conviver.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Algumas coisas que vocês (e os outros) não sabem sobre mim...

Continuando a brincadeira proposta pela colega Michele, do blog Meus Devaneios:

1 - Eu desmaio quando vejo um ferimento muito casca-grossa. O desmaio mais vergonhoso que tive deu-se diante de uma namorada quando ela estava fazendo curativo em mim. Acordei com o irmão dela me abanando. Se ele não tivesse perto e me segurado, eu teria me estatelado no chão porque ela não se garantiu me segurar.

2 - Minha primeira vez demorou um pouco mais de tempo do que você está levando para ler isto.

3 - Eu fico muito tímido quando realmente estou afim de alguém.

4 - Uma vez eu saí com uma roupa mais apertada que o normal, por não reparar em quase nada que eu visto, e fui confundido com um homossexual. Sem querer, eu pude testemunhar a imbecilidade de pessoas que tem medo de tudo que é diferente.

5 - Eu já ouvi um fantasma. Eu trabalhava num prédio velho e enorme. Estava só lá por conta do trabalho que tinha na época. Passando embaixo de um pavilhão antigo, ouvi o som de alguém lavando o chão. Como eu estava só, sabia que ninguém (vivo) poderia estar lá. Eu levei uns quinze minutos pra criar coragem e fui lá. Me cagando de medo mas fui. Não podia perder a chance de ver um fantasma de perto. Subi os degraus tão trêmulo que estava vendo a hora de minhas pernas voltarem por conta própria. Até o último degrau, eu ouvia o ruído de alguém lavando o chão que a medida que eu subia aumentava a força. Dobrei o corredor na direção que meu ouvido me levou e... não vi nada. Até o barulho cessou. Desci, e quando chegava lá embaixo ouvia o ruído novamente. Cheguei a conclusão de que, se e fato havia um fantasma, ele deveria ser mais medroso que eu.

6 - Eu acabo de descobrir que a mulher pra quem eu mais bati punheta na vida chama-se Krista Allen. Ela estrelou a parte da série de filmes eróticos "Emanuelle" que eu mais gostei. Pra quem não sabe, Emanuelle sempre passava (ou passa, nem sei) no Cine Privé da Band sábado depois da meia-noite. Acho que o meu record numa só noite foram oito! Ah, Krista Allen...

7 - Quando eu descobri que tem mulher que gosta de homem inteligente (que nem precisa ser bonito), passei a ler mais. Investimento mais acessível para que eu não ficasse só pegando a Krista no banheiro de casa.

8 - A primeira menina pra quem tive coragem de pedir em namoro era a garota mais safada da rua na época. Ela foi tão boazinha comigo ao recusar... ainda disse assim: "se quiser só me pegar eu deixo". Ah, como as coisas fáceis só aparecem pra quem dificulta. E pensar que eu chorei e chorei e chorei... burrão eu era, né? -  mas beeeeeem depois, quando deixei de ser besta, eu peguei.

9 - Meu pai, o Sr. Paulino, criava patos e galinhas quando meus irmãos e eu éramos crianças. Certa vez, eu me agachei e fiquei admirando os patinhos. Meu short, na ocasião, tinha um furo bem no fundo. Como eu estava sem cueca, parte do meu saquinho ficou saliente. O patinho (tão bonitinho quando é filhote) chegou perto de mim. Eu fui virar e dizer pra meu pai e primos que estavam perto como aquela criatura era linda quando senti um beliscão. O pato pensava que meu saquinho era comida e eu ouço piadas a respeito disso até hoje.

10 - Eu não concordo com traição. Não julgo quem trai, nem faço o discurso hipócrita de que nunca traí ou trairei, mas, não vejo sentido na prática desenfreada da traição. Se não quer mais, ou não quer mais viver uma relação monogâmica, por que não deixar isso claro? Eu acho que o amor/prisão está fora de moda, mas falta coragem para as pessoas reconhecerem isso. Sou a favor do relacionamento aberto, acordado, às claras, não de práticas cínicas que hoje assolam quase todos os relacionamentos que conheço. Sou contra a banalização da traição e não aceito o discurso de que homem é safado e mulher se vinga, assim como não aceito que só a mulher seja humilhada por trair.

11 - Eu não voto em partido de direita. Cresci num bairro de periferia e sou filho de uma família humilde que pagou as duras penas de um país rico em desigualdade. Cresci num local em que a ausência histórica do estado matou e fez matar dezenas de amigos próximos meus. Sei que tudo isso é fruto da política elitista que esse país viveu desde a colonização, depois teve continuidade com os coronéis da república, com os militares da ditadura e com os neoliberais, filhos de FHC. Por isso, não aceito o discurso meramente administrativo e plebiscitário que assola, por falta de reforma política, mais essa eleição. Votar na direita, seria o mesmo que ser conivente com toda a injustiça social da qual sou/fui vítima. Não voto sempre no mesmo partido, e posso até não votar, mas não voto na direita de Serra.

12 - Quando eu morrer, eu gostaria que cantassem ou tocassem a versão original de "Eu quero apenas" de Roberto Carlos. Ela diz muito do tudo de mim.

13 - Talvez minha maior virtude seja expor minha coerência e esconder minhas contradições.

Este não sou eu!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Hora de reciclar...




Eu (também) sou educador popular. De vez em quando eu me aventuro por esse mundão pra dialogar com pessoas e tentar transmitir algum tipo de informação (como já contei aqui). No caso em questão, no último fim de semana fui dialogar com catadores/as de materiais recicláveis, através de um projeto chamado CATAFORTE, bancado pelo governo e executado pela Cáritas Brasileira do/no Pará. Fui falar com pessoas que estão, talvez, no trabalho que as pessoas menos desejam nesse país, mas que é fundamental para a nossa sociedade. Pessoas que ganham a vida catando e triando o lixo que sai de nossas casas, empresas, escolas, etc. e ajudam a devolvê-lo reciclado. Dessa forma, contribuem para que não fiquemos mergulhados no lixo. Pessoas que, aos olhos de muitos, não tem diferença nenhuma em relação aos mendigos da praça ou aos urubus do ver-o-peso. Pessoas que ganham muito mal (injustamente) e que ainda precisam conviver com o preconceito e a idiotisse das pessoas.

Você provavelmente deve estar se perguntando que tipo de pessoa poderia querer um trabalho desses. A resposta é simples: uma pessoa como qualquer um de nós que não tem, literalmente, ocupação melhor para não morrer de fome. Eu admito que mexe muito comigo a realidade vivida por essas pessoas. No caso desses que visitei em Igarapé-Miri, nem tanto, pois até galpão pra trabalhar eles tem, mas eu já senti dó de ver pessoas trabalhando a céu aberto em lixões, sem proteções mínimas como luvas, máscaras e botas. Me dói mais ainda saber que, por mais incrível que pareça, o negócio da reciclagem é milhonário, mas, por estarem na base da cadeia produtiva, e pelo estigma de serem pessoas que literalmente sobrevivem disso, o preço que recebem por tamanho esforço é ridículo.

Nesse projeto, meu trabalho, basicamente, é transmitir uma palavra de estímulo que melhore a auto-estima deles/as. Já que eles tem esse trabalho, então que eles possam trabalhar com dignidade, em algo que, como já disse, é essencial para a nossa sobrevivência. A missão do CATAFORTE é estimular a articulação da categoria no estado para que saibam cobrar a plena implementação da lei de resíduos sólidos que obriga as prefeituras a despejarem o lixo em aterros sanitários e não mais em lixões e que orienta que cooperativas de catadores façam a coleta do lixo e não mais as empresas que ganham milhões e não fazem o devido tratamento do material, além de retirar os/as catadores/as dos lixões e colocá-los em galpões, devidamente equipados. O sonho nosso e o sonho do Movimento Nacional de Catadores é ver a categoria articulada, para que as prefeituras não utilizem falsos catadores como laranjas para lucrar com o negócio e que, finalmente, num futuro próximo, a categoria domine toda a cadeia produtiva da reciclagem.

Nas conversas que tive com os/as catadores/as esse fim de semana, me contaram seus sonhos. Ninguém sonhava com riquezas, palácios, carros. Tudo o que querem é um lugar digno para trabalhar, segurança pra sua pequena comunidade, que a igrejinha fique pronta e que a cooperativa deles tenha mais apoio do poder público para sobreviver e expandir. Almocei com eles no quintal sob várias árvores e a companhia refrescante do vento. Cada vizinho trouxe uma coisinha pra ajudar. Tomei açaí até me esbaldar (a cidade é uma das maiores exportadoras de açaí do Brasil). Ouvi histórias de caças, de colheitas frustradas, de partos inusitados. Quando eu cheguei lá, assim como qualquer um talvez, eu vi apenas camponeses, catadores, desdentados, mal vestidos, analfabetos, e saí de lá sentindo saudades de pessoas lindas, que apesar da casca maltratada pela ausência plena do estado, possuem cada um/a alguém maravilhoso/a como recheio.

Todas as vezes que forem jogar o lixo de vocês, lembrem de separar lixo seco do não seco. Essa simples atitude pode ajudar e muito os trabalhadores da coleta, sobretudo os que (ainda) atuam nos lixões. Todas as vezes que virem alguém catando material reciclável, pense em como ajudar, pois idiotas para discriminarem, certamente, já há demais. E digo mais: de todas as muitas coisas que tenho feito ultimanente, trabalhar com os catadores é que tem me feito sentir mais útil.