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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eu sou católico. Crítico, mas católico

Estive sumido nos últimos dias porque fui à Espanha levando algumas certezas que foram confirmadas, outras reconstruídas, outras destruídas. Foi a minha primeira viagem para a Europa. Fui participar de um evento religioso que, apesar de ser católico, particularmente jamais pretendi ir: a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Minha formação pessoal, militante, intelectual, afetiva, teológica vem basicamente da Pastoral da Juventude (por isso o símbolo da PJ na lateral do blog). Tudo que sou e tenho hoje (inclusive este blog) veio em grande parte da minha experiência com Jesus Cristo atavés do canal PJ, inclusive a criticidade à própria estrutura imperial e feudal que a Igreja oficial emana ainda hoje do Vaticano. Nunca quis ir à JMJ porque considerava, e pude confirmar isso, uma apologia à figura central da Igreja de Roma e do Papa, uma espécie de demarcação nos bunbuns dos fiéis num imenso curral da marca do Papa.

A certeza que tive reconstruída é a de que sou Católico. A palavra "Católico", etimologicamente, refere-se ao todo, ao universal, ao sem fronteiras, ao além deste lugar em que estou. E pude ver isso lá, uma diversidade de idiomas, odores, peles, gestos, cantos, danças, com algo em comum que era a profissão católica e  fé em Jesus, e quase mais nada em comum além disso. A confraternização, o cuidado cada um tinha um pelo outro numa multidão de 1,5 milhão de peregrinos presentes era de conquistar até mesmo o coração mais duro. Era impressionante como tudo ali exalava o perfume mais belo da diversidade humana, do direito sagrado de ser diferente, um perfeito exemplo de universalidade que desmoronava nos atos principais do evento, que eram completamente romanos. Era como se toda aquela diversidade de idiomas que falavam cada qual conforme sua língua materna e ainda sim se entendiam desmoronasse diante de uma língua única, um modelo superior de ser.

Eu tenho mais a dizer sobre tudo isso, mas pra não ser por demais prolixo gostaria de partilhar com vocês uma situação que para mim resumiu o que vivi, do ponto de vista espiritual, na JMJ. Durante a vigília em Quatro Ventos, a mais mal preparada que participei em minha vida de católico, uma amiga da RCC (de um seguimento pentecostal católico) e eu estávamos conversando sobre o que pensamos a respeito do Papa. Eu dizia a ela que imaginava que os homossexuais se sentiam ofendidos com algumas afirmações do Santo Padre, etc. Estava sentado num colchão que estava ao lado do dela. Uma hora ela saiu para falar algo com os amigos a uns metros dali e só me percebi fora do colchão já, a peso de empurrões de um padre, que praticamente me excomungou ali, sem ao menos me perguntar sobre o que de fato falávamos.

Eu sai de casa preparado pra tudo, menos para aquilo. Ali, no meio daquela multidão, naquele cenário forte, que batia forte nos sentidos e sentimentos de cada um, dada a dimensão superlativa daquela multidão, daquele espaço, daquele sacrifício quase vazio de sentido, eu pensei pela primeira vez na vida em sair da Igreja. Parecia que aquelas palavras, aqueles braços, era a Igreja me dizendo que eu não pertencia a ela, que não era querido por ela. Em nenhum momento, nos 15 dias de viagem, senti tanta vontade de voltar pra casa como naquele momento.

Mas logo depois, os padres Fernando, Wellington e Tiago, mesmo sem saber o que tinha me acontecido passaram a me tratar com um carinho diferente. O padre Fernando me ofereceu uma parte do seu colchão pra mim, que não tinha saco de dormir, apenas um lençol mais grosso que levei pra improvisar a dormida. Aí, me voltou à lembrança de porque sou católico, de que eu também sou igreja e toda criticidade que possuo eu aprendi na própria Igreja. Vivi o paradoxo da exclusão e do acolhimento nessa jornada. Voltei de lá mais católico, mas firme na minha fé e arraigado no Jesus Cristo Real, missionário, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos. Voltei para casa, trazendo na bagagem a certeza de onde é o meu lugar e qual a minha missão aqui. A Igreja que é do Papa e é minha também, quanto mais for menos romana, mais será católica.
(quem quiser  ler uma visão militante disto, leia aqui)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Ideologia da Língua

Gente, a partir de quarta feira eu ficarei ausente por pelo menos 15 dias. Durante esse período deixarei uma postagem programada pro dia dos pais e não poderei visitar meus companheiros de blogsfera no período. Aqui escrevo um texto que a muito queria fazer, mas que não cabe em dois parágrafos. Como vou ficar um tempo longe mesmo, caso não tenham paciência de ler de uma vez, leiam por parte, caso queiram. Fiquem bem, tá?

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"Não há nada mais ideológico do que a língua", comentou um amigo meu, na época estudante de letras na UFPA. Estávamos sob o efeito sagrado do vinho na ocasião, e como a "pauta" não era aquela acabamos falando sobre outras coisas. Mas tal frase ficou na minha cabeça como uma das poucas coisas que minha memória errante (no sentido de errar mesmo) não esqueceu. No primeiro momento, avaliei que isso era o tipo de frase normal (apesar de forte) de quem estava empolgado com o curso ou coisa parecida, mas como bom aspirante a jornalista, procuro ir a fundo de tudo que me provoca curiosidade. E assim fiz.

De fato, cheguei a conclusão de que pode existir algo tão ideológico quanto a língua, mas não encontrei nada mais. A língua oficial é muito mais do que um patrimônio cultural de um país, é um elemento de dominação e imposição ideológica. Temos cerca de 194 países no mundo, e a maior parte destes falam inglês, francês espanhol ou português, e isso só é possível graças a dominação violenta que os países de origem dessas línguas impuseram a países belicamente mais frágeis. Até mesmo nos próprios países, o dialeto oficializado foi imposto como identidade nacional à população que continha várias etnias até a língua ser o que é hoje nesses locais.


Ou vocês acham que na gramática oficial da língua portuguesa nós usaríamos "fato" e não "facto" se o Brasil não fosse politica e economicamente mais importante que Portugal na atualidade? O acordo de países que falam português é mais fraudulento do que o fato da ONU existir pra manter a paz, e só tem servido mesmo aos interesses brasileiros, tanto que o novo acordo ortográfico é praticamente uma imposição do português falado aqui. Querem ver uma coisa? Desafio aqui qualquer um a assistir um filme português falado por portugueses ou ouvir uma música cantada por portugueses sem qualquer legenda e me trazer uma resenha disso em seguida. Não conseguirão. O português falado em nenhum lugar é igual, e em alguns locais a diferença é bem considerável. E é só na Globo que brasileiros do sul falam igual a brasileiros do norte, graças a padronização imposta pela emissora.


Alguém aí estuda idiomas estrangeiros? Sabem que pra eu aprender língua estrangeira eu tenho que conhecer o contexto do país que fala aquela língua, né? Pois é. Até aí tudo bem. Qual é a língua mais falada no mundo? Quais são os idiomas que as pessoas mais procuram aprender? Será que isso tem alguma coisa a ver com ideologia ou é paranoia minha chegar a essa conclusão? Será que a linguagem dos africanos e dos povos originários do território brasileiro também não eram interessantes? A gente aprende inglês só pra conseguir emprego melhor? Será? Ein? Ein? Ein?


Apesar disso, a linguagem, forma autônoma e viva que a humanidade usa pra se comunicar melhor, acaba não ficando presa a fórmulas. A língua portuguesa é patrimônio cultural nosso? Claro que é. Assim como os canhões antigos usados pra matar índios também são. Errar o português oficial é feio? Um tio lá do nordeste que não fala como a gramática diz é feio? Claro que não. Aliás, devo dizer que só falamos o que falamos hoje graças aos "erros" de outrora. Ou alguém acha que falamos hoje "farmácia" e não "pharmácia" porque algum gramático achou legal? Não. escrevemos assim porque a língua muda, e o sistema precisa se adequar a isso pra que continue querendo assumir o controle através dela.


Pra finalizar, gostaria de dizer que o estudo da língua portuguesa vem mudando ultimamente para melhor, mas ainda não houve quem me convencesse de que estudar morfologia e sintaxe na sexta série (e em qualquer lugar que não seja numa academia de linguística) só serve mesmo para satisfazer o sadismo de alguns professores. A gente aprende a falar ouvindo, e aprende a escrever lendo. Não ganharíamos muito mais tempo lendo livros e discutindo em sala o conteúdo deste do que querendo saber onde é a sílaba tônica? Por acaso alguém conta quantos monossílabos há num livro do Marcelo Rubens Paiva? O Brasil fala dezenas de dialetos, centenas de sotaques, milhões de vozes. Sou a favor de que o povo leia, e leia bastante, mas sou radicalmente contra tudo que desrespeite a diversidade e principalmente sou contra a gramática oficial. Querem me ver queimando livro? Me presenteiem com uma gramática do Pasquale, o Adam Smith da língua portuguesa.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Calcinha


Eu gosto de calcinhas. Gosto mesmo. E prefiro as calcinhas cavadas a fio dental, e até mesmo prefiro mulher de calcinha a mulher nua. Gosto do que provoca, do que ameaça, do que fica nas entrelinhas. Gosto de calcinhas que me pedem pra serem tiradas. Gosto mesmo. Mas prefiro as calcinhas feitas para serem arredadas, encostadas numa parede, rodeadas por mini-saias provocantes. Gosto de calcinhas que arredam-se e não atrapalham, não machucam o vem-vai da vida que costuma acontecer em elevadores, quintais, banheiros, árvores, ou onde o proibido rime melhor com a libido. O corpo da mulher é a obra mais linda da natureza, e a calcinha é a obra mais perfeita da humanidade. E os lugares inusitados são o melhor tempero da comida. Calcinha, mulher e aventura: A melhor mistura já inventada. Não é que eu só goste disso, mas eu gosto mais disso, gosto mesmo.

Mulher de calcinha é a definição ambulante de simbiose, da harmonia. Mulher de calcinha torna o termo paraíso um tanto profano, eu diria.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Parede de vidro

Você já se imaginou do outro lado de um vidro, a coisa está lá, você quase sente o cheiro, mas não pode atravessar? Você olha por todos os lados, procura uma porta, uma rachadura, uma fresta que seja, mas não consegue encontrar nada. O vidro tá lá. Tão intacto que nem parece de fato ali. Como é que se sente o que se sente aqui dentro encostar na nossa pele? Como se faz pra essa parede de vidro desmanchar-se nem que seja em lágrimas só pra que eu possa ir até lá? Você já se imaginou do outro lado de uma parede de vidro? Você está lá, mas lá não é suficiente, nem a si, nem a dó. Você já se imaginou do outro lado de uma muralha de vidro? Você olha pra lá, e não vê nada entre vocês, mas há.