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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mas esse ano vai ser (in)diferente


Vem chegando o período das festas de fim de ano. Todo mundo ficando eufórico, todo mundo pensando na roupa que vai comprar, todo mundo pensando no futuro. Dezembro é uma espécie de mês que não existe, porque passamos 31 dias lembrando dos onze meses que passaram e imaginando como serão os próximos doze.

Eu, particularmente, não tenho lá muito tesão por Dezembro, porque é o mês que mais acumula manifestações formais e politicamente corretas da falsidade humana.

- Feliz Natal!
- Feliz Ano Novo!

aaaaaaaaaaaaaaaahhh!!!

Não suporto aquela gente que não fala com você durante 364/65 dias por ano, e justamente no dia 31/12 vem com um sorriso de orelha a orelha falar com você como se fosse a pessoa que mais se preocupa contigo na face da terra. Isso sem contar a distorção absurda que o natal sofre: Jesus nasceu num ambiente cheio de cocô, animais fedorentos e pasto, ou seja, se fez pobre pra enriquecer a humanidade de valores que realmente elevam a pessoa a categoria de ser humano. Mas o natal, comemoração do nascimento do Deus que se fez homem como testemunho do amor maior - segundo a fé cristã -, não passa de uma corrida ao shopping.

Reconheço que há um clima de esperança e sensação de paz nessa época; reconheço também que uma pessoa como eu, que praticamente não saiu da era das cavernas e que prefere falar "falô mano" do que dizer "até logo, nos veremos em breve" não pode mesmo gostar de momentos de formalidade. Entretanto, eu não consigo deixar de ver as festas de fim de ano como a marcha de pessoas que para tal necessitam apenas da sirene de largada para irem a lugar nem um.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O tempo é de quem não quer tempo

Certa vez então tentei escrever sobre o tempo,
e o tempo ficou sobre mim todo o tempo.
Foi aí que eu pedi um tempo ao tempo.
O tempo falou pra mim
que ele mesmo é sempre assim
já faz tempo.

Eu sempre tento em vão fugir do tempo.
Sempre.
O tempo nunca sai da cola.
Nunca.
Não dá um tempo.

O tempo assombra meu presente.
Sempre assusta de repente,
quando a minha mente se dá conta
de que o tempo passou,
de quanto tempo está por vir
daqui a um tempo.

O tempo é presente,
foi passado e será futuro.
Queria saber quem inventou...
foi tão burro.

O tempo não existe pra quem faz o tempo.
O tempo terminou pra quem não reparou
que o tempo todo esteve lá de joelhos.

Os comandos do relógio são inversamente proporcionais.
Quando se quer que pare,
ele passa;
quando se quer que esfrie,
ele assa;
quando se quer o tempo,
ele some.

Nunca queira o tempo,
e ele será para sempre seu.

Divórcio está menos complicado do que dizer não agora...


Eu soube hoje: somente agora aprovaram uma emenda constitucional permitindo que as pessoas se separarem a hora que quiserem.

Vou repetir: só agora o Congresso Nacional aprovou uma (emenda à) lei que possibilita às pessoas se divorciarem sem ter que esperar mais de um ano de separação judicial, ou mais de dois anos pra quem não teve saco nem grana pra gastar papel e as tintas pra carimbo dos cartórios, e se separou de fato. Ou seja, pra obter o divórcio de fato, basta que o casal queira, e não há mais necessidade de se passar por uma revisão de vida forçada - algo como: tem certeza? Espera; não responde agora, espera mais um ou dois anos.

Tá certo que a concepção moral no Brasil sobre casamento foi começar a mudar a pouco tempo (somente em 1977 o divórcio foi permitido aqui); que ainda existe muito machismo,;que recentemente estamos tendo um (perigoso) retorno exagerado ao sacralesco (perjorativizando o termo sagrado); tudo bem que sempre cabe dizer que é antes tarde do que nunca; mas... puta que pariu! Não é de hoje que isto funciona na prática. O que me revolta é saber que ao invés de estarmos pensando em políticas públicas que desfavoreçam o esfacelamento das famílias por dentro, estamos ainda aprovando o que na prática já é uma realidade que nos afeta diretamente.

Vivemos uma época em que a mulher trabalha, não aceita mais apanhar do marido e muito menos levar chifre gratuitamente. Então é absolutamente natural que, sobretudo pela emancipação das mulheres, o casamento dure menos. Os casamentos de nossos avós, na imensa maioria, só duravam tanto por conta de preceitos morais arcaicos e por causa do machismo imperante que impedia que a mulher reagisse à cornitude, às pancadas e aos maus tratos.

Minha mãe mesmo fala: "a mulher não pode se comportar como homem. Tudo bem que o homem traia, mas a mulher não pode".

É sempre muito triste uma separação. Sou partidário de que uma separação deve ser consequência do esgotamento de todas as tentativas de recomeço, sobretudo quando há filhos/as envolvidos. Mas, se não há mais sentido na união, é até pior pra (s) criança (s) e pro casal continuar junto.

Mas, na nova era da família, um casal não pode mais trabalhar tantas horas por dia pra ganhar uma merreca. É necessário que se aumente a renda familiar e se reduza a jornada de trabalho. Se uma família tem tempo e dinheiro, ela vai consumir mais, viver mais junto, e isso ajudaria tanto a paz familiar quanto a economia desse país.

Não dá nem pra aplaudir a aprovação da emenda à Constituição (PEC 28/09). Seria como aplaudir um homem lúcido, faixa preta em caratê que ganhou de um bêbado.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Deus e o Diabo - Oração 3



Deus estava em uma cabana em frente a um mar paradisíaco, sendo acariciado pelas lufadas de vento refrescante e iluminado pelos feixes revigorantes do sol enfático e sisudo. O onisciente e divinal ser estava, como de praxe, ouvindo as orações de suas criaturas mais bem feitas. Pedidos de todas as espécies; uns dignos de serem ignorados, outros dignos de lágrimas celestiais, chegavam aos ouvidos do Todo-Poderoso, que as ouvia sem discriminação, com toda a atenção do mundo. Ao passo que surgiu de repente um grito meio fanhoso, seguido de uma risada sarcástica e ao mesmo tempo ridícula. Era o Diabo.

- Como é que vai, ó criatura desocupada? Perguntou o tinhoso.

- Eu sou o bem. Respondeu Deus, de uma forma que nem um mortal poderia distinguir, pois pra uns fatalmente passaria-se a idéia de indiferença, e para outros a idéia de sarcasmo (?).

- Hoje eu não vim te perguntar nada. Toda vez que eu te pergunto, tu sempre respondes de uma forma que me leve a pensar que eu já sabia a resposta. Então, pra poupar enxofre, vou falar logo tudo o que vim te dizer, e depois, caso queira botar pra trabalhar suas pregas vocais perfeitas, faça como quiser.


- Em primeiro lugar, - continuou o Beusebú - queria te dizer que...

O Diabo não conseguiu continuar seu discurso, seja lá o que fosse dizer. De repente ele percebeu que é inútil fazer até mesmo o melhor discurso do mundo, pois, em primeiro lugar, o Amor Maior já sabia tudo o que ele iria dizer antes mesmo de ele pensar em dizer, e em segundo lugar, qualquer argumento que fosse usar não seria o suficiente para convencer o ser mais poderoso do universo do contrário, pois Deus é a personificação da verdade.

Na fração de segundo em que ele pensou tudo isso, Deus não mexeu um fio de cabelo sequer. O Diabo exporia toda a sua revolta por estar imerso num mundo entediante que está cada dia mais submisso às propostas diabólicas. De repente, passou pela cabeça do Cão dos Infernos que toda aquela manipulação inerente à sua vida, a que ele faz contra a humanidade a cada dia mais e a que ele mesmo sofre de Deus, seria uma grande contradição, uma vez que é pregado aos quatros ventos o livre arbítrio das pessoas.

Mas antes de provocar e fazer piadinhas, o tédio acometeu o tinhoso, seja pela calmaria daquele lugar perfeito, seja pela resposta magnificamente revoltante que ele certamente ouviria, seja - até mesmo - pela incapacidade do Demônio em se rebelar de fato contra isso. Nisso, o Diabo desceu ao fogo do Inferno.

No um segundo que separou a última fala do Mal maior e seu respectivo sumiço, Deus teve tempo de erguer os dedos da mão direita e acenar dando um perfeito até logo.

De repente, emanando feixes incandescentes de luz, o Diabo surgiu com o rosto repleto de ódio e os olhos lacrimejantes e gritando:

- Eu sou a criatura mais infeliz do mundo mesmo, sabia? Sabia seu desgraçado? Sabe por quê? Sabe por quê?! Porque eu sei que apesar de tudo o que eu fizer, eu nunca conseguirei te matar. Se por um segundo; apenas um segundo eu tivesse a certeza que poderia te matar, ou te causar alguma dor, nem que eu tivesse que trocar minha vida por isso eu o faria.

A essa altura o Capeta já estava próximo de Deus, quase de joelhos e berrando tão alto que no mais profundo lugar do inferno se podia perceber a aflição da Besta Fera. Mas de repente Deus moveu o olhar da longitude infinita em direção ao Diabo, e fitou seus olhos como não fitava desde que empurrou ladeira abaixo Lúcifer para o Inferno. O aconchego penetrante causado por um único olhar do Todo-poderoso foi suficiente para deixar o Beusebú tão incomodado com a paz de espírito que uma espécie de vergonha por si mesmo assolou o Inimigo. Sem dizer nada o Diabo desceu mais uma vez.
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Outros momentos de Deus e o Diabo:

Deus e o Diabo - Oração 2

Deus e o Diabo - Oração 1

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Paralelas que se cruzam em Belém do Pará"


Uma criança vestindo uma roupa velha e uma capa aparentemente nova estava diante de duas portas.

Atrás da porta à direita está um caminho já percorrido em grande parte pelo garoto. Neste caminho estão todas as certezas e projeções precisas que invariavelmente acabam sempre cultivando a monotonia. Por outro lado, nele, e somente nele, também reside a casa para a qual sempre queremos e precisamos voltar em momentos de desespero ou de carência de colo.

Atrás da porta à esquerda está um caminho jamais trilhado pelo moleque. Nele estão todas as incógnitas sedutoras que nos excitam a ponto de sussurrarmos o sim verdadeiro por entre cada sessão de gritos de não. De outra maneira, nele, e apenas nele, também existe risco da rouquidão sem o desfrute do canto sublime ou do berro redentor.

Entre as duas portas estava o menino. Atrás de uma delas estava o homem. O garoto chegou a cogitar a possibilidade de ficar ali mesmo, mas imediatamente percebeu que a indecisão eterna também é um caminho, mas um caminho que não leva a lugar nenhum.

Após muito sentir; após muito pensar... ele foi.
_______________
*Verso extraído da canção Parabólica de Humberto Gessinger.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Meu filho me pediu uma boneca

Este é o primeiro texto de outra pessoa que posto em meu blog. O texto é de uma sensibilidade magnífca, e uma das coisas que mais me influenciou a criar um blog. Minha meta é um dia chegar a escrver coias tão importantes e ao mesmo tempo tão maravilhosas como esse texto. Leiam com carinho o texto que extraí do blog Dias_assim,_bem_perto_de_mim...

Há uns dois meses meu filho de sete anos me pediu uma boneca. Dividida entre a intelectualidade dos estudos acadêmicos e os valores que a nossa "reaça" sociedade demonstra nas questões de gênero, dei a boneca," bancando" um barulho enorme por parte da família, colegas de trabalho, ex-marido e afins. Sem contar com a censura silenciosa de alguns, revelada por olhares ou gestos. É claro que recebi apoio e solidariedade. Mas o oposto foi muito mais pesado. Confesso que compreendo. Por parte de alguns mais, por parte de outros, menos. Mas respeito.

O meu desconforto foi muito mais em relação a mim mesma do que às posturas percebidas, públicas ou anônimas, verdadeiras ou educadas. Foi duro encarar minha insegurança em assumir DE FATO uma posição em relação às minorias sociais. Foi esta imagem, refletida no espelho das relações familiares que meu filho e sua boneca me obrigaram a olhar. Tive que sustentar uma postura prática que há muito considerava como minha. Em teoria. Só descobri isto quando foi com um filho meu.

Aqui faço um parêntese: enquanto eu me torcia e retorcia constrangida, fazendo como o anão de jardim "cara de paisagem", meu filho não estava nem aí para os olhares e comentários sobre meninos e bonecas e exibia orgulhoso a sua gorducha bailarina, penteando os seus cabelos, trocando as suas roupas, mudando o seu penteado, entre extasiado e maravilhado com as possibilidades daquele "ser" de 20 e poucos centímetros e puro látex, para onde ia: no meu trabalho, no Mestrado, pelas ruas, na casa do avô, do pai...lugares públicos ou privados para este menino não dizam nada! A cada um que afirmava que boneca não era coisa de "macho", ele perguntava candidamente: por quê?

A boneca para o meu filho foi um Lego às avessas: montava, desmontava, descobria as calcinhas (olha mamãe a calcinha dela!) maquiava, lavava, alimentava... Confesso: quando ninguém estava olhando, brincava junto com ele e me divertia à beça, me sentindo criança de novo, relembrando o prazer de simplesmente brincar!

Enquanto isso, na vida real as opiniões se dividiam entre as seguintes opções:

OPÇÃO A: Não é nada demais, é só uma fase, (os conservadores, mal disfarçando o seu mal-estar psicologizando a "coisa")

OPÇÃO B: Ele está descobrindo a sexualidade, (os moderados)

OPÇÃO C: Ele esta aprendendo a cuidar dos filhos. Por que, homem não pode cuidar dos filhos, não é? (os progressistas-liberais de extrema esquerda intelectuais, dentre eles, minha querida "profdoc" Cristina Novikoff, um bálsamo na minha vida)

OPÇÃO D: Ele está querendo chamar a atenção em protesto por tudo que passou nestes últimos tempos (os contemporizadores sociologizando a mesma "coisa")

OPÇÃO E: Este menino vai é ser "viado" mesmo! (muitos, em off, é claro!)

OPÇÃO D: Nenhuma das anteriores (mas esta opção não é aceita na pedagogização da "coisa")

E eu ali, realizando uma pesquisa disfarçada sobre o assunto, coletando os dados, tratando-os e analisando os resultados!

Mentalmente, catalogava as opiniões. Torturava-me a possibilidade entre assumir uma atitude "firme" com meu filho para não ser julgada e execrada, ou seja, aceita pelos meus pares, ou ainda pior, sucumbir num mar de disfarces, meias-mentiras, mentiras inteiras, hipocrisias...

Optei pela lealdade aos meus princípios. É neles que está o amor incondicional ao ser humano e o respeito às diferenças, que só se consolidam se você tiver um compromisso real com a verdade. A sua verdade. Possibilitando àquilo que é estranho, ser familiar. Esta postura é uma daquelas onde a gente bota a cara, sabe, e leva muita, mas muita porrada (não é Aninha?).

Meu filho é um ser humano. Pode ser diferente ou não no sentido convencional das opções sexuais. Mas isto não é importante. É apenas uma categoria de análise. Logo, não posso abrir mão dos meus princípios, pois eles constituem a minha identidade. Mantenho-me fiel a eles.

Bem seja o que for que representa a boneca para o meu filho, o fato é que ele está feliz da vida com o seu brinquedo novo e está me pedindo outra...

O fundamental, importante e imprescindível é o amor que sinto por este mini-humano e a admiração profunda que sinto ao vê-lo cuidar tão amorosamente do irmão menor, pela sensibilidade em perceber só de olhar meu rosto, o meu estado de ânimo, mesmo se tento disfarçar (e me alertar!), pela preocupação com a o coletivo, demonstrada nas pequenas atitudes cotidianas, como não jogar papel de bala no chão ou recolher as garrafas pets que meu pai insiste em atirar no seu quintal; em demonstrar bom caráter ao não contar mentiras muito punks (aquelas que sacaneiam alguém ferindo seus sentimentos), pela comoção sincera quando vê um desvalido, pela alegria com que admira a beleza de uma florzinha safada no jardim da minha mãe e colhê-la e colocar num copo me oferecendo; ao adorar incensos e gostar livros, não com a devoção que eu gostaria, mas ok, e ao profundo amor que devota à sua Bolinha.

Me emociono ao vê-lo dormir e me assusto com a rapidez com que está tendo que amadurecer, pois a vida não tem sido fácil para ele.

Sendo assim, é muito fácil ser mãe deste ser humano de sete anos que me chama de mamãe. E se ele for gay, lésbica, hetero, bi, drag, transformista ou desejar uma cirurgia de mudança de sexo, tudo bem. Mesmo. O importante é que seja qual for o caminho escolhido, que seja pautado pelos princípios humanitários. Aqueles que fazem a gente ser decente e não nos torna indiferentes às misérias do mundo. E de quebra, que ame o seu próximo, respeitando a dignidade alheia. E que sonhe sempre com um mundo melhor, como antídoto para afastar o cinismo que ronda o cotidiano da perversidade.

Antônio, eu te amo meu filho.Por tudo. Mas principalmente por me fazer olhar, de forma corajosa para dentro de mim mesma.


Com amor,

Mamãe.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pessoas...


Era uma vez, no universo das palavras, conversavam num ambiente cheio de reticências dois pontos de interrogação. A dúvida dos dois era a mesma, mas os dois, de modo diferente, tinham muito medo de qual exclamação viria como resposta. Os dois então se debruçaram nos planetas diversos que a palavra proporciona. De repente, eram dois pontos passeando por vários ambientes de dor, sofrimento, alegria, fogo e fantasia. Até que sob a sombra de uma árvore, num paraíso de concreto já bastante escuro, a luz substituiu a palavra, e o que já eram dor, sofrimento, alegria, fogo e fantasia, misturaram-se numa viagem a outros universos de sensações. Sucções de libido e ternura envolveram as interrogações até que a certeza já não importasse mais, ou pelo menos não o suficiente pra modificar a importância de estar ali, fazendo aquilo, falando nada, dizendo tudo o que realmente deveria ser dito.

Vez ou outra, quando acidentalmente pousavam as duas interrogações no mundo dos pobres desgraçados, um chegava a perguntar ao outro coisas como: "Valeu a pena esperar?", "Mas tínhamos que esperar tanto?", "Por que você desorganiza meu coração já bagunçado?", "Porque você é a resposta pra todas as perguntas que nem ao menos perguntei?" Mas então, o mais suave que a rapidez pode ser, eles voltavam a navegar em correntes macias e envolventes de outros nichos, experimentando o que já sonhavam, sonhando com o que não haviam experimentado.

Até que as duas interrogações viraram apenas uma palavra: "tchau". E com a forma que apenas nossos olhos dizem e somente nossos corações entendem, disseram: "até breve"...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Líderes da ONU jejuam em solidariedade à fome mundial


A vantagem de o blog ser uma ferramenta fundamentalmente textual, é que em momentos cômicos como esse eu posso escrever sem que minhas gargalhadas atrapalhem o entendimento das pessoas. Vamos refletir um pouco sobre o quão significativa é essa notícia dada por Reuters na Folha Online, no dia de ontem. A ONU não seria a instância mais competente da face da terra na tarefa de acabar com a fome mundial? Então por que diabos os caras que deveriam ser OS Caras acabam sendo os caras?

O Diretor Geral da ONU para a Agricultura e Alimentação, Jacques Diouf, declarou que faria jejum por 24 horas e convidou aqueles que se sensibilizam com a causa da superação da miséria e da fome a fazerem o mesmo. o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse que também faria greve de fome. Os protestos servem para pressionar os países ricos por uma maior pré-disposição em ajudar na cúpula de alimentação, que acontecerá em Roma, na próxima segunda-feira.

Lindo isso. Os maiores responsáveis pela paz e pela justiça no mundo fazem greve de fome? Muito corajoso. Mas por que eles não dizem que existe fome no mundo graças aos países ricos, verdadeiros representados na ONU - sobretudo EUA - que exploram/ exploraram os países pobres?. Coragem pra ficar um dia sem comer, e depois tirar a forra com bacalhau? Até a vovó tem. Quero ver é ter coragem pra dizer o que todo mundo sabe, sobre o assunto que ninguém da ONU admite: A ONU é um produto pra camelô vender.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Amor diferente também é amor sublime...


"É que narciso acha feio o que não é espelho"
(Caetano)

Se você tem raiva de homossexuais, se você sofre de uma doença crônica, infecciosa e nojenta chamada homofobia, se você é desses ou dessas que tem medo do que é diferente, então nem continue lendo esse post, porque aqui eu vou falar da vitória da resplandecência do bom senso sobre a obscuridade da ignorância.

Aconteceu aqui no Pará! O judiciário paraense percebeu finalmente que os/as homossexuais também tem direito de amar, de namorar e de fazer amor ainda que algumas pessoas ainda achem isso feinho. Fiquei sabendo ontem, por um jornal local de Belém, que presos e presas homossexuais do Pará terão também direito a visitas íntimas. Fantástico!

Em primeiro lugar, sem querer parecer "Du caceta", gostaria de declarar abertamente a minha heterossexualidade, embora, devo confeçar, adoraria ser bissexual pois estaria no topo da cadeia alimentar, mas não sou. Assim como não é necessário ser negro pra ser contra o racismo ou ser mulher pra se opor ao machismo, eu, heterossexual assumido, afirmo que me oponho ao preconceito contra lésbicas, gays, bissexuais e travestis (LGBT), e sou contrário a toda formade opressão sofrida por esses seres humanos.

Até entendo, embora não concorde, que alguns setores das igrejas demonizem o público LGBT, aliás falo melhor sobre isso em outro_post, mas independentemente de qualquer crença, de qualquer explicação para a origem, a homossexualidade está aí, e é fato que discriminar não resolve o problema - se é que existe um problema. Sendo assim, o judiciário paraense aprovou uma liminar baseada na vontade de promover o bem comum, ainda que a medida não seja baseada nas frescuras legais do direito civil, o que torna a decisão do Sr. Juiz Claudio Henrique Lopes Rendeiro da vara (ui!) de exeCUções PENais, uma medida ainda mais charmosa e colorida.

Numa semana em que, estupefatos, soubemos que uma mulher foi expulsa de uma faculdade por não estar na moda nem no confessionário, é um alento saber que um juiz resolveu trabalhar de verdade pra honrar o salário exorbitante que ganha.

Prisioneiros e prisioneiras homossexuais que transarem durante seu tempo na pousada das grades certamente terão mais possibilidades de voltarem melhores para a sociedade, porque além da satisfação óbvia, sentirão que finalmente poderão se incluir no mundo dos cidadãos visíveis, potencializando uma mudança de vida ao invés de uma deformação no sistema prisional brasileiro. Esse é um importante passo para que no futuro saibamos que por dentro somos todos diferentes, mas por fora, no ponto de vista da cidadania, somos todos/as iguais.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sabe...? - Devaneio 4

Sabe quando a gente se sente um pouco alienígena? Você consegue conceber que convive no mesmo planeta com alguns seres que expulsam uma pessoa de uma instituição de ensino superior só porque ela usa menos pano pra mostrar o corpo? Consegue se imaginar vivendo no mesmo planeta com pessoas que comemoram a queda do muro de Berlim, uma celebração à liberdade e à vitória do capitalismo sobre o socialismo, no limiar da maior crise econômica da história? Você consegue se imaginar sendo do mesmo cosmo de pessoas que dão o Prêmio Nobel da Paz ao presidente do país que mais vende e utiliza armas pesadas no mundo? Você consegue se imaginar convivendo na mesma aldeia com pessoas que produzem comida pra alimentar quase o dobro da população mundial e ainda assim essa comida não chega na boca de milhões de miseráveis que se alimentam - quando se alimentam - de ração? Você consegue se imaginar sobrevivendo no mesmo ambiente em que seres humanos vivem com pavor de outros seres humanos, ao ponto extremo de muitos considerarem isso normal? Pois é... Mas afinal, quem não queria fazer como Raul Seixas, pegar um disco voador e sair daqui? Você?! Então é por isso...

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Outros devaneios:

Sabe...? - Devaneio 3

Sabe...? - Devaneio 2

Sabe...?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Meia Entrada não pode ser meia meia entrada

Ainda que o senso comum costume jogar tudo na mesma panela, é sempre um equívoco mantermos uma visão totalizadora das coisas. Em relação a política, isso é ainda mais complicado. Se fizermos uma enquete em qualquer lugar, com qualquer classe social, e em qualquer hora, perguntando se a política é uma bosta ou não, ou se no congresso só tem ladrão ou não, o resultado do sim em relação ao não com certeza será e longe maior. Mas não é verdade que todos os políticos são safados, ou que tudo que o congresso faz é palhaçada. Ontem, por exemplo, eu li uma notícia que me deixou muito feliz: Ninguém vai fazer nem uma cagada em relação à meia-entrada, ao contrário, vão fazer o que qualquer pessoa de bom senso faria pra resolver o problema das carteirinhas falsas: regulamentar a emissão das mesmas.

A emissão de carteiras, historicamente, sempre foi uma estratégia para municiar o movimento estudantil, além de garantir que pessoas em formação tivessem acesso a conteúdos que engrandecem a alma, a universos que não se encontram em mapas caretas e histórias que gostaríamos de viver bem longe daqui. No entanto, com a fragmentação da luta estudantil, ultimamente as entidades da classe se tornaram apenas meras fábricas de carteirinhas. A emissão de carteirinhas pra qualquer cachorro que fosse tornou-se um problema tanto pra classe artística quanto pra estudantes de fato. Como a coisa descambou, as casas de eventos passaram a subir os preços pra compensar a falta de pagamento de tarifas inteiras, e quem de fato merece pagar meia entrada acaba pagando o preço de um ainteira ou quase isso sempre

O Senado já havia aprovado a redução da cota de 50% para 40%, com apoio de artistas globais e tudo. Mas o problema não está com a carteirinha em si, e sim com a forma como são emitidas, sem controle algum. Graças a Deus que a Comissão de defesa dos direitos do consumidor da Câmara dos Deputados derrubou o referido projeto de lei proposto pela Senadora Marisa Serrano (PSDB). O parecer do Dep. Chico Lopes (PC do B) foi aprovado na última quarta-feira (4) sem a redução da cota e garantindo o direito a pessoas maiores de 60 anos e estudantes com carteirinhas de meia-entrada a pagarem 50% da tarifa.

As carteirinhas, conforme propõe o texto do Deputado, por direito poderão ser emitidas apenas pela Associação de Pós-graduandos, UNE (União Nacional de Estudantes), UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), além de Diretórios Acadêmicos e Uniões Estaduais de Estudantes. Até aí nem uma mudança, a mudança se dará no fato de que a partir de então a carteira será padronizada nacionalmente e será confeccionada pela Casa da Moeda, permitindo assim um controle maior na emissão.

No fim das contas, fico feliz por saber que há deputados comprometidos com algo justo, pois é um absurdo que estudantes e idosos sejam prejudicados única e exclusivamente por algo que não cometemos. O projeto de lei da Senadora Marisa está comprometido com a classe dos grandes empresários que pouco se importam com a cultura de fato, e sim com a maximização dos seus lucros. Se aprovado na íntegra em votação na Câmara, o texto do Dep. Chico naturalmente fará com que o número de carteiras de araque diminuam exponencialmente, assim, consequentemente o preço das entradas normalizarão. Penso que mesmo imersos no caos ético/humanístico da sociedade atual, as vezes é possível perceber um aroma de esperança em meio a tanta podridão. Ainda bem.

domingo, 1 de novembro de 2009

Receita para ser um bom universitário


Provavelmente cinco segundos antes de eu me imaginar na faculdade* eu estabeleci uma meta para mim mesmo enquanto discente. Além dos usuais "quero ser um bom profissional", "ampliar meus conhecimentos", "conhecer novos universos", etc., eu sempre achei que pra eu poder ser feliz na academia eu precisaria conquistar três grandes objetivos:

  • Puxar um baseado com uma galera cabeça, falando de assuntos cabeças e fazendo algumas merdas homéricas;
  • Militar no movimento estudantil para ser protagonista de minha formação, afinal, é muito charmoso ser livre;
  • Fazer uma orgia com pessoas lindas de alma e quentes de carne;
Apenas duas dessas metas eu já consegui cumprir, e provavelmente a outra eu não cumprirei (snif). Mas o bacana da vida estudantil é perceber que a nossa formação não depende em absoluto de fórmulas ou enquadramentos, e sim da nossa capacidade de ser esponja da cachaça que anima a vida, ser peneira dos bagaços inúteis ao suco e ser espelho das imagens que falam a verdade.

Como diz a canção "21", composta por Bozzo Barretti e Alvin l., gravada pelo Capital Inicial no meu álbum predileto deles (Eletricidade):

"As melhores coisas se aprendem na escola, mas não na sala de aula".
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*Parafraseando a frase homônima de Nelson Rodrigues: "O Fla-Flu surgiu cinco segundos antes do nada"