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quarta-feira, 29 de junho de 2011

O Impenetrável

A comunicação de um olhar, de um quadro, de um verso, de uma crônica, faz com que a gente perceba que a forma tem poder, tanto quanto as pétalas das flores ou os dentes de um jacaré. Toda essa beleza primária e ao mesmo tempo sofisticada e profunda encontro em muitos amigos arquitetos da palavra na blogsfera. Vou encerrar* o mês de comemorações com o presente que recebi  de Antônio LaCarne,  O Impenetrável, que muito inspira meu Eu Cronista. Ele é alguém que conheci a pouco tempo, vasculhando ao leo a blogsfera, e representa, com seu talento homônimo, a vertente da blogsfera que também me encanta: Existe muito ainda a desbravar! Abaixo, o jeito impenetrável de escrever:



Amigo Eraldo:

As formas continuam a desaparecer e você narra os acontecimentos do dia com a palavra fisgada na boca. Cada detalhe simétrico é parte de uma visão sua, e ausentes percorremos os espaços das ruas, prédios infinitos, ruelas, sensações caídas e salvas de um décimo quarto andar doloroso, diário, preciso. Meu preciosismo profundo por cartas, bilhetes, avisos próximos. De longe, envio palavra, significado e aceitação às suas crônicas - eximias na retratação da modernidade. Cada pedaço é um grão de areia imantado no seu jardim. Nas costas do envelope deixo data e hora marcada. Pense que estou aqui: a ler cada frase sua reconstruída num papel guardado, jamais jogado fora. Outros anos virão e mais celebrações serão planejadas. Mas a rota, desconhecida.
________________
*Esse tipo de postagem continuará com outras pessoas ainda. Gostei de brincar disso!

domingo, 26 de junho de 2011

Coisas e Coisas

Seguindo as homenagens aos meus amigos da blogsfera, hoje gostaria de partilhar um texto de alguém que me muito inspira o meu eu safado. Não foi muito fácil escolher alguém pra me ajudar com esta postagem, pois graças a Deus acompanho muita gente safada (oi?), mas, devo confessar que sou completamente apaixonado pela Nina, criação de Alline do blog Coisas e Coisas. Alline, aliás, é o arquétipo da mulher do século XXI. Linda, livre, sem amarras machistas, e principalmente muito inteligente e escreve crônicas com uma energia incrível. Ainda bem que Canalha... 




 SOMOS DOIS

Queria chegar cedo e passar o som com os rapazes, seria nosso último show antes de eu viajar para Floripa. Sem carro, busquei o ponto de táxi a duas quadras do apartamento, na frente da padaria. Da esquina já vi o carro, um Uno com cara de rodado, o último do ponto. O taxista falava ao celular e pensei que não faria diferença se eu passasse na padaria para comprar cigarro, afinal a noite ia ser longa. Peguei logo dois maços, um saco de balas de hortelã e o último pastel de carne do balcão e fui fazer contato com o homem.
Ele me viu e sacudiu a cabeça e o indicador ao mesmo tempo querendo me afugentar. Custei a entender por que fechou a janela na minha cara. Era bem provável que se eu não tomasse uma atitude iria ficar para trás. Dei a volta no carro e me instalei no banco do carona.
Encarei-o de frente. Barbado, suado, a camisa aberta no peito ornado pelo cordão fino de ouro com um crucifixo. Abri a boca para dizer alguma coisa e quebrar o gelo, mas ele foi ríspido ao me interromper – não estava livre. Canalha! Sem dúvida me interessou, não pelo conjunto previsível, mas pelos lábios grossos que logo imaginei me percorrendo os bicos do peito. Me beija lá, vai... Também chamou a atenção a aliança na mão esquerda, uma aliança vistosa de quem não esconde seus laços. 
- Eu não vou sair daqui enquanto você não disser que vai me levar.
Ele desligou o carro.
- Tá certo, moça. Pra onde?
Pegou o endereço da minha mão, me tocou, e não consegui ficar indiferente à intensidade de seus dedos, meu estômago se contraiu inteiro. Ele? Não demonstrou nenhuma emoção e me mandou colocar o cinto para podermos ir embora logo. Podia ter me ajudado, podia ter me agarrado de surpresa e feito... feito tudo! Mas só deu a partida no carro. 
Reclamei do calor, puxei assunto, falei de mim e aos poucos ele foi relaxando. Não sabia se devia, talvez fosse minar o clima amistoso que demorou a se estabelecer entre nós, mas a curiosidade foi maior que tudo. Então você é casado? Ele fez que sim com a cabeça sem parar de mascar chiclete.  
- E você? É?
- Não tá vendo que não uso aliança?
- Isso não quer dizer nada.
- Se eu fosse casada usaria.
- Se fosse casada sairia com outro cara?
- Depende.
- Depende do quê?
- Se ele fosse um amigo, por exemplo...
- Não tô falando disso.
- Eu vou ser obrigada a responder?
- Sairia comigo?
- Com você?
- É. Por que não?
- Por que não?
O sinal estava verde. Será que vai dar tempo? Eu ri, não precisava traduzir meu desejo em palavras para aquele ali. Canalha! Ele sabia que ia me conduzir e fez uma ligação antes de se desviar do caminho indicado no papel. Canalha!  
Entrei na frente cheia de expectativa. A sala comercial aparentemente desocupada era o local de encontros dele e dos colegas do ponto. Estava imaginando coisas? Havia apenas o colchão de solteiro encostado na parede e o frigobar caindo aos pedaços no outro canto. Ele esticou o colchão.
- Quer beber alguma coisa?
- O que você beber.
Ele veio com duas latas de cerveja não muito geladas. Tirou a camisa mostrando logo a barriga bronzeada e nada saliente. Tomei um gole só e também comecei a me despir naturalmente, sem falar nada, não precisava. Ele esfregava a mão por cima da cueca enquanto me observava e esperou que eu me livrasse da calcinha para se aproximar. Puxou o elástico que prendia meu cabelo. O que é que ele quer? Ele pegou algumas mechas e arrumou-as sobre meus seios. Cheirou, acariciou o cabelo. Dedilhou o mamilo que se contraiu com o toque e me surpreendeu ao dizer que sua mulher tinha cabelos curtos e ele adorava cabelos compridos. Ai, canalha...
Deitamos na cama improvisada sobre o chão. Os cheiros variados indicavam que outros corpos tinham ocupado aquele mesmo espaço há não muito tempo, não liguei. Estava ansiosa para provar aquela boca carnuda, mas ele fugiu afundando a cabeça em meus cabelos. Por que não? Para não trair a mulher? Lutamos por alguns minutos até ele me imobilizar com o peso de seu corpo. Fiquei estática sentindo os músculos rijos, a carne quente, suada. Ele me penetrou de uma vez, me roçando por dentro, meus peitos tremiam e eu derretia nas mãos dele.
Quando levantou a cabeça para ver minha expressão de gozo, consegui me agarrar ao seu pescoço e surpreendê-lo com um beijo. Ele tentou me empurrar, não deixei. Me beija e esquece tua mulher, seu porra! Ele me atendeu e se entregou, a língua chupando a minha, vasculhando minha intimidade com saliva e sem o pudor que achei que tinha. Mordi-lhe o lábio inferior com vontade, deve ter doído, era o que eu queria. Para se vingar me colocou de bruços e o perdi de vista, a boca, tudo. Tentei me erguer, mas ele se enfiou onde devia e foi fundo. Acho que passamos mais de uma hora nos digladiando naquele colchão e não consegui outro beijo. 
Eu não lembrei que tinha prometido chegar cedo para passar o som com a banda. Ele esqueceu que aquele era o dia da semana que as crianças ficavam na casa dos avós para ele e a mulher poderem transar. Tarde demais para dois canalhas como nós.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

Batom e Poesias

Tem gente que quer ser estrela e não é. No caso de Rossana Mazza Masiero é o contrário: ela é estrela mesmo sem querer. Rossana tem um defeito: Ela só consegue ser poetiza quando respira, quando existe. Muitos tentam fazer e até fazem poesia, mas poucos como ela são poetas de fato.


A conheci através do seu blog, o Batom e Poesias.Depois passamos a nos falar através de msn e facebook. Numa dessas conversas descobri que ela havia publicado algumas obras e que também é uma cantora excelente - quem achar que exagero pode comprovar no vídeo abaixo. Mas pra ela, isso tudo não é nada.


A descendente de italianos não gosta de tocar no assunto, mas é um ícone cultural de São José dos Campos/SP. Semana passada, a generosa Rossana me enviou um exemplar de uma obra publicada dela, o "101 Poemas" - e que presente! Com certa agonia desembrulhei o Sedex, e descobri ao abrir primeira e exatamente a página 109, que ela publicou um poema pra mim, mesmo antes de me conhecer.



De mim

Quando pensei me conhecer
enxerguei-me um quebra-cabeças
de peças dispostas aleatoriamente
confuso, difuso e disperso

um mosaico...

Aos poucos, me olhando melhor
achei que fazia sentido
o padrão dos desenhos
da minha alma refletida
num espelho de almas repetidas

um caleidoscópio...

Já hoje, me sabendo cada vez menos
sob o olhar arguto da vida

Sei eu:
múltiplos caleidoscópios
de um enorme mosaico indefinido
refletido em espelhos quebrados

sou eu...


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Aniversário das paulinisses

Hoje o "Eraldo e suas paulinisses" completa 02 anos de existência. Nesse tempo, foi como se o egocentrismo que me fez criar esse cantinho tivesse sido vítima de uma operação "Cavalo de Tróia" quando percebi que o barato mesmo da blogsfera não é o EU e sim o NÓS; não de mim PARA os outros, mas COM os outros.




Por isso, sem demagogia alguma, hoje fico feliz por ter um blog porque ele me deu possibilidade de conhecer pessoas maravilhosas. Gente amiga, talentosa, estranha, genial, que pelo mosaico desses "tus" extraordinários fizeram o meu eu ganhar mais partes interessantes ao mosaico existencial que é a vida. De uma forma geral, todas as pessoas que visito frequentemente e a as que infelizmente o tempo não me permite ser tão presente são realmente algo que tem me feito feliz nos últimos dois anos.

Por isso, resolvi encher o saco de um monte de gente para celebrarem comigo esses dois anos de paulinisses. Não queria explorar ninguém (juro), mas é que interagir com gente que admiramos é coisa mais legal de ter um blog. Por isso, perturbei algumas pessoas para me ajudarem com isso. Por exemplo, em relação ao novo layout, o novo banner/título maravilhoso deste blog eu ganhei do mágico Tonho, autor de vários blogs e o melhor poeta visual que eu conheço; o banner deu o tom ao novo visu. A nuvem de tags com meus "eus", ganhei da indomável Luna Sanches , uma das blogueiras mais originais do Brasil. Na hora que não sabia mais o que fazer com o novo layout, a lírica Michele P me deu uma forçona.



Essa semana ainda vai ter mais gente participando aqui com posts. Alguns eus do meu/nosso mosaico terá a participação de alguns blogueiros que tiveram a gentileza de aceitar o meu convite para participar. Falarei melhor sobre eles a cada postagem. Agora, gostaria de apresentar a quem não conhece duas blogueiras que transcenderam a barreira da blogsfera e se tornaram minhas amigas mesmo, como já aconteceu algumas vezes nesse tempo. Mulheres sensíveis, nem por isso menos fortes. Trata-se de Mirella de Oliveira e  Michele P que interpretam abaixo o poema que ganhei da última. Pessoas lindas que dedicaram uma parte da vida corrida delas para participar das paulinisses. Se tenho motivo pra me gabar nesses dois anos? Tenho: só acompanho gente foda na blogsfera.


Abaixo, um poema, dois sotaques:



Ora avesso, indiferente.
Ora amigo, confidente.

Por vezes maroto,
outras vezes domado.

Sempre coerente,
pungente.

De olhar distante,
faz-se presente.

De sorriso poupado,
faz-se de rogado.

Partes de um quebra-cabeça
em que as peças não se encaixam.

Dividido,
ambíguo.

Incerto,
perplexo.

Tão ele.
Tão eu.
(Michele P)
___________
*A imagens são algumas das propostas do Tonho até chegar ao que ficou o Banner. Muito obrigado, companheiro. Jamais esquecerei tua generosidade.
**Muito obrigado também, Luna, pela generosidade. Teu profissionalismo e criatividade são exemplos para mim.
***Obrigado a todas e todos.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Vem cá, você me conhece?

Meus caros amigos da blogsfera. É com muito orgulho que anuncio o segundo aniversário do meu blog a ser completado ainda este mês. Por isso, peço um pouco de paciência a voz por não postar nada até o dia em que celebrarei com você esta data tão importante pra mim. É que, através daqui conheci pessoas maravilhosas, artistas e amigos/as que, não fosse por esta ferramente, talvez jamais tivesse oportunidade de conhecer.


Mas enquanto isso, deixo a vós um post com a cara da minha amiga Michele Pê . É um dos desafios que ela sempre propõe aos seus. E tem haver com esse momento de renovação/avaliação que esta casa passa. Consiste em 3 etapas. E se você não se sente muito a vontade com esse tipo de questionário, diga o que/como quiser sobre o que achou do blog como ele é até agora - críticas sempre são bem vindas.


1. Vocês deverão, nos comentários, apontar algumas coisas que descobriram sobre mim, lendo o blog:
  • Um vício
  • Um defeito
  • Uma qualidade
  • Um medo
  • Um mico (Ahhhhh... este tem vários! kkkk)
  • Um sonho

2. Em seguida, perguntarão algo que sempre quiseram saber sobre mim e eu nunca falei aqui. (Sacanagens não estão liberadas! kkkk)

No mais, até as novidades!


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*Imagem by Michele P

domingo, 12 de junho de 2011

Mènage à Trois

Quem disse que namoro, sexo e fim de namoro não se faz a 3? Em homenagem ao Dia dos Namorados, três blogueiros resolveram falar a 3 sobre o tema. Michele P., Eraldo Paulino e Mirella de Oliveira, cada um com um tema, falando sobre a parte do namoro que não cabe nos comerciais de perfume.


Abaixo, a parte onde entro na história




AMAR


Amar é aceitar a TPM dela como uma aventura e o futebol dele como um aprendizado. É rir junto com ela/e daquele sujo no dente. É berrar que a odeia e receber o olhar mais sensual do mundo dizendo "vem".


Amar é não ficar se perguntando todo dia se é amor.É qualquer coisa, desde que seja com ele/ela. É broxar na hora H e fazer disso oportunidade pra conversar o que não foi possível a semana inteira. É ouvir falar que esse amor não é de Deus e preferir ficar com o amor a um Deus preconceituoso.


Amar é receber aquele presente de aniversário horrível e mesmo assim não odiar (isso tem prazo de validade curta, alerto). É se jogar do precipício, e junto dela/a parecer que é do trapiche. Amar é não ver mais a mesma graça em ficar azarando qualquer um/a pelo msn. Amar é entender a diferença entre frescura e romance.


Amar é essa retiscência que faz parecer exclamação, é esse eufemismo que faz parecer interjeição, é essa antítese transformada em ironia.


Amar é ter medo sim, mas finalmente não ter medo de ter medo. Amar é achar que vai doer, mas ter certeza de que valerá a pena.


Amar é tudo isso... ainda que não seja nada disso.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Deus é de quem?

Por que as pessoas acham que Deus é um pássaro irracional, inocente, disposto sempre a cair nas armadilhas mais rudimentares e a piar enclausurado numa gaiola religiosa qualquer? Dizem que Deus é o Todo Poderoso, mas não passa de isca para presas sedentas de alguma resposta nesse mundo repleto de verdades mentirosas. Vivenciamos atualmente, após a derrota das maiores promessas da modernidade (né, Freud, Marx e companhia?), o retorno pós-moderno ao sagrado. Retorno que significa mais do que o ópio do povo na Idade Média, significa prejuízo ao consumidor e à inteligência. Como é que as pessoas podem comprar Deus, ainda por cima um Deus idiota, e achar que estão livres e salvos?

Não há espaço aqui pra que eu discuta com vocês o que acredito ser Deus, mas posso dizer que se Deus for essa peça publicitária para pastores e padres enriquecerem ou essa desculpa furada para pessoas mesquinhas e preconceituosas travestidas de cristãs oprimirem outros seres humanos, então não acredito em Deus. Aí eu tenho que ouvir/ ler diariamente termos como: "bancada evangélica" vota contra projeto de lei anti-homofobia, ou então, "bancada cristã" se opõe a kit sei lá do que. Nem vou entrar no mérito do debate aqui, falo sobre isso em outra oportunidade, mas, o fato é, toda vez que leio esse tipo de frase, só consigo entender da seguinte forma: bancada diabólica usa o nome de Jesus Cristo e do evangelho pra satisfazer os próprios anseios sádicos.

domingo, 5 de junho de 2011

O Canalha - Caça 6

Dias de cão. Naquela empresa ninguém ia trabalhar e sim ter audiências diárias com Deus. O chefe fazia questão de deixar claro a todos os funcionários que aquele salário pago um pouco acima da média do mercado deveria ter como contrapartida toda devoção a ser expressa incondicionalmente durante as 08h de expediente ao onipotente e onisciente chefão. Só o chefe tinha razão. Só o chefe era o bom. Só o chefe tinha cultura. Só o chefe tinha uma vida feliz. Na verdade, só o chefe recebia o ódio unânime de todos, mas o medo de perder o emprego era tanto, que nem nas mesas de bar ou nas rodas de conversa durante o almoço esse ódio era conversado abertamente entre os "colaboradores".

Dia desses, enquanto o Canalha refazia um texto considerado ótimo por todos, menos pelo chefe Todo-Poderoso, uma mulher sentou ao lado dele. Era linda, vestia-se como uma lady, mas seu olhar revelava uma plebeia aprisionada num castelo. "Ela não parece combinar com essa casca que veste, mas é uma casca linda", chegou a pensar o nosso protagonista enquanto se concentrava. "Como 'Deus' escreveria essa merda?", já raciocinava. Estavam só os dois na sala. Os demais já haviam feito a vontade sagrada e se retirado dos pés do altar. Quando o Canalha procurava relaxar daquela tenção logo a figura da dona chamava a atenção. Ela parecia esperar uma oração presencial com o divino.

"Você está muito ocupado?", puxou assunto a loira com um sorriso de batom vermelho. Ele estava. Muito. Mas quis ser simpático. Conversaram sobre vários assuntos enquanto ele tentava adiantar alguma coisa. Mas a conversa emplacou quando trataram sobre o gosto comum por vinis. O rapaz descobriu que ela tinha vários compactos raros, muitos dos quais eram desejados por ele.

Depois de um tempo de conversa inteligente e divertida um silêncio momentâneo se apropriou do ambiente. Aquele silêncio que demarca o fim da primeira etapa da conversa, quando as pessoas simplesmente percebem no outro algo interessante, e dá lugar à perguntas sobre a vida (na verdade essa é a hora de saber como está o terreno da caça, se livre ou com obstáculos).

"Eu sou Mariana Avelar", revelou a moça ao responder a pergunta do Canalha. Um frio subiu pela espinha dele como um foguete de São João. Era o mesmo sobrenome do chefe. "Você é filh..." já ia perguntar quando foi interrompido por ela: "Sou a esposa dele". O terreno estava mais do que obstruído, o caminho estava minado. Ela era linda, o chefe uma pessoa idosa, digamos, fora dos padrões de estética vigente para coroas bonitões. A lógica do Canalha, então, processou automaticamente: mulher linda+ velho feio, chato e rico = casamento por interesse. A conversa terminou com um sorriso insosso dele para ela. O texto ficara pronto. Foi aprovado. Quando saiu do santuário de Deus, ela se despediu dizendo que outro dia emprestaria um daqueles compactos a ele. 

Naquele mesmo dia, em casa, o Canalha já estava maldizendo-se por ter um emprego tão escroto quando a campainha tocou. Meio atordoado, o Canalha abriu a porta para a esposa de Deus. Nas mãos, ela trazia alguns compactos. "Você não precisava se preocupar em trazer hoje", tentou falar sem tremer o Canalha. "Ah, isso? Nem sei quais compactos são esses", respondeu. "Como assim?", se espantou o garoto. "No início até tentei lembrar quais você havia mencionado. Como não consegui, peguei qualquer um, afinal eles são só um pretexto mesmo", provocou.

Ela fechou a porta com as próprias costas. Fitando-o. Não havia porque se segurar. Nada foi comentado, mas estava claro que, pelo nervosismo dela, não teriam muito tempo ali. O Canalha a pegou pelos braços, imprensou-a contra a porta, e quanto mais ele a espremia, mais ela parecia puxá-lo, numa sucção de libido voraz e arrebatadora. Ela mesmo levantou a saia, arredou a calcinha e se fez penetrar. Ela expirava fazendo um suave "sss" a cada subida dele, a perfeição dos seios dela eram quase sagrados na boca erética dele.

Então, sem medo de pecar, o Canalha profanou o sofá da sala de estar a pondo de quatro para concluir ali a celebração. Quando estava para gozar ela começou a gemer. Um gemido baixo, mas lindo, avisando a ele que o céu estava próximo. "Eu vou chegar dentro de você", avisou ele. "Vem! Vem!", suplicou em resposta aquela mulher que naquele momento ganhou sabor de esposa do chefe e ele recheio de empregado do marido quando a penetrou o máximo ao cumprir o prometido.

...

No dia seguinte o Canalha foi trabalhar normalmente. Mas quem tinha semblante de Deus com os chifres passou a parecer um simples diabinho. A cada bronca, a cada ordem, a cada leseira do chefe, o Canalha continha como podia a vontade de rir. Muitos vinis ainda foram entregues depois daquela noite. Muitas promoções vieram também. O Canalha passou a ser referência de empenho e inteligência emocional na empresa. Depois que o Canalha saiu dali pra abrir negócio próprio os vinis perderam um pouco da graça.