tag:blogger.com,1999:blog-41783254545491710112024-03-14T00:01:13.952-03:00Eraldo e suas paulinissesEraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.comBlogger241125tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-14575312769725614382014-06-30T01:42:00.000-03:002014-11-20T20:38:58.508-03:00ÚLTIMA PAULINISSE - Derradeira parte de um mosaico inacabado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-XxPA0iwTkhI/U7DcRGLLEaI/AAAAAAAAA7s/cN_e1N5qrHQ/s1600/untitlee_Fotor_Collage.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-XxPA0iwTkhI/U7DcRGLLEaI/AAAAAAAAA7s/cN_e1N5qrHQ/s1600/untitlee_Fotor_Collage.jpg" height="400" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Este blog nunca vai sair do ar, se depender de mim, mas não mais
postarei textos novos aqui, salvo na hipótese de eu conseguir publicar um livro
com algumas das postagens contidas neste cantinho que há cinco anos é minha
válvula de escape para o infinito. Não lembrava, mas quando criei este espaço,
na <a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2009/06/descabacando-meu-blog.html" target="_blank">primeira postagem</a> eu disse que ele a realização de uma meta pessoal
estabelecida no final do ano anterior. Eu descontinuo as postagens mais ou
menos pelo mesmo motivo. Tenho vontade de publicar algo em papel e nada
melhor para começar essa vida do que aproveitar o que já produzi.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Foram cerca de 71 mil visualizações nessa meia década. Não
significa que cada pessoa que abriu o blog leu um texto todo (tão pouco se gostou), mas é alguma coisinha. Quando
eu tinha tempo e disposição pra ser um blogueiro mais ativo eu consegui uma
média de 3 mil visualizações/ mês e encerro com menos de um terço disso, um dos
motivos pelos quais tomei essa decisão de parar. Se eu não tenho como alimentar
regularmente nem como divulgá-lo como se deve, vou continuar publicando aqui
pra quê? Se eu quisesse escrever só pra mim e meus amigos mandaria os textos por
email ou registraria só no meu PC. Óbvio que criei blog pra que muitas pessoas
leiam as porcarias que escrevo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-zyPTTzeSqxI/U7Dd-WRHdKI/AAAAAAAAA74/wxcwnt_aWn0/s1600/untitle_Fotor_Collage.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-zyPTTzeSqxI/U7Dd-WRHdKI/AAAAAAAAA74/wxcwnt_aWn0/s1600/untitle_Fotor_Collage.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu paro de postar, mas não o tirarei do ar. Aqui eu expus as minhas entranhas, minhas confidências
mais profundas, e minhas loucuras mais desnudas. Também conquistei verdadeiras amizades no mundão da blogsfera. Por isso, enquanto o blogspot existir esse canto existirá.Em breve, além de
tentar publicar alguns desses textos pretendo criar um blog só pra contos
eróticos e blogar crônicas no site da organização onde trabalho. Darei um
jeito de colocar nesse próprio post aqui no futuro os links para vocês
conferirem. Também tenho em mente alguns argumentos para romances. "Vamu vê" no que dá.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><b>SOBRE O TÍTULO E PROCESSOS</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Como falei em algum post da vida, “Eraldo e suas paulinisses”
é um neologismo que brinca com meu nome composto. É legal que o “paulinisse” desobedeça a norma gramatical. Se fosse seguir a “ordem”
seria “paulinice”, mas a este cafofo literário aqui jamais quis se enquadrar em
regra alguma e enquanto laboratório contém muitos erros de ensaio. Quando re-leio sempre edito uma coisa aqui e outra ali, mas ainda há muitas falhas de concordância, de ortografia, inadequações estéticas. Contudo, como valorizo processos, esses registros com "erros" não me são motivo de vergonha, e sim prova de que a gente muda o tempo todo e às vezes consegue aprender algo. E se noto equívocos é porque alguma coisa assimilei dessa maldita arte de escrever.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Aqui estão registrados textos, inclusive, muito ruins, outros bons, outros "marromenu", ou seja, fica muito do pior e do melhor de mim. Jamais abandonarei minhas Paulinisses e
nem deixarei de ser um mosaico de eus, porque pra mim isso é muito mais que um título e um subtítulo. É princípio. Ninguém
é a mesma coisa sempre e deixamos uma assinatura particular em cada um de
nossos gestos. Esse blog me ajudou a aprender a sobreviver nesse mundo através da escrita. Pretendo continuar fazendo
isso de leso que sou.</span></div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">
<br /><b>
Aqui uma pequena seleção nos meus textos prediletos dos principais Eus deste
mosaico:</b></span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu Articulista: <a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2012/11/ser-um-homem-feminino-nao-fere-o-meu.html" target="_blank">Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eu Safado: </span><a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2012/03/o-canalha-caca-8.html" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;" target="_blank">O Canalha - Caça 08</a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eu Cronista: </span><a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2012/08/a-igreja-como-ela-e-ela-e-eles.html" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;" target="_blank">A Igreja como ela é – Ela e Eles</a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Eu Romântico: </span><a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2009/12/twitando-uma-grande-paixao.html" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;" target="_blank">Twittando</a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu Existencialista: <a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2010/03/mosaico-de-eus-em-debate.html" target="_blank">Mosaico de eus em debate</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu Idiota: <a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2010/01/ditados-pos-modernos-antalogia.html" target="_blank">Ditados Pós-Modernos – Antalogia</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu Militante: <a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2013/11/eu-tenho-cara-de-ladrao.html" target="_blank">Eu tenho cara de ladrão</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu Religioso: <a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2013/10/cirio-de-lucidez.html" target="_blank">Círio de Lucidez</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Eu Poeta: <a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2010/05/mel-e-limao.html" target="_blank">Mel e Limão</a></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-22512866159468560062014-06-26T15:02:00.001-03:002014-06-27T19:23:59.431-03:00O FanTáSTicO mUnDO de PeDRo<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-aFXfcILBRYU/U6xe3066XZI/AAAAAAAAA7U/MY1ZHMZMwM0/s1600/Foto_Thiago+Ara%C3%BAjo+-+09+(1).JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-aFXfcILBRYU/U6xe3066XZI/AAAAAAAAA7U/MY1ZHMZMwM0/s1600/Foto_Thiago+Ara%C3%BAjo+-+09+(1).JPG" height="426" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Fotografia do Pedro feita por Thiago Araújo</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">É um menino diante de
mim, até as palavras mágicas "Bora brincar?" com a voz mais gostosa do mundo. Depois disso ele é qualquer coisa, em
qualquer lugar. O impossível brinca de ser. Pedro torna-se o bravo dragão guerreiro e eu
um monstro com corpo de touro e rosto de cegonha. Lutamos. Bravamente. Aqueles outrora
pequenos braços me acertam e empurram longe. Em seguida aqueles pés alguns segundos antes diminutos me
chutam. Eu dou gritos de dor (essa é a ordem). Caio e imediatamente meu corpo vira pista de corrida para o carro
pilotado por ele avançar. Cada contorno da minha perna vira um obstáculo, e
derramando algumas gotas de saliva o motor ronca, os pneus cantam em freadas
bruscas. O carro vai e volta. Já que estou mesmo deitado ele pega um cinto,
envolve em meu pescoço. Súbito ele tem em mãos a rédea para controlar o dragão.
Meus braços viram asas e sou obrigado a cuspir fogo contra os inimigos
desafortunados que cruzam nosso caminho.
Minha barriga está pra cima, mas ela é a costa selada de um cavalo de fogo e o
enredo oscilante, desatrelado de coesão e outras chatices lógicas são ditados
pela boca sempre sorridente a decorar as mais diversas expressões de dar inveja
a qualquer jogador de RPG. O cavalo aqui então corre, pula, para, anda bem
devagar pra não chamar atenção, e até morre – com direito a choro e tudo. Enquanto
estou nesse estado de “Bora brincar?” a realidade é como uma massa de modelar
nas mãos do Pedro. Eu sempre canso antes dele, mas uma hora ele se entrega
também. Deita no meu colo no único momento da brincadeira que me sinto invencível o suficiente para proteger o mocinho. Ele fecha os olhos quase sempre junto comigo. Enquanto sonho coisas desamarradas e
anacrônicas chego perto do nível dele, finalmente. Até a hora de acordar,
porque aí só um de nós faz isso plenamente. E não sou eu. Daí eu continuo
levando minha vida normalmente, assim, imaginado o que viver. E ele vivendo o
que imagina.</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
</div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-30704836240955689472014-06-11T11:18:00.000-03:002014-06-29T18:13:34.017-03:00Sobre andar descalço<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-PE0nrAwxX14/U5hk9VoOuSI/AAAAAAAAA7E/6jpWMZggtXE/s1600/588-christi-feet.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-PE0nrAwxX14/U5hk9VoOuSI/AAAAAAAAA7E/6jpWMZggtXE/s1600/588-christi-feet.jpg" height="480" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ele se
sentia oprimido com as sandálias e sufocado pelos sapatos. Gostava mesmo era de
sentir os pedregulhos empurrarem pra cima a palma do pé, ter contato direto e
sem intermediários com a perfeição dos defeitos do chão. Sentia-se mais honesto
consigo mesmo pisando em algo sujo, quente ou macio e agradável do que pagar
para fazer propaganda de calçados famosos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas ele não
podia. Os espinhos, o calor, a pobre sujeira, a santa higiene (salve salve), a
boa educação, a ordem da mãe, as regras da empresa, tudo era motivo pra não
andar descalço. Ele aceitou essas desculpas chuviscadas durante a vida toda,
mas sempre dava um jeito de viver a própria liberdade sob si quando dava,
quando não era convencionalmente proibido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Certo dia
ele voltava pra casa trilhando o mesmo caminho de sempre. Vinha pensando na
vida, cabisbaixo, e reparou nos próprios passos, cada vez mais curtos. Não era
mais a sandália que ele enxergava, mas sim amarras em seus calcanhares de pé a
pé. Olhou ao lado, pro outro, pra frente, pra trás, olhou de novo e não
conseguia mais enxergar calçadas e sim obediência. Correntes. Um pé atrás do
outro. Cada pessoa puxava a outra e a outra puxava o um e por aí se ia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas mesmo
assim ele não conseguia se libertar a partir da própria base. Tinha vergonha
desse negócio de fazer o que quisesse. Até que um dia, ao chegar da rua, deu um
passo estranho. Era leve. Sentiu o mesmo peso dos pés de criança, quando
procurava as pedras mais salientes indo rumo ao igarapé de Colares, de quando
corria solto atrás de uma bola em campos de várzea, de quando lavava os pés e
via naquela água suja escorrendo para o ralo todo o resumo do dia. Olhou pra
baixo e viu a sandália arrebentada. Jogou ela e o outro par no lixo e ouviu o
tintilar do metal quando elas chegaram ao fundo. Ele sorriu. Estava livre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Desde então
ele anda descalço pra onde precisa ir. Todos estranham, mas, se perguntam, diz simplesmente
que a sandália arrebentou graças a Deus, ou que paga promessa, ou que tem
trauma porque a mãe foi assassinada por um bandido fazendo-a engolir o próprio
chinelo. Não precisava de razão para seguir a própria vontade, e sim
das desculpas certas. Quem não tinha
intimidade suficiente pra perguntar estranhava não apenas aqueles pés
imoralmente desnudos, mas também aquele olhar distante, meio autista e os
sorrisos bobos do nada para o nada. Ninguém percebia como ele estava na verdade
voando, como nos melhores sonhos de outrora. Com os pés no chão ele se
conectava com todo o universo ao seu redor, principalmente com as coisas invisíveis
e desimportantes.</span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-14154704499276741952014-05-08T10:37:00.002-03:002014-06-29T18:23:27.919-03:00Quando fui repórter de Polícia - parte 2<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-9If3korqLic/U2uF1IjbhPI/AAAAAAAAA6s/fum6cZtW31M/s1600/tesao90.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-9If3korqLic/U2uF1IjbhPI/AAAAAAAAA6s/fum6cZtW31M/s1600/tesao90.jpg" height="320" width="298" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: center;">
<b>PAUTA SEDUTORA</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela era linda. Magra, não mais alta que eu. Um rosto fino,
lábios bem desenhados, charmosa de um olhar cinicamente provocante, mesmo naquele
estado de medo e tensão. O fato de ser bandida só a deixava mais atraente. A
pessoa a quem me refiro tinha acabado de ser apreendida junto a outra mulher
quando reparei nela. Em parceria com mais três homens tiveram o assalto a uma
loja de roupas frustrado pela polícia. Havia muita movimentação na Almirante, perseguição
policial, gente querendo filmar, gente querendo ver. Gente querendo ver. Ah, e
mais gente querendo ver. E eu não conseguia parar de olhar aquela menina de 17
anos deliciosamente algemada a minha frente.</div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando fomos à delegacia, a coisa só piorou. Ela percebeu
que de toda multidão ali o único a não querer espancá-la era eu. Não sei se
percebeu meu tesão, mas depois de apanhar, ser xingada e receber ameaças
verbais, reparar um olhar nem que fosse de pena certamente faria ela
buscar ajuda por ali. Vez ou outra me chamava baixinho pra perguntar algumas coisas
ao pé do ouvido, ou pedir água, prendedor de cabelo ou coisas assim. Eu continuaria ajudando se ela não fosse tão gata, mas sendo do jeito que era eu não saía do
alcance do olhar dela só pra ser chamado de novo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Pra aumentar meu desespero, a garota havia guardado o
próprio celular na calcinha. Sob a ordem do coronel uma PM também bonita colocou luvas
e com a permissão da detida retirou o aparelho de “lá”. A moça, algemada com as
mãos pra frente, apenas esticou a calça jeans lycra azul claro de coes baixo. Meu
ângulo de visão permitiu que eu visse a calcinha e as evidências da depilação bem feita com a
mão de outra mulher bonita enfiada “lá”. Era sensualidade demais, meu Deus. Tudo tão
deliciosamente natural da parte da <i>infant</i>
que à partir daí já não raciocinava direito com a cabeça de cima.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Depois daquilo eu não conseguia mais ser repórter, só um
homem com tesão e um amigo solidário à violência a qual ela era irregular e
vergonhosamente exposta. Desrespeito total aos Direitos Humanos. Compreendia o
ódio das vítimas, mas nada justificava a violência policial. Quando um
comandante da Polícia Militar percebeu que ela conversava comigo, chegou a me
propor bater na cara dela. Ele realmente achou que eu queria. Recusei, óbvio.
Além de ser uma covardia sem tamanho, preferiria estapear aquele rosto depois
dela me pedir ofegante numa cama redonda, coberta por lençóis vermelhos ,desarrumados
e melados de suor (não vou mentir).</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
Terminada a apuração voltei à redação pra escrever. Mas quem
disse que consegui? E olha que tentei. Mas não deu. Levantei-me e voltei o mais rápido possível àquela
delegacia que ficava próxima ao prédio do jornal. Pedi ao delegado permissão pra entrevistá-la
numa sala fechada alegando precisar de um depoimento exclusivo. Se ele me
permitira antes agredi-la, obviamente não havia razão para recusar. Eu não disse muita
coisa depois de trancar a porta. Ela também não. “Eu não posso te livrar dessa
prisão, mas posso te dar outra coisa agora. Você quer?”, disse enquanto encostava meu corpo no dela. Houve um beijo rápido, molhado e intenso. Depois, em silêncio e me
fitando os olhos, ela simplesmente ajoelhou e me chupou. Deitou-se em
seguida na mesa do investigador, e minha língua passeou por ela. Contivemos como
deu nossos barulhos, pois de vez em quando alguém fazia ruídos do outro
lado da porta. Não demoramos. Não podíamos. Não queríamos. Gozei olhando aquela
boca linda aberta e com a língua pra fora pedindo leite. Terminada a punheta, saí aliviado do banheiro e escrevi
uma matéria legal, com direito a página dupla e capa do jornal.</div>
</div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-71536645368404728022014-04-10T09:31:00.001-03:002014-04-10T09:35:47.250-03:00Sobre seca, cerca e orações*<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-gsyzRz-n72c/U0aNGWptkMI/AAAAAAAAA6Y/92QtJB1so98/s1600/Chuva.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-gsyzRz-n72c/U0aNGWptkMI/AAAAAAAAA6Y/92QtJB1so98/s1600/Chuva.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Em
qualquer livro de gramática, em qualquer aula sobre sujeito e predicado, as
orações sem sujeito são exemplificadas com fenômenos da natureza, porque as
ações contidas nestas não podem ser atribuídas a nenhum agente. Por exemplo:
“Choveu no semiárido”. O verbo “chover”, como todos os fenômenos naturais,
quando usados no sentido literal e não metafórico possuem um caráter impessoal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Contudo,
o ato de chover pode ser substantivo, principalmente em momentos de lamentação, como
neste caso: “A chuva não veio”. E a precipitação de água também pode estar
contida num outro tipo de oração, mas no sentido de prece: “Que Deus mande as
chuvas esse ano para que não haja seca, tenhamos condições de beber água o ano
inteiro sem sacrifício, isso melhore a agricultura e possamos ter pasto e
bebida pros animais. Amém!”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Mas, no
que se refere à escassez d’água no semiárido brasileiro, chover sempre será parte de uma
oração sem sujeito, pois a região com sua característica própria é mesmo um
local onde se chove pouco. Se há sujeitos que causam grandes problemas durante
a estiagem não são fenômenos da natureza, e a culpa não é das preces não
atendidas. Os sujeitos culpados são os latifundiários, os governantes
incompetentes e opressores ao longo da história. Jamais as chuvas ou a falta de
fé, tadinhas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O semiárido
brasileiro possui a maior concentração de água desse tipo de bioma no mundo.
São cerca de 37 bilhões de metros cúbicos estocados em cerca de 70 mil represas
que garantiriam, em tese, recursos hídricos para todas as pessoas sem depender
da chuva. Mas grande parte desses recursos estão em propriedades privadas e distantes do/a pequeno agricultor/a. Por isso não a seca, mas as cercas e a má distribuição ocasionam a
escassez, principalmente para as famílias camponesas. É absurdo que em pleno
século XXI o Brasil, atual 6ª economia do mundo, ainda não tenha conseguido
vencer os desafios da estiagem, pois apesar do baixo investimento em pesquisa nesse
país já há conhecimento científico suficiente para apresentar soluções
eficientes a tal demanda. Bastariam para isso sujeitos determinados nos
governos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Culpar
as chuvas, depender de preces foi tudo o que organizações como a Articulação no
Semiárido (ASA), a Cáritas e outras deixaram de fazer quando passaram a propor
tecnologias de armazenamento e produção alternativas para a convivência
harmoniosa com tal bioma. Na maior seca dos últimos 40 anos na região - vivida
de 2011 a 2013 - por exemplo, já se nota o resultado positivo com um número
bastante reduzido de migração, ausência de grandes saques, e daquela típica
imagem de retirantes, etc. Com estiagens bem menores os interiores viravam
“cidades fantasmas”, as estações lotadas, e hoje o cenário é diferente, porque
mudou em parte a forma como as pessoas se relacionam e acessam os recursos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Portanto,
“choverá amanhã” deve continuar sendo uma oração sujeito. Que nenhuma oração
deixe de ser o ato de orar e agir; que nenhum sujeito composto (homens e
mulheres, campo e cidade) teime em ser oculto diante dos desafios da política de recursos hídricos; nenhum sujeito simples seja
vítima de sujeitos determinados e egoístas; que na gramática da vida "chuva" seja
sinônimo de "direito" e não de "milagre".</span><br />
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">______________</span><br />
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: x-small;">*Texto publicado originalmente na agenda do projeto Educação Contextualizada no Sertão Cearense, uma realização da Cáritas Diocesana de Crateús, com patrocínio da Petrobras. Versão editada.</span></span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-80968321160600231882014-03-31T16:01:00.000-03:002014-04-01T11:34:54.018-03:00Dom Alberto Ramos mandou prender seus padres<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-M6S7bmRw4ec/Uzl9ER-pfhI/AAAAAAAAA54/WFMjeaf0AeI/s1600/Dom+Alberto+Ramos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-M6S7bmRw4ec/Uzl9ER-pfhI/AAAAAAAAA54/WFMjeaf0AeI/s1600/Dom+Alberto+Ramos.jpg" height="320" width="308" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“A Santíssima Trindade decidiu visitar
alguns lugares da querida Terra. Diz o Pai:</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">- Vou ao jardim do Éden, na Mesopotâmia,
onda passei momentos muito felizes com Adão e Eva.</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Diz o Filho:</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">- Vou à Galileia, onde passei momentos
muito felizes quando era jovem.</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Diz o Espírito Santo:</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">- Vou ao Vaticano, pois nunca lá
estive.”</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
</div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">(Anedota de autoria desconhecida)</span></i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nestes dias de lembrarmos 50 anos do golpe militar de 1964 um fato quase silenciado ao longo da história precisa ser lembrado. Dom Alberto Ramos foi maior autoridade da igreja católica no Pará enquanto arcebispo de Belém no período de 1957 a 1990. Esta pessoa, conhecida por ser erudito, por ter participado da Academia Paraense de Letras, que empresta o nome a diversos locais públicos, mandou prender seus padres. Vou repetir: <b>Dom Alberto Ramos mandou prender seus padres.</b> No primeiro dia do novo regime ele pessoalmente anunciou na TV uma lista entregue por ele aos amigos militares contendo nomes de presbíteros ligados à chamada “esquerda católica”, considerados por ele “comunistas” ou com ligações "perigosas" com tal movimento. Um homem refém das falácias elitistas, vítima e culpado pela propagação de mensagens terroristas e rasas contra quem defendia maior justiça social na Amazônia e no mundo. Não se sabe até hoje qual a lista completa divulgada pelo arcebispo, mas nela certamente estavam os padres Diomar, Neno e Aloísio, então assessores da Ação Católica e presos graças às delações de seu superior.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Incentivados pelas encíclicas “Mater et Magister” e Pacem in Terris”, nas quais o papa conciliar João XXIII recomendava a relação com grupos ligados à luta por justiça (inclusive comunistas), padres, religiosos/as e leigos/as de todo Brasil agiam nas diversas organizações da Ação Católica da qual participaram importantes lideranças brasileiras, como o irmão do Henfil. A ideia era enxergar um Jesus Cristo transgressor, consciente e consequente politicamente, e crítico das injustiças como mensagem evangélica, e não um "Jesuzinho paz e amor", bonzinho, manso e despolitizado. Tal visão cristã tem como consequência o comprometimento radical com a vida, posição firme contra tudo que a denigre e opção preferencial pelos/as excluídos/as. No início da década de 60 os padres Neno, Diomar e Aloísio foram delatados pelo arcebispo por ter ligação com jovens atuantes. Um dos membros dessa igreja libertadora, Heraldo Maués, hoje considerado um dos maiores antropólogos da Amazônia. Ele também vivenciou as chagas da prisão e da tortura.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-fSazoczBR_s/Uzm5cge-9zI/AAAAAAAAA6I/4Ja6gi-l18o/s1600/frei-betto.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-fSazoczBR_s/Uzm5cge-9zI/AAAAAAAAA6I/4Ja6gi-l18o/s1600/frei-betto.jpg" height="213" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O episódio vergonhoso da igreja do Pará foi testemunhado pelo então noviço Frei Betto, que estava em Belém para articular a <a href="http://www.pucsp.br/cedic/fundos/juventude_estudantil.html" target="_blank">Juventude Estudantil Católica (JEC)</a>, como relatou na biografia de Dom Helder Câmara (Helder, o Dom) e na própria autobiografia (Alfabetto). Ele ficou perplexo ao assistir Dom Alberto Ramos anunciar a delação na TV e em seguida foi avisado pelo então bispo auxiliar, Dom Milton Pereira, para fugir da casa do arcebispado onde estava hospedado e depois partir o mais rápido possível de Belém. Foi para Pernambuco, para a posse de Dom Helder Câmara e em particular comunicou a delação. Dom Helder, conhecido até hoje como "bispo vermelho", junto com <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Casald%C3%A1liga" target="_blank">Dom Pedro Casaldaliga</a> e <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Batista_Fragoso" target="_blank">Dom Fragoso </a>foram líderes denunciantes da Ditadura Militar, apoiadores de sindicatos e líderes perseguidos, mas não foram regra e sim exceção.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em âmbito nacional a CNBB criticava a prisão de pessoas ligadas a organizações católicas, mas chegou a publicar um documento intitulado <b>"Declaração Sobre a Situação Atual", onde algumas linhas falavam sobre a Ditadura recém-instaurada: "Atendendo à geral e angustiosa expectativa do Povo Brasileiro, que via a marcha acelerada do comunismo para a conquista do Poder, as Forças Armadas acudiram em tempo, e, evitaram se consumasse a implantação do regime bolchevista em nossa Terra. (...) De uma à outra extremidade da Pátria transborda dos corações o mesmo sentimento de gratidão a Deus, pelo êxito incruento de uma revolução armada. Ao rendermos graças a Deus, que atendeu às orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos aos militares que, com grave risco de suas vidas, se levantaram em nome dos supremos interesses da nação"</b>. Sobre tal discurso, uma palavra: nojo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Voltando a falar sobre a repressão em Belém, a posição fascista de Dom Alberto Ramos só ganhou maior repercussão em terras paraenses nas reportagens de Oswaldo Coimbra para o Caderno Amazônia da extinta Província do Pará, o qual não passou da primeira edição, porque pressões de poderosos (incluindo a igreja) forçaram a segunda edição ser arquivada. Oswaldo conta com mais detalhes esse episódio e os desdobramentos disso no livro <b>“A denúncia de Frei Betto contra o arcebispo do Pará em 1964: Dom Alberto Ramos Mandou Prender Seus Padres”</b>, da editora Paka-Tatu, na qual as delações também feitas contra jovens lideranças são contadas. Um material denso e muito bem apurado o qual cada paraense e cada católico deveria ter acesso para saber que a Ditadura Militar não deixou marcas apenas na região do Araguaia. Houve em menor proporção em relação a outras regiões, é verdade, mas aconteceu repressão em Belém, e a igreja católica foi conivente e colaboradora na pessoa do seu maior lider.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu não sinto apenas vergonha disso enquanto católico. Sinto revolta. A Igreja Católica Apostólica Romana, como diria Leonardo Boff, é dotada de Carisma e Poder. Consegue ser a igreja de <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Josimo_Morais_Tavares" target="_blank">Padre Josimo</a>, de <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93scar_Romero" target="_blank">Dom Oscar Romer</a>, <a href="http://www.adital.com.br/freitito/esp/" target="_blank">Frei Titto</a> e tantos outros religiosos comprometidos com o povo ao ponto de pagarem com a própria vida, mas também é a igreja de um Vaticano onde a gente aplaude de pé quando um Papa comete a "ousadia" de ser humilde (até hoje me impressiono como as pessoas podem se surpreender com isso). Rogo para que o Vaticano um dia seja demolido e as riquezas e terras desta instituição em todo mundo sejam doadas a obras em favor do povo e em honra à alma de tantas e tantos lutadores por justiça social e política no mundo todo. Principalmente em honra a Jesus Cristo, que um dia declarou, segundo a Bíblia organizada pela própria riquíssima igreja católica e tantas outras endinheiradas denominações cristãs usam todo dia: <b>"Mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus"</b> (Mt, 19:24). Não existe riqueza sem exploração. Jesus sabia disso. Dom Alberto Ramos, frequentador constante das festas do "Grand Monde", aparentemente não.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Curta a página <a href="https://www.facebook.com/DomAlbertoRamosMandouPrenderSeusPadres" target="_blank">"Dom Alberto Ramos Mandou Prender seus Padres"</a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"></span>Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-24725202624865626802014-03-28T10:00:00.000-03:002014-06-29T18:29:07.612-03:00Quando fui repórter de Polícia - parte 1<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-tIR3KMOWr2c/UzTk3cGpUdI/AAAAAAAAA5o/w60HPoPGLYA/s1600/9a791edf2042d62e5639d42ae75f36ce.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-tIR3KMOWr2c/UzTk3cGpUdI/AAAAAAAAA5o/w60HPoPGLYA/s1600/9a791edf2042d62e5639d42ae75f36ce.jpg" height="266" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>JORNALISMO-URUBU</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desde criança sou fascinado por o urubu. Impressionava-me o tamanho daquelas asas pretas com pontas brancas. Não sabia porquê mas ficava um tempão olhando a forma como voava diferente dos outros pássaros, e tinha nojo
daquela cara feia, sobretudo quando ficava manchada pelo sangue da carniça devorada. Também era ainda um garotinho quando no início da década de 90 foi ao ar o jornal
“Aqui Agora” do SBT. Gil Gomes e companhia popularizaram e consolidaram na TV
brasileira uma forma de fazer jornalismo - importada dos istêitis - baseada na
superexploração da violência e na criminalização da pobreza para gente na
condição de pobre ver. E deu certo. Jornalismo em TV aberta hoje é
resumidamente isso. Mas eu desde cedo não assistia. Não ouvia programas de
rádio nessa linha. Não lia páginas de jornais ensanguentadas. Não curtia
jornalismo-urubu.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Continuo não assistindo e nem ouvindo, mas por 22 meses eu li. Como não ler quando
a primeira proposta para trabalhar numa redação de impresso, razão pela qual
sonhei me formar em jornalismo, foi justamente pra essa porra? Caí em tentação. Eu pequei por não
hesitar em responder sim? Não sei. Agora só consigo lembrar como uma fração de
segundo depois de teclar enter no Gtalk dizendo sim pra trabalhar no Caderno de
Polícia do Diário do Pará, imediatamente olhei assustado meu nariz crescer e juntar
com a boca virando um bico cumprido e curvado na pontinha. Meus cabelos caíram
e minha pele do pescoço pra cima enrugou. As pontas das minhas mãos ficaram
brancas, depois meus pelos começaram a engrossar a ponto de tornarem-se penas
pretas de luto. Minhas pernas afinaram ainda mais, entortaram pro outro lado; meus
braços viraram asas e sem muito esforço comecei a voar. Não demorou muito eu
comecei a avistar e desejar carniças.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="text-align: justify;">Lá do outro lado da existência caí em tentação pela segunda vez: admirei a beleza, a leveza e a suavidade do voo dozurubus. Urubu não voa,
simplesmente, ele divide a mesma maconha com o vento. O ato de voar dele é a
tradução avoante de pairar. Lá de cima me impressionei como a incrível possibilidade de cheirar
e enchergar com x o alimento mesmo de muito longe. No começo me senti estranho lá no alto. Todos
pareciam pensar igual: carniçacarniçacarniça... mas não. Não era bem assim. Eu
precisei subir sem redundância pra cima dos outros colegas para encontrar
com alguns urubus que veem o choro por trás da morte, os porquês mais
profundos dentro dos oquês, o antes e o depois ao olhar o fim. E se não
houvesse urubus para testemunhar os descomeços? Caí na terceira tentação:
urubus são importantes. Sem nós seria pior. E se eu simplesmente quisesse voar ao lado dos que
anseiam circular ao vento no sentido contrário da maioria? Aí vi graça em
ser urubu, olha. Descobri enquanto repórter de um caderno que sempre desprezei
uma coisa legal: eu posso ser eu mesmo, fincado nos mesmos princípios, sendo o
que eu quiser ser. Era legal voar. Meu melhor sonho de criança.</span>Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-41137235342402666452014-03-14T10:00:00.000-03:002014-03-14T11:46:54.151-03:00DIÁRIO DE UM SERTANEJO - 82º DIA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-gHQIilQZVm0/UyI5CGyZE9I/AAAAAAAAA5U/uh3xhyF2Yow/s1600/pb.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-gHQIilQZVm0/UyI5CGyZE9I/AAAAAAAAA5U/uh3xhyF2Yow/s1600/pb.jpg" height="265" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Mesmo que eu lembrasse o nome daquela estrada carroçal, ou a
exata razão de estar ali, isso não importaria agora. Nenhum detalhe técnico é
mais importante em relação a qualquer ferida cicatrizada ou não do cachorro
vira-lata sobre o qual escrevo agora. Dele sim gostaria de saber o nome. Esta
história é sobre um cão cego, provavelmente. Louco, certamente. Ridicularizado
por meus amigos e eu, ambos coadjuvantes neste relato feito sobre um cachorrinho
que me ensinou coisas de amar e sobre como somos capazes de ser naturalmente
escrotos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Estávamos indo. Não me pergunte pra onde, porque mesmo que lembrasse
eu não diria agora. Paramos para pegar informações, diriam os fatos, mas quem
acredita nessas coisas de destino diria que só paramos ali para conhecê-lo. Desde
o começo ele pareceu engraçado. Marrom, tipicamente vira-lata, carente de banho
e de atenção, aparentando já estar algum tempo vivendo a vida adulta e o
rabinho cotó. Quando nos viu pela primeira vez o cachorro nos farejava e se
lançava a nossas pernas como se não enxergasse. Parecia tentar compensar a
falta de visão tentando sentir o nosso cheiro. Já no primeiro contato ele me
pareceu engraçado por parecer cego. Eu, que me julgo defensor da inclusão, ri
da limitação dele e pedi para os outros rirem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Precisávamos ir. Dessa parte eu lembro e posso contar: Não
sabíamos pra onde. Mas fomos. Largamos o cachorro pra trás como quem joga fora
uma meleca do nariz ou como quem vê os mendigos desaparecerem da borda de
nossas existências quando o sinal abre. Fomos e não encontramos nada, então
voltamos. No retorno, já havíamos passado quase cinco quilômetros do local onde
encontramos pela primeira vez o tal cachorrinho. Demos uma parada. Ficamos
cerca de dez minutos ali, ou menos, quando avistamos um pequeno borrão lá
longe. “É aquele cachorro!”, alguns diziam. Eu não acreditava.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ora, para ser ele, teria de ter percorrido pelo menos nove
quilômetros. Continuamos nossos afazeres enquanto o borrão crescia. Ficava
maior, mas não exatamente grande. Deixava de ser um pontinho para se tornar uma
mancha marrom. “Era um cachorro”, reconhecemos. “É aquele cachorro!”,exclamei.
E rimos de novo quando ele chegou. Balançava o rabinho. Rimos mais ainda ao
perceber o mesmo jeito inconsequente de se atirar a nós. O rabinho ainda
balançava. Caímos na gargalhada mesmo quando notamos as patas traseiras dele
trêmulas após tanto esforço, pois ele não veio simplesmente correndo, correu o
mais rápido que pôde. Ele não ligava para a fadiga denunciada pelas patas
trêmulas. O rabinho balançava ainda. Parecia querer agradar a gente. O rabinho
sempre balançava.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Depois simplesmente entramos no carro e fomos embora. Assim.
Esqueci-me dele cinco segundos depois de conversarmos sobre outra coisa menos
“hilária”. De noite, porém, antes de dormir, fui contar a história do
cachorrinho e chorei. Mas chorei de soluçar. Ia contar a história pelo viés
cômico, mas no meio do meu próprio discurso sobre aqueles gestos me dei conta
do que realmente vi. Ora, se não tivéssemos parado o carro e permanecido
naquele local durante aquele tempo o bichinho jamais nos teria alcançado, e se
ele continuava correndo sem saber que pararíamos é porque para ele não
importava alcançar, importava mesmo era correr atrás. De quê? De repente eu
seja (ir)racional demais pra entender.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ainda lembro do rabinho cotó dele balançando. Das patinhas
trêmulas. Minha dor é saber como a gente nem sempre está ao lado dos bons.
Minha alegria é saber que sim, o amor existe, e ele não liga pra essas coisas
do impossível, nem pra risada dos ridículos.</span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-26137772920638874222014-02-04T08:34:00.000-03:002014-03-27T23:34:01.319-03:00O Canalha - Caça 10<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-9JaoZZMQXNQ/UvDONAcSD6I/AAAAAAAAA5A/MHwOifLccy4/s1600/O_Canalha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-9JaoZZMQXNQ/UvDONAcSD6I/AAAAAAAAA5A/MHwOifLccy4/s1600/O_Canalha.jpg" height="392" width="400" /></a></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;">A poça d’água continuava parada enquanto uma moça caminhava
distraída na calçada ao lado dela. Atrás da moça um homem vinha ainda mais
rápido na direção contrária de um caminhão, ao encontro dela. O caminhão
passou, a poça se mexeu e a água invadiu a calçada. Mas a mulher estava longe
do alcance da água suja graças às mãos do Canalha. Não havia mais poça e sim
uma calçada molhada. E para aquela mulher aquele não era mais um colega de
trabalho com fama de galinha, era um colega de trabalho com fama de galinha que
sabia pegá-la com força e jeito no braço e tinha um sorriso lindo quando se
prestava a ser simpático e não apenas mais um dos meninos gaiatos da empresa.</span><span style="color: #222222;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;">Ele fez alguma brincadeira sobre a situação de salvamento
enquanto ela não prestava a atenção em nada. Alguns segundos antes a garota
distraída caminhava com a mente em outro lugar. Reflexiva, recordava como a
vida amorosa dela estava em crise. Um rapaz que havia conhecido há dois anos e
com quem construíra tantos planos e sonhos estava saindo com outra, conforme
ela soube ao ler uma mensagem no celular dele por volta das 6h daquele dia. Uma
hora depois andava em conflito consigo, pensando em qual tipo de pessoa ela era
antes daquele relacionamento, até o caminhão passar.</span><span style="color: #222222;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Naqueles grandiosos segundos nas mãos de um canalha ela rememorava
o quanto gostava de pegadas com força, de tapas na cara, puxões no cabelo e
depois fazer o companheiro gozar com fio terra. Mas isso tudo antes de namorar
um rapaz cujos pudores o impediam de maiores ousadias na cama. Analisou que
antes da mensagem no celular já havia notado um relacionamento esfriando.
Vieram-lhe aquelas noites de amor ortodoxas nas quais ela por algum tempo
tentou demonstrar sinais de insatisfação, mas ele nunca entendia. Tentava
assumir o comando – como gostava de ser a dona da situação –, mas ele nunca
deixava. Todavia, era tudo tão bom fora da cama que se prestou a tentar ver algo bom
nas duas ou três posições e na rapidez de sempre. Antes aquelas
noites frívolas eram compensadas com muita ternura e um namoro bonitinho, mas
agora já tinham sabor de quase nada. De obrigação. Então ela fechou os olhos e
sentiu a mão do Canalha apertando o braço distraída e deliciosamente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Estavam meia hora adiantados pro trabalho. Ele estava há dois
segundos achando já o comportamento dela muito exótico quando foi abraçado
subitamente. Ele também a abraçou, mas do único jeito que sabia. Apertado. Envolvente.
E a notou na ponta dos pés. Querendo encostar. Acochar. O Canalha mal começou
ficar ereto quando ela o beijou. Ele correspondeu. Ele percebeu que aquilo era
sério mesmo quando ela mal encostou os lábios e foi logo lhe enfiando aquela
língua grande e Volumosa. Cumprida. Gostosa. Chupou e depois se deixou sugar.
Ela quase arranca a língua dele, mas foi bom. Se largaram. Se olharam. Ele a
puxou novamente pelo braço. “Meu Deus, o que estou fazendo?”, se perguntou a
menina enquanto iam para o carro dele estacionado próximo dali. O veículo tinha
vidros suficientemente escuros a ponto de verem o chefe passar enquanto ela o
despia da calça. Trocaram algumas carícias intensas e depois ela o mandou
deitar. Ele tentou deitar devagar, mas foi empurrado. Sentiu como ela gostaria
daquilo e tentou puxá-la, mas a mulher se livrou das mãos dele, suspendeu os
braços e disse quase com os dentes travados: “fica assim”. Ele entendeu. Ela
queria do jeito dela. Ela ficou mais molhada ainda porque ele não
apenas obedecia. Ele correspondia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;">Virou de costas pra ele, soltou os cabelos, empinou o bumbum e
voltou a cabeça pra trás enquanto se fazia penetrar. Antes, porém, ela esfregou
a cabeça do membro dele no clitóris. Esfregou, esfregou, esfregou... “Pega meu
cabelo”, falou a mulher depois de sentar em tudo. Ele enrolou na mão e segurou
firme as madeixas longas, quase feitas p'raquilo. Puxou levemente e depois com
força quando a ouviu sussurrar “puxa direito”. Após cavalgar sozinha, rebolando
e pressionando a região clitoriana como queria no pau dele ela levantou e pediu
pra ele se sentar. Deitou-se ela e pediu pra ele vir. Tentou ir devagar,
imitando o que ela fizera anteriormente, mas a dona não queria assim. “Vem”,
disse com uma voz de repreensão se inclinando e puxando-o pela bunda. Com as
mãos ela ditou o ritmo do quadril dele, enquanto ela se curvava, se espremia na
lateral do carro e arreganhava as pernas. O máximo. “Me bate!”. Ele batia.
“Mais forte!”. Ele batia. “Me morde!”. Ele mordia. Ela gozou mordendo os lábios
e revirando os olhos. O Canalha ainda queria mais quando ela pediu pra parar.
Ele tentou ainda insistir, mas ela olhou bem sério. Ele obedeceu.</span><span style="color: #222222;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Chegaram ao trabalho suados e descabelados. Ela com as duas
maçãs do rosto levemente rosadas após algumas tapas e ele com a blusa pra
dentro porque a bainha estava melada da lubrificação da moça. Mas ninguém
desconfiou porque os dois eram muito distantes o tempo todo. Ela voltou naquele
dia pra casa mais calma, teve uma boa conversa e ainda ficou um ano com aquele
namorado depois de perdoá-lo. O Canalha, porém, sabia que alguma coisa estava
ruim com ela quando era procurado, sempre subitamente, sempre intensamente. Ele
não se importava com o silêncio de todas as vezes. Não se importava em ser
usado. Descobriu ter tara na tara dela.</span></span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-3209299347589479422014-01-22T15:00:00.000-03:002014-02-16T19:50:20.517-03:00Galos, Noites e Quintais - Aventura 5<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/_bTMbBTzi8ZY/TEejJUQBcYI/AAAAAAAAAWk/Zg70oLk_y90/s200/Galos.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/_bTMbBTzi8ZY/TEejJUQBcYI/AAAAAAAAAWk/Zg70oLk_y90/s200/Galos.jpg" height="249" width="320" /></a><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span class="Apple-style-span" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"></span>Minha infância na periferia de Belém é analisada por mim muitas vezes a partir de um olhar sociológico e pedagógico. Mas se pudéssemos voltar no tempo e perguntar ao menino Eraldo Paulino, na época conhecido como Agô, ele provavelmente responderia com um sorriso fácil e tímido que se divertia muito. Foi um período recheado de brincadeiras que a gente construía junto com a turma, coletivamente, de forma autônoma, e algumas vezes longe dos adultos, de preferência. Como já contei <a href="http://eraldopaulino.blogspot.com.br/2010/07/galos-noites-e-quintais-aventura-3.html" target="_blank">antes</a>, a iniciação sexual das
crianças, pelo menos na minha época, era feita de forma lúdica, com dinâmicas
feitas por nós e para nós mesmos. A primeira descoberta desse universo afetivo e erótico foi bem cedo, quando tinha cinco anos. Eu conto.</span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Estávamos nos enturmando com os novos
colegas do então bairro da Guanabara, meus irmão e irmã mais velhos e eu. Decidimos
brincar “Pira-se-esconde”, conhecida mais como “esconde-esconde” por aí. Estávamos
num grupo de cerca de 10. O mais velho de nós deveria ter no máximo 10 anos.
Escolhemos uma construção abandonada como local para esconderijos. O lugar
estava um pouco sujo, tinha a alvenaria quase completamente levantada, mas não havia reboco
nem portas, embora alguns cômodos estivessem cobertos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Já na primeira rodada, enquanto
contava até 10 a “mãe” (Como chamávamos quem deveria procurar a turma) todo
mundo se escondia eu fiquei parado. Estava achando ótimo estar ali, mas naquele
momento descobri não saber brincar direito daquilo. De repente fui ajudado por
uma menina cujo nome não revelarei. Segurando meu braço me levou pra uma das
salas. Estava Escura. Ela pediu silêncio. Deu uma olhada lá fora pra saber se
vinha alguém enquanto eu estava nervoso. Não queria perder, embora não soubesse
como ganhar. Ela me encostou perto dela. Me senti protegido. Depois ela começou
a me beijar.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-odE1k5kYUQo/Ut_R4MoUHlI/AAAAAAAAA4w/vyAtJTf9h5c/s1600/Digitalizar0015.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: black; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-odE1k5kYUQo/Ut_R4MoUHlI/AAAAAAAAA4w/vyAtJTf9h5c/s1600/Digitalizar0015.jpg" height="253" width="320" /></span></a><span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Ela deveria ter uns 09 ou 10 anos. Eu
fiquei estático enquanto ela me dava beijos e beijos. Não eram de língua. Eram
selinhos. Seguidos. Muitos. Na bochecha também, por todo o rosto, mas
principalmente na boca. Ela era afoita. Parecia estar querendo aquilo a algum
tempo. E tinha mais. Ela se abaixava e se esfregava em mim. Várias vezes. Tinha
pegada. Devo dizer que fui ter noção básica de sexo uns três anos depois
daquilo. Não entendia nada, portanto, mas lembro de ter ficado excitado na
ocasião. Quatro centímetros de pinto duro.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Aquilo durou alguns estranhos e
gostosos minutos, durante algumas rodadas, até sermos interrompidos pela mãe. Não
a da brincadeira. A literal. A minha. Foi tenso. De repente comecei a me
perguntar se estávamos fazendo algo errado porque o clima ficou bem pesado.
Foi uma tarde muito confusa. Foi do extremo da libido ao extremo de repressão. Ambos incompreensíveis. Mamãe não repreendeu meu irmão ou eu, só
minha irmã. Não sei se a mana passou por algo semelhante em outra sala escura durante a brincadeira,
mas não conseguia entender (e até hoje não entendo) porque uma menina poderia
me beijar e minha irmã não poderia beijar e ser beijada.</span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Como D. Fátima suspeitou de algo erótico numa brincadeira onde só estavam crianças? Porque ela também brincou da mesma coisa, será? Não sei. Mas a partir dali, pra mim, brincar de beijar não pareceu diferente de nenhuma outra brincadeira, só precisava ser escondida pra depois não ficar chato. Eu gostava. Brincar era legal. Beijar era legal. Transgredir era legal.</span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-86741551334109853592013-12-10T10:00:00.000-03:002014-03-27T23:26:44.450-03:00Eu fotografei o silêncio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Encontrei Nicole, uma flor paraense de Paragominas, no Sertão dos Inhamuns-Crateús, bem no coração do semiárido cearense. Eu não sou fotógrafo profissional, e nem me considero um amador bom, mas percebi como há pessoas que ganham naturalmente a simpatia das câmeras. Essa moça linda de cinco anos é uma delas. Eu a encontrei numa mesa de negociação na comunidade Malhadas, em Quiterionópolis - CE, e fiz um clique. Fiz outro. As fotos iam ficando boas. Eu olhava pra ela e dizia com meu riso pidão o quanto queria fotografar mais. Ela me olhava de volta. Esperava eu chamar e ia sorrindo pra onde eu indicasse. Ela sempre queria ser fotografada mais e mais e mais e mais.. Sem nenhum de nós falar muita coisa, percebemos como era divertido brincar daquilo. E fui clicando e ela foi sorrindo, pulando, fazendo pose, caras e bocas. Eu me derretia por completo quando ela olhava as fotos para as quais posou e... simplesmente sorria. Ela só sorria. E cada sorriso me dizia uma coisa diferente. Ela não falava com a boca, mas com todo o resto do corpo. Essa menina é um cinema mudo. Como diria Manoel de Barros, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=vcfNNoSzbj8" target="_blank">"É difícil fotografar o silêncio"</a>.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-7PA5YrXBK44/UqTrIKBDHoI/AAAAAAAAA2c/a0DY9Vngsic/s1600/DSC00833.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-7PA5YrXBK44/UqTrIKBDHoI/AAAAAAAAA2c/a0DY9Vngsic/s640/DSC00833.JPG" height="640" width="424" /></a></div>
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-zce3-U_xzj4/UqTnoBCjEbI/AAAAAAAAA1U/2p_qMPLHHhY/s1600/DSC00783.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><a href="http://2.bp.blogspot.com/-Td9BqP76gYo/UqTn9r_MDaI/AAAAAAAAA1g/297BqhTFlRY/s1600/DSC00777.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-Td9BqP76gYo/UqTn9r_MDaI/AAAAAAAAA1g/297BqhTFlRY/s640/DSC00777.JPG" height="640" width="425" /></a><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-zce3-U_xzj4/UqTnoBCjEbI/AAAAAAAAA1U/2p_qMPLHHhY/s400/DSC00783.JPG" height="265" width="400" /><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-7Xhqk0gfdGU/UqTopmmdz_I/AAAAAAAAA1o/xjkY-b126RQ/s1600/DSC00815.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-7Xhqk0gfdGU/UqTopmmdz_I/AAAAAAAAA1o/xjkY-b126RQ/s640/DSC00815.JPG" height="424" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-OWmYbEwuxoA/UqTqhzFRyDI/AAAAAAAAA2U/r-IlZsHaQSg/s1600/DSC00818.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-OWmYbEwuxoA/UqTqhzFRyDI/AAAAAAAAA2U/r-IlZsHaQSg/s640/DSC00818.JPG" height="424" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-nIQUiFmTDw8/UqTqIOmDVtI/AAAAAAAAA2I/oCv8FNay14c/s1600/DSC00825.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-nIQUiFmTDw8/UqTqIOmDVtI/AAAAAAAAA2I/oCv8FNay14c/s320/DSC00825.JPG" height="320" width="212" /></a></div>
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-GRTAAeOUWW0/UqTrYxGi1CI/AAAAAAAAA2k/QNjnezeCFzs/s1600/DSC00841.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-GRTAAeOUWW0/UqTrYxGi1CI/AAAAAAAAA2k/QNjnezeCFzs/s400/DSC00841.JPG" height="265" width="400" /></a><br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-k3yUNa6-bWg/UqTqIUlW6lI/AAAAAAAAA2M/Igr_vNmlpE0/s1600/DSC00819.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-k3yUNa6-bWg/UqTqIUlW6lI/AAAAAAAAA2M/Igr_vNmlpE0/s640/DSC00819.JPG" height="424" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Gu27Neg5s2g/UqTr2LjmsbI/AAAAAAAAA2s/HUG95KZzg_E/s1600/DSC00852.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-Gu27Neg5s2g/UqTr2LjmsbI/AAAAAAAAA2s/HUG95KZzg_E/s640/DSC00852.JPG" height="640" width="424" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-0bRu1LbUKNM/UqTsCuugQ5I/AAAAAAAAA20/Sb87PX5a2ps/s1600/DSC00854.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-0bRu1LbUKNM/UqTsCuugQ5I/AAAAAAAAA20/Sb87PX5a2ps/s640/DSC00854.JPG" height="640" width="424" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-qIMtzqlg1LE/UqTsGZ07IqI/AAAAAAAAA28/wBkG6UWL9Y8/s1600/DSC00864.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-qIMtzqlg1LE/UqTsGZ07IqI/AAAAAAAAA28/wBkG6UWL9Y8/s640/DSC00864.JPG" height="424" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Obf1FwmpIJ4/UqTs-4NHeYI/AAAAAAAAA3M/6jvmyMiFChI/s1600/DSC00867.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-Obf1FwmpIJ4/UqTs-4NHeYI/AAAAAAAAA3M/6jvmyMiFChI/s400/DSC00867.JPG" height="265" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-KCYJPZOAJRs/UqTtTpbM8qI/AAAAAAAAA3U/80EncHT32OY/s1600/DSC00877.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-KCYJPZOAJRs/UqTtTpbM8qI/AAAAAAAAA3U/80EncHT32OY/s400/DSC00877.JPG" height="265" width="400" /></a></div>
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-sYWVKBqWb5Q/UqTuMvfWY1I/AAAAAAAAA3s/fmebJopyzwo/s1600/DSC00913.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-sYWVKBqWb5Q/UqTuMvfWY1I/AAAAAAAAA3s/fmebJopyzwo/s640/DSC00913.JPG" height="422" width="640" /></a><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Bta_r85TkPI/UqT0fyyKUpI/AAAAAAAAA4M/vA3q3D0CJHo/s1600/DSC00914.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-Bta_r85TkPI/UqT0fyyKUpI/AAAAAAAAA4M/vA3q3D0CJHo/s640/DSC00914.JPG" height="424" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-S36WvmQg9P0/UqTs7dJoJOI/AAAAAAAAA3E/gBoy8MSCwUI/s1600/DSC00874.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-S36WvmQg9P0/UqTs7dJoJOI/AAAAAAAAA3E/gBoy8MSCwUI/s400/DSC00874.JPG" height="264" width="400" /></a></div>
<br />
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-0_itzgfJMtA/UqTuV71mB5I/AAAAAAAAA30/7j0rh646_Bg/s1600/DSC00918.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-0_itzgfJMtA/UqTuV71mB5I/AAAAAAAAA30/7j0rh646_Bg/s400/DSC00918.JPG" height="264" width="400" /></a><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-jkPUoweseXE/UqT_2XCjx2I/AAAAAAAAA4k/a5jkNrr79JQ/s1600/DSC00911.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-jkPUoweseXE/UqT_2XCjx2I/AAAAAAAAA4k/a5jkNrr79JQ/s640/DSC00911.JPG" height="424" width="640" /></a></div>
<br />Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-10662591457155413292013-11-20T10:52:00.000-03:002014-11-20T09:30:20.123-03:00EU TENHO CARA DE LADRÃO<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-aBKQCHmyGyg/Uoy2YEnJSHI/AAAAAAAAA04/dZHaKuTZt-0/s1600/467289_2431081315594_497547054_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-aBKQCHmyGyg/Uoy2YEnJSHI/AAAAAAAAA04/dZHaKuTZt-0/s400/467289_2431081315594_497547054_o.jpg" height="266" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mami e eu. Foto de Celso Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Era um fim de tarde típico de Belém. Minha irmã Iaiá, nossa amiga
Jaci e eu devolveríamos uns filmes à locadora que ficava no subsolo do shopping
Castanheira, próximo de casa. Um centro comercial luxuoso rodeado de periferias,
inclusive o bairro onde cresci. Pra nós qualquer rua asfaltada parecia praça,
quem dirá um lugar como aquele. Lembro de ter ido muitas vezes até lá com os
colegas só pra brincar de se esconder, ou simplesmente pra andar por ali,
pois tudo era muito caro, e quase não tínhamos como comprar nada. Naquele
dia não foi diferente. Após devolvermos os VHSs fomos caminhar, viver naquele espaço nosso
momento de lazer.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Entramos na loja Yamada, que é bem popular, e nisso encontramos um pacote
de chocolate mm largado sobre uma prateleira da sessão de móveis. Estava
aberto. Alguém comprou e esqueceu ali. Ficamos alguns minutos nos perguntando se pegaríamos ou não.
Jaci insistiu que deveríamos. Pegamos. Fomos pegos em seguida. Um homem
engravatado nos segurou pelo braço e nos levou
a um corredor próximo dali. Com outros clientes nos olhando, como se fôssemos
marginais, fomos interrogados. Tratados como ladrões. “Nós temos filmagens de vocês roubando isso”,
falava o engomado. “Então pega lá a filmagem”, desafiei. O homem me olhou feio
e exigiu que eu não me rebarbasse. O chicote doeu no meu coro. Me calei.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Hoje, pensando melhor, sei bem. Eles perceberam que não roubamos.
Aquela loja não vendia chocolate, nem qualquer coisa que não fossem artigos de
magazine. Ele ameaçou ir com a polícia na porta de casa se não trouxéssemos
dinheiro no dia seguinte. Disse que aquele bombom custava o que hoje equivaleria a 20 conto.
Tivemos de raspar todas as nossas economias pra "pagar" aquela quantia sem nossos pais saberem. Foi a
primeira vez que percebi uma coisa: tenho cara de ladrão. Depois, inclusive
como repórter, muitas vezes quiseram me prender junto com os caras que
entrevistava. Ir trabalhar sem crachá era ruim. Ninguém acreditava que alguém
como uma cara como a minha pudesse ser jornalista </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Em 2011 fui à Espanha. Parei num orelhão de Madri pra falar
com o povo de casa. Um homem veio. Me olhou de cima a baixo. Achei que era gay.
Continuei. Outro veio. Me olhou mais ainda. Comecei a ficar preocupado.
Continuei falando, mas agora me esforçando pra não transmitir preocupação ao outro lado
da linha – minha mãe morreria. Quando me olhou o terceiro avisei que precisava
desligar. Minhas pernas já estavam trêmulas. Estava longe da minha comitiva. E
sabia qual olhar era aquele. Após desligar veio um guarda. Me pediu
desculpas pelos olhares. Disse que ali perto anos antes haviam explodido uma estação
de metrô. Dessa vez me confundiram foi com terrorista mesmo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Tenho essa cara de ladrão não pelo sangue de descendente de
portugueses oriundo de papai, mas pelo sangue africano da minha mãe.
Eu sou descendente de escravos. Sou preto. Historicamente preto, de beiço
grande e cabelo crespo. Da periferia ocupada por ex-escravos. Libertos sem
qualquer direito à dignidade. Minha pele não tem tanta melanina e alguns me confundem com branco. Mas branco não tem cara de ladrão. Eu tenho. Sou um jornalista com
cara de ladrão. As pessoas se acham inteligentes quando rotulam as pessoas assim. Eu nunca roubei. Nunca matei. Sou trabalhador. E tenho cara de ladrão. E seu racismo com isso?</span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-25297145264770724862013-11-18T10:30:00.000-03:002013-11-18T19:07:57.951-03:00DIÁRIO DE UM SERTANEJO - 11º DIASou um amazônida me aventurando no Sertão. Parte dessa aventura registrada diariamente em meus manuscritos compartilho com quem possa querer saber...
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-9fintx8bR6I/UolFckbIwHI/AAAAAAAAAzQ/oS9Zkp8kdj4/s1600/DSC00042.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><img border="0" height="424" src="http://3.bp.blogspot.com/-9fintx8bR6I/UolFckbIwHI/AAAAAAAAAzQ/oS9Zkp8kdj4/s640/DSC00042.JPG" width="640" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Acordei às cinco e meia, mas o sol já entrava em minha janela aberta antes
disso. Estava ansioso para conhecer as profundezas do sertão. Sou e acho que
sempre serei um rato urbano, mas conhecer o interior do mundo me fascina. Seria
minha primeira vez onde, conforme imaginava, certamente seria um dos locais mais doloridos,
fascinantes e poéticos do Brasil. Fiz questão de abrir bem os olhos e o
coração. E fui, como quem mergulha naqueles rios largos, escuros e profundos da Amazônia de onde
vim.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-SfJJ_qMGutY/UolGe1E7SzI/AAAAAAAAAzY/lifi_-69llo/s1600/DSC00043.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><img border="0" height="212" src="http://3.bp.blogspot.com/-SfJJ_qMGutY/UolGe1E7SzI/AAAAAAAAAzY/lifi_-69llo/s320/DSC00043.JPG" width="320" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Desde os primeiros metros na estrada de chão olhei com carinho a vegetação
completamente diferente da que estou acostumado. Ia tentando entender o
significado daquilo. Plantas secas e entre elas árvores com folhas de verde bem
vivo. Cactos ao lado de galhos floridos. Vi alguns Jegues. Como o jegue é
poético. O olhar bem dentro do olho de um animal desses faz você tocar sua
própria existência mais profundamente do que se pode estar preparado. É um
olhar doce, prestativo, profundo, misterioso. Talvez se um jegue e uma preguiça
se encararem lágrimas cairão mutuamente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-zEucblcM0MQ/UolcEdQdfVI/AAAAAAAAAzo/jKskuW0wYIs/s1600/jegue.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><img border="0" height="302" src="http://4.bp.blogspot.com/-zEucblcM0MQ/UolcEdQdfVI/AAAAAAAAAzo/jKskuW0wYIs/s320/jegue.jpg" width="320" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">À media que o caminho se alongava a caatinga parecia dançar
forró, recitar cordel. Numa viagem pessoal em meio aquilo lembrei de Gonzagão
quando vi os galhos secos e as cercas de estaca decorarem a estrada. Pareciam nos dar
boas vindas. À primeira vista parecia tudo coisa morta, sem vida. Mas logo
havia folhas verdes de novo. Comecei a confrontar aquilo com o xote, os
cordéis, as quadrilhas e todas as outras referências carregadas por mim daquele
lugar onde jamais havia estado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Comecei a pensar que caatinga é o retrato do Brasil. Basta
um pequeno sereno, basta um pequeno sorriso de água para tudo ficar pleno. Inicialmente desistimos daquele lugar cheio de espinhos, cheio de galhos
secos e cinza. Mas é apenas a vida em estado de dormência e adaptada escassez d’água. Basta um pouco de irrigação pra ficar tudo verde, colorido,
explicitamente vivo. O sertão é uma lição de vida. Ensina que é preciso muito
pouco para ser possível viver. É um cenário formado por versos com rimas
fáceis, com estrofes simples, mas com conteúdo rico, vivo, inteligente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-3MEdqVaWWos/UolerysdlCI/AAAAAAAAAz0/LxAjjp7KRgQ/s1600/DSC00214.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-3MEdqVaWWos/UolerysdlCI/AAAAAAAAAz0/LxAjjp7KRgQ/s320/DSC00214.JPG" width="320" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">De repente comecei a pensar que não há lugar no mundo mais
verbal do que o sertão. As piadas, as músicas, o cordel, as histórias, tudo é
dito, escrito e cantado de uma forma muito especial por estas pessoas de sotaque
forte. O cearense então, não fala, recita. O sotaque nordestino, especialmente
o cearense, foi feito para o verbo. Toda cultura nordestina é muito verbal e
verbalizada. O cearense, tenho a impressão, é mais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Se é verdade que o meio interfere no sujeito e na sujeita, se o mineiro é um tanto mais tradicionalista sob influência da firmeza das serras e o carioca é
expansivo e alegre influenciado pela liberdade do mar, então eu só posso supor que a
caatinga é uma obra de arte travestida de bioma. Um poema disfarçado de lugar.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">_____________________</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Todas as fotos foram feitas por mim neste mesmo dia.</span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-39661656663460459812013-11-07T11:00:00.000-03:002013-11-07T11:00:07.011-03:00Uma informação por favor: Onde fica a Passárgada?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-9-ujSqjoSOk/Unr5Gl-wLSI/AAAAAAAAAzA/J1TkwYtOzrw/s1600/1462173_609814789076619_934132028_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://3.bp.blogspot.com/-9-ujSqjoSOk/Unr5Gl-wLSI/AAAAAAAAAzA/J1TkwYtOzrw/s400/1462173_609814789076619_934132028_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b>"Lá o tempo espera
Lá é primavera
Portas e janelas ficam sempre abertas
Pra sorte entrar...
...Tem um verdadeiro amor
Para quando você for"</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b>(Monte- Brow-Antunes)</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b><span style="color: blue;">"Aproveitar a tarde sem pensar na vida</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b><span style="color: blue;">Andar despreocupado sem saber a hora de voltar"</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b><span style="color: blue;">(Carlos-Carlos)</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: left;">
<span style="color: #333333; font-family: lucida grande, tahoma, verdana, arial, sans-serif;"><span style="font-size: 11px; line-height: 14px; white-space: pre-wrap;"><b>"Melhor viver, meu bem</b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b>pois há um lugar em que o sol brilha pra você</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b>chorar, sorrir também e depois dançar</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b>na chuva quando a chuva vem"
(Jeneci)</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b><span style="color: blue;">""Leva-me tu, corremos após ti. O rei me introduziu nas tuas câmaras; em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que vinho; os restos te amam"</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><b><span style="color: blue;">(Cânticos dos Cânticos, versículo 4)</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 14px; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando era criança demais pra ser jovem, e velho demais pra
ser carregado no colo, ouvi falar de uma tal Passárgada. Não sei se foi um tal
Manel ou uma tal Bandeira quem me falou dela. Um dia tomei um porre, um soco na
cara ou uma tapa no peito da existência (algo assim) e decidi encontrar essa tal
Passárgada sem saber que a procurava, acho. Nessa busca por me perder em algum
lugar entrei num chagão ladrilhado com pedras disformes que alguns mais
invejosos resumiriam a meros cacos de tijolo. Antes de chegar à Passárgada
havia uma escada mal acabada à direita e uma portícula com uma escada desenhada dentro à esquerda.
Parecia haver gente ali. Que bom! Seriam testemunhas oculares do meu triunfo,
ainda que não fosse dado a eles o privilégio de ver.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Antes da Passárgada havia um portão de ferro de grades
grossas e cadeado pequenininho. Depois dele uma porta de madeira bordada de
vidro e entre eles uma mulher. Depois da porta havia um piso de madeira. Era
muito aconchegante, refrescante, leve... Mas se fosse calor demais eu poderia
olhar pra cima e ser abanado por um ventilador lustroso. Se o chão ficasse duro
demais - por preguiça, teimosia ou algo assim - ao lado haveria uma cama macia.
Mas a cama poderia ficar muito estreita ou entediante, por isso adiante poderia
haver uma índia - a mesma moça da porta - preparando comida com direito a
sorrisos tímidos e disfarçadamente fogosos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Vx6vV8J4CK0/Unr41iCc9RI/AAAAAAAAAy4/JIbPhGG4A9k/s1600/1414709_609815039076594_392512853_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Vx6vV8J4CK0/Unr41iCc9RI/AAAAAAAAAy4/JIbPhGG4A9k/s1600/1414709_609815039076594_392512853_n.jpg" /></a><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando a comida ficasse muito cheia, por ser amigo do rei,
ele poderia me arrumar um quarto espaçoso, onde num extremo houvesse livros ou
fotos com recheio de lágrimas, no outro computador encantado com músicas do
repertório da mãe d’água e na outra ponta uma cama grande. Caso tudo isso
ficasse grande demais, por ser amigo do rei, eu poderia ter a mulher que eu
amasse - no caso, a índia. Sentaria encaixado entre as coxas dela sobre aquele
colchão caso algum ruído exterior me mandasse ir embora. Mas depois eu fui. E
descobri como gozar com isso. Passárgada foi feita pra entrar e sair, ir e
vir...</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-6180346032408243042013-10-14T12:00:00.005-03:002014-03-29T21:54:13.689-03:00Círio de lucidez<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://vanderlan.files.wordpress.com/2010/10/081012nazare_f_009.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://vanderlan.files.wordpress.com/2010/10/081012nazare_f_009.jpg" height="425" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As mesmas ruas. Os mesmos enfeites. As mesmas expressões de
dor de promesseiros e a mesma cara de entusiasmo dos vendedores às margens da
romaria. Ao fim do Círio de Nazaré todos foram comer as mesmas maniçobas, brincar na
mesma praça da República e/ou encher a cara do mesmo jeito em algum bar por aí.
À noite o parque de diversões continuou lotado. Na segunda feira, porém, quase ninguém
foi trabalhar. Na terça isso virou manchete: “Mais da metade dos trabalhadores
de Belém faltam na ressaca do Círio”. Nesse mesmo dia, contudo, ainda menos
pessoas bateram ponto. Não havia engarrafamento, não havia tumulto. As pessoas
simplesmente não saíam para trabalhar e sim para partilhar sonhos e
compartilhar favores, por isso não tinham pressa e iam de ônibus dirigidos em troca de qualquer troco ou boa conversa por motoristas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na quinta o prefeito fez pronunciamento ao vivo em todos os
canais de TV e rádio. Pediu para as pessoas voltarem aos postos de trabalho
pois a cidade precisava arrecadar, as crianças precisavam estudar e havia muita
gente precisando de médico. Entretanto não havia tumulto em frente ao pronto
socorro, nem protestos por aula na frente das escolas. A fala do prefeito
obteve a menor audiência da história da TV paraense. As crianças estavam participando de aulas nas comunidades,
interagindo com as pessoas e descobrindo a vida longe das salas de aula e os
médicos estavam indo de casa em casa voluntariamente. De noite as pessoas iam para a frente das casas conversar, contar histórias, namorar ou simplesmente observar as crianças brincando. Os megaconglomerados de comunicação fecharam definitivamente seis dias depois por ausência de mão-de-obra interessada e completa falta de audiência do público, que agora se auto-informava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Passada uma semana as
autoridades se manifestaram distribuindo panfletos. Dessa vez a convocação era para os
policiais voltarem ao trabalho, pois a cidade viraria um caos. Em contrapartida os PMs tomaram atitude de eles mesmos distribuírem maconha e pó de boa qualidade em rodas de conversa sobre as consequências do consumo exagerado de entorpecentes. Bate-papo regado a muita música, muito namoro e espaços
para livres manifestações. O tráfico perdeu o sentido. Jovens agora se sentiam importantes tentando vencer disputas de várias
modalidades esportivas, de vídeo game ou acadêmicas que começaram a ser promovidos. Roubar num lugar onde ninguém mais era apegado a bens materiais foi perdendo a graça. Se outrora a juventude da periferia não tinha medo de morrer, agora podia sonhar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A cada dia um empresário se suicidava. Havia pressão de Washington e União
Europeia por uma resposta do governo brasileiro diante daquele "caos". A Vale parou. Belo Monte
também. Especialistas do Brasil e dos EUA especularam influência chinesa ou russa, e quase houve confronto internacional por conta disso. Enquanto isso as grades das casas das cidades paraenses foram todas doadas para escultores produzirem arte e calçadas foram quebradas de forma organizada para cultivo de flores e árvores. Plantações inteiras de soja deram lugar a casas com enormes quintais. Agroecologia foi adotada como modelo único no campo, e até mesmo os centros urbanos os quintais produtivos foram resgatados, com hortaliças sem pesticidas, plantas medicinais e criação de galinha caipira, por exemplo.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Cerca de 10 meses depois o Pará foi desmembrado da federação e considerado inimigo da nação brasileira e do Mercosul. Ninguém mais saia ou entrava legalmente. Um muro começou a ser construído para envolver todo o estado com a promessa de se tornar a maior obra da construção civil nacional. Um boicote internacional foi declarado contra os paraenses depois que em várias reuniões de economistas, camponeses e feirantes daqui a economia foi reorganizada tendo como foco principal o bem viver. Foi declarada moratória para a dívida pública. Politicamente as decisões mais importantes eram tomadas quase sempre em consenso popular. De avião foram atirados vários panfletos avisando que mísseis e ogivas nucleares foram apontados contra nosso território, mas ninguém daqui ligou muito.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em um ano era Círio novamente, mas dessa vez
sem arcebispo pois este também se sentiu ameaçado pela falta de obediência das
pessoas e foi embora. Na procissão, curiosamente, não havia mais casas levadas sobre a cabeça dos romeiros, pois todos conseguiram direito à moradia sem precisar fazer promessa. Quase não havia manifestações individuais. As pessoas simplesmente davam as
mãos ou se abraçavam durante o percurso. E antes do final da celebração de encerramento liderada
por sacerdotes de várias expressões religiosas choveu pela primeira em mais de 200 edições do evento. Alguns interpretaram isso como as lágrimas de Deus, outros apenas curtiram, dançaram, correram e pularam feito crianças.<o:p></o:p></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-41024229104643206132013-10-10T14:27:00.002-03:002013-10-10T14:46:38.834-03:00Amor de black bloc<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><div style="text-align: right;">
<br /></div>
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-GIOhmn1tQAs/UlTQS_ZS0QI/AAAAAAAAAyA/UU0-WCufUtw/s1600/Beijo+de+m%C3%A1scaras.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="327" src="http://2.bp.blogspot.com/-GIOhmn1tQAs/UlTQS_ZS0QI/AAAAAAAAAyA/UU0-WCufUtw/s400/Beijo+de+m%C3%A1scaras.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Mídia Ninja</td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><span style="color: blue; font-size: x-small;">"Mandei fazer</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><span style="color: blue; font-size: x-small;">de puro aço luminoso um punhal</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><span style="color: blue; font-size: x-small;">para matar o meu amor e matei</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><span style="color: blue; font-size: x-small;">às cinco horas na avenida central</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><span style="color: blue; font-size: x-small;">mas as pessoas na sala de jantar</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><span style="color: blue; font-size: x-small;">são ocupadas em nascer e morrer"</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><span style="color: blue; font-size: x-small;">(Caetano e Gil)</span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: white;"><span style="color: blue;"><br /></span></span></div>
Havia muita gente e muita polícia. Era a primeira vez dela numa passeata. Passado o estágio probatório, depois de ter se arrependido de não ter ido às ruas durante as jornadas de junho a professora Maria não resistiu à tentação de participar do piquete e do ato na greve dos professores. Parecia-lhe justo, embora estranho no começo. Sentia uma enorme emoção por estar ali. Não sabia descrever qual, mas era bom. Ela parou no meio da rua e começou a rodar ao redor do próprio eixo. Enquanto girava vertiginosamente notou sorrisos, lágrimas, cartazes e liberdade. Observar aquela praça e aqueles prédios como nunca antes. Percebeu o quanto gente indignada, apaixonada combina mais com a rua do que carros e suas buzinas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De repente uma multidão corre na direção dela. Ela sente
medo e ao mesmo tempo quer ver o que se passa. Acompanha o movimento das
pessoas, mas ao perceber a possibilidade simplesmente volta e vai ver. Dá de
cara com pessoas mascaradas quebrando portas de vidro e atirando coquetéis
molotov. Era um filme real. Assustador e excitante. Fica estática. Depois reage.
Se esconde. A polícia vem. Algumas pessoas enfrentam. Outras correm. Parecia
ensaiado. Sentiu nojo da polícia e não sabia o que pensar dos encapuzados. Um
deles se esconde ao lado dela. Susto. O coração pulsa. Ela olha. Ele nem aí.
Ela olha. Ele tira a blusa da cara. Ela olha. Ele fala oi.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Tá assustada por que, gatinha?”, pergunta o garoto. Ela não
responde. Mas não para de olhar. “Tu sente medo quando vê PM usando balaclava?
Tu sente raiva quando sabe que uma lei escrota foi aprovada em votação secreta
no senado? Tu deixa de ir votar toda eleição por saber que os programas das
urnas eletrônicas podem ser facilmente manipulados, sobretudo no interior? Tu
deixa de bater palma pro governador mesmo sabendo que as contas públicas não
têm transparência e que todos os cargos de confiança da secretaria de finanças
são ocupados por pessoas da ligadas ao gestor? Pois é dessas máscaras que
tenho medo, e por isso também venho aqui e quebro tudo que simboliza corrupção e capitalismo”, disse ele, num sussurro quase gritado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-fnofOuJPPYc/UlbhDmPEt4I/AAAAAAAAAyQ/8VVW6iojCAI/s1600/black+bloc.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="211" src="http://3.bp.blogspot.com/-fnofOuJPPYc/UlbhDmPEt4I/AAAAAAAAAyQ/8VVW6iojCAI/s320/black+bloc.jpg" width="320" /></a>“Como é seu nome?”, perguntou Maria. “João”, foi atendida
quando ele já se ia. Ele virou-se. Se olharam. “Porra, João e Maria é muito clichê”,
brincou ele inclinando levemente a cabeça, e soltando um sorriso
cínico. Os dois riram com certa timidez. Saíram dali. Foram revistados e liberados.
Ela se segurou para não gargalhar quando percebeu ele coçando a própria testa
com o dedo médio fazendo cotoco enquanto um cabo R.
alguma coisa dava um pequeno sermão sobre vagabundos infiltrados em
manifestações. O casal trocou telefone. Depois se falaram quase todos os dias. Maria
sempre queria saber no fim do dia se João estava bem. Ele nunca falava quando
ia agir. Ela só via na TV.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ficaram. Fizeram amor. Trocavam mensagens de texto. Certo
dia ela deixou escapar para uma colega de docência quem era o cara. “Nossa! Pra
mim esses caras são marginais. Se infiltram no meio de manifestações pacíficas
para tocarem o terror”. Soltou Amanda, que em seguida se arrependeu, mas já tinha falado. “Eu
acho que você anda assistindo muito a Rede Globo”, rebateu Maria, que também se
arrependeu. Amanda já se preparava para pedir desculpas quando foi interceptada
pela companheira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Eu não concordo com ele. Uma vez tentei discutir e parei de
falar quando ele me perguntou quem é mais violento, eles ou o Estado e eu
respondi que claro, era o Estado. João em seguida olhou bem dentro dos meus
olhos. Desde então eu vou pra todas as assembleias da nossa categoria. Estou
tentando me organizar mesmo depois da greve. Agora tenho moral para criticar”,
concluiu. Em seguida as duas foram ministrar aula nas salas sem ventilador, com
carteiras, equipamentos e respeito em falta e muitas crianças violentadas da periferia.<o:p></o:p></div>
</div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-58944872461973818592013-09-12T11:51:00.000-03:002013-10-02T19:32:52.665-03:00Luta de Classes. Parte 3 de 3<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-eAVlKPjYSxE/Ui25ntPpriI/AAAAAAAAAxg/xypQbrRuhMU/s1600/casal-preto-e-branco-wallpaper-17068.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://4.bp.blogspot.com/-eAVlKPjYSxE/Ui25ntPpriI/AAAAAAAAAxg/xypQbrRuhMU/s400/casal-preto-e-branco-wallpaper-17068.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white;">Quando Guto chegou em frente à sede da DATA, sofreu o impacto </span><span style="background-color: white;"> de vários carros
adesivados estacionados. Logotipos do Conselho Tutelar, da Polícia Militar e de
vários órgãos da imprensa ("Mas até imprensa?") gritavam na cara dele
o tamanho da cagada na qual Carlinhos, o irmão dele, estava metido. Yasmin
chegou um pouco depois. Teve dificuldades para encontrar uma vaga para
estacionar. Quando finalmente conseguiu, ela pegou o que precisava no carro e
andou rápido, quase correndo.<span class="apple-converted-space"> </span>Guto
foi procurar Carlinhos no térreo. Yasmin tinha de subir ao terceiro piso onde
ficava a sala do diretor, o delegado Ícaro Silva.</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;">Era um prédio sem elevadores, mas, se houvesse, pais e responsáveis
pelos adolescentes infratores certamente teriam de vir pelo de serviço.
Repórteres e Yasmin certamente viriam pelo social, e mesmo a mãe dela
permitiria que os pobres fardados de PM também as acompanhassem. Porém, só
havia escadas. Três lances delas. Ela chegou suada e irritada por isso, mas as
repórteres repararam só no seu lindo cabelo-porém assanhado-, as unhas bem
feitas e as mãos sem aliança, a marca da saia e da blusa, o salto muito baixo e
uma cor imprópria praquele ambiente e a maquiagem levemente borrada no olho
esquerdo; os policiais e repórteres (não gays) repararam como ela era gostosa.</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><br />
Guto
chegou onde o irmão estava e ficou parado um breve instante diante dele. Tantas
coisas passaram pela sua cabeça nesses poucos segundos. Reparar o irmão
enquanto a mãe ia trabalhar, chutar a bunda de uns moleques com quem ele
brigava às vezes, o distanciamento quando Guto foi estudar em outro bairro e a
história recente na qual as amizades ruins faziam a mãe passar mal quando o
filho caçula demorava a chegar. Mas espera! Ali com o irmão não haviam malacos!
Conhecia aqueles meninos. Não eram “de onda”. "Como foi isso,
mano?!", perguntou. Enquanto o irmão contava a versão dele, foi dando uma
raiva de ser pobre. Mas o ódio dominou seu corpo quando uma lágrima caiu no
mesmo momento em que aquele menino que viu crescer falava: "Você contou
pra mamãe?"</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><br />
O
cabo Leo ao lado do delegado Ícaro iniciavam a entrevista. A Record tinha
prioridade porque estavam ao vivo no Balanço Geral. O cabo foi o primeiro a
falar. "O CIOP passou pra nós a denúncia da comunidade que não aguentava
mais a atividade de tráfico naquela casa e nós fom[É MIL REAIS QUE VOCÊ QUER?!
EU TE DOU]". Todos se olhavam sem entender de onde vinha a voz. Era um
rapaz negro, com semblante de ódio e uma carteira em punho diante das câmeras.
"Por que você não fala, policial, que pediu mil reais pro meu irmão e só
quando não recebeu forjou a droga?! Pois saiba que isso tudo foi filmado. Tá
aqui nesse celular!", denunciou.</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><br />
A
imitação de jornalista que apresentava o Balanço pediu pra cortar. O delegado
imediatamente pegou Guto pelos braços e o convidou para conversar. O jovem de
repente olhou para o que estava fazendo e hesitou. Flashes e luzes de LED,
microfones, perguntas, tudo aquilo ao mesmo tempo. Então de repente não pareceu
ruim sair dali. Ao abrir a porta da sala do diretor, havia uma moça loira
sentada diante de uma TV ligada na Record ao fundo. "Sente aqui. Vou
despachar a imprensa e já conversamos", avisou Ícaro. As duas mãos pretas
à cabeça, olhos lacrimejantes e nó na garganta. Nesse instante, eis que uma mão
branca o toca. "Se você tivesse feito isso com minha mãe eu teria
gostado", disse Yasmin. Ele levantou. Procurou palavras e encontrou um
abraço. "Tá tudo bem".</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><br />
Os
jornalistas foram informados pela produção de que a denúncia do garoto não
seria veiculada. "Esse policial só passa coisa bacana pra gente",
justificaram a maioria dos editores. Foram embora logo em seguida. O delegado
mandou soltar todo mundo. "Isso aqui não é uma seccional. Nunca mais chame
a imprensa sem antes falar comigo. Não vou prosseguir na denúncia, mas se algo
acontecer à família desses jovens aqui, ou a eles, eu guardarei a gravação do
celular do denunciante pra garantir que vou atrás de você", avisou o
delegado. O cabo engoliu a seco.</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial;"><br />
Enquanto
isso, na sala do diretor, o abraço continuava. "Você está melhor?",
perguntou Yasmin. "Não. Agora estou com outro problema", respondeu.
"Qual?!", perguntou ela se afastando para encará-lo. "Você falou
com a sua boca perto da minha. Senti o calor dela. Agora só vou ficar bem se prová-la",
desabafou. "Você é cínico. Mas eu não estou aqui pra ajudar?",
sussurrou. Os lábios grossos dele se misturaram aos lábios finos e rosados
dela. Línguas ensopadas se misturavam quando o delegado interrompeu.
"Obrigado por cuidar dele, Yasmin", descontraiu. Yasmin fazia
pesquisa de campo sobre mediações de conflitos em delegacias especializadas.
Saiu de lá com um bom exemplo pra pesquisa.</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br />
PRÓLOGO<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Times, Times New Roman, serif;"> Ela
deixou Guto e o irmão na Cabanagem. Sentiu medo quando viu toda força
expressiva da periferia. Depois de três meses de namoro já conseguia ver aquilo
como lugar de gente. Mas o namorado nunca ia ao prédio dela. Nem quando a velha
da mãe dela não estava. Até que um dia ela teve uma ideia. Ligou alegando que
estava só e passando mal. Ele teve de ir. De madrugada. Ela pagaria o táxi. Ela
o esperava de camisola próximo ao elevador de serviço enquanto a essa altura o
porteiro pensava qual conta pagaria com a grana que recebeu pra desligar as
câmeras de segurança. "Não vai entrar ninguém aqui?", perguntou ele,
excitado e assustado ao mesmo tempo. "Não. O elevador de serviço só é
usado em horário comercial", disse ela. "O trauma dele passou depois
disso", contou ela a uma amiga dois anos depois do fim daquele namoro.</span><span style="font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
</div>
</div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-75263855272350794102013-09-05T11:12:00.000-03:002013-09-05T19:47:47.095-03:00Luta de Classes. Parte 2 de 3<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-i0AtSiRqyqU/Uifg5bpg37I/AAAAAAAAAxQ/r8zt7-UabMA/s1600/casal-preto-e-branco-wallpaper-17068.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://2.bp.blogspot.com/-i0AtSiRqyqU/Uifg5bpg37I/AAAAAAAAAxQ/r8zt7-UabMA/s400/casal-preto-e-branco-wallpaper-17068.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">Guto descia as escadas, degrau a degrau, com um nó na garganta e uma sensação de raiva misturada com vergonha. Lá em cima Yasmin observava a porta que dá acesso às escadarias balançar. Ensaiou várias vezes descer, mentir que a mãe não era tão chata assim, mas desistiu quando foi intimada a entrar pela velha. No outro dia o rapaz não voltou. Ela perguntou por ele ao responsável pela impermeabilização da piscina, que não soube dizer para onde teria sido remanejado. Ele pensa nela na obra, num o mormaço sob uma sombra de concreto. É sempre bom lembrar, mas sempre dói. Ela pensa nele enquanto dirige com os vidros abertos para poupar gasolina. Lembranças estranhas de um momento estranho.</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">O tempo passa. Primeiro dias, depois semanas. Estudante de direito que era, Yasmin conseguiu acesso à Divisão de Atendimento ao Adolescente (DATA) para fazer uma pesquisa. Ele conseguiu outro emprego. Agora era barman dia sim dia não em uma choperia. De dia continuava fazendo cursinho. Numa noite dessas Yasmin apareceu lá. Junto com uns jovens, um homem mais velho e a mãe dela. Parecia celebração familiar. Ele pediu pra ir embora. Alegou estar se sentindo mal, mas o imediato dele pediu que pelo amor de deus aguentasse, que compraria até remédio, mas não havia como substituí-lo.</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">Para completar, logo depois disso "aquela bruxa", como ele a definiu, veio pedir um drinque especial para o sobrinho. Mas pediu que um garçom levasse só depois da meia noite. Ele completaria dezoito anos, seria o presente simbólico da maioridade. Ela até pareceu simpática. Não o reconheceu. Provavelmente ela falaria do mesmo modo com uma máquina de lavar do tipo que fica invisível quando desligada. A noite passou rápido. Antes que Guto notasse a família de Yasmin fora embora.</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">No dia seguinte ela acordou tarde. Não estava com ressaca, mas como só teria as últimas aulas a tarde, e estava em dia com as tarefas acadêmicas, resolveu ouvir música. Ele acordou cedo. Foi ao cursinho. Ela recebeu um telefonema. "Precisa vir aqui. Acabamos de saber que o Conselho Tutelar apreendeu muitos adolescentes numa boca de fumo com armas e muita droga", disse o contato dela na DATA. Ela se arrumou. Contrariada. E foi. Quase ao mesmo tempo o telefone de Guto tocou.</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">- Alô. É o senhor Augusto?</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">- É ele sim. Quem fala?</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">- Aqui é o cabo John da Polícia Militar. Acabamos de encontrar seu irmão, o menor conhecido como "Carlinhos" numa boca de fumo no meio de um bando de vagabundo no bairro da Cabanagem. Estamos levando ele pra DATA. É bom a mãe de vocês ou você mesmo se for de maior ir lá responder por ele.</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">- ...</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">A mãe é hipertensa e certamente passaria mal ao saber dessa notícia. O pai já se foi. Ele mesmo teria de ir à DATA.</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;"><br /></span></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="line-height: 17px;">Conclui semana que vem...</span></span></div>
</div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-54542707202356415662013-08-28T12:46:00.001-03:002013-08-28T12:49:27.126-03:00Luta de Classes. Parte 1 de 3<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-7K2e2N7Z4XI/Uh4YlTj9KKI/AAAAAAAAAxA/CM78ZrsWQFY/s1600/casal-preto-e-branco-wallpaper-17068.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="http://2.bp.blogspot.com/-7K2e2N7Z4XI/Uh4YlTj9KKI/AAAAAAAAAxA/CM78ZrsWQFY/s400/casal-preto-e-branco-wallpaper-17068.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Precisando de grana pra pagar o cursinho, Augusto teve de arrumar emprego logo. Um amigo dele conseguiu uma vaga como ajudante numa
empresa especializada em aplicar impermeabilizantes na construção civil. Em seu
primeiro dia de trabalho ele chegou atrasado. Ligou para o chefe que pediu pra
ele ir até o primeiro piso onde ficava a piscina. Era um prédio de 12 andares
recentemente entregue, com praticamente todos os apartamentos ocupados, cheios
de gente de classe média puta com o serviço ruim da construtora por não
entregar o imóvel sem ter piscina vazando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">“Guto” se identificou ao porteiro com seu crachá provisório
e chegou ao elevador. Eram dois, na verdade. Pegou o de serviço sem reparar na
diferença entre um e outro. Errou o andar. Foi parar no segundo piso. Desceu e
apanhou o social. Nele desciam uma mulher e a filha dela. “Pra quê tem elevador
de serviço?”, provocou a dondoca, irritada com a presença dele, que se olhou no
espelho e se perguntou por que ela havia reparado que ele era empregado. No
bairro da cabanagem (periferia de Belém) onde ele mora todo mundo perguntou se
ele faria exame de fezes, de tão arrumado. “Será que tenho tanta cara assim de
pobre?”, se questionou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A crise interna dele foi interrompida por aquele rosto. A
filha dela, com seus olhos verdes como o mar, os cabelos tipo os das moças das
novelas, loiro, sedoso, brilhante, surpreendentemente saudável emitiu um sorriso parcial, meio
que pedindo perdão pela mãe. Tudo passou muito rápido e ele desceu, trocou de
roupa no banheiro dos empregados e foi trabalhar. Não era muito difícil a sua
tarefa. Esfregar um produto de forma organizada e padronizada rápido o
suficiente para que ele não secasse até estar corretamente espalhado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Depois do trabalho a coluna dele conversava com a vontade
dele de ganhar dinheiro sobre a necessidade de ir logo pensando em outra coisa
melhor para fazer. A menina branca aparecera de novo. Sentada num banco diante de uma
piscina vazia e em reforma. Ele precisou pegar seu par de sandálias esquecido num
banco quase ao lado dela. Depois do episódio do elevador ele ficou se sentindo
um lixo fora da lixeira, por isso não tinha a menor autoestima para cumprimentos.
Ele apanhou o objeto e voltou sem levantar a cabeça. “Agora eu entendo”, ouviu
uma voz falar atrás de si. “Oi?”, falou Guto voltando-se a ela. “Queria entender de onde
tava vindo esse fedor de chulé”, descontraiu a garota. Ele voltou. Pegou os chinelos
dela, jogou pra longe e brincou: “Pronto. Agora vai passar”. Os dois riram.
Quando perceberam estavam sentados conversando sobre música,
filmes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">De repente, já passava das oito da noite. Conversaram
bastante, mas ele precisava ir embora. Ela perguntou onde ele morava. "Cabanagem", respondeu. “Eu te levo lá”. Se ofereceu ela. “Não pode.”
Determinou ele. “Ué, por quê?”, se espantou a moça. “Porque não posso subir no
carro de estranhas. Minha mãe não deixa”, provocou. Ela sorriu e pra Guto foi como
se o mundo tivesse no pause. “Meu nome é Yasmin”, se apresentou ela e estendeu
a mão. Ele segurou. “Prazer”, saldou a jovem. Ele disse o próprio nome, a puxou,
deu um beijo no rosto, respondeu “satisfação”, em seguida a puxou para um
abraço e sussurrou ao ouvido dela: “Me ensinaram que o prazer vem depois”. Ela
tentou disfarçar ter gostado da surpresa e o chamou para ir até o aparamento dela buscar as
chaves do veículo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando abriu a porta a mãe dela estava na sala. Ele a viu
sentada de costas para ele no sofá. Guto não queria entrar, mas Yasmin
insistiu. Ele mentiu que havia esquecido mais uma coisa na piscina e para não
atrasá-los precisava descer para buscar. A moça argumentou que buscava as
chaves num instante, e depois pegariam juntos o objeto na piscina, e já se
preparava para falar mais argumentos quando foi interrompida pela dona. “Yasmin,
venha cá”. Os dois se olharam. A pele dela de repente ficou branca de novo, os olhos dela eram de novo verdes, o apartamento dela pareceu coisa de rico e ele lembrou nem sonha em ter carro tão cedo. Ela voltou a perceber a pele negra dele, os cabelos “ruins” dele, a roupa com os panos desbotados de tantas lavagens dele e umas manchas de pele estranhas na face dele.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ela entrou no apartamento sem dizer
nada, mas deixou a porta entreaberta. Ele chamou o elevador. Chegou o social,
mas ele não quis entrar. Chamou de novo. Ela saiu do apartamento. Ele já havia
descido as escadas pensando se no outro dia voltaria ou não àquele trabalho
escroto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Continua...</span><o:p></o:p></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-92070171576355389652013-08-20T12:28:00.002-03:002013-08-20T19:08:54.156-03:00Formas de curtir no Feicibuqui<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-cvFxn0w7yOg/UhPoulucs1I/AAAAAAAAAvg/jyqklp9P-Q0/s1600/1167513_4549585318167_392739642_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="452" src="http://1.bp.blogspot.com/-cvFxn0w7yOg/UhPoulucs1I/AAAAAAAAAvg/jyqklp9P-Q0/s640/1167513_4549585318167_392739642_o.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
Quase cientificamente falando, "Curtir" no feicibuqui pode ser*:</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
1-Curti mas não vou comentar porque não tenho nada a dizer no momento a altura disto;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
2-Curti mas isso também não é lá essas coisas pra merecer comentário;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
3-Curti muito não, mas como eu vou com a tua cara vou te dar essa forcinha;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
4-Curti não, mas como você me curtiu também vou te curtir por gratidão;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
5-Curti, mas só pra você saber que não gostei do comentário dessa vagabunda em seu Fêici. Aguarde a DR;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
6-Curti pra te dar uma força naquela promoção;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
7-Curti como forma de gratidão ao seu comentário;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
8-Curti, mas não cliquei no botão por vergonha de você descobrir que curti;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
9-Curti pra você reparar em mim;</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; line-height: 20px;">
<div style="font-size: 14px;">
10-Curti mesmo.</div>
<div style="font-size: 14px;">
<br /></div>
<div style="font-size: 14px;">
_______________</div>
<span style="font-size: xx-small;">*Baseado em algo que já escrevi certa vez em meu Fêici.</span><br />
<span style="font-size: xx-small;">Imagem do genial <a href="http://6vqcoisa.blogspot.com.br/" target="_blank">TonhOliveira</a></span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-63849621360448560232013-08-05T10:48:00.001-03:002013-08-06T09:06:24.454-03:00Sobre gostar de sofrer<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-U1teXqzuu6U/Uf-rF2JCaaI/AAAAAAAAAuQ/34aULEVdSYk/s1600/desespero-anjo-e1326371164344.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="301" src="http://4.bp.blogspot.com/-U1teXqzuu6U/Uf-rF2JCaaI/AAAAAAAAAuQ/34aULEVdSYk/s400/desespero-anjo-e1326371164344.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<i>“Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor</i>”<o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Renato Russo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“O meu delírio é experiência com coisas reais”</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
</div>
<div class="MsoNormal">
Belchior<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu gosto de sofrer, ir ao fundo do poço, chorar, me
desesperar, me sentir inútil, um lixo, um grande pedaço de bosta, um idiota
quando finalmente chega a época. Sim, eu gosto. Experimento a dor como quem
fuma uma maconha, como quem chupa uma língua volumosa e deliciosamente saliente em minha boca, como quem resiste até o fim antes de morder o pirulito, como
aquela transa na qual a gente não quer gozar nunca. Afinal de contas, a felicidade
é o Super-Homem, a dor é o Batman; As coisas boas da vida são o Kid Abelha, as
desgraças são a Legião Urbana; a bonança são “oncinha pintada, zebrinha
listrada, coelhinho peludo”, o conflito é o “vão se foder”; as coisas que dão
certo são o marido, as que dão erradas são o amante; a alegria é o Pierrô, o
sofrimento é o Arlequim, e no carnaval da vida somos todos Colombina.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Custou, mas aprendi a conviver com meus próprios demônios, e
ainda os acalento quando posso, com direito a por música deprê para eles ouvirem
comigo. Não nego a mim a chance de quebrar a cara quando acho que algo vale a
pena. Procuro não ter medo de me jogar do precipício, de arrebentar a cara. Eu não
tenho a menor vergonha de chorar. Eu não procuro a dor, não nego que é ótimo
estar bem, ser chamado de comível, de
inteligente, de amigo, fiel e coisas assim. Contudo, depressão é não querer dar
colo pro desespero, tadinho. Eu já tive vontade de me matar, mas na hora exata
não tive coragem, porque fui seduzido por minhas próprias lágrimas, saboreei o
gosto salgado e fiz delas uma canção.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não, eu não procuro coisas ruins, só parei de negar infantilmente
a mim mesmo que elas existem. Uma hora o baile funk, o sertanejo universitário,
o tecnomelody e o novo episódio dos Ursinhos Carinhosos acabam. Sempre acabam. Quando tudo
acaba mergulhamos em nosso próprio poço, e nenhum deles é raso, só precisamos
parar de ter medo de ir lá no fundo e voltar. Sempre podemos ir mais fundo, e
sempre podemos voltar.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-91800848126429661522013-07-31T14:07:00.001-03:002014-04-04T11:54:12.949-03:00Milagre na JMJ 2013 - Uma mijada, um martírio<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-IJfv3bpHb0I/Ugr9Bwz29KI/AAAAAAAAAuw/SEBwlWhxy18/s1600/vigilia03_papa_materia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-IJfv3bpHb0I/Ugr9Bwz29KI/AAAAAAAAAuw/SEBwlWhxy18/s640/vigilia03_papa_materia.jpg" height="404" width="640" /></a></div>
<span style="font-family: Calibri;">Nove graus na praia de Copacabana e meu corpo amazônida lá,
brigando com a temperatura durante a vigília com o Papa Francisco. Desde que o calor começou a sumir
vertiginosamente era em minha bexiga onde se concentrava a mais ardente zona de
combate. Não havia banheiro suficiente graças a Eduardo Paes, e o jeito foi
mijar no mar. Que bonita era aquela curva provocada pelo vento no líquido que
deliciosamente saía de mim quando de repente uma onda desgraçada veio mais forte do que
deveria. Eu consegui me equilibrar em pé, e ainda tinha muito a expelir quando a
onda finalmente se foi e me deixou as calças encharcadas. Pelo menos eu estava
com frio demais para sentir qualquer constrangimento pelas risadas. Só
de bermuda, naquela praia de agasalhos, eu me deitei pra ouvir a juventude dar
testemunho ao sumo pontífice.<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: Calibri;">Começou um após outro jovem branquinho e fresquinho a falar
mensagens tão emocionantes quanto o roteiro de um filme piegas pode ser. O povo
fazia sinal da cruz, se ajoelhava, aplaudia, eu só conseguia ouvir
baboseiras inúteis como “eu sou virgem”, “eu não uso mais drogas”, “fui a cinco
jornadas”, e por aí vai. Tentei dormir pra ver se a coisa ficava menos pior. Me
embrulhei no cobertor mais grosso disponível e o vento gelado parecia rir de mim. A essa
altura não sei se tremia de frio ou de raiva pelos aplausos homenageando as
porcarias que aqueles jovens com alma de velhos falavam.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;">Me levantei. Puto. Como a desorganização da JMJ 2013 fez com
que a vigília fosse realizada em local sem a menor estrutura, não havia
demarcação de corredores, assim a galera foi se apropriando do lugar. E enquanto o
Papa estava no palco travestido de altar era impossível passar, porque ninguém queria sujar de areinha os
colchões. Eu saí invadindo, ou melhor, ocupando terreno a terreno. Pulando
cercas de areia, e quando em espanhol, inglês ou mongol alguém reclamava de invasão de "propriedade", eu
dizia que estava sendo chamado pelo Espírito Santo. Peguei um atalho pela beira
do mar, que depois de me molhar parecia satisfeito e se manteve distante. Cheguei
ao palco, mas alguns seguranças me impediam de entrar. Então ameacei dar
porrada num dos jovens quase catatônicos a ouvir aqueles malditos
testemunhos, e num olé homérico ao guarda corri para dentro.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não sei quantas mãos me puxaram, nem quantas pernas me
chutaram. O fato é que eu subi lá naquele palco que mudava de cor, e era maior de perto do que parecia pelo telão. O papa não aparentava medo, mas o
jovem falando compassadamente com aquele ar de “renovado” começou a tremer. Deve
ter sido por causa da minha cara de pivete. “Perdeu, playboy. Passa o microfone”,
gritei com a mão por dentro da blusa. “Boa noite, galera! Vim aqui dar meu
testemunho”, gritei eu competindo com uma enorme microfonia. Os seguranças já se armavam
para me bater, a guarda nacional se preparava pra atirar e o povo já fazia
biquinho pra vaiar quando Francisco levantou a mão direita. Em espanhol disse alguma
coisa parecida com “calem a boca, pois quero ouvir esse jovem”. Eu quase choro com a emoção de não apanhar nem morrer, mas juntei minhas forças.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Foi esse o meu discurso:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><i><b>Eu sou um pivete, um pichador de muro. Um negro que passou
uma temporada no presídio antes de finalmente ser exterminado. Sou um camponês oriundo de minha cidade com terra e cerca demais e justiça de menos, com
vontade desesperada de sobreviver. Sou gay desde de nascença, humilhado desde que
me entendi, e mentiroso desde após a crisma para poder continuar na igreja. Eu
fumo maconha todos os dias, e ela não me faz mal. Não faz porque foi na igreja
que experimentei pela primeira vez. Nela descobri o que há de mais podre
e mais santo, e foi através dela que enxerguei sentido à minha vida de
opressão. Percebi como a droga do capitalismo e a mentira do consumismo são os únicos entorpecentes a serem criminalizados.</b></i></span></div>
<i><b>
</b></i><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><i><b>Eu faço sexo todo dia com minha namorada. E sempre
foi ótimo, olha. Vocês aí que ainda são virgens, recomendo muito. Qualquer dúvida perguntem a algum padre, porque eles também fazem sexo sempre que podem. E antes de começarem a vaiar e jogar pedras, gostaria de perguntar uma coisa a vocês. O
tempo que vocês ficam batendo punheta, se enganando que vão pro céu por não
chamar palavrão, por que vocês não se dedicam a uma missão mais interessante?
Só nesses minutos no qual discurso pelo menos um jovem foi executado no
Brasil. Somos uma multidão de três milhões de pessoas num local escroto, sem
banheiro e sem condições, um exemplo do que esse povo carioca e esse povo
brasileiro passa diariamente por conta da má fé desses governantes filhos da puta.<o:p></o:p></b></i></span></div>
<i><b>
</b></i><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><i><b>Querem sentir o Espírito Santo? Então vamos agora marchar
até a prefeitura, arrebentar os portões como Jesus arrebentou as barracas dos
mercadores do templo. Ocupar e fazer vigília lá, e dizer que só desocuparemos quando o prefeito renunciar, uma nova eleição for marcada e prometeremos que voltaremos a ocupar aquele lugar se os candidatos forem mais do mesmo. Vamos deixar
um grande exemplo pras juventudes do Brasil e do mundo e mostrar que só rezar por
um mundo melhor não é suficiente. Quis Deus que a JMJ ocorresse em Madri quando
os indignados foram às ruas, e agora no Brasil quando o povo bradou um mundo
novo. Isso sim é um sinal, não uma dor de cabeça que passa ou um bissexual que
casa com mulher e mente dizendo que deixou de ser gay.<o:p></o:p></b></i></span></div>
<i><b>
</b></i><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><i><b>Como querem ir pro céu sem antes ir viverem aqui na terra a santa experiência de irem à luta...<o:p></o:p></b></i></span></div>
<i><b>
</b></i><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não posso dizer se o Papa aplaudiu. Se o povo que estava
paralisado se mexeu, se os que estavam cegos enxergaram ou se os mudos
finalmente falaram. Eu morri antes de ver, mas pelo menos vivi antes do fim.<o:p></o:p></span></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-72907101937252726302013-07-23T08:42:00.002-03:002013-08-03T15:39:15.083-03:00ESPIRITUALIDADE DAS JUVENTUDES - Transformar água em vinho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-uOHqB1Um5ek/Ue5rhujbntI/AAAAAAAAAt4/VqWDooY-kEk/s1600/agua-em-vinho1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="392" src="http://1.bp.blogspot.com/-uOHqB1Um5ek/Ue5rhujbntI/AAAAAAAAAt4/VqWDooY-kEk/s400/agua-em-vinho1.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Enquanto
a santidade de um beijo molhado casual, a caridade de uma noitada numa boate
com as amigas e/ou a fé num mundo melhor e possível forem assuntos conversados
sem filtros apenas ao lado de fora da igreja, dificilmente conseguiremos
aceitar plenamente a dimensão da espiritualidade que habita/ emana das
juventudes. Por mais que alguns organismos teimem em atrair jovens para um
curral onde velhos discursos possam ganhar o verniz de novas gírias, em algum
momento as cercas serão puladas, quiçá quebradas por eleas/es, por mais que nem
toda novidade seja “louvável” para quem perderá alguma coisa com a
mudança. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A Boa
Nova cristã vive um desafio perigoso desde a sua gênese: ela incomoda os
poderosos. A jovem Maria sabia disso, pois segundo a comunidade de Lucas (Lc
1,52), ao carregar “A novidade” no ventre ela cantou que “Ele (...) derruba do
trono os poderosos e eleva os humildes”. Ao mesmo tempo, segundo a comunidade
de João (Jô, 1-11), o primeiro milagre de Jesus garantiu que a festa, a alegria
e a bebida de alguns adoráveis bêbados não acabasse, e transformou a água da
purificação em vinho. É como se Jesus transformasse água benta em cachaça, no
primeiro grande símbolo nesse evangelho de que o Messias era Deus em forma de
homem, vivendo isso até as últimas consequências; o Divino que adiante
sangraria pelo bem dos homens e das mulheres.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Talvez
não seja exagero pensar que hoje algumas pessoas realizam o trabalho de
evangelização das juventudes trilhando o caminho inverso. São vinhos que são
convidados a serem transformados em água, alegria que precisa ser desfigurada
em respeito, sexualidade que precisa ser reduzida a pecado, ousadia que precisa
ser regredida ao status de desobediência. Mas isso apenas no nível do discurso
oficial, de algumas publicações talvez, porque na prática o “Espírito sopra
onde quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde vem, nem pra onde vai” (Jô
3, 8). Quem sabe as juventudes ainda sejam aquele garotinho, “perdido” dos pais
dentro de um templo, evangelizando quem acha que sabe mais do que ele (Lc 2,
41-51).<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quantas/os
de nós, no trabalho com jovens sabemos enxergar que até dois pães e três
peixinhos de um rapaz ou de uma moça são suficientes para alimentar uma
multidão faminta (Jo 5, 5-15)? Quantos de nós não somos os irmãos mais
velhos daquele filho mais jovem e mais amado pelo pai, que por inveja o
atiramos no poço e o declaramos morto, ou pior, o vendemos por qualquer preço?;
ou mesmo não somos aquele irmão mais velho que se acha mais merecedor do abraço
do Pai do que o irmão todo errado, como aquela jovem que engravida
precocemente, seja o adolescente apreendido e exibido ao vivo nos telejornais, seja
aquela menina rotulada como alguém que não tem nada na cabeça?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Querer o
certo ao errado, aliás, é o maniqueísmo no qual caímos em tentação todas as
vezes que não compreendemos que as juventudes precisam construir com as
próprias mãos e sob auxílio dos mais velhos um caminho. O fetiche das multidões
e grandes eventos tem sido o grande inimigo do processo no qual a/o jovem
precisa amadurecer em todas as dimensões de sua própria existência, e não
apenas ser mais um número. Não estaríamos querendo que os jovens apenas digam
“Eis-me aqui”, ao invés de apresentar o desafio de um “caminho aberto”?<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-bra6MTmpElk/Ue5sFIbr9NI/AAAAAAAAAuA/T8uslYJCASQ/s1600/artigo_23.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-bra6MTmpElk/Ue5sFIbr9NI/AAAAAAAAAuA/T8uslYJCASQ/s320/artigo_23.gif" width="292" /></a></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Já pensou
se a pedagogia de Jesus Cristo fosse baseada apenas em fórmulas de fácil
solução, como declarar a fé incondicional, só cantar coisas de Jesus e jamais
desobedecer? Tadinho do São Pedro. Seria excomungado quando duvidou que atirar
de novo as redes ao mar depois já ter tentado tanto daria resultado; seria
convidado ao confessionário por ser um homem de pouca fé e não andar sobre as
águas quando chamado; poderia ser preso ao cortar as orelhas do soldado que
prendia o Mestre ou seria chamado de herege por negar Jesus no momento mais
difícil. Mas foi esse “homem de pouca fé” que ganhou a honra de chefiar a
igreja, de repente porque Jesus conseguia enxergar como poucos que os defeitos expostos não são necessariamente piores do que os ocultos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Temos
jovens nas periferias, no campo, nas obras, nas bocas de fumo, na cadeia,
dentro do templo, num abrigo esperando adoção, na rua esperando esmola ou no
seu quarto esperando um novo videogame. E temos ao redor deles uma sociedade e
uma igreja adultocêntricas que se enamoram da beleza e a energia jovial dessas
juventudes, e que gastam grande parte do tempo construindo fôrmas para elas. E
para quê? Será possível construir um caminho para as/os jovens sem ter a
frente disso elas/es próprias/os?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É
interessante ver que de lugares onde a opressão do racismo histórico imperavam
surgiu através das mãos dos jovens o Blues, o Roquenrol, o samba, o funk
carioca, o hip-hop, o tecnobrega, o manguebeat, o cordel, o forró, os solos de
Hendrix, alguns dos atletas mais maravilhosos da história, como Jordan, Bolt,
Pelé e Cia. E se o Espírito falou através de Maria que Jesus viria para elevar
os fracos e destronar poderosos, como não dizer que tudo isso é fruto do
Espírito de jovens ousados apesar de tudo? Os sacerdotes e levitas
de hoje deveriam voltar de onde acham que devem ir e aprender com a sabedoria
desses samaritanos (Lc 10, 30-37), todos eles mais próximos dos jovens do que
muitos sermões e pregações.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Como o
padre Hilário Dick costuma dizer, “A juventude é o sacramento da novidade”.
Essa espiritualidade renovadora e, por que não dizer, transgressora, brota de
quem tiramos o alimento que parece pouco, mas suficiente para alimentar
milhares de famintos; é o que ajuda a sobreviver os que são atirados no poço e
ainda assim aceitam o desafio de entender os sonhos dos outros; é quem dá
coragem para quem diz um sim conseqüente, independente do perigo; é o que ilumina
aquela/e que erra pra caramba, mas que no fundo quer muito acertar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A
espiritualidade das juventudes, portanto, é o impulso fundamental da novidade,
o novo que precisamos, mas nem sempre aceitamos. Querer a juventude em suas
baias e não aceitar a novidade que ela trás é um contrassenso, é o mesmo que
dizer amar o Jesus loiro, de olhos azuis, o da misericórdia e que não chama
palavrão, e negar que ele também foi desobediente, transgressor, e
revolucionário a ponto de desagradar todas as elites da época e sofrer as
consequências disso. Da mesma forma, não adianta fazer o discurso de que aceita
a renovação e não querer correr o risco de modificar o que aparentemente é
puro, ou sem dar voz para falar o que pensam aqueles que de alguma maneira
louvam. Ou gritam.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-79713728146607607962013-06-18T13:54:00.001-03:002013-08-02T01:38:39.798-03:00Os 20 Mil de Belém<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-o6iN1xH6s4c/UcCNdb_EiII/AAAAAAAAAsw/z-KiKqERHMI/s1600/20+mil+de+Bel%C3%A9m.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="http://2.bp.blogspot.com/-o6iN1xH6s4c/UcCNdb_EiII/AAAAAAAAAsw/z-KiKqERHMI/s640/20+mil+de+Bel%C3%A9m.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Foi na avenida Almirante Barroso que tive minha primeira
experiência como manifestante. Na ocasião, há cerca de 15 anos atrás, eu
enquanto estudante o como centenas de outras/os pelo grêmio estudantil do então
Colégio Pedro Amazonas Pedroso (CEPAP aos mais saudosos) para engrossarmos as
fileiras do MST quando fazia um ou dois anos do Massacre de Eldorado do Carajás.
Não lembro de muitos detalhes, mas recordo que mulheres, homens e crianças
marchavam já há dias para acampar <st1:personname productid="em S ̄o Br£s" w:st="on">em São Brás</st1:personname>, na histórica praça do Operário.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sai da minha memória também que as pessoas a frente
desse grêmio eram ligadas ao PSTU, e que me senti muito bem acolhido pelas
pessoas <st1:personname productid="em marcha. Rostos" w:st="on">em marcha.
Rostos</st1:personname> simples de gente que eu via na TV como baderneiros e
que se preocupavam o tempo todo se os estudantes tinham sede, se estavam bem. Choveu naquele
dia, assim como ontem, quando caminhei pela mão inversa da Almirante que já não
é a mesma. Gritei por coisas parecidas com as que gritei outrora (Passe Livre
para estudantes, por exemplo). Se foi histórico pra mim caminhar ao lado do MST
em minha primeira passeata, foi histórico para o mundo a data de ontem: 17 de
junho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nunca dei azar de participar de um ato com forte repressão
policial, mas não lembro de uma na qual um ou outro indignado tenha errado na
dose. Lembro de uma que participei, contra a ALCA, que paramos em frente ao
consulado estadunidense e algumas pessoas chegaram a atirar pedras em vitrais,
arrancar gramas e coisas do tipo. Naquela época eu não gostei daquela atitude,
e qual não foi minha surpresa ontem quando, já nos primeiros metros caminhados,
um rapaz encapuzado abaixou para pixar uma mureta e foi logo repreendido por
centenas de vozes anônimas: “Sem vandalismo!”, gritavam. Porém, deixo claro, discordo do rótulo de vândalos manifestantes que reagem contra a PM, embora eu não acredite em
violência como solução a nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-1uIGV2LqIdU/UcCNsfcD6CI/AAAAAAAAAs4/4NOubGHi8JQ/s1600/Belo+Monte.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-1uIGV2LqIdU/UcCNsfcD6CI/AAAAAAAAAs4/4NOubGHi8JQ/s320/Belo+Monte.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Ontem vi muita gente que me
lembrava a mim mesmo quando comecei a me rebarbar contra o sistema. Gente que
se sentia motivado a gritar palavras de ordem, mas ainda com certo
constrangimento. Gritavam, mas só no auge do coro, e comumente erravam algumas
palavras. Mas apesar daquele ar de certa forma frágil de rostos joviais, havia
um olhar perene naqueles semblantes, que é impossível de ver em qualquer outra
faixa etária com a mesma intensidae: era o olhar da novidade. O novo que não
nega tudo que é velho, mas tão pouco reafirma tudo que era dito até então. Por
exemplo, se eu fui pra rua há 15 anos puxado pelo PSTU, ontem uma das palavras
de ordem que mais ouvi foi o povo mandando a galera com as bandeiras vermelhas
tomarem no lugar que rima com “U”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ah, mas não poderia deixar de
falar do objetivo de mais de 20 mil pessoas que foram às ruas de Belém em
consonância com outras centenas de milhares <st1:personname productid="em todo Brasil. O" w:st="on"><st1:personname productid="em todo Brasil." w:st="on">em todo Brasil.</st1:personname> O</st1:personname>
povo tava na rua por causa de vinte centavos, contra a copa, contra a corrupção,
contra...; pra ser honesto comigo e com todos os outros que compartilharam por
algumas horas o mesmo asfalto sob os pés, essa é uma das diferenças mais
atraentes e ao mesmo tempo preocupante desse novo momento: não sabemos onde
isso vai dar, mas sabemos que não queremos ficar onde estamos. Eu acredito nisso. E acreditar nisso, senhoras e senhores, é ótimo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O único congestionamento que eu
lembro de ser aplaudido em Belém é o que causa a passagem da imagem da Nazica
no Círio rodoviário, quando pessoas aparecem nas janelas e à beira da pista pra
aplaudir, homenagear e etc. Ontem eu vi muito disso numa passeata.Talvez porque o povo na beira,
sejam os que apoiavam com panos brandos nas janelas, sejam os que no fundo aguardavam uma porradinha contra a
polícia para acompanharem de camarote viam ali na imensa maioria de pessoas o
próprio reflexo. Uma gente que não quer depredar o Estado, ao mesmo tempo que
queria deixar claro que não estava nada contente com ele, ao mesmo tempo que se
demonstrava a favor das reivindicações dos “baderneiros”, mas deixaram claro
que não querem servir de massa de manobra de nenhum partido e não toleram
violência. Alguns verão nisso despolitização. Não que não seja em parte, mas
não há como negar o espírito radical disso. Radicalizar não é apenas ir para um
extremo, mas também criar outro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
DETALHES<o:p></o:p></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-xH9az25_PSg/UcCN7dOIYDI/AAAAAAAAAtA/55111NNJlbg/s1600/a+Torre.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-xH9az25_PSg/UcCN7dOIYDI/AAAAAAAAAtA/55111NNJlbg/s400/a+Torre.jpg" width="300" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
É comum a manifestações fazer
silêncio quando se passa em frente a um hospital, mas nunca tinha visto esse
silêncio vindo de 20.000 pessoas. Não havia carro-som ontem animando. Ainda
bem. Não houve quem manipulasse as falas ou que tivesse a pretensão de querer
falar por todas/os. Assim, a recomendação do silêncio vinha de boca em boca, de
dezenas de metros à frente até o fim. Foi de arrepiar ver essa grande rede
social funcionando ao mesmo tempo que lia em muitos cartazes a mensagem “saia
do facebook”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu sempre critiquei as grandes
produções cinematográficas e televisivas a respeito de atos públicos. Repare,
leitor, que a única palavra de ordem que sabem dizer na tele-dramaturgia é “O
povo unido jamais será vencido!”. Eu nunca tinha ouvido isso numa manifestação real.
Até ontem. Também havia ontem manifestantes fantasiados de “Homem Aranha”
(oi?), gente fazendo poses para fotos ao lado do delegado Eder Mauro, que para
quem é de fora, representa aquela figura do policial brabo que mata mesmo os
“vagabundo”. Há quem ache isso bonito. Pra mim ganhar fama de assassino
supostamente matando a juventude negra deveria render a ele algumas das muitas
vaias que berramos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Talvez a manifestação mais
ignorada de todos os tempos da última noite tenha partido de um jovem rapaz,
que simplesmente parou sobre um bloco de concreto, de frente para a multidão
com uma Bíblia aberta (oi?). Jamais entenderei qual a intenção daquele rapaz,
também um radical, certamente. Mas confesso a Deus Todo Poderoso que ri dele.
Por minha culpa, minha tão grande culpa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
As únicas confusões que existiram
em todo o trajeto foram protagonizados esporadicamente pelos próprios
ativistas. Na realidade, o batalhão que acompanhou todo o trajeto mostrava
literalmente na cara que não estavam ali para brigar. Eram soldos, cabos e
quiçá alguns sargentos nitidamente fora de forma, longe do padrão utilizado
quando o Estado quer realmente bater <st1:personname productid="em algu←m. Houve" w:st="on">em alguém. Houve</st1:personname> também
xingamentos e alterações quando um repórter da afiliada da Rede Globo quis
fazer uma entrevista – nem tudo pode ser tão diferente mesmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-IvSeL_VMZLk/UcCOTPrZzUI/AAAAAAAAAtI/K0TGXdzxlgo/s1600/alm.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="199" src="http://4.bp.blogspot.com/-IvSeL_VMZLk/UcCOTPrZzUI/AAAAAAAAAtI/K0TGXdzxlgo/s320/alm.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
Voltei pra casa com o coro mais
clichê de todos na cabeça: “O povo unido jamais será vencido”. Essa frase, que mais
parece um verso bobo de feicibuqui, simbolicamente saiu de pessoas convocadas
em grande parte através desse aplicativo. Eu ri as primeiras vezes que ouvi.
Debochei, na verdade, e me peguei subestimando a novidade. Não é de uma palavra
de ordem sofisticada que precisamos, precisamos de berros gritados que façam os
que estão à margem entender e se motivarem a virem pra avenida da luta. Independente de
qual processo vai desencadear a partir daqui, a lição que aprendi na última
noite foi que não é de pessoas num pedestal do conhecimento que precisamos, nem
de vanguardistas pretensiosos. Precisamos do povo ao nosso lado, com
todas as contradições lindas ou não que isso traga. “E precisamos todos
rejuvenescer”.<o:p></o:p></div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4178325454549171011.post-55048311403328174532013-03-18T20:22:00.000-03:002013-03-18T21:04:15.745-03:00O Canalha - Caça 9<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-72WPrAcbyfY/UUegUPZKo9I/AAAAAAAAAr0/lgNbWMhoh3I/s1600/O_Canalha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="393" src="http://2.bp.blogspot.com/-72WPrAcbyfY/UUegUPZKo9I/AAAAAAAAAr0/lgNbWMhoh3I/s400/O_Canalha.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Era uma festa normal. Com risos
fáceis e nem sempre honestos; porres chatos se achando muito simpáticos; pessoas
falsas, porém amáveis e olhares de todo tipo, alguns curiosos, outros
ligeiramente pidões e um ou outro explicitamente tarado. O Canalha estava
cercado por rapazes e moças. Gente charmosa. Gente formada. Gente bonita. Bando
de gene chata, na verdade, que parecia ter saído da mesma forma, daquelas que
ainda se escreve com circunflexo. Não que o nosso anti-herói não tenha tesão
por mulher bonita, é que ele tinha enorme dificuldade para se relacionar com
gente que não era muita coisa além disso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Eis que ela chegou. Não era feia, mas
era uma de beleza difícil, que não pairava na superfície, e sim nas profundezas
de tudo aquilo a transbordar dela naturalmente. Ficava a maior parte do tempo
escondendo o sorriso, de repente porque tinha um dos dentes um tanto envergado
para trás. Tinha os ombros meio fechados, de quem aparentemente passou parte da
vida querendo esconder os seios fartos que ela cobria bem demais, pro gosto do
Canalha, com uma blusa sem qualquer decote; mas mesmo assim era volume demais
para passar despercebido. Ela devia ser afim de um dos caras ali, o mesmo que
fez uma enorme careta para o lado quando a percebeu vindo em direção ao grupo.
Aparentemente ele a convidou por convidar, como convidara um monte de gente do
trabalho dele. E ela, como meio que estava sem programa e sem vontade de ficar
em casa mesmo, foi.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">De repente ela começou a discordar
deles, falar sobre outras bandas menos modinhas e comentar sobre a profundidade
de terminologias e a relação disso com as ideologias. No início, todos meio que
tentaram embarcar na onda, até que ela sobrou nos argumentos, e aí ninguém mais
quis mentir pra si mesmo que queria sair da comodidade da superfície e cansaram
de tentar ser simpáticos com a “esquisitinha” e foram saindo um por um.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Antes que a moça terminasse sozinha
na mesa, ela ouviu um determinado “discordo” do Canalha. A partir daí, ela
argumentava, e ele contra-argumentava. Ela citava uma fonte, ele associava com
uma letra de música argentina, angolana ou algo assim. Ela se surpreendia com o
conhecimento dele, ele ficava cada vez mais excitado com a inteligência rebelde
dela. Quando a conversa engrenou, a cada fala que ela fazia ele se perguntava
se ela não faria finalmente a pergunta-chave. Conversaram mais. Muito mais. A
essa altura já estavam a sós na mesa enquanto os outros dançavam ou interagiam
com outras turmas. E a pergunta não vinha. Ele não poderia fazer indireta nem
fazer a pergunta primeiro. Tinha que partir dela.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Enquanto a pergunta não vinha, o
tesão dele só aumentava. “Será que ela não está mesmo se interessando? Será que
ela está mesmo apaixonada por aquele cara?”, eram alguns dos questionamentos
que invadiam a mente já alcoolizada do Canalha. A pergunta que ele tanto
esperava era simples: “Você tem namorada?”. Quando essa pergunta surge em meio
a uma conversa interessante entre pessoas que estão se conhecendo, sobretudo
quando há charme despejado de alguma parte, quase sempre significa que algum
interesse já surge da outra parte.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas a pergunta não vinha. Até que o
Canalha parou de achar que ela viria, porque a conversa fluía muito bem. Então
ela elogiou um verso que ele recitou. “De quem é esse poema?”, perguntou a
moça. “Ah, é só uma bobagem que eu escrevi um dia desses”, respondeu, sem falsa
modéstia. “Gostei muito”, disse ela, invadindo os olhos dele com os dela. Ele
soltou um sorriso tímido, desviou o olhar, demonstrando certa fragilidade.
“Você tem namorada?”, perguntou ela, inclinando a cabeça pra ver se recuperava
aquele olhar que a pouco dominara.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ele retribuiu o olhar. Não respondeu
nada. Chamou-a para mais perto de si, a abraçou forte, deslizou as mãos sobre
as costas dela, colocou os braços dela em volta do pescoço dele, e passeou mais
com as mãos, chegando ora perto dos seios e ora perto do bumbum. “Não vai
responder?”, perguntou de novo. Ele a puxou mais contra ele e pediu ao ouvido
dela para ela repetir a pergunta. Ela repetiu. Ele começou a beijar o rosto
dela, encostou os lábios carnudos dele o máximo que pode na bochecha macia dela
e vagarosamente foi beijando até a boca. Ela comentou que ele tinha jeito
estranho de responder as perguntas. Os dois riram. “Estou tão afim de você, que
mesmo que eu fosse o Papa eu diria que estou livre, por isso minha resposta é o
que menos importa nesse instante”, provocou. Ela tentou dizer que não ficava
com homem comprometido, mas antes que ela começasse a língua dela estava o
máximo possível dentro da boca dele, sugada, lambida... gostosamente chupada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222; font-size: 12pt;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ela demorou alguns segundos para
perceber que estava andando para trás enquanto era beijada de forma alucinada. Aí
percebeu que estava sendo levada ao banheiro. Tentou dizer que estava tudo indo
rápido demais, mas já tinha percebido que era tarde pra isso, porque ela já
estava ajudando ele a desabotoar a calça enquanto ele tirava o cinto. Ela
queria muito fazer sexo oral nele, mas a vontade dele de descortinar aquele
espetáculo no tórax dela era mais desesperado. Ela normalmente gostava de ser
beijada ali com carinho, porque doía gestos mais vorazes do parceiro naquela
região. Pensava nisso enquanto ele a chupava com força, mordia e apertava bem o
outro seio. Ainda doía, mas era muito gostoso ao mesmo tempo. “Acha mesmo que
vai me convencer a fazer isso?”, questionou a moça. “Quer argumento melhor do
que esse?”, provocou o Canalha, enquanto o dedo dele a invadia vagarosamente. “Posso
ao menos dizer pra você continuar, só pra não ficar por baixo?”, perguntou ela,
meio rindo, meio gemendo. Depois disso, ouvia-se apenas alguns grunhidos e
gemidos abafados vindo de algum lugar entre uma privada tampada e uma porta
trancada de um toalete movimentado.</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
___________<br />
Post dedicado à <a href="http://mirella-miamore.blogspot.com.br/" target="_blank">Mirella de oliveira</a> (que não é a moça da história)</div>
Eraldo Paulinohttp://www.blogger.com/profile/03906867310352232620noreply@blogger.com3