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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Conjuntura da Guerra

Antes:

  • Negros são trazidos pra trabalharem como animais para os brancos.
  • A princesa liberta os negros.
  • A princesa não torna os negros livres.
  • Os negros vão para os morros.
  • Todo mundo que não tem casa vai para os morros.
  • Os negros que não tem trabalho começam a roubar.
  • Os negros e favelados descobrem que traficar aos branquinhos lá de baixo dá muito mais grana que só ficar roubando merreca deles.
  • A polícia percebe que ajudar os traficantes é muito mais lucrativo que correr o risco de prendê-los.
  • Quanto mais os traficantes conseguem poder, mais há lucratividade para o mercado alternativo da lei.
  • A cidade ganha a oportunidade de sediar importantes eventos.

Agora:


  • Depois que a coisa fica demais, a polícia e as forças armadas entram lá pra tirar os brinquedos que eles próprios deram aos traficantes. Querem arrumar a casa para as olimpíadas e pra copa, e para os tantos eventos internacionais que se aproximam. Jamais uma ação policial ganhou tanto apoio local e nacional como o de então.
  • Após tantas vidas perdidas graças ao estado não ter agido assim a anos, o complexo do alemão, o maior conjunto de favelas à mercê dos traficantes assim como a vila Cruzeiro estão tomados pelo  estado.

Depois:


  • Se o estado tiver entrado lá primeiro pensando em libertar o povo (na sua ampla maioria) honesto e trabalhador que mora no morro e depois pensando nos branquinhos lá de baixo e de outros continentes, se o estado apurar, prender e condenar todos os servidores públicos que historicamente colaboraram para que a coisa ficasse como ficou (incluindo policiais e autoridades do alto escalão do estado), se as políticas públicas forem mais contundentes (pra não dizer eficientes) do que até agora as bases da polícia pacificadora instauraram nos morros ocupados, e se o sistema penitenciário for completamente reformado para deixar de escritório gradeado para bandidos e ser faculdade do ódio para os bandidos que voltarão (caso não morram antes) a conviver conosco eu juro que ficarei feliz de verdade.
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Imagem: Wilton Junior A/E.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

No Ramal - Parte 1 de 3

A vontade de chegar logo quase cegou os olhos do casal para a estonteante vista da baía do Guajará e o belo por do sol que havia como decoração. Cruzaram numa embarcação diferente, apelidada pelos moradores de Belém de "pô-pô-pô" devido o barulho típico do motor. No início da viagem, inclusive, entenderam logo o porquê do apelido, mas só notaram mesmo o quão barulhenta foi a viagem quando o motor foi desligado, tamanho o alívio para os tímpanos. Após desembarcarem, um ônibus os aguardava próximo ao porto com destino a uma pequena comunidade ribeirinha que despertava o interesse dos dois pelo fato de lá não haver energia elétrica, televisão, e/ou apetrechos "urbanizantes" do tipo. E para quem veio de Porto Alegre passar as férias na Amazônia pelo exotismo, aquele programa os excitava e muito.

Desceram num ramal*, só os dois. Já estava quase na hora das 18 quando sentiram um estranho frio no espinhaço. Um olhou para o outro, e sem falar nada continuaram. 18h em ponto o relógio dele apitou. A hora do remédio teria de esperar um pouco até chegarem ao alojamento. Pelo caminho, só mata os acompanhava de ambos os lados. Durante a andança reparavam que as árvores maiores ficavam  mais ao extremo nos flancos enquanto uma vegetação densa, fechada e aparentemente homogênea faziam uma espécie de muro verde para caminhos brancos encardidos e paralelos, entrepostos por uma espécie de pentelho verde demarcando nitidamente um caminho forjado por pneus. Ela, decoradora, se encantou por um tronco à beira do caminho, pois poderia servir de encantadora mobília para uma casa naquela região equatorial. Depois de andarem bastante, ele resolveu ver quanto tempo já haviam caminhado. Para a surpresa dele, ainda eram 18h. E, mesmo sabendo que o celular estava sem rede, resolveu confirmar a hora. Para o espanto dele, também eram 18h ainda. Ela também olha a hora no celular: 18:00. Frio na barriga. Nas duas.

Uma angústia começou a sambar no peito dos dois. Agudo. Um grito. Uma árvore. Uma possível mobília. A mesma árvore por onde haviam passado estava novamente diante deles. O que era virtualmente impossível até mesmo porque eles estavam caminhando a quase meia hora numa linha reta. Era improvável terem voltado. Eles, desesperados, sem combinar nada um com o outro resolveram correr. E correram. E correram. Correram por um caminho melancolicamente familiar, e novamente chegaram à mesma árvore. Ela começou a gritar. Ele, psicanalista mais ou menos experiente, teve vontade de bater na cara dela mas preferiu pedir calma. Ele precisava pensar. Ela precisava gritar.

Nesse momento, ele lembrou do que o amigo paraense havia falado a respeito dos ramais daquela região. "Como vocês são sulistas é melhor virem no barco das 16h, porque assim vocês caminharão no fim da tarde e não tostarão. Só tomem cuidado pra não entrarem depois das 18h, porque a mata se fecha", recomendou o amigo em tom de brincadeira, avisando ainda que depois das seis da tarde os guias da mata não gostam de visitas sem autorização. Naquele caminho fechado e transbordando de desespero, ele parou, e quando ela chorando gritava para ele falar alguma coisa o gaúcho notou um assobio agudo de uma ave e cada vez mais crescente. "Puta que pariu, agora todas as lendas da Amazônia resolveram sair dos livros didáticos?", pensou ele. Na mata (fechada), o choro, o desespero e a agora a Matinta Perera.

Continua na próxima sexta-feira.
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* Ramais são caminhos quilométricos que ligam pequenas comunidades, ribeirinhas ou não, a estradas viscinais.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Final Vagabundo

"Vamos começar colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal de que tudo na vida tem fim"
(Paulinho Moska)

Acabou. O quê? Não sei, só sei que acabou. Se o fim é o começo de outro ciclo ou se o recomeço é o primeiro passo para outro fim eu não sei, só sei que acabou. Se a fênix ou Jesus Cristo renascem do que acabou eu não sei, no entanto, acabou. O que acabou eu não sei dizer, entretanto, acabou. Se as plantas alimentam-se do que aparentemente estaria morto, se o fim de uma transa as vezes é o início de uma vida, se o nascer é o primeiro dia da contagem regressiva até a morte eu não sei, porém, acabou. Se o fim de um relacionamento as vezes dá início a outro, ou se o fim de um relacionamento se dá justamente pelo início torto de outro, eu não sei, todavia, acabou. O que é o fim? Eu não sei. O que é o começo? Eu não sei. Só sei que não existe mais, definiu-se, escafedeu-se, morreu, se fodeu, selou, findou, esgotou, fechou, encerrou,  levou o farelo, deu tchau, adeus, até mais, até, bye bye. Acabou o que começou ou acabou de começar? Eu não sei, não obstante, acabou. Se acabar pode ser simplesmente acabar eu não sei, mas acabou. E eu ainda queria começar...










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Imagens: Grupo de Comunicação. & Google.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Canalha - Caça 4

Certa vez, por completa ausência de coisa melhor pra fazer, o caçador acabou transando com uma dessas mulheres sexualmente descoladas, do tipo que dá quando e pra quem quiser sem se importar com qualquer crítica ou avaliação machistas. No meio da transa, que já durava mais de duas horas, ele percebeu que a respiração dela, assim como o gemido indiscreto não oscilavam. "Essa porra ainda não gozou?". Até que ele não aguentou mais e perguntou se ela ia ficar lá a noite toda e não ia gozar. Para o espanto dele, ela revelou nunca ter gozado na vida. "Nem com teu namorado que te come há 3 anos?", perguntou ele. Ela balançou a cabeça negativamente. Nesse momento, se o pênis dele gemesse quando broxasse, provavelmente dessa vez ele gritaria. "Lembrei que tenho que ir lá no trampo urgentemente", disfarçou ele, e saiu correndo dali.

"Como pode uma mulher, que não é reprimida, que é jovem, que transa tão bem assim ainda não ter gozado?", divagava ele quase toda hora a partir daquele dia. Então decidiu: ela gozaria no pau dele.

Ele passou a encontrá-la quase diariamente. E ele tentava de tudo. Sexo anal, a mão, a boca, os tapas, os cintos, o gelo, o iogurte, a banana quente (ele sempre agradecia ao Cidade de Deus pela ideia), a ajuda de um outro amigo, a ajuda de uma outra amiga, quase todas as posições do camassutra, transar em locais públicos, transar com uma galera, etc. E além de nenhuma funcionar, quando ele mostrava a "ação do dia" ela sempre comentava algo do tipo "eu sempre amei fazer isso".E como nenhuma doidice certo, ele resolveu fazer alguma coisa mais normal.

Na manhã de domingo, chegaram flores a ela junto com um lindo café da manhã. Ele sabia que ela não era chegada a flores mas adorava comer. Por isso mandar flores com o café garantiriam que ela preferisse comer a quebrar galhos de flores. A tarde, ele telefona e a convida pra sair. Ela quer saber em qual motel é e ele só pede para ela vestir algo fino. Ele a apanha na porta da casa, e ela entra num local aberto, cheio de gente, e fica a imaginar qual tipo de presepada erótica ele estaria inventando. Pra surpresa dela, eles sentaram numa mesa perto de um palco intimista e ouviram boa música a noite toda. Antes da última música, o Canalha foi até o palco e declarou-se apaixonado por ela. Ela levou na brincadeira, e não acreditou até ele lagrimar.

Aquilo ficou martelando na cabeça dela. "Esse filho da puta pensa que eu sou otária! Vê se pode um negócio desses. Que absurdo!". Ela não consegue dormir por dois dias, até ir ao encontro dele. Durante a conversa, ele não dizia nada. Até ela explodir. "Fala alguma coisa, caralho!", esbravejou ela batendo nele. Ele parou, a encarou e pediu um abraço. Ela, completamente desnorteada, o abraçou. Ao ouvido dela, ele começou a sussurrar declarações. "Não é só porque você é moderna que não possa amar como antigamente". Ela o sentiu duro, mas as mãos deles foram suaves. Transaram, mas dessa vez foi diferente. Ele não a tratou de maneira estranha. Depois de terminarem ficaram conversando um papo adorável enquanto ela ganhava colo. Na segunda, ele percebeu que o olhar dela estava diferente. Ponto pra ele. Depois, antes de a penetrar, ele olhou bem nos olhos dela e disse que jamais se sentiu tão bem com alguém como ali.

Ela estava acostumada a ouvir isso dos romantiquinhos comumente apaixonados por ela. Mas de alguém como o canalha, havia uma veracidade irresistível. Aquele corpo, aquele rebolado em cima dela, aquele olhar profundo e ardente, tudo fez com que ela fosse subindo pra um lugar que ela nunca chegou. Ele ficou embaixo. Ela começou a se mexer. Mexia estranhamente sobre ele, procurando apenas pressionar o clitóris. "Me bate um pouco, vai", pediu. Ele começou a ficar nervoso, com medo de fazer alguma coisa errada. Mas resolveu simplesmente continuar. "Eu te amo! Eu te amo", falava enquanto ela fazia uma expressão facial diferente.

A respiração aumentou. O gemido era diferente. A diferença? Só o Canalha pode explicar. Ela gozou. Várias vezes naquela noite, inclusive. O Canalha, que pela primeira vez teve de cuidar de alguém de verdade, chegou a achar que poderia estar mesmo apaixonado por ela. Estava? Ele não sabe. Mas depois disso ela deixou o namorado e só transava com ele, e ele retribuiu a mesma fidelidade embora não tenham combinado nada.
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Ganhei este presente da minha amiga Sol Barreto, do blog Caminhos e Descaminhos. Um blog leve e empolgante.

O premio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e o reconhecimento por um trabalho que agregue calor à web.

É um selo trocado entre blogs amigos. Eis as regras:
- Exibir a imagem do Selo no blog.
- Exibir o link do blog que o indicou.
- Presentear 10, 15 ou 30 blogs e avisá-los.

Portanto, estão aqui os blogs que indico:

De tudo fica um pouco
Batom e Poesias
Eduardo da Amazônia
Crônicas do Cotidiano
Com a Palavra
Arte para subsistência
Rasuras
Meu Reino
Meus Devaneios
Sussurros Íntimos

domingo, 7 de novembro de 2010

Sobre o Tropa de Elite 2

“Como pode a gente ter uma polícia cujo o símbolo é uma caveira? 
Ter uma polícia cujo o símbolo é a morte?”
Frase do "Cara dos direitos humanos"

Eu lembro que vi o primeiro filme numa daquelas cópias piratas que vazaram antes mesmo de ser lançado nos cinemas. Em resumo, o que comentei sobre a película na época foi que apesar de ser uma porcaria policial com violência gratuita, pelo menos era uma porcaria bem melhor que as porcarias holywoodianas. Tropa de Elite apresentava um formidável anti-herói, o Capitão Nascimento, fazendo exatamente tudo aquilo que a elite gostaria de (ver) fazer com a ralé da sociedade: cuspindo, torturando, matando, executando, humilhando, etc. Mas ganhava dos filmes policiais tradicionais (segundo os padrões estadunidenses) porque ao mesmo tempo que saciava a sede de sangue do povo, também fazia uma certa reflexão social a respeito da violência. Inclusive, apontando o dedo rude na cara dos próprios filhos branquinhos da sociedade. 

Mas em última análise, não gostei do primeiro, porque apesar da qualidade inegável do filme, ao fim, parecia que todos os problemas do mundo seriam resolvidos pelo BOPE. Aliás, nunca na história do cinema mundial vi um filme se pendurar tanto nos colhões de um batalhão especial como aquele. O filme parecia ter sido encomendado pela PM, sinceramente. Com essa impressão eu fui com meu amigo ver o segundo. Compramos exatamente os últimos ingressos da última seção para ver o filme.

No início, o principal algoz de Nascimento é exatamente um defensor dos direitos humanos. A platéia lotada, óbvio, ficou incondicionalmente ao lado de seu herói, o agora Coronel Nascimento, quase de forma passional, ainda que o roteiro muito bem escrito dispusesse o militante fazendo uma reflexão serena e madura a respeito da violência policial. Parecia que a própria platéia estava afim de pegar uma daqueles fuzis do BOPE e sair atirando em pretos favelados toda vez que Nascimento criticava o "cara dos direitos humanos". Mas, no decorrer do filme, experimentei uma das melhores sensações da minha vida, pois, na medida em que a trama ia se desenrolando, Nascimento ia desconstruindo a sua própria tese e vendo que o inimigo era outro: o sistema. E o público outrora xingando os direitos humanos, descobriu ao lado do herói todos os alicerces da carnificina em nome da lei perpetrada pela polícia e pelo próprio BOPE ruírem sob a sujeira do sistema.

Me lembrou a história que nunca confirmei ser verdadeira utilizada por um pai para convencer o filho a deixar de usar drogas. O coroa começou a se drogar junto com o filho. O filho então, percebendo que o pai estava mal por sua sua causa, resolveu de desintoxicar junto. Foi exatamente essa a sensação. E já que a história era uma ficção, eu saí da sala de cinema pensando se talvez o diretor José Padilha arquitetou isso desde o primeiro filme. Pensem comigo: o filme vaza, e estoura, trazendo todos os elementos que certamente o povo adoraria, como violência desmedida, um personagem bonitão e carismático etc. Depois, o próprio diretor lança um outro filme corajosamente "desdizendo" tudo dito no primeiro sem deixar a peteca (do carisma de Nascimento) cair. Uma forma perfeita de fazer o povo refletir dando exatamente aquilo que o povo quer e depois fazendo o próprio povo ver o que nem sabia se poderia.

O Coronel Nascimento não subiu só de patente do primeiro para o segundo. Mas, levando milhões de espectadores consigo, percebeu que somente a inteligência dos incomodados superará aquilo que causa a maioria dos males de nossa gente: a inteligência dos ímpios. Se ao fim do primeiro filme temos vontade de sair atirando, ao fim do segundo, saímos cometendo a heresia contemporânea de refletir sobre a vida. E quem disse que o maniqueísmo não pode ter fins pedagógicos? Eu por exemplo, antes já cogitava, agora decidi que vou fazer meu TCC sobre a influência da mídia sobre a violência nas periferias - outro elemento muito bem apresentado no filme.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sabe...? Devaneio 5

Sabe quando você olha pra dentro de si e vê um monte de nada? Sabe quando você começa a achar que se a voz do povo é a voz de Deus, então o Todo-Poderoso só pode ser muito burro? Sabe quando você caminha em direção alguma achando que está no rumo certo? Sabe quando as lágrimas caem naturalmente? Sabe quando você ama e é amado mas não está vivendo esse amor por nenhum motivo que preste? Sabe quando você simplesmente só sente vontade de gritar? Sabe quando você sabe que tudo isso vai passar, mas isso não te impede de neurar? Não?! Mas afinal quem não vive um dia após o outro? Pois é...

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Imagem: Google.