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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Aborto e o maniqueísmo

Hoje o "Eraldo e suas paulinisses" completa exatamente um ano. Como presente, apresento o texto mais difícil que já escrevi em todo esse ano. Ensaiei escrever sobre isso mais de dez vezes, mas jamais consegui, pois eu poderia não estar aqui hoje, já cogitaram me abortar, e, além disso, sei que toco aqui em assuntos que sensibilizam a todos: Criança e Mãe. Tentando "sentir com inteligência e pensar com emoção" (Letra de Gessinger) escrevi o presente... Vamos ao debate:



Sou católico, mas também faço parte de um grupo de religiosos que defendem o diálogo inter-religioso, e fazer um diálogo com pessoas diferentes só é possível se a pessoa, munido de plena convicção em relação a sua fé, tem a civilidade de entender que a outra pessoa tem o direito de não ter a mesma fé. Mais do que isso, tanto os princípios do religioso como de qualquer ateu, devem estar voltados para a justiça e à valorização da vida e do bem estar de todos/as se quiserem seguir a trilha do bom senso, e para isto, inexoravelmente, cada um e cada uma deve estar pronto/a para abrir mão de algo pelo bem de todos, ou seja, por aquilo que é mais justo.

Falei tudo isso até agora para dizer que, mesmo sendo católico, sou contra a aprovação do estatuto do nascituro em tramitação da Câmara do Deputados. O estatuto, se aprovado, cometeria uma grande injustiça contra as mulheres e contra o princípio da laicidade do Estado brasileiro. O estatuto visa proteger os não nascidos desde a sua concepção, e com isso, mulheres vítimas de estupro e/ou correndo risco de morte por conta da gravidez estariam proibidas de interromper a gestação, sem falar no uso da pílula do dia seguinte que também seria considerado crime.

Segundo prevê o estatuto, para as mulheres estupradas, o estuprador deverá pagar uma espécie de "bolsa estupro", ou seja, uma pensão alimentícia para a criança até que ela complete 18 anos, ou caso o mesmo seja desconhecido ou encontre-se preso, o estado assumirá o ônus, assim como mães de filhos anecéfalos (crianças sem cérebro), deverão levar gestação até o fim, mesmo sabendo-se que a criança certamente morrerá horas depois de nascida. Criar uma relação absurda da mãe com o estuprador e submeter mulheres a passarem por uma experiência de gravidez que não desejam seria realmente necessário, se considerarmos que a vida humana começa indubitavelmente a partir da concepção, no entanto, essa é uma tese defendida por alguns cientistas e é sustentada por (grande parte dos) cristãos, mas, absolutamente, não é um consenso nem na esfera científica e muito menos entre as demais pessoas - até mesmo a Igreja Católica já teve um posicionamento diferente desse há séculos atrás.

Entre os brasileiros, por exemplo, a tese mais aceita a respeito do que seja de fato a vida humana reside no pleno funcionamento do sistema nervoso - especialmente do cérebro. Baseados nesse princípio, não achamos uma crueldade a doação de órgãos. Hora, compreende-se como morte cerebral a morte do ser humano em si, ainda que os outros órgãos do corpo ainda funcionem. Por isso, há quem defenda que da mesma forma como não é crime retirar órgãos de pessoas com morte cerebral, não é crime interromper a gravidez antes do sistema nervoso do feto estar plenamente formado. E esta é somente uma das teses a respeito de quando inicia a vida. Quem vai dizer o que é certo? Nesse caso, o único argumento incontestável é que não há argumento incontestável. Apesar dos argumentos contra o aborto (com certa razão) valerem-se de artifícios que mecham mais com a sensibilidade, a Igreja e os contra o aborto cometem o grave erro de satanizar quem é pró-aborto, e quem é a favor, costuma subestimar a inteligência de quem é contra. Sei que provavelmente estes grupos divergentes jamais chegarão a um acordo, mas sem dúvida esta visão maniqueísta de parte a parte não é a saída para mal algum.

Quem pode atirar a primeira pedra em uma mulher que não quer ter o filho do cara que a estuprou? Quem pode atirar a primeira pedra na mulher que não quer morrer antes mesmo do parto? Quem pode atirar a primeira pedra na mulher que, se errou em transar sem camisinha errou em dupla, mas sozinha terá que arcar com as consequências? Quem pode atirar a primeira pedra em quem entende diferente a origem da vida? O aborto, para as mulheres normais, é por si só uma experiência traumática e/ou perigosa. É evidente que as mulheres sempre evitarão passar por isso. Rotular a mulher que interrompe a gravidez de assassina é uma possibilidade, sim. Pode ser considerado abominável, sim. Mas também pode não ser. Entender isso poderia fazer com que as igrejas e os contra aborto fizessem campanhas educativas para as suas, ao invés de ficar criminalizando e oprimindo as mulheres que não estão ao seu lado nisso. Afinal, segundo os preceitos cristãos, não se combate mal com mal. Maltratar a mulher que aborta não trará o feto de volta, ao contrário, a misericórdia é a maior arma para desarmar qualquer mal que se acredite haver.

A descriminalização poderia favorecer, sim, àquelas mulheres sem escrúpulos que poderiam sair transando sem camisinha indiscriminadamente sabendo que o aborto estaria garantido caso engravidasse, ainda que transar sem camisinha e o próprio procedimento possam acarretar consequências irreversíveis para a sua vida, mas, não é salutar pensar nos insanos quando estamos decidindo uma lei. Seria como condenar o Bolsa Família só porque há pessoas que recebem e não precisam, ou porque há gente que sai por aí fazendo filho pra ganhar mais dinheiro. Que o programa se acabe ou modifique-se por outros motivos, mas não por estes, porque sabemos que a maioria dos que recebem precisam, e seria injusto acabar com um programa porque alguns fazem mal uso deste, pois a melhor saída para isto é melhorar o monitoramento ou tornar o programa menos eleitoreiro. Da mesma forma, seria absurdo a liberação do aborto ou de qualquer procedimento envolvendo a saúde pública sem os devidos mecanismos de controle e sua consequente fiscalização.

A criminlização do aborto é uma questão de saúde pública. Sabe-se que em todo Brasil milhares de clínicas fazem esse tipo de cirurgia sem qualquer regulamentação. Pelo menos 1 milhão de mulheres praticam aborto por ano, e cerca de 400 mil acabam com sequelas irreversíveis ou morrendo no processo. Quem pode pagar, faz um procedimento seguro. Quem não pode (a maioria), se submete à mão de açougueiros e pílulas ilegais. O estado deveria garantir o direito de ser, pensar, e agir diferente, desde que isto não fira a Constituição, como fere o ato de instituir leis baseados em fundamentos religiosos desobedecendo o princípio do livre pensar e da livre profissão de fé de um estado laico. Qualquer lei (somente) deve estar de acordo com a Constituição, que é um primoroso fruto da construção coletiva de diferentes grupos da sociedade, inclusive das Comunidades Eclesiais de Base.

Os cristãos, especialmente, têm todo direito de ser apreensivos quanto ao pluralismo no qual se envolve a cada dia a sociedade atual. No entanto, o pluralismo já está assegurado na Constituição. E, se para as algumas religiões é importante evitar o pluralismo que fragmente seu código moral ou seus princípios, para a salada mista que é o Brasil seria desastroso atender a somente um desses grupos. Por isso, sou a favor da permanência da lei a respeito do aborto como ela está, e, caso a prática seja liberada, que garanta-se a livre manifestação dos contrários e as devidas regras para garantir o direito pleno e sagrado da mulher decidir.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Postagens Retrô - 4

Esse eu tenho certeza que a maioria ainda não leu! (viu, Tânia?! rsrs) Eu o publiquei quando tinha só 3 seguidores. É um texto doce e sensível - editado.

PALAVRÃO É O CARALHO

Alguém já pronunciou "Puta que Pariu" num momento de raiva? Não? Então Experimentem. É uma verdadeira terapia pronunciar essas palavras dando ênfase nas sílabas "PU" e "PA"; garanto que é algo verdadeiramente terapêutico. Acho cafona a visão que muitos/as tem hoje em dia dos palavrões, como se fosse algo pervertido, digno de tapinhas na boca, mesmo em pleno século XXI.

Ano passado, em São Paulo e na Bahia, livros didáticos foram "flagrados" contendo palavrões em tirinhas ilustrativas. Aí pronto, toda a sociedade moralista se viu revoltada com isso. Até penso que pais e educadores devem ter pensado "puta que pariu! quem foi esse filho da puta que deu essa mancada?!", mas é inconcebível seus filhos e filhas dizerem o que todo mundo diz, nem que seja em pensamentos. E até parece que os palavrões contidos nas tirinhas seriam alienígenas para as crianças. Sei que há pessoas que não chamam palavrão, mas não há pessoa com mais de 6 anos que não conheça um vasto repertório de palavrões.

Os palavrões carregam discriminação tamanha consigo devido a sua origem quase sempre associada a sexualidade, e nós, cidadões e cidadãs do século XXI, ainda não nos sentimos a vontade com temas envolvendo foda e seus adereços. Mas acontece que na grande maioria das vezes os palavrões são usados como interjeição, e nesses casos, as pessoas usam para expressar com mais vigor seus sentimentos, e nem o dizem pelo sentido literal da palavra. por isso, para mim, é inconcebível tamanha espécie causada por essas palavras mágicas. Na verdade, é um paradoxo que justamente a caretisse das pessoas dêem o devido gosto aos palavrões. Tenho certeza que se fosse permitido, chamar alguém de "culhão" não seria tão bacana.

Eu acho lindo crianças e mulheres chamando palavrão. Não porque eu de fato veja muita graça nisso, mas toda vez que eu vejo mulheres e crianças chamando palavrão, eu penso que um pouco da hipocrisia do mundo está caindo. Afinal de contas o que é foda, no sentido literal do palavrão? É sexo, é fazer amor; o que tem de demoníaco nesse prazer que Deus deu às pessoas? O que são caralho e buceta? São órgãos genitais que as pessoas convivem diariamente, seja com os seus próprios, seja com o dos outros; de uma forma tão natural como convivem com braços e pernas, então por que condenar uma criança que chama caralho ou buceta? O que é puta que pariu? é uma profissional do sexo que deu a luz a uma criança; como é que isso pode ser visto como algo feio por alguém? Ou seja, mesmo os palavrões em sentido literal não têm nada demais.

Até entendo palavrão como indelicado em alguns casos, porque devemos respeitar a cabeça dos outros. E como não sou "dependente químico" de palavrão, eu aceito não chamá-lo em certos ambientes para não causar desconfortos gratuitos, mas quando alguém usa o discurso de que isso é pecado ou falta de educação, eu me pergunto sobre o que é pior para a sociedade, as pessoas encararem sua sexualidade com maior serenidade e maturidade ou manter essa manta hipócrita sobre temas envolvendo sexo como se foder não fosse uma coisa do caralho, e como se estar afinado com sua sexualidade não fosse essencial para o bem viver de todos/as.

Se não gostaram, podem mandar eu tomar no cu ou ir pra casa do caralho...

PS: Não admitam que "Cu"seja considerado palavrão... pois tem só duas míseras letras!
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Imagem extraída do blog Correio de Notícias, no qual encontrei um debate na linha desse texto que escrevi, demonstrando que o que falo sobre palavrão e relaxamento está comprovado cientificamente (viu? Num disse?!). Vale a pena ler.

domingo, 13 de junho de 2010

Sobre o título deste blog...


Neste mês de aniversário desta casa, partilho com vocês...

Meu nome de batismo é Eraldo Paulino Rodrgues Junior. Mas jamais fui chamado de Eraldo Paulino por ninguém. As pessoas me chamam ou de Eraldo ou de Agô (isso mesmo). Por isso, quando eu assinava algum texto, sempre usava Eraldo Rodrigues ou Eraldo Junior. Pra mim, o nome "Paulino" sempre foi uma espécie de inquilino do limbo, uma inutilidade que escrevia quando me era exigido o nome completo. Não conseguia me ver como Paulino. Sempre preferi, até mesmo, ser chamado de Agô a Eraldo, nome pelo qual todo mundo de casa e da rua me chama. Porque Agô remete a uma originalidade que busco quase que patologicamente, ou seja, não conheço ninguém que se chame Agô; portanto Agô sou eu e pronto.

Recebi esse apelido de minha irmã, que ao tentar me chamar de "Eraldôôô!" quando éramos crianças, me chamava de "Agôôô!", devido a dixão ainda em desenvolvimento. Inclusive, entre meus irmãos e eu, todo mundo se apegou aos "desusos" de dixão. Assim, Mike é "Back", e Naiá é "Iaiá" e Eraldo é "Agô" ( o único que exige explicação mais detalhada).

"Eraldo e suas paulinisses" possui a subjetividade que não se explica pelo mesmo motivo que ninguém me explica porque se fecha os olhos durante o beijo. Se pudesse, eu daria um jeito de incluir "Agô" no título, mas sei que esse é um espaço feito pelo paulino que há no Agô, e pelo Agô que há no Eraldo. Pela riqueza da peculiaridade que só em mim há, assim como todo mundo faz a sua própria careta ao chupar limão.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Postagens Retrô - 3

Nesta postagem, trago um dos poucos textos românticos que já postei. Só depois de iniciar minha peregrinação para ajustar as marcações fui perceber isso. Então trago a vós o texto que mais gostei de ter escrito neste estilo. Na próxima postagem, deixarei minha moleza de lado e postarei algo inédito.

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TWITTANDO

06h00m -
Acordo esfregando os olhos... acenderam a luz... pelas minhas mãos cerradas o sonho que tive com você se esvai.. como água
07h14m - Caminhando para o trabalho, sinto seu cheiro. Olho pra trás... não era você... não era ninguém.
08h46m - Estou trabalhando. Sinto seus lábios nos meus... sua língua está em minha boca... NÃO ESTÁ? Não está...
09h12m - No intervalo pro café. Estou sorrindo... nos divertimos tanto naquele dia... - Você tá ficando maluco? - não (risos constrangidos); não é nada. Estou lembrando de uma coisa...
10h10m - Meu colega de trabalho fala a mesma palvra que você me disse após nosso último encontro... Minha calça fica apertada na região genitária... meu coração fica apertado na região da saudade... minha alma fica em frenesi na região do fogo ardente...
11h49m - estranho... reparo que não estava pensando em você
12h00m - Meu peito formiga qual d'uma golada desavisada de cachaça... é você?!... ... ... não. Claro que não é... nem poderia...
14h15m - Chego em casa finalmente. Estou com muito sono. Durmo. ... seria tão bom continuar o sonho que tive pela manhã
15h57m - Conseguimos finalmente encaixar nosso beijo... estamos num só ritmo... nossos corpos estão muito encostados... você pressiona seu quadril contra mim... friccionando... acendendo... um poste sai voando... minha mãe fala bom dia enquanto a beijo... um cachorro mia com a capa do Crypto... ... ... acordo! Suado!
16h00m - ...
17h44m - Levanto bastante apressado... ... ... dessa vez não sonhei com você... chato
18h12m - Vou pra faculdade. Um vazio preenche meu peito. A luz de seus olhos enubrecem minha vista... estou cabisbaixo tal qual um herói pedindo socorro, ou um palhaço pedindo alegria...
por que
você não está aqui?
19h27m - O professor entra na sala. Entra sorrindo. Começa a explicar sobre a noticiab(o amor que sinto por você é tão lindo. Me faz bem amar tão profundamente uma pessoa tão especial como você)ilidade...
20h34m - Trabalho complexo... concentração.
23h56m - Sinto falta de entrelaçar meus dedos em suas mãos em uma tarde quente de Belém... te chamar de safada enquando fazemos amor... ver as maçãs do seu rosto avermelharem quando digo que você é linda... falar com voz de criança que voxê é meu bebexinho... ouvir você cantar em meu ouvido "Eu preciso dizer que te amo/ Te ganhar ou perder por engano"... olharmos um nos olhos do outro e simplesmente dormir fitando o universo que aparentemente nos pertence...
23h57m - Queria que você existisse...

sábado, 5 de junho de 2010

Postagens Retrô - 2

Nesse mês de aniversário, apresento mais uma paulinisse, dessas que pipocam do Eu idiota do meu mosaico de eus de quando em vez. Vale ressaltar que nesta dei uma editada, pra tirar excessos de gordura. Lembrando que recebi um selo de um blogueiro Pai d'égua: Léo_Santos
PROVÉRBIOS DE MSN
Eu tenho a mania de inventar frases. A maioria destas abaixo, eu criei expontaneamentemente teclando com alguém no msn, e outras eu criei no banheiro, no ônibus, namorando, ou seja, elas pipocam naturalmente vez ou outra...
  • A falsidade é o apelido discriminado da simpatia.
  • Não existe roubo, o que existe nesse país é doação involuntária.
  • O que seria das piadas sem os estereótipos? O que seria dos estereótipos sem as piadas?
  • Na trilha dos desgraçados só há um refrão, um eterno refrão.
  • O não de mulher é um eufemismo irresistível.
  • Há uma semelhança incrível entre cu e coração romântico: não é qualquer um que consegue entrar direito.
  • Há dois tipos de pessoas que certamente jamais serão cornos: os desinformados e os teimosos.
  • Na Amazônia, nós vivemos as quatro estações num só dia de verão.
  • O demônio é parente não tão distante do papai Noel e do lobo-mal.
  • Se a igreja é o ópio do povo, os partidos são as heroínas dos militantes.
  • Antes das igrejas serem a indústria do dízimo, elas precisam ser fábricas de deuses.
  • Na falta de novas lendas para a Amazônia, inventaram a lenda do desenvolvimento sustentável.
  • A arte simplesmente é, e não tem culpa do pai ou da mãe que tem.
  • O meu tipo ideal de mulher é aquela que respira.
  • A verdade é uma mentira bem contada.
  • Ter fé é se perguntar várias vezes a mesma pergunta e entre tantas preferir sempre a mesma resposta

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Postagens Retrô

Mês de junho esta casa comemora aniversário. Faz quase um ano que comecei, não só a escrever num blog, como a ter contato com a blogsfera. No entanto, por diversos problemas, não consegui ainda imergir nem 1% do que posso (e a blogsfera permite) no oceano dos blogs. Comecei mesmo a fazer, ainda que timidamente, uma blogagem mais eficiente a partir de setembro do ano passado, por isso a maioria dos que me lêem hoje não tiveram contato com esses textos. Por isso, neste mês celebrativo trarei alguns desses posts e mais algumas informações a respeito das paulinisses, como o porquê do nome e a postagem que até hoje não tive coragem de fazer, tratando sobre o aborto. Guardando os agradecimentos e as formalidades para uma outra hora, deixo aqui o primeiro texto desse mês retrô...
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HOMOFOBIA É PECADO




A homofobia é uma vila cheia de vizinhos casados, em que aquela mulher fofoqueira consegue se achar melhor do que a “colega” do kit-net ao lado porque transa com seu marido sem fazer tanto barulho ou sem gemer descaradamente seu prazer. A homofobia é a forma com que uma porção de cabeças duras se baseiam no senso comum equivocado para externalizar suas debilidades humanas. A homofobia fere, destrói, e parte de covardes. A homofobia é cruel. A homofobia é nojenta. A homofobia é pecado.

O preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais e travestis, no ocidente, baseia-se numa concepção fundamentalista do cristianismo. A base dos cristãos-homofóbicos parte basicamente de algumas máximas típicas. Entretanto, se Deus disse “crescei e multiplica-vos”, e por isso é uma aberração haver um casal gay, então um casal formado por homem e mulher estéreis é também cruel? Se um casal transa sem objetivo de ter filho ele está cometendo pecado? Na bíblia, livros como o de Levítico e as Epístolas paulinas condenam a homossexualidade, mas o livro do Levítico também diz que mulher menstruada é impura e deve ser afastada da sociedade (Lv 15) e Paulo declara que mulher não pode se manifestar publicamente sem o consentimento do marido (I Cor 34 s). Portanto, o mesmo preconceito que possibilita essas proposições machistas, também provoca tais condenações homofóbicas. A base bíblica desses preconceituosos travestidos de cristãos é tão sólida quanto um pudim estragado, e, como diria Ruben Alves, para as pessoas de bem, toda lei deve ser submetida ao bom senso.

Outro argumento muito usado por homofóbicos é que a homossexualidade e a bissexualidade são uma mera escolha. Quem é que escolhe se achincalhado publicamente pelas pessoas que mais ama e por pessoas que nem conhece? Qual o indivíduo que chegando a certa idade escolheu ser vítima das garras cruéis de uma sociedade padronizadora? Se fosse uma mera questão de escolha, quantos padres não escolheriam deixar de ser gays? Quantas freiras não escolheriam deixar de ser lésbicas? Quantos filhos machos de pastores da vida não escolheriam deixar de sentir aquele formigamento quando chegam perto do seu homem desejado? Perguntem pra quem está no grupo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis) se o que sentem não faz parte deles tanto quanto faz parte deles o desejo de amar e serem amados e amadas.

Algum tempo atrás, era comum uma pessoa branca entender que as pessoas negras são inferiores. Hoje em dia também é, mas existe uma reflexão bastante avançada sobre essa questão que força o indivíduo a, ao menos, ter receio de escancarar seu racismo. O mesmo processo, espero, acontecerá com os homossexuais. Só que com os homossexuais reside um problema ainda maior, porque uma mulher branca pode escolher um marido branco pra não ter um filho negro. Mas ninguém pode impedir que seu filho nasça gay, e essa imprevisibilidade é aterradora para pessoas acomodadas intelectualmente.
Ter receio do que é diferente e reagir com preconceito é intrínseco aos seres humanos. Eu mesmo, quando percebi que minha irmã era lésbica, uma das criaturas que mais amo no mundo, fiquei apavorado. Naquele momento entendi que ela estava sendo abduzida por lésbica perversas. Logo a minha irmã que sempre foi bem mais esperta que eu. Hoje, graças a espiritualidade conciliada com a racionalidade, ao bom senso, e a vontade de não ser medíocre, eu continuo amando e admirando a minha irmã como se nada demais tivesse acontecido, porque de fato não aconteceu.

O Apóstolo Paulo declarou que o amor é o dom supremo de Deus. Podemos fazer tudo, mas se não tivermos amor, nada seremos. Então devemos forçar um homem gay a casar com uma mulher, mesmo sabendo que ele jamais amará de verdade sua esposa? Se nascer com uma lésbica o desejo de amar uma mulher isso não é um dom divino? Existe forma perversa de amar? Um homem pode ser caridoso, ter fé, ter esperança, como diria Paulo, mas sem amor nada disso vale, porque a única coisa que só brota de Deus é o amor. Se um homem ama um homem, se uma mulher ama uma mulher, esse amor é sublime, puro, e honroso, porque tudo que vem de Deus assim o é. Deus é amor, e amor só dele brota. Agora, principalmente para os crentes e as crentes eu pergunto, de onde brota o preconceito? De onde brota a vontade de oprimir? De onde brota a crueldade? É de Deus?

Bem aventurados os Gays, as Lésbicas, os Bissexuais e os Travestis, porque vocês são esmagados pelas igrejas dos homens, mas no Reino de Deus serão livres.