Paralamas e Titãs fizeram um show previsível em Belém na última sexta-feira. Durante o show, entre um hit e outro eu notava alguns clichês: a mesma turminha de todos os grandes shows do rock nacional, o público xiita do rock diminuindo, anúncios de shows de axé e música romântica/ brega cada vez menos vaiados, público que não entende patavina de rock empolgado a beça, essas coisas. Eu me perguntava se haveria gritinhos ao primeiro acorde caso os Paralamas levassem “Bora Bora”, se a execução de “Dívidas” pelos Titãs poderia provocar uma reação no público maior que a indiferença, etc. Depois eu cheguei à conclusão que ouvi Legião* demais, e que se o show não fosse previsível não estaria tão lotado.
Vivemos numa sociedade preguiçosa, em que prega-se a divindade do trabalho, mas paradoxalmente se produz tecnologia e riqueza para potencializar o ócio nosso de cada dia. Nesse bojo, uma das coisas que nos convidam a não termos trabalho é o de pensar, descobrir coisas novas. No fim das contas, acabam nos empurrando goela abaixo gostos que não precisamos nos dar ao trabalho de desenvolver. Por isso é bem melhor a comodidade dos hits impostos do que se preocupar em ouvir um álbum todo, discutir seu conceito, ruminar sua mensagem, etc. E o rock nacional aprendeu que o segredo para continuar existindo é fazer o mesmo cara que canta “hoje é festa lá no meu apê/ vai rolar bunda lê lê” cantar também “Vamos celebrar como idiotas/ a cada fevereiro e feriado”. Isso às vezes estressa.
Aliás, é isso o que me torna eterno admirador dessas duas bandas que se apresentaram sexta com um equipamento sonoro de qualidade duvidosa a um público hegemonicamente démodé. Elas é que construíram seu lugar no mainstream, ao contribuir para a consolidação do rock brasileiro como uma forma de arte autêntica e um negócio rentável. Paralamas e Titãs fizeram sucesso gritando palavrão em refrões e tocando guitarrada ao invés de bossa-nova, subvertendo a lógica estabelecida de então. É claro que hoje eles são a lógica estabelecida, mas como diriam meus amados titânicos, nem sempre se pode ser Deus**.
As pessoas foram ao Cidade Folia mesmo pra ouvir hits. Eu fui lá por isso também, afinal, canções como “Cabeça Dinossauro”, “Lanterna dos Afogados”, “Alagados” e “Flores” não são qualquer porcaria. Vale realmente a pena dar e receber cotoveladas, caneladas e empurrões
Paralamas do Sucesso e Titãs fizeram um show previsível sexta-feira, 25/09 no Cidade Folia. Todo mundo aguardava pelos hits. Todo mundo esperava que fosse ótimo. Todo mundo saiu de lá satisfeito. Até eu, com a minha chatice típica dos pretensiosos roqueiros, saí de lá extasiado. Os hits são uma conquista dos artistas, seu maior patrimônio, e seria muita filhadaputisse não tocá-los só pra amaciar o ego de caras chatos como eu. Se não fossem pelos hits eu dificilmente os conheceria, e se não fosse pelo público por mim aqui avacalhado, eles dificilmente viriam a Belém. Por isso, obrigado público alienado de Belém, tomara que vocês adorem tomar no cu, ir pra casa do caralho, ou se fuderem, que são as coisas que mais desejo a vocês, com todo carinho*****.
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* Só quem ouviu muito a Legião Urbana pra ter crise existencial nesse tipo de show.
** “Nem sempre se pode ser Deus” é uma das minhas canções prediletas, solada por Branco Melo, Titã que mais me afino, d’um dos meus álbuns prediletos: Titanomaquia
*** Parafraseando Drumond, que outrora disse: "Preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças".
**** Descoberta feita por Raul Seixas e Paulo Coelho na canção Rock do Diabo.
***** Respeito e Rock nunca se deram muito bem.
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