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domingo, 8 de maio de 2011

Envexa

Nossa, eu sou frustrado por muitas coisas. Sou frustrado, por exemplo, por não cantar bem,por não ser o mais bonito da rua, por nunca ter assistido Beatles ao vivo, por nunca ter podido dar um soco na cara do Bush ou do Adan Smith, por ser um homem de pouca fé e nunca ter conseguido andar sobre as águas, por não ser bissexual e estar exatamente no topo da cadeia alimentar (ui), e principalmente, sou muito, mas muito frustrado por descobrir que quando estou finalmente conseguindo voar aquilo é só um sonho. Mas não acho que eu faça das minhas frustrações motivos para encher o saco dos outros. Não perco meu tempo (se houver quem discorde que me fale, por favor) tentando prejudicar as pessoas que conseguem fazer o que eu não faço ou ser o que não consigo ser. Eu não sou o mais bonito da rua, mas já namorei a mais bonita, por exemplo.

Nos últimos dias tenho visto exemplos de como a frustração acaba sendo uma espécie de força motriz para que as pessoas percam o precioso o tempo delas para tentar derrubar aquilo que consideram (ainda que incoscientemente) estar acima de si. É como querer estar no topo acabando com o topo, ou então, de forma ainda mais grave acabando com quem está no topo. E a única explicação que tenho pra isso, é empiricamente acreditar que a frustração pelo não sucesso trás a estas uma espécie de patologia, como se a baixa auto-estima produzisse um ódio inexplicável contra o mundo. Tem gente que chega a matar por isso, e quando não mata, enche muito o saco, sobretudo quando há quem inocentemente dê ouvidos às loucuras dessa gente.

Tem que ter muita baixa auto-estima pra se aborrecer com o talento alheio. Elogio é quem nem sexo: é gostoso quando dão pra gente depois de uma conquista difícil, não tirado a força, isso sempre trás problemas.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Postagens Retrô - 8

VIA-SACRA DOS CRISTOS DE AGORA







1ª Estação: Jesus é condenado a morrer na cruz.
Nasce mais uma criança na ocupação “Fé em Deus”. Mais um filho da Mãe África vem ao mundo do racismo velado, chamado Brasil.


2ª Estação: Jesus toma sua cruz.
Ainda criança, a criança deixa de ser criança. O menino é invisível até que o sinal feche e ele comece a importunar as pessoas nos carros pedindo esmolas.


3ª Estação: Jesus cai pela primeira vez.
A criança que nunca soube quem foi seu pai, perde sua mãe, que morre no parto de seu quinto irmão. A rua se torna sua morada.


4ª Estação: Maria acompanha Jesus no calvário.
Numa das poucas noites em que consegue dormir aquecido, o menino sonha com sua mãe. Ele mal lembrava o rosto dela. Lágrimas salgadas lavam seus lábios.


5ª Estação: Cirineu ajuda Jesus a se levantar.
O menino é contemplado num projeto social. Duas vezes por semana, ao menos, consegue almoçar e tomar banho nos alojamentos do projeto.


6ª Estação:Verônica enxuga o rosto de Jesus.
No projeto, o menino se desentende com outro. As pessoas apartam a briga e os levam pra diretora do projeto. Ela os abraça. “Por que também não me expulsou?” Espanta-se.


7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez.
O menino percebe que não consegue interessar-se pelas meninas como os outros. Agora além de macaquinho, o chamam de veado.


8ª Estação: Jesus cuida das mulheres.
Um portador de necessidades especiais estava sendo achincalhado pelos moleques. Ele se mete. Tira o rapaz de lá sob socos, cusparadas e xingamentos.


9ª Estação: Jesus cai pela terceira vez.
O menino, do jeito dele, percebe que nesse mundo só tem importância quem tem e não quem é. As drogas o fazem esquecer.


10ª Estação: Jesus é despido de suas vestes.
Maior de idade, o menino que nunca teve um nome e sim alcunha, acaba indo pra cadeia por latrocínio. O nome que nunca teve torna-se imundo.


11ª Estação: Jesus é pregado na cruz.
Antes de chegar a cadeia, os policiais molestam o rapaz verbal e fisicamente. Antes de jogá-lo na cela, os policiais avisam os presos que ele é gay.


12ª Estação: Jesus morre na cruz.
A cadeia. Imundice. Compactação de gente. Desumanidade. Revolta. Rebelião. Retaliação. Tiro. Menos um.


13ª Estação: Jesus é descido da cruz.
Na universidade, chega mais um indigente para ser exibido na feira de ciências biológicas.


14ª Estação: Jesus é sepultado.
Após o evento que deixou algumas pessoas enjoadas, o corpo foi enterrado no cemitério que fica na em qualquer lugar, esquina com canto algum.


15ª Estação: Jesus ressuscita dos mortos.
Pedro, o “aleijado” salvo por um rapaz negro e gay que levou porrada e cusparadas para fazê-lo, conseguiu ser acolhido por uma ONG que possibilitou seus estudos. Agora mestrando em ciências sociais, Pedro batizou seu filho de Jonatans, o nome daquele herói que é sempre citado quando fala de solidariedade. Pedro espera, do fundo do coração, que Jonatans esteja num bom lugar.
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Imagem: Fonte na própria.

domingo, 17 de abril de 2011

Em terra de cego, quem tem um olho é Rei?

No balcão da empresa que desenvolve soluções para crises existenciais a seres "superiores":










- Quem é você?
- Eu sou um rei.
- O que você quer aqui?
- Ficar cego.
- Por quê?
- De onde venho, todos são cegos menos eu.
- Mas em terra de cego, quem tem um olho não é rei?
- Sim, mas no meu caso um rei sem majestade.
- E como isso é possível?
- Eu não sinto que vejo o que os outros não veem, e sim que sou um infeliz a enxergar o que ninguém quer ver.
- Já que você enxerga e os outros não, por que não os convence a precisãode você?
- Porque perdi até mesmo a arrogância de acreditar que uma rua ladrilhada a ouro importa pra quem só deseja pedregulhos.
- E acha que vai ser feliz ficando cego como os outros?
- Não, absolutamente.
- Então por que quer ficar cego?
- Porque até os idiotas têm ganância. E temo uma possível revolta para que eleja-se um rei cego como o povo. Estou me adiantando caso isso aconteça.


O rei ficou cego, mas jamais alguém quis ocupar o trono. Aliás, nesse reino, ninguém sequer sabe da existência de um rei.




















































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Com orgulho de fã (que mal acreditou no presente que ganhou), apresento estes poemas visuais que o genial Tonho Oliveira me concedeu para ilustrar este post. E se você ainda não conhece nenhum trabalho dele e acha que eu babaria por qualquer um/a, dá uma olhada no 6vqcoisa ou no Pô ética! e veja se eu não tenho razão de de estar tão bobo com a honra.

sábado, 9 de abril de 2011

Universo em expansão

A gente acha que a serra é grande até avistar a montanha.
A gente se sente no topo até conquistar o Everest.
A gente se conforma que o Everest é o máximo até pretender a lua.
A gente acha que a lua é tudo até se perceber no sistema solar.


Ou seja,


a gente se sente pequeno quando nosso universo não está em expansão.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Homofobia e suas caretisses

Conversando sobre as imbecilidades do mundo, Rossana do homônimo blog Batom e Poesias e eu resolvemos parlar um tico a respeito da homofobia. Hoje é minha vez e amanhã é a vez dela. Sem muito blá blá blá, vamos logo lá porque é feio rimar!


Homofobia e suas Caretisses


            Você quer conseguir um emprego e a moça do RH fala: "Me desculpe. A vaga poderia ser vossa, mas descobrimos que ontem você fez sexo anal".

         Já imaginou se alguém definisse você pelo que você faz na cama ou pela forma como anda? Já pensou se você não conseguisse um emprego porque prefere rosa a azul? Já pensou se você chega ao seu pai e fala que só quer ser feliz do jeito que você é e leva uma surra em troca? Já pensou você ser excluído do mundo só, e tão somente só porque não é igual a todo mundo? Já pensou se contra a sua vontade (e felicidade) você tivesse que representar alguém que não é pra literalmente sobreviver?

    Se você já imaginou tudo isso então imaginou como é basicamente o cotidiano dos/as homossexuais. O problema é achar que “homossexual” é sinônimo de pênis, ânus e/ou vagina, e que as diferenças neles/as é suficiente para um passaporte vitalício e obrigatório à via-crúcis.

         Seria ótimo seguir a maré do Twitter e jogar todas as pedras merecidas à homofobia no "DÉSPOTAdo" Bolsonaro. Mas, infelizmente a ampla maioria das pessoas que o criticam são tão ou mais homofóbicos/as que ele, ainda que veladamente. O preconceito é assim mesmo, faz a gente agir pensando que estamos sendo altruístas, mas somente a pessoa violentada é quem sabe. E não tem jeito. Preconceito se supera sentindo com discernimento e raciocinando com sensibilidade, e não vive no paraíso das declarações e sim no mundo real das ações.

         Quer saber se você é homofóbico/a ou não? Imagine um filho, uma filha, um irmão, uma irmã homossexual e como seria sua reação. Se houver qualquer tipo de desconforto, não se engane: você é homofóbico/a. Se for só desconforto, você tem tudo pra ser uma mãe ou um pai exemplar – basta desenrugar os neurônios. Entretanto se o sentimento for de repulsa, lamento pelo/a parente e pelas centenas de vítimas do fruto dessa ignorância que perecem no país que mais mata por homofobia no mundo (Brasil).
        
         O preconceito não vai deixar de existir, seja contra quem for. É o espinho da rosa humana. Por isso é papel do estado criminalizar tudo que tira o direito e a garantia da coexistência pacífica entre os/as diversos/as. Um jardim vive muito bem sem espinhos, mas sem perfume só há sobrevivência.
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Se você vier com o papo de que homossexualidade é pecado, leia isto aqui.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A melhor fase sexual de nossas vidas

Certa vez Arnaldo Jabour declarou ao Jô em entrevista que a melhor fase sexual da vida dele é quando ainda não havia vida sexual. Eu não diria que a melhor fase sexual da minha vida era quando ainda não existia, diria que a melhor fase de minha vida sexual é como uma banda de rock. Uma banda pode até ter uma longevidade à Rolling Stones ou U2, mas os melhores discos das vidas deles jamais virá todo ano depois de um certo tempo de carreira consolidada. Há quem, a exemplo de johnny Cash, consiga produzir discos históricos na melhor idade, mas mesmos estes não superam a importância dos discos clássicos de outrora.


Diria que a melhor fase sexual da minha vida foi quando a despia da "langerí" da inocência. Os toques na cegueira do breu da timidez, a ansiedade escaldante sendo inacreditavelmente saciada, a urgência do ali do jeito que der desde que fosse logo, as revelações olfativas, a sensação térmica do pecado, o estranho e lindo olhar de "vem" com os caminhos abertos do prazer, tudo isso recheado com a magia da descoberta, a magia que surge a cada nova relação e a cada novas "soluções" de uma relação duradoura, mas que não encantam como aquela. 

E não acho que o fato de uma fase não voltar, seja ela qual for, é ruim. A vida tem seus ápices inalcançáveis mesmo. Sei que há pessoas adultas, principalmente mulheres, que ainda não viveram o ápice sexual. Muitos o vivem na fase adulta e talvez há quem nunca viva, infelizmente - principalmente mulheres. E eu não falo disso com saudosismo. A minha fase sexual atual não é frustrante, muito pelo contrário. Mas cada fase é uma fase e a gente pode ter nossas preferências sem ficar preso ao passado. Aliás, pensa num cara que adoraria voltar aqui ano que vem desmentindo a mim mesmo sobre qual é a melhor fase sexual da minha vida, se é que me entendem. De repente eu pense nessa fase com esse viés: uma meta a ser superada, pois penso que isso seja muito salutar desde que não sirva como desculpa para quem só consegue viver relações superficiais. Afinal, rotina é uma porcaria; seja a rotina em si ou a rotina de não haver rotina.


E você, já pensou em qual é a melhor fase sexual de tua vida?
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Gostaria de aproveitar a oportunidade pra mostrar o que ganhei da minha amiga Alline do delicioso blog Coisas e Coisas .


Respondendo às perguntas de praxe para o recebimento do selo:
1- Sem o que você não sai na rua?
Mochila.

2- Até onde é capaz de ir per amore?
Até a cama - dos pais dela.

3- Acredita em horóscopo?
Respeito, mas não acompanho.

4- Você é uma pessoa "simples assim" ou complicadézima?
Sou um mosaico de eus.

5- Sabe escolher presentes perfeitos para pessoas especiais?
Só pra mulheres.

6- Acampar é uma delicinha ou um castigo?
Depende da companhia.

7 - O que mudaria no mundo se tivesse poder para isso ou uma varinha de condão?
Que as pessoas tivessem vontade de mudar o mundo sem precisar de varinha de condão.




Dedico este, como costumo fazer, a todos os blogs que sigo. Todos eles são um sonho!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Da região Serrana do Rio ao Japão

Após Tsunami e terremoto varrerem parte do Japão, entre um e outro alarmes falsos (e verdadeiros) de novas catástrofes é hora de começar a pensar no recomeço. Mas em cidades do nordeste do Japão, como mostra esta reportagem de Marcos Uchoa, quase todas de pequeno porte, parte do estrago feito pela onda gigante significa quase tudo, o que torna quase impossível a reconstrução de algumas delas. Especialistas afirmam que o superlativo terremoto de 8,8 na escala Richter não foi provocado pelo desequilíbrio ecológico no qual o planeta se encontra. Ao contrário, tal fenômeno é provocado por colisões de placas tectônicas, não tendo influência direta de desmatamentos e aquecimento global conforme o vídeo abaixo explica.


Este terremoto foi o maior da história japonesa. E, a exemplo do que ocorreu ao Haiti ano passado, a região mais empobrecida do Japão foi a mais devastada. Cidades como Rizukentakata, que teve quase 5 mil casas devastadas são bons exemplos de que o recomeço pode jamais existir para a cidade, restando apenas aos sobreviventes procurar corpos e possíveis sobreviventes. O número de mortos até agora registrado no Japão (26.000 até 19-03) tende a aumentar, uma vez que o número de desaparecidos é muito maior.

Deslizamento na região serrana do RJ
Apesar de chocante, as imagens do ocorrido no Japão e mortes em massa não são as únicas a chocar no primeiro trimestre de 2011. No Brasil, as notícias envolvendo desastre natural na região serrana carioca inauguraram as cenas chocantes do ano, com cerca de 900 mortos e milhares de desabrigados. Mesmo em meio a catástrofe japonesa, a onda de protestos norteafricanas que partiu da Tunísia influenciando os países vizinhos chegava à Tunísia com notícias estarrecedoras de guerra civil sangrenta e o genocídio de vários manifestantes por ataques aéreos comandados pelo presidente ditador Kadaffi. Cenas e eventos que acostumamos a ver nos filmes de ficção, com catástrofes e guerras passaram a ser imagens triviais neste início de ano. Números como: 1000 mortos, 200.000 mortos, 100 mortos parecem apenas números.


Imagem ímpar de mulher e cachorro sendo resgatada. Vídeo aqui.

Consequência do Tsunami. Um desavisado poderia dizer que são brinquedos.

Manifestações norte-africanas - imagem da Tunisia.


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CURIOSIDADE: A cidade de Rizukentakata citada na nota é menor do que a área que será alagada como consequência da construção da Usina de Belo Monte.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Dialogando com Rachel Sheherazade sobre o Carnaval.

Eu não gosto de carnaval. Nunca gostei, embora já tenha participado de um ou outro baile em minha vida. Não gosto, principalmente, porque o tipo de música que normalmente tocam nas festas não me anima a dançar. Me sinto um urubu longe da carniça mesmo. É por isso que não gosto de carnaval, e por nada além disso. Agora, aprendi a olhar com um olhar crítico às coisas. E sinceramente acho isso necessário pra tudo na vida. Por isso tenho minhas ressalvas quanto ao Carnaval. E sobre as críticas que faço, não vi ainda quem sintetizasse melhor do que a jornalista Rachel Sheherazade, no vídeo que pode ser visto abaixo.





Pra quem não teve saco pra ver o vídeo (recomendo que vejam depois, quando tiverem tempo), a jornalista explanou maravilhosamente bem sobre as consequências da privatização da alegria que ocorre no carnaval brasileiro. Sobre as críticas que ela fez, assino em baixo. Realmente resume o que tenho contra o carnaval tupiniquim. Agora, vamos combinar que carnaval é sim uma festa interessante. Existem blocos de rua pacíficos e divertidos em todas as partes do país. Aqui mesmo no Pará, carnavais de cidades como Curuçá, Cametá e Vigia dão exemplo disso. Por isso existe sim um lado do carnaval brasileiro que é democrático, divertido e bastante positivo.

Não vejo nada de errado em pessoas gostarem de ouvir músicas com letras que servem apenas (e pra nada além de) dançar no Carnaval. As marchinas do "Carnaval puro", conforme ostentam alguns críticos, eram pra isso também. Não tenho nada contra as pessoas se juntarem pra comemorar. Se sentem vontade, que comemorem, ué - seja lá o que for. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é"**. E apesar de me distanciar do carnaval, reconheço que a alegria dos brasileiros, a exemplo dos escravos que festejavam na senzala, tem sim algo de combativo se pensarmos bem.

Agora, O carnaval precisa acabar para que as pessoas sejam mais conscientes e deixem de engolir tudo goela abaixo? Não, mas as pessoas precisam ser mais conscientes e deixar de engolir tudo goela abaixo. O carnaval precisa acabar para que as pessoas parem de ouvir só musiquinhas de carnaval o ano inteiro? Não, mas se faz necessário uma mídia mais democrática para que a gente não tenha que achar que música é só chub-dab qualquer coisa. O Carnaval precisa acabar? Precisa. O Carnaval precisa deixar de rolar o ano todo no Brasil. Depois da terça-feira gorda, não tem a menor graça "brincar de ser feliz" o tempo todo. Fugir uma vez ao ano dos problemas que nos cercam pode ser bom, mas fugir sempre é ser destaque na alegoria "unidos afundaremos". Como diriam meus amados Titãs, "fugir da dor é fugir da própria cura. A partir da quarta-feira de Cinzas, que as máscaras caiam.
_________________
*Imagem do bloco "Pretinhos do Mangue de Curuçá/PA.
** Versos da canção "Dom de Iludir" de Caetano.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Aniversário e suas paulinisses

Hoje é meu aniversário. Fazer aniversário no carnaval não combina muito comigo, mas o que importa mesmo é que é mais uma etapa da vida, mais uma linha de chegada e mais uma corrida que se inicia. Assim como Drummond também acho que o cara que inventou dividir a vida em partilhas foi um cara muito sábio (e muito idiota). Mas ao menos assim, uma vez por ano, a gente tem o direito de se sentir o centro do universo. Até recebi homenagem da minha amiga Michele P. Querem ver? É só clicar aqui.






Se felicidade são momentos de felicidade, então eu sou feliz por este dia.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Galos, Noites e Quintais - Aventura 4

No dia em que minha irmã faz aniversário - por sinal mesmo dia em que minha querida amiga Michele do blog Meus Devaneios - resolvi publicar algo dedicado a ela, minha irmã Iaiá (na verdade é Naiá) que amo tanto.

AGÔ E IAIÁ

Estávamos no pé de biribá, no quintal de casa, Minha irmã e eu, quando apareceu uma vizinha nossa. A menina foi praticamente criada na rua, e pelo fato de D. Fátima não permitir que os filhos saíssem muito para a rua nessa época, os outros achavam que o povo de casa era tudo besta. Ela perguntou se podia apanhar um biribá da árvore e eu disse não - tava puto porque os moleques viviam subindo lá pra roubar a fruta. A menina respondeu de uma forma bem doce, como as crianças costumam responder, algo como "enfia esse biribá no cu da tua mãe então, seu filho da puta", e eu dei outra resposta singela como "eu vou é enfiar é meu pau no teu cu sua fudida do caralho", e nessa troca de carinhos ficamos, eu e minha irmã (até então calada) na árvore e ela ao muro.

Em seguida, minha irmã se meteu na briga. E como toda mulher é mais sensível que o homem, ela disse que se aquela menina não saísse logo dali ia arrebentá-la no soco. Mas a menina já devia ter mais brigas no currículo do que Lyoto Machida e Bruce Lee juntos. Quando eu percebi a possibilidade de do verbo se tornar soco, o medo começou a bater, e as minhas bravatas, digamos, começaram a diminuir. Então, naqueles segundos antecedendo a primeira bicuda, eu comecei a pedir calma pra minha irmã. Só que a Iaiá não é lá muito fã de começar uma briga e não terminar, independente se ganhar ou perder. E eu, digamos, era (?) frouxo que só a porra.

Finalmente aquele clima de tensão a separar o "então cai dentro, seus fodidos" do soco que apertaria o start da porrada foi por mim apaziguado com um estratégico "deixa ela ir, Iaiá. Ela num é doida de vir aqui". E como a coisa não inflamou logo, a menina foi embora despedindo-se com um cordial "Vão tomar no cu, bando de otário". Minha amada irmã ficou chamando ela pra porrada e quase foi atrás dela quando eu a segurei. Pra nossa (minha) sorte não fomos às vias de fato. O fim dessa história doce de minha irmã e eu foram alguns conselhos serenos. "Da próxima vez que tu começar uma briga, vê se tem coragem de encarar, abestado", acariciou-me minha caríssima irmã. Pra minha sorte, ela ainda me livrou de apanhar pelo menos mais umas dez vezes até nossa doce infância acabar.

*Na adolescência, essa menina brigona tomou muito no cu, mas não acho que possa comemorar, porque suspeito que ela gostou, dadas as famosas filas formadas pra isso em construções abandonadas.

**Eu briguei mesmo duas vezes na minha vida (outro dia eu conto). E por incrível que pareça, não perdi nenhuma rs.
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Feliz aniversário, mana. Que o Deus da justiça e da verdade que condena ou no mínimo tem pena de quem usa o santo nome pra se esconderem atrás do medo do que é diferente possa te acompanhar em cada batalha que travares na vida, mesmo as que sejam pra ajudarem quem mais precisa - como tantas vezes fizeste por mim.


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Canalha - Caça 5

Ele foi ver o amigo baterista se apresentar num barzinho desses da vida. A banda era muito interessante, como não é difícil encontrar por aí. Tem muita gente ótima que jamais consegue um lugar de destaque no mundo artístico. Mas não, ele não vai fazer uma aventura musical neste post, e sim, tem uma cantora gostosa na banda do amigo baterista, e sim de novo, foi por isso, realmente, que ele foi ao barzinho.

O amigo do Canalha falava muito dele, por isso quando foram apresentados, ela foi logo perguntando se ele era o amigo safado. Como ela perguntou com um sorriso no rosto, ele aproveitou a deixa pra não se conter. Depois de conhecê-la e de dizer oi, tudo o mais que falou foram elogios e provocações. Ele dizia, por exemplo, que achava que se ela gemesse como ela canta, não haveria homem que resistisse, etc, etc. Isso depois de menos de cinco minutos de papo. E assim ele fez por mais 6 semanas seguidas. E toda vez, a partir do primeiro dia, ele dizia que no próximo show ele iria ao pequeno camarim do barzinho transar com ela antes do show, porque aí sim ela entraria aquecida. Ela sempre ria. Ele nunca ia. Ela sempre dizia que ele não teria coragem. Ele sempre ria.

Depois de dois meses seguidos (três vezes por semana), ela já ia pra lá esperando encontrá-lo. Já sentia saudades dele. Mas obviamente não admitia. Ela prometeu a si mesma que não ia ser mais uma vítima dele. Então, súbito, o Canalha parou de ir. Simplesmente sumiu. Durante os dois primeiros shows com a ausência dele, ela cogitou perguntar ao baterista por ele, mas não queria demonstrar qualquer saudade. Mas o amigo (conforme previamente combinado) sempre falava dele Na verdade, o Canalha ia aos shows, mas não entrava, ficava esperando ela ligar antes da  apresentação. Ela até ligou umas três vezes, mas sempre de dia ou depois das apresentações. E o Canalha não atendia. Até que um dia, ela ligou antes de subir ao palco (BINGO!). Depois do segundo toque, ele bateu à porta do mini-camarim. Ela foi atender com o telefone ao ouvido. Era ele.

Ele a pegou pelo braço antes que fingisse não querer, e fez exatamente como descreveu a ela em tantas conversas. Não trancou a porta (pra aumentar a emoção), e a encostou com força na parede. O corpo dele parecia querer afundá-la na parede. O fez com tanta força, que num momento se afastou um pouco preocupado em não machucá-la, mas ela logo tratou de demonstrar que aquilo não era suficiente para machucá-la. Ele Abriu o feiche da calça e começou a roçá-la sobre a saia e a calcinha. Ela tentou fugir de lá umas duas vezes, mas quando ele levantou a saia e arredou a calcinha, só restou a ela gemer e curtir aquele momento que nem ela sabia que queria tanto. Alguns gemidos dela foram audíveis aos amigos (e cúmplices) dela mesmo em meio ao estrondoso som ambiente, mas nenhum deles comentou com ela (naquele dia).

Quando acabou, ela perguntou a ele por que ele fez aquilo com ela. "Porque você queria, flor", respondeu ele. Ela se ajeitou e foi cantar. Depois do show eles foram a um motel, mas não teve a mesma graça, por isso eles saíram do motel e fizeram na rua mesmo. "Uma relação que nasce torta nunca se endireita", analisava o Canalha. "O lado ruim dos desejos probidos é que as vezes eles se realizam", retrucou ela.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sobre protagonismo e catálogos...

A juventude está fazendo uma revolução no norte da África. A juventude que, justamente pela influência da internet, das redes sociais, das novas tecnologias, costuma ser chamada de apática, acomodada e superficial hoje em dia é a mesma juventude que usa esses novos recursos pra derrubar velhos modelos na África. A juventude de 1968 não era necessariamente "A tal" porque não eram TODOS os jovens que tinham como sobrenome McCartney ou Hendrix, assim como nem toda a juventude de hoje em dia se renderia a um Mubarak da vida. A história é feita por quem a faz, e os rótulos são apenas guias para as prateleiras e nada além disso.


A juventude de hoje em dia é o quê mesmo?
Depende
 de cada um e cada uma jovem.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Amor x Sexo

Atendendo a mais um desafio do jornalista e blogueiro paraense Adison César Ferreira do ...LENDA PESSOAL, feito a mim e a blogueira Sara Portal, do blog Maktub!!!, que seria tratarmos de AMOR E SEXO. Adison já escreveu aqui a sua maravilhosa contribuição, então hoje a bola está comigo, sendo que amanhã é a vez da Sara. Então já que a bola tá comigo, vamo lá...



Como Arnaldo Jabour já falou quase tudo a respeito da diferença entre amor e sexo, resolvi falar então sobre algumas coisas que existem em comum.

Ambos são assuntos de amplo debate, no qual muitos sabem quase nada (incluindo eu), mas julgam saber quase tudo. Para o amor e para o sexo todo mundo tem uma opinião, seja ela libertária ou conservadora. Pior, todo mundo tem uma fórmula. Tudo quanto é diabo de revista, livro, programa de TV, música, papo de bar, todos querem explicar em última instância como fazer sexo e viver o amor da melhor forma possível. A impressão que dá é que não tem ninguém que se dá mal no sexo e/ou no amor, pois, seja o cara que não come ninguém ou a mulher que está solteirona a vida toda, todos/as parecem viver no paraíso verbal das certezas absolutas.

Há quem diga que para o sexo e para o amor a gente deve estar pronto para se abrir, se arreganhar mesmo ou mergulhar de cabeça com tudo. Há quem diga que para o amor e para o sexo devemos viver não para os outros e sim com os outros, além de, seja com os cuidados de nossas mãos ou das mãos alheias, cuidar do nosso da mesma forma que cuidamos do outro, e jamais esqueçamos que embora tentemos o tempo todo fazer que dois se tornem um, o nosso um e o um do/a outro/a jamais deixará de existir individualmente. Eu costumo dizer que o amor e o sexo são um jogo no qual ficamos felizes que o/a outro/a ganhe e comemore conosco, e enquanto ambos estão com a mesma vontade e a mesma felicidade que o/a outro/a vença, tudo está em paz, pois amor e sexo sem equilíbrio é sinônimo de que, no mínimo, uma pessoa ficará na mão, ou seja, no amor e no sexo, é dando que se recebe, e é só dando que se fode.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Igreja como ela é - O bom obreiro.

Baseado na obra de Nelson Rodrigues, conto aqui histórias que deveriam ser mentirosas, mas não são.


O BOM OBREIRO.


Era uma igreja famosa pela presença de muitos jovens. Quem invejava a juventude dali mal podia imaginar que o maior desafio da moçada lá não eram as drogas, as bebidas ou a prevaricação, e sim a "diaba de uma velha" (palavras de um deles). E de tanto falarem de missão, velha, envio, velha, conversão, velha, perdão, velha, misericórdia e mais da velha, num culto desses da vida um jovem recém convertido encasquetou que ouviu Jesus dizer que o propósito de estar ali era renovar a velha (oi?). Apesar de esse tipo de "visão" ser considerada normal e ao mesmo tempo obra do senhor, não houve quem o encorajasse nessa missão. "Tem certeza que Jesus falou mesmo isso? Tem certeza que não mandou dizer pra ela orar só em casa pra sempre?", murmuravam alguns (jovens de pouca fé).

Mas o novato, com toda a empolgação do mundo parecia irredutível. "O que um novato vai ensinar pra uma irmã que praticamente fundou essa congregação?", cochichavam alguns no começo. Mas os resultados, surpreendentemente, apareceram muito depressa. Em menos de um mês, a senhora (sim, eles passaram a chamá-la de senhora) parou de despejar grosseria gratuita, passou a não ser a primeira a apontar o dedo na cara das pessoas, aliás, passou a não mais fazer intriga com ninguém. Tudo ficou tão melhor, que o novato "redentor" passou a despertar a atenção das irmãs "moças" mas ele não dava bola pra nenhuma. Parecia mesmo querer apenas servir o Senhor.

Súbito, a ex-megera parou não só de falar grosserias, como passou a não falar mais quase nada. Parecia uma morta viva de tão silenciosa Parecia estar sofrendo. Só que ela, ainda que diferente, não foi o assunto mais discutido dessa vez. Sentiram falta mesmo foi do novato, que parecia tão convertido e de repente parou de frequentar os cultos. Duas semanas sem aparecer e sem atender o celular, e a galera tratou de ir até a casa dele pra tentar resgatar a alma aparentemente vacilante. Foram recebidos pela mãe e pelo irmão que acenou rapidamente e continuou jogando videogame. A mãe, muito discretamente, passou o recado que não era da conta deles onde o filho estava, mas que ele não estava mais naquela cidade. Eles, também discretamente, insistiram. A mãe, o mais discreta que conseguia ser, apesar do constrangimento aparente, tentou dizer que ele estava bem, embora longe dali, os amigos já iam insistir de novo até que o irmão do novato, que estava nitidamente irritado por estarem naquela lengalenga, explodiu:

- Conta logo pra eles que a senhora pegou ele comendo uma velha na cama dele, mãe!

A mãe corou, e quase se enterrou sob o tapete. E ainda jogando, de costas para os presentes, continuou.

- Conta pra eles que ele foi mandado pra igreja porque tinha um caso com a professora, outra velha, e que a senhora mandou ele pra casa do papai em Curitiba porque não sabe mais o que fazer com ele.


A mãe fuzilou o filho com os olhos, enquanto as bochechas pareciam mais uma pimenta malagueta.


- Pronto, agora eu vou ficar de castigo uma semana porque meu irmão maior gosta de comer velhas.


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Não se sabe quem ficou mais constrangido, se foi a mãe ou os amigos. A vontade que todos tinham era de se teletransportar pra uma outra dimensão, mas tudo acabou com o mais insosso dos tchaus. "Ele seria um bom obreiro", comentou um jovem depois de sairem da casa.
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Imagem: Google.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Postagens Retrô 7

BOLETIM DOS ÚLTIMOS TEMPOS: Fatos que mudarão o mundo! (editado)

  • Durante o show de Paralamas e Titãs em Belém, um rapaz achou um celular de última geração. Ao invés de guardá-lo no bolso, o jovem saiu perguntando para o povo de quem era o celular. Ninguém mentiu. Então o rapaz pediu que avisassem a quem aparecesse procurando o celular que o aparelho estava guardado com ele. Ao fim do show o dono reencontrou o aparelho.
  • Um casal estava brigando enquanto seu primeiro filho tentava andar sozinho pela primeira vez. Antes que rolasse a primeira ofensa mais séria, o bebê deu seus primeiros passos em direção ao casal. Depois disso, o casal desistiu de brigar para ficar incentivando o filho a andar de um lugar para o outro da casa.
  • Uma mãe que havia expulsado o filho homossexual de casa após descobrir a orientação sexual dele foi atrás de sua cria. A mãe arrependida preferiu declarar seu amor ao filho independentemente de sua orientação e impedir que um aliciador o levasse para a prostituição.
  • Um homem que havia tido um dia horrível no trabalho conseguiu paz ao ver o sorriso de uma criança. No retorno para casa depois de um dia estressante, um homem foi interpelado por uma criança linda que nunca tinha visto. A criança abriu um sorriso espontâneo e maravilhoso e disse apenas “olá”, mas serviu para o homem perceber que um coração pulsava em seu peito acima de tudo e que a vida é maravilhosa.
  • Duas crianças de diferentes classes sociais brincaram juntas no parque. Uma criança loura, filha de empresários, brincou com uma criança negra, filha de uma empregada doméstica solteira, no parquinho do Bosque Rodrigues Alves. Brincaram intensamente sem enxergar qualquer diferença entre elas. Após muito brincarem, as crianças beberam suco no mesmo copo e foram embora pra suas respectivas casas e classes.
  • Um garoto de periferia que havia planejado seu primeiro assalto com os amigos foi aprovado na peneira do Paysandu. Sem muita coisa pra colocar na cabeça, o rapaz via no assalto a chance de poder conseguir algo fora das regras, já que as regras formais não o favoreciam. Aprovado inesperadamente na peneira, o jovem cancelou seus planos criminosos porque no horario em que planejava em roubar haverá seu primeiro jogo com a camisa do papão.
  • Um rapaz tímido e excluído das grandes rodas em sua escola ganhou o beijo mais disputado do colégio. A menina mais disputada da escola conversou por acaso com o menino que quase não falava com ninguém, e percebeu que apesar de falar pouco, o garoto falava muito melhor que a maioria dos meninos populares. Após o beijo, o moleque não se sentiu mais inferior a ninguém.
  • Um rapaz que era acostumado a jogar lixo na rua ganhou uma bronca da nova namorada. Todo bombom que consumia, todo picolé que chupava, toda embalagem que descartava geravam sujeira na rua porque o rapaz não tinha o hábito de jogar lixo no lixo. Ao ver seu namorado fazendo isso, a garota deu-lhe um sermão de quase meia hora, e o garoto prometeu que nunca mais jogaria lixo na rua.
  • Uma senhora de oitenta anos recebeu bom dia e ajuda de motorista de ônibus.Quando a senhora fez sinal para o ônibus, sequer esperava que o coletivo fosse parar. Mas além de parar para a senhora, o motorista desejou bom dia com um sorriso terno e ainda ajudou a "vovó" a subir os degraus altos do ônibus. Somente após a senhora estar completamente acomodada o motorista arrancou devagar e seguiu.
  • Durante uma apresentação do governo no Hangar – Centro de convenções da Amazônia – um portador de necessidades especiais recebeu muita ajuda. Após a apresentação, o governo ofertou um lanche para os participantes. No entanto, como o lanche era servido em bandejas, um rapaz com dificuldades de locomoção não podia se meter no meio do povo porque poderia cair, então ficou lá sentado sem falar nada pra ninguém. Quando ele menos esperava, várias pessoas espontâneamente começaram a levar lanche pra ele. O portador foi uma das pessoas que mais comeu nesse dia.
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Imagem: google.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

ENEM + ou - Vestibular, ainda = funil!

Agora que passou o período de amplo debate sobre o erro na prova do ENEM 2010, gostaria de dar o meu pitaco. Não gosto muito do tom imediatista que a maioria dos articulistas e comentaristas dão aos temas polêmicos na imprensa brasileira, por isso prefiro deixar a coisa fluir nesses casos pra poder me manifestar, uma vez que esse debate vai além de um mero exame falho. No ano de 2010  o Exame Nacional do Ensino Médio veio com a pretensão de torná-lo uma espécie de exame único para o egresso de calouros nas universidades brasileiras, com algumas pessoas da imprensa brasileira até mesmo chamando isso de "revolução" do ensino médio. Muitas universidades acataram, outras não. Mas afinal, o ENEM tem como unificar e simplificar o acesso dos estudantes às UFs? O ENEM presta mais ou menos por ter falhado de forma tão  grosseira nas últimas edições?

Não há como negar que o método avaliativo em si das provas do ENEM são melhores em relação aos vestibulares tradicionais. A interdiciplinaridade, a contextualização das questões, a eliminação de questões decorebas, a necessidade de leitura e real compreensão do problema para a resolução das questões, tudo isso incentiva que os cursinhos e principalmente o ensino médio brasileiro modifiquem a forma robotizada de ser, orienta que cada disciplina seja baseada em muita leitura, etc. Mas apenas substituir uma prova por outra melhor e nacional não resolve o problema do ensino médio brasileiro, nem do escasso acesso dos jovens brasileiros às universidades.

Temos cerca de 24 milhões de jovens no Brasil. Desses, apenas 13,9% estão cursando o ensino superior, o que é vergonhoso. Quase metade dos estudantes que fizeram o ENEM em 2009 tiraram notas abaixo da média. Isso demonstra que só o ENEM em si não resolverá o problema da educação no Brasil. É necessário investir em salários dignos ao profissionais, melhorar a infra-estrutura e o acesso a educação em todos os níveis, só pra começar. É notável o avanço, a construção de novas universidades, e outras coisinhas aqui e ali, mas tudo isso é muito, mas muito pouco. Enquanto não tivermos um método avaliativo que seja mais completo, que leve em consideração as peculiaridades de cada região, que leve em consideração a desigualdade da educação brasileira, que seja feito em mais e melhores etapas e enquanto não tivermos cadeiras públicas de ensino superior para pelo menos 90% da população juvenil brasileira, estaremos muito longe do ideal.

Portanto, o fato de ter dado problemas graves nas duas últimas realizações da prova é algo absolutamente superável. Se o problema do ensino brasileiro se resumisse à boa elaboração e execução do ENEM, estaríamos feitos. Mas o problema do MEC é muito maior. Precisamos de fato de uma revolução na educação brasileira, mas essa revolução está longe de ser apenas o ENEM.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

S

As pessoas hoje em dia costumam estar mais ou menos solteiras. Parece que a moda é ficar solteiro e sair pegando para que ao menos uma pessoa no mundo não saiba disso. Até parece mesmo que a melhor coisa do mundo é ter alguém pra quem não podemos dizer quem pegamos, alguém pra quem possamos ter vontade de mentir descaradamente, alguém que não acredite em tudo que dizemos. Parece que as pessoas não procuram namorados ou namoradas, procuram alguém pra contar algumas mentiras, ou, como costumam falar por aqui, alguém para dar o "S".


Se isso é bom ou ruim? Não sei. Nesse momento prefiro tentar saber se estou enganando ou sendo enganado.
                                                           




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Ganhei um monte de presente que recebi da da Sol Barreto. Ela que tem a delícia de blog Caminhos e Descaminhos me deu essas delícias de lembranças. É por isso que eu amo a blogsfera!










quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

foco

 as veze a gente se preocupa mais com o sapato do que com a dança
 as vezes mais com a dança do que com a diversão
 as vezes mais com a diversão do que com a felicidade
as vezes mais  com a felicidade do que com a gente


acho que o segredo, derepente, é não perder o foco


sábado, 8 de janeiro de 2011

Preconceito musical ou Orgulho de ser o que não é.


"Fique com seu bom gosto
que eu vou ficar com o meu"
(Marcello Fromer/ Sergio Britto/ Tony Belloto)

Preconceito é que nem pentelho. Uns cuidam melhor, outros cuidam menos, há os que não cuidam nada, mas todo mundo com mais de 12 anos tem. Faz parte da vida ter receio do que é diferente, e faz parte da vida também nos sentirmos donos da verdade, ainda que essa verdade seja que não somos donos da verdade. Eu, por exemplo, demorei muito pra apurar meu enorme preconceito musical.

Eu só conseguia ouvir com gosto rock com letras de protesto. Pensem que na mesma época em que me vidrei em rock estava no auge do axé. Eu odiava tudo aquilo. Pior. Eu odiava as pessoas que ouviam aquilo. Dizia que elas eram alienadas. Depois eu comecei a CULPAR as condições sócio-econômicas e do péssimo ensino público que dificultavam o maior crescimento intelectual da maioria da população, assim a maioria não conseguia entender algo mais denso nas músicas. Hoje me irrito ainda com a super-exposição de qualquer coisa, mas penso que ter a mente fechada traz mais irritação do qualquer letra simplória de música.

Quantos doutores por aí não são ignorantes? Quantos professores não tivemos que mereciam sentar do outro lado da sala e receber zeros consecutivos? Quantos padres e pastores não se comportam como demônio? Quantas mães não se comportam como predadoras? O sangue, os contratos, os títulos, os diplomas podem até simbolizar algo, mas nada substitui o que você verdadeiramente é. Nada mostra mais do que você sabe e do quão bom é capaz de ser do que a atitude que se tem nas situações de maior dificuldade. Por isso não vai ser a música que se tem no ipod a tornar-nos melhores ou piores. Pois Hitler adorava arte erudita.

Todo mundo malhava sertanejo, mas quando Maria Bethania cantou "É o amor" quantos inteligentes não cantaram junto? Malhavam Claudinho e Bochecha, mas quando Adriana Calcanhoto (Partimpim) cantou "Fico assim sem você", será que a letra se tornou mais inteligente? Acredito que não. Foram só pessoas que poderiam até se acharem melhor do que os gênios que as ouvem, mas mostraram que o verdadeiro artista percebe a beleza nas coisas mais simples da vida antes de retratá-la ou condená-la. Gostaria muito que houvesse uma exposição mais democraticamente abrangente dos produtos fonográficos em nosso país, mas penso que a internet acaba preenchendo um pouco dessa lacuna. Mas, no fim, preconceito é pior do que qualquer mau gosto, seja ele qual for.
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* Vale a pena ouvir o "Bailão do Ruivão" de Nando Reis e "Iê Iê Iê" de Arnaldo Antunes, álbuns que, de certa forma, concordam comigo.
**Gostaria muito que os carros com equipamentos sonoros de alta potência explodissem todos, especialmente na praia, porque ninguém é obrigado a ouvir o que não quer.
***Imagem: Google.