Ontem aconteceu comigo o que acontece a todos os que andam em ruas ou vielas totalmente soturnas e desprovidas das falsidades e doçuras de transeuntes normais dando o ar de sua graça a excessão de ladrões, estupradores ou outras personagens dessas, tão comuns ao nosso cotidiano repleto de caos e orgasmos: fui assaltado! Conto isto com este estilo fresco porque o evento em si teve requintes de cordialidade inglesa, um evento irônico à brasileira.
Quando chegava da faculdade às 23h30m, vi as duas figuras se aproximando lentamente, um levando o outro na bicicleta - típica formação de assalto. Quando percebi o perigo, olhei automaticamente para o bar que costuma estar aberto todos os dias. Fechado. Depois olhei para o outro bar que também costuma ficar sempre aberto. Fechado também. Depois só ouvi um convite muito cortês para que eu não me desse ao trabalho de correr e que desse de uma vez o celular que eu certamente teria em um dos bolsos. Eu entreguei com uma pitada de esperança de que ele só levaria aquele. Mas, pro meu azar, eles eram bons profissionais. O que fingia ter uma arma de verdade ficou mais afastado. Eu, fingindo que acreditava na arma real mas não querendo provar minha tese, também parado e completamente solícito às ordens de meus interlocutores.
Depois de ser devidamente baculejado, o cara que cumpre a missão de apalpar os outros levou meus dois celulares e minha carteira. Tudo aconteceu suavemente, sem gritos ou ameaças do tipo "não me encara não!", "se tu ligar pra polícia eu vou atrás da tua família e mato" como já ouvi em outros momentos do tipo. Tanto foi, que me dei ao luxo de pedir que encarecidamente levasse apenas o trocado que estava na carteira e me devolvesse a mesma. Pra minha surpresa, o cara não só pegou apenas o dinheiro, como arrumou meu vale digital e meus cartões num só lado - mais organizado que eu o cara - e voltou de onde estava e me entregou na mão a carteira. A impressão que eu tinha era que o cara ia me abraçar, beijar meu rosto e dizer "precisando é só chamar", tamanha a educação do rapaz.
Me deu vontade de dizer que trabalho exatamente com jovens e parte do meu estudo dedica-se a combater o extermínio de jovens como eles que, frutos de um processo de exclusão social acabam sendo não só os maiores promotores da violência como, principalmente, as principais vítimas. Poderia dizer que o que teria a oferecer a eles poderia ser muito mais interessante à medida em que o caminho em que estaão certamente ruma para:
Quando chegava da faculdade às 23h30m, vi as duas figuras se aproximando lentamente, um levando o outro na bicicleta - típica formação de assalto. Quando percebi o perigo, olhei automaticamente para o bar que costuma estar aberto todos os dias. Fechado. Depois olhei para o outro bar que também costuma ficar sempre aberto. Fechado também. Depois só ouvi um convite muito cortês para que eu não me desse ao trabalho de correr e que desse de uma vez o celular que eu certamente teria em um dos bolsos. Eu entreguei com uma pitada de esperança de que ele só levaria aquele. Mas, pro meu azar, eles eram bons profissionais. O que fingia ter uma arma de verdade ficou mais afastado. Eu, fingindo que acreditava na arma real mas não querendo provar minha tese, também parado e completamente solícito às ordens de meus interlocutores.
Depois de ser devidamente baculejado, o cara que cumpre a missão de apalpar os outros levou meus dois celulares e minha carteira. Tudo aconteceu suavemente, sem gritos ou ameaças do tipo "não me encara não!", "se tu ligar pra polícia eu vou atrás da tua família e mato" como já ouvi em outros momentos do tipo. Tanto foi, que me dei ao luxo de pedir que encarecidamente levasse apenas o trocado que estava na carteira e me devolvesse a mesma. Pra minha surpresa, o cara não só pegou apenas o dinheiro, como arrumou meu vale digital e meus cartões num só lado - mais organizado que eu o cara - e voltou de onde estava e me entregou na mão a carteira. A impressão que eu tinha era que o cara ia me abraçar, beijar meu rosto e dizer "precisando é só chamar", tamanha a educação do rapaz.
Me deu vontade de dizer que trabalho exatamente com jovens e parte do meu estudo dedica-se a combater o extermínio de jovens como eles que, frutos de um processo de exclusão social acabam sendo não só os maiores promotores da violência como, principalmente, as principais vítimas. Poderia dizer que o que teria a oferecer a eles poderia ser muito mais interessante à medida em que o caminho em que estaão certamente ruma para:
1- Um presídio repleto em sua maioria por jovens de sua faixa etária, sexo, cor e classe social
2- Para uma vala comum após serem exterminados ou pelo traficante para o qual certamente levariam o "apurado" da noite ou pela PM que certamente não estava fazendo ronda onde eu estava dando meus bens aos "donos" por estar muito ocupada recebendo a propina devida.
Não falei nada por motivos óbvios (tava me cagando de medo), mas posso dizer hoje tranquila e sinceramente que o fato não mudou minha fé que a juventude das periferias são mais do que isso, e que mesmo estes meninos podem ter um projeto de vida melhor do que comer grama pela raiz ou ver o sol nascer quadrado. Amém!
5 comentários:
Eraldo
Gostei de sua postura.
Passei por uma situação semelhante dia destes e felizmente o caso não passou de susto, pois o jovem não conseguiu concluir o furto.
Confesso, que no momento, cheguei a ter raiva e até escrever sobre isso. Mas depois, refletindo com mais calma, cheguei as mesmas conclusões que você.
É inútil culpá-los.
Cabe a nós, criar ou propiciar a estes indivíduos condições para livrarem-se desta vida.
Mostremos a eles uma luz no fim do túnel!
me sinto feliz por ter um cara com uma cabeça desse jeito bem pertiiinhu dii mim!
adorei o texto
kelly
Ô situação.
Eu teria um treco ali mesmo.
Que bom que você está bem =)
Beijo,
Nara
Eraldo:
Falta educação, falta esperança a esses jovens, falta perspectiva de vida, falta trabalho. Quem olhará por eles?
Beeeeeeijos
Nossa que coisa chata ser assaltado, você me parece uma pessoa do bem, depois de ser assaltada eu não estaria assim com esta cabeça fresca, embora eu perceba bem os problemas de nossa sociedade, ainda assim penso que o caminhar destes jovens também tem a ver com falta de carater e não só com falta de oportunidade. Posso estar errada, mas aberta as novas opiniões. Gostei da abordagem. Abraço.
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