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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A mão (d)e cada dedo

Meu grupo político e eu estávamos trabalhando com afinco esses últimos dias. Trabalhamos à moda antiga, mais por convicção política do que pelos dividendos que porventura isto pode ou não gerar. Quando a gente trabalha assim, dá ainda mais raiva quando as pessoas preferem votar em candidatos que compram votos ou que nitidamente concorrem apenas pelo dinheiro. Logo depois do processo eleitoral, ainda com sangue quente, me juntei a meus companheiros na reclamação geral contra os que tem vocação para acreditar mais em mentira do que na verdade. Mas depois, com mais calma, cheguei a conclusão de que não é correto ficar com raiva de quem acredita em outra coisa, ainda que essa outra coisa seja mentira, porque além de a idiotice fazer parte da democracia (queira ou não), lá na frente podemos precisar dessas pessoas, e não falo apenas do ponto de vista eleitoral.

Se tem uma verdade sobre a humanidade é que nós não sobrevivemos isoladamente. Nossa eficiência e nosso progresso só são alcançados quando aprendemos a utilizar o que o outro tem de melhor coordenado com o que também fazemos bem. Se eu como, é porque outro plantou, se eu compro é porque o outro vende, se eu trafico é porque o outro é viciado, se eu roubo é porque o outro tem, ou seja, vivemos numa grande teia de necessidades. Mas atualmente, mais que nunca, nossas pretensões são a antítese dessa necessidade básica. Na esteira do comportamento induzido pelo mercado, nós estamos cada vez mais valorizando o nosso eu, o nosso nós mais próximo, a nossa casa acima da rua, o nosso bairro acima do país, o nosso acima do deles. Nos comportamos como idiotas egoístas achando que isso é esperteza.

Se o mundo vive um colapso ecológico, se as cidades vivem um caos urbano, se a política é sinônimo de safadeza, tudo isso é fruto da pseudo-esperteza do ser humano. Esquecer a importância do outro em nossa vida e o peso negativo de nosso comportamento efêmero e imediatista é a verdadeira burrice dos espertos, pois tudo que fazemos contra o outro se volta contra nós de uma forma ou de outra, porque o tempo todo precisamos das outras pessoas, e chega uma hora que aquilo que fizemos de ruim pode voltar-se contra nós com a precisão newtoniana, por isso esperto é aquele que faz o bem, não importa a quem e nem quanto custa. Ter tolerância, ao contrário do que afirma nossa impaciência intrínseca e cosmopolita, é o verdadeiro investimento de vida.

Uma amiga minha costuma dizer que tudo é pedagógico. Concordo com ela. Tudo é pedagógico, e todo caminho que trilhamos é um eterno semear, mesmo na hora em que estamos colhendo. Valorizar nossa individualidade deve começar pela valorização da individualidade do outro, celebrar nossa inteligência é respeitar que o outro pense diferente. Viver, sobretudo viver bem, é saber conviver.

17 comentários:

Unknown disse...

Eraldo

Adorei o texto. Cidadania a funcionar.

«Se tem uma verdade sobre a humanidade é que nós não sobrevivemos isoladamente.»

Abraço,

António

Luna disse...

palmas pelo texto.

acabei de mandar como e-mail para toda a minha lista, e não costumo fazer isso.


parabéns pelo forma como explanou o assunto. senti respeito nas tuas palavras


Beijos!!!!

Luna disse...

ah, não se preocupe, eu creditei e pus o link, caso queiram saber de onde veio.

Priscilla Marfori... disse...

São poucas leituras que conseguem prender por completo meus pensamentos, me sentir assim lendo seu texto!
Belo blog e abraço.

Atitude: substantivo feminino. disse...

Eu não cho que tudo seja pedagógico pelo simples fato que estou rodeada de gente que não quer aprender.
A burrice é diferente da ignorância pois ela é uma escolha.
Nas eleições isso fica ainda mais claro.
Não há evolução.
Ninguém quer escolher para não ter que responder, no sentido de ser responsável. Aí vem a palhaçada.

Não sei como tens espírito para se envolver com política a esse ponto.
Vc é realmente evoluído.
Além é claro de excelente escritor.
Bjs!

Valéria lima disse...

Existe pessoas que não fazem questão de aprender ou viver em harmonia, como propõe seu texto. Um exemplo claro é a política, quando as pessoas tem chance de mudar na hora do voto fazem pouco caso, e eu, você e muitos outros pagam por isso.

BeijooO*

Luna Sanchez disse...

É como diz sabiamente o meu pai : "Não é por acaso que só alguns bichos têm asas!"

Rs

Beijos, queridão! =)

ℓυηα

Michele Pupo disse...

Pela primeira vez (será?) na história de nossa amizade (rs), tenho que concordar contigo!


Bjs

Airlon disse...

'Se tem uma verdade sobre a humanidade é que nós não sobrevivemos isoladamente...' há quem discorde disso, e eu talvez esteja nesse meio. Ou não! Saudações musicais!

APS

Alline disse...

Eraldo, esses pensamentos todos têm me rondado ultimamente. Eu vim aqui pra este mundo pra ser alguém melhor. E espero que de tudo eu possa tirar aquele grãozinho do aprendizado, aquele que vai fazer diferença.

Belo post!

Beeeeeeeeeeijo

Raquel de Carvalho disse...

kkkkkkkkkk
Adoreiiii e assino embaixo!

" Ter tolerância, ao contrário do que afirma nossa impaciência intrínseca e cosmopolita, é o verdadeiro investimento de vida."

Realmente minha impaciência é inimiga mortal da tolerância, mas elas são obrigadas a conviver bem!!!

Beijossss

Nini C . disse...

Ler teus textos me fazem lembrar de que sou uma desenformada de tudo. rs... Por isso gosto de vir aki... Beijos.

Vida F. disse...

Criei um blog para contar minha vida com as drogas, não tenho pretensão literária, apenas quero falar. Se te interessar me visite. Comecei ontem, não sei ao certo como funciona, com certeza deve ter erro de digitação, português, etc..rs. Aceito correçoes.
Estou tentando divulgar
Bem... ai esta minha vida

http://vidadeumaexd.blogspot.com/

Obrigada

Batom e poesias disse...

Respeitar convicções e asnices alheias é por certo uma ótima forma de evoluir, ou então de contrair uma gastrite...

Você é mais que um mosaico surpreendente. É um caleidoscópio de "eus"! Gosto cada dia mais.

O batom te beija
Rossana

Rafael Lopes disse...

Ótimo texto Eraldo. Um exemplo de cidadania: respeitar o que os outros pense.


Obrigado pela visita em meu blog.
Apareça mais vezes.

Abraços

Rosane Marega disse...

Adorei o texto!
Beijosssssss

Daniel Savio disse...

Interessante, mas o problema é até quando o mundo e "humanidade" vai aguentar que nós aprendamos individualmente?

Hua, kkk, ha, ha, momento revolta, por isto desculpa.

Fique com Deus, menino Eraldo.
Um abraço.