Por eu estar cursando jornalismo, muitas pessoas vendo a decisão no Supremo Tribunal Federal de acabar com a obrigatoriedade do diploma para exercera profissão de jornalista, no dia 17 de Junho de 2009, vieram preocupadas me questionar sobre o que eu achava disso. Minha resposta era quase sempre mais pra tranquilizar as pessoas, especialmente alguns colegas de curso, do que propriamente pra tentar persuadir.
Em primeiro lugar, antes de qualquer argumento, gostaria de lembrar que a obrigatoriedade do diploma foi mais um fruto da ditadura militar no Brasil, e talvez isto ajude a elucidar diante mão a minha posição a respeito. Longe de mim querer passar uma visão maniqueísta sobre o que quer que seja, mas como algo criado pela ditadura pode não ser visto como antidemocrática?
Argumentos a favor da obrigatoriedade giram em torno da possível "falta de respeito" à categoria, quase sempre fazendo analogias assim: "imagina se moda pega, agora qualquer pessoa vai poder ser médico, contador, físico, etc., sem precisar passar por uma universidade". Outra argumentação recorrente é de que o sindicado dos jornalistas saiu enfraquecido desse processo, devido a falta de controle sobre registros de profissionais, que agora podem ser até mesmo pessoa que só tem ensino médio, por exemplo, e isso poderia fazer com que a qualidade dos serviços prestados pelos jornalistas ficasse, por consequência, (mais) deficiente.
Primeiro em relação ao medo de que a profissão de jornalismo perca a qualidade em relação à decisão do supremo, gostaria de falar como estudante de jornalismo que qualquer ser humano gozando plenamente de suas faculdades mentais pode aprender as técnicas jornalísticas adotadas nas redações em menos de seis meses. Se uma pessoa for bom escritor, basta que esta passe uns dois meses em uma redação, ou em um curso qualquer para dominar a forma importada dos Estados Unidos de escrever/ fazer jornalismo que as "melhores" empresas do ramo adotam. Só para citar alguns exemplos, Lúcio Flávio Pinto, o jornalista mais respeitado do Pará é sociólogo, e Claudio Abramo, considerado por muitos o melhor jornalista do Brasil também não passou pela academia de jornalismo.
Nesse sentido, não dá pra comparar a profissão e jornalismo com a de um médico, por exemplo, porque médico passa cinco anos na faculdade, e ainda assim tem cada atrocidade vestindo branco por aí, sobretuo em hospitais públicos. Eu duvido que alguém que não seja super dotado possa aprender a ser biólogo ou físico sem passar pela academia (não falo de professor de biologia e física, desses que tem aos montes em cursinhos, pelo amor de Deus). Portanto, para a técnica de jornalista é facilmente aprendida na prática, diferente da técnica de um engenheiro, ou de um agrônomo, para não citar muitos, por isso a profissão, em tese, não perde em qualidade técnica com o fim da obrigatoriedade do diploma.
Isso torna a faculdade de jornalismo sem importância?
Não, em absoluto. A faculdade de jornalismo continuará sendo relevante no que tange à formação de profissionais de jornalismo, em relação a sua ética e sua visão de mundo (e também tecnicamente) especialmente se houver uma mudança radical na forma como são formados os profissionais hoje em dia. Atualmente, 80% dos jornalistas formados no Brasil saem das faculdades particulares, que tendem a ter uma formação cada vez mais tecnicista. Hora, se um estudante tiver que pagar R$ 600,00 para cursar uma faculdade e aprender o que poderia aprender em um curso técnico, então realmente a faculdade de jornalismo perderá o sentido. Agora, se a formação de jornalistas seguir o que faz a UNAMA, por exemplo, em Belém, a faculdade e jornalismo continuará sendo pra qualquer dono de jornal com mais de dois neurônios o espaço onde se buscará os/as novos/as profissionais. Se coloque como dono de jornal. Você buscaria novos jornalistas na academia ou em qualquer classificado? Você tem dois candidatos a uma vaga, um é formado em uma universidade reconhecida de jornalismo, outro é formado em engenharia sanitária. Quem você contrataria?
Qual o fundamento para isso, afinal?
Façamos um exercício rápido:
Alguém questiona a necessidade de diploma para ser escritor profissional? Alguém questiona a necessidade de diploma para ser pintora profissional? Alguém questiona a necessidade de diploma para ser cantor ou atriz profissional? Lógico que não. Mas não existem faculdades de tudo isso sem necessariamente as/os artistas reconhecidas/os terem passado por elas?
Citemos aqui um exemplo: Tom Zé passou pela faculdade de música, e nunca negou a importância que a formação acadêmica teve para sua formação. Gal Costa aprendeu a cantar "de ouvido". Alguém imagina em um debate, mesmo os de boteco, em que se afirme que Gal é melhor ou pior que Tom Zé por conta de um diploma?
Agora imagina se a moda pega de obrigar diploma universitário pra essas formas de expressão humana? O povo do curso de letras vai começar a exigir que só quem pode publicar livros sejam pessoas formadas em letras.
Sei que parece absurda essa comparação, mas a coisa é mesmo por aí. Afinal de contas, a constituição garante que todos e todas tenham liberdade de expressão. E mesmo que ela não afirmasse isso; qualquer pessoa de bom senso chegaria a conclusão que o direito de se expressar, seja numa matéria ou artisticamente, é universal, não restrito apenas aos bem aventurados que conseguiram passar pelo crivo dos vestibulares da vida.
Foi pensamento corporativista que fez com que muitas faculdades de jornalismo e o sindicato d e jornalistas quisessem a obrigatoriedade do diploma, porque assim o mercado abriria. Pensar em dinheiro a frente das pessoas, aliás é o motivo mais repugnante do mundo pra se exigir algo tão sensivelmente importante. Argumento mais sereno usou o jornalista Alberto Dines, dizendo que a simples "desproibição" sem um tipo de regulação acaba por favorecer muito mais o interesse das grandes empresas do que da liberdade de expressão universal. Mas, penso eu, que apesar do fim da lei de imprensa (abolida pelo mesmo STF em 30 de Abril desse ano), temos condições, através de uma outra lei, moderna e democrática, ou de mesmo através de uma emenda de lei, de conseguirmos chegar a um patamar de jornalismo sério, que favoreça a multiplicidade e a complexidade de um país tão plural (e desigual) como o Brasil.
Para finalizar, gostaria de dizer que este ano, após muita luta, a sociedade brasileira conseguiu conquistar o direito de discutir amplamente os rumos da comunicação tupiniquim. A conferência naiconal de comunicação será um espaço privilegiado para por em palta todas as possíveis lacunas que essas recentes decisões do Supremo deixaram. Assim como comecei apresentando a origem da obrigatoriedade do diploma. A lei de imprensa, extinta em Abril ,também foi criada pela ditadura, e acabou por pressão dos megaconglomerados de comunicação, como a Rede Globo, da mesma forma como o fim da obrigatoriedade do diploma passa pelo mesmo interesse. Afinal, penso serem justas ambas as decisões; resta agora saber se tanto a Conferência de Comunicação, como futuramente o próprio STF poderão aprovar alguma lei ou alguma interpretação da lei que garanta a livre expressão de todas e todos, de fato e de direito. Algo que, sem dúvida, será um baque contra a vós da elite que são os grandes meios de comunicação.
Em primeiro lugar, antes de qualquer argumento, gostaria de lembrar que a obrigatoriedade do diploma foi mais um fruto da ditadura militar no Brasil, e talvez isto ajude a elucidar diante mão a minha posição a respeito. Longe de mim querer passar uma visão maniqueísta sobre o que quer que seja, mas como algo criado pela ditadura pode não ser visto como antidemocrática?
Argumentos a favor da obrigatoriedade giram em torno da possível "falta de respeito" à categoria, quase sempre fazendo analogias assim: "imagina se moda pega, agora qualquer pessoa vai poder ser médico, contador, físico, etc., sem precisar passar por uma universidade". Outra argumentação recorrente é de que o sindicado dos jornalistas saiu enfraquecido desse processo, devido a falta de controle sobre registros de profissionais, que agora podem ser até mesmo pessoa que só tem ensino médio, por exemplo, e isso poderia fazer com que a qualidade dos serviços prestados pelos jornalistas ficasse, por consequência, (mais) deficiente.
Primeiro em relação ao medo de que a profissão de jornalismo perca a qualidade em relação à decisão do supremo, gostaria de falar como estudante de jornalismo que qualquer ser humano gozando plenamente de suas faculdades mentais pode aprender as técnicas jornalísticas adotadas nas redações em menos de seis meses. Se uma pessoa for bom escritor, basta que esta passe uns dois meses em uma redação, ou em um curso qualquer para dominar a forma importada dos Estados Unidos de escrever/ fazer jornalismo que as "melhores" empresas do ramo adotam. Só para citar alguns exemplos, Lúcio Flávio Pinto, o jornalista mais respeitado do Pará é sociólogo, e Claudio Abramo, considerado por muitos o melhor jornalista do Brasil também não passou pela academia de jornalismo.
Nesse sentido, não dá pra comparar a profissão e jornalismo com a de um médico, por exemplo, porque médico passa cinco anos na faculdade, e ainda assim tem cada atrocidade vestindo branco por aí, sobretuo em hospitais públicos. Eu duvido que alguém que não seja super dotado possa aprender a ser biólogo ou físico sem passar pela academia (não falo de professor de biologia e física, desses que tem aos montes em cursinhos, pelo amor de Deus). Portanto, para a técnica de jornalista é facilmente aprendida na prática, diferente da técnica de um engenheiro, ou de um agrônomo, para não citar muitos, por isso a profissão, em tese, não perde em qualidade técnica com o fim da obrigatoriedade do diploma.
Isso torna a faculdade de jornalismo sem importância?
Não, em absoluto. A faculdade de jornalismo continuará sendo relevante no que tange à formação de profissionais de jornalismo, em relação a sua ética e sua visão de mundo (e também tecnicamente) especialmente se houver uma mudança radical na forma como são formados os profissionais hoje em dia. Atualmente, 80% dos jornalistas formados no Brasil saem das faculdades particulares, que tendem a ter uma formação cada vez mais tecnicista. Hora, se um estudante tiver que pagar R$ 600,00 para cursar uma faculdade e aprender o que poderia aprender em um curso técnico, então realmente a faculdade de jornalismo perderá o sentido. Agora, se a formação de jornalistas seguir o que faz a UNAMA, por exemplo, em Belém, a faculdade e jornalismo continuará sendo pra qualquer dono de jornal com mais de dois neurônios o espaço onde se buscará os/as novos/as profissionais. Se coloque como dono de jornal. Você buscaria novos jornalistas na academia ou em qualquer classificado? Você tem dois candidatos a uma vaga, um é formado em uma universidade reconhecida de jornalismo, outro é formado em engenharia sanitária. Quem você contrataria?
Qual o fundamento para isso, afinal?
Façamos um exercício rápido:
Alguém questiona a necessidade de diploma para ser escritor profissional? Alguém questiona a necessidade de diploma para ser pintora profissional? Alguém questiona a necessidade de diploma para ser cantor ou atriz profissional? Lógico que não. Mas não existem faculdades de tudo isso sem necessariamente as/os artistas reconhecidas/os terem passado por elas?
Citemos aqui um exemplo: Tom Zé passou pela faculdade de música, e nunca negou a importância que a formação acadêmica teve para sua formação. Gal Costa aprendeu a cantar "de ouvido". Alguém imagina em um debate, mesmo os de boteco, em que se afirme que Gal é melhor ou pior que Tom Zé por conta de um diploma?
Agora imagina se a moda pega de obrigar diploma universitário pra essas formas de expressão humana? O povo do curso de letras vai começar a exigir que só quem pode publicar livros sejam pessoas formadas em letras.
Sei que parece absurda essa comparação, mas a coisa é mesmo por aí. Afinal de contas, a constituição garante que todos e todas tenham liberdade de expressão. E mesmo que ela não afirmasse isso; qualquer pessoa de bom senso chegaria a conclusão que o direito de se expressar, seja numa matéria ou artisticamente, é universal, não restrito apenas aos bem aventurados que conseguiram passar pelo crivo dos vestibulares da vida.
Foi pensamento corporativista que fez com que muitas faculdades de jornalismo e o sindicato d e jornalistas quisessem a obrigatoriedade do diploma, porque assim o mercado abriria. Pensar em dinheiro a frente das pessoas, aliás é o motivo mais repugnante do mundo pra se exigir algo tão sensivelmente importante. Argumento mais sereno usou o jornalista Alberto Dines, dizendo que a simples "desproibição" sem um tipo de regulação acaba por favorecer muito mais o interesse das grandes empresas do que da liberdade de expressão universal. Mas, penso eu, que apesar do fim da lei de imprensa (abolida pelo mesmo STF em 30 de Abril desse ano), temos condições, através de uma outra lei, moderna e democrática, ou de mesmo através de uma emenda de lei, de conseguirmos chegar a um patamar de jornalismo sério, que favoreça a multiplicidade e a complexidade de um país tão plural (e desigual) como o Brasil.
Para finalizar, gostaria de dizer que este ano, após muita luta, a sociedade brasileira conseguiu conquistar o direito de discutir amplamente os rumos da comunicação tupiniquim. A conferência naiconal de comunicação será um espaço privilegiado para por em palta todas as possíveis lacunas que essas recentes decisões do Supremo deixaram. Assim como comecei apresentando a origem da obrigatoriedade do diploma. A lei de imprensa, extinta em Abril ,também foi criada pela ditadura, e acabou por pressão dos megaconglomerados de comunicação, como a Rede Globo, da mesma forma como o fim da obrigatoriedade do diploma passa pelo mesmo interesse. Afinal, penso serem justas ambas as decisões; resta agora saber se tanto a Conferência de Comunicação, como futuramente o próprio STF poderão aprovar alguma lei ou alguma interpretação da lei que garanta a livre expressão de todas e todos, de fato e de direito. Algo que, sem dúvida, será um baque contra a vós da elite que são os grandes meios de comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário