Semana passada, mais precisamente na terça dia 24, eu fui cobri a maior tragédia que já presenciei. Nove pessoas morreram em um acidente horrível numa estrada que liga a Grande Belém ao interior. Tive meia hora pra traduzir o que vivenciei por mais de uma hora, num local recheado de dor, morte, e ao mesmo tempo de solidariedade e de gente viva, na tradução mais intensa que possa existir. Até agora, nesses quatro meses de jornalismo, foi o texto que eu mais gostei de ter escrito (Acidente mata 9 e fere 14 na Alça Viária.)
No dia seguinte eu fui enviado pelo jornal até a cidade das vítimas. Fui com o fotógrafo Sidney, mais experiente e muito bom profissional, e o motorista Gerson, que conhecia muito bem a cidade e foi um apoio e tanto. De lá escrevi a repercussão da tragédia na cidade (Tragédia comove milhares em Tailândia) e o velório e enterro de algumas das pessoas que havia visto mortas (Adeus às vítimas da Alça Viária). Também dei dois furos importantíssimos, nessa última matéria: o fato de que um dos motoristas, o que não teve culpa, sobreviveu quando todos achavam que ele tinha morrido, e o motorista do micro-ônibus, o irresponsável, que, além de ser acusado de ter provocado as mortes, ainda é sargento dos bombeiros.
O resultado veio em uma carta que um leitor enviou ao jornal, parabenizando as matérias. No primeiro momento, achei que seria muita presunção ficar falando disso. Por outro lado, a carta foi publicada no jornal em que trabalho, no último domingo. Portanto, não fui eu quem a divulguei, e seria muito esnobe de minha parte achar que isso não é bom o suficiente que não mereça ser comemorado. Por isso, partilho com vocês a carta que ele enviou. Quem quiser ver as fotos e a edição como ela foi feita, pode procurar matérias no caderno de Polícia nos dias 25 e 26/04 e no caderno de Cidades no dia 27/04 (cuja foto de capa, é uma das fotos mais impressionantes que já vi publicada nos últimos tempos, na mesma que exibo aqui) na edição eletrônica disponibilizada no canto superior direito no site do jornal.
| Publicação da carta |
UMA VERDADEIRA AULA DE JORNALISMO
Carta ao leitor publicada no último domingo (29) e escrita pelo professor Marcelo Andrade.
Acompanhei, com grande atenção, a excelente cobertura que o DIÁRIO deu ao acidente na Alça Viária, em que morreram 9 pessoas de Tailândia. Quem leu as páginas e páginas dedicadas à tragédia certamente teve a impressão de estar lá, ao vivo, conferindo o que os jornalistas tão bem traduziram em textos e imagens.
E o que mais me impressionou foi o fato do motorista da carreta ter escapado com vida, sendo a que cabine do veículo foi destruída, esmagada. E as palavras dele disseram tudo: "Só pode ter sido coisa de Deus". Por outro lado, impossível não se comover com a dor das famílias que perderam seus entes queridos. Também me emocionei com a história daquele senhor que perdeu a esposa no acidente e sobreviveu, em meio àquele pesadelo.Disse ele que só lembra do choque, da batida e dos gritos de dor e horror à colisão. E lá pelas tantas os vários corpos, já sem vida, que ainda caíram por cima dele.
Certamente imagens que ele jamais vai esquecer. Assim é a vida: uns morrem, outros escapam, outros nascem de novo. E o que fica é a lembrança, a saudade, o afeto. E é nessas horas que a gente se questiona: Por que o destino parece tão injusto para alguns, que partem de forma tão violenta?
Na verdade, por mais que saibamos que vamos partir um dia, não estamos preparados para isso. E toda essa reflexão me veio a cada dia, a cada página, a cada palavra que li no DIÁRIO sobre a tragédia.
Confesso que não sou muito de ler as notícias policiais, mas o material foi tão bem produzido, escrito e editado que acompanhei a sequencia do trabalho e não me arrependi. Trata-se de um verdadeiro testemunho de momentos difíceis e superação a partir de um trabalho bem feito.
Como já disse, não sou muito de acompanhar o caderno com as notícias policiais, entretanto, já guardei em uma pasta as páginas sobre esse acidente e seu desdobramento. Um trabalho tão bem cuidado merece ser cuidado e novamente lido de tempos em tempos. Parabéns.

