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domingo, 5 de junho de 2011

O Canalha - Caça 6

Dias de cão. Naquela empresa ninguém ia trabalhar e sim ter audiências diárias com Deus. O chefe fazia questão de deixar claro a todos os funcionários que aquele salário pago um pouco acima da média do mercado deveria ter como contrapartida toda devoção a ser expressa incondicionalmente durante as 08h de expediente ao onipotente e onisciente chefão. Só o chefe tinha razão. Só o chefe era o bom. Só o chefe tinha cultura. Só o chefe tinha uma vida feliz. Na verdade, só o chefe recebia o ódio unânime de todos, mas o medo de perder o emprego era tanto, que nem nas mesas de bar ou nas rodas de conversa durante o almoço esse ódio era conversado abertamente entre os "colaboradores".

Dia desses, enquanto o Canalha refazia um texto considerado ótimo por todos, menos pelo chefe Todo-Poderoso, uma mulher sentou ao lado dele. Era linda, vestia-se como uma lady, mas seu olhar revelava uma plebeia aprisionada num castelo. "Ela não parece combinar com essa casca que veste, mas é uma casca linda", chegou a pensar o nosso protagonista enquanto se concentrava. "Como 'Deus' escreveria essa merda?", já raciocinava. Estavam só os dois na sala. Os demais já haviam feito a vontade sagrada e se retirado dos pés do altar. Quando o Canalha procurava relaxar daquela tenção logo a figura da dona chamava a atenção. Ela parecia esperar uma oração presencial com o divino.

"Você está muito ocupado?", puxou assunto a loira com um sorriso de batom vermelho. Ele estava. Muito. Mas quis ser simpático. Conversaram sobre vários assuntos enquanto ele tentava adiantar alguma coisa. Mas a conversa emplacou quando trataram sobre o gosto comum por vinis. O rapaz descobriu que ela tinha vários compactos raros, muitos dos quais eram desejados por ele.

Depois de um tempo de conversa inteligente e divertida um silêncio momentâneo se apropriou do ambiente. Aquele silêncio que demarca o fim da primeira etapa da conversa, quando as pessoas simplesmente percebem no outro algo interessante, e dá lugar à perguntas sobre a vida (na verdade essa é a hora de saber como está o terreno da caça, se livre ou com obstáculos).

"Eu sou Mariana Avelar", revelou a moça ao responder a pergunta do Canalha. Um frio subiu pela espinha dele como um foguete de São João. Era o mesmo sobrenome do chefe. "Você é filh..." já ia perguntar quando foi interrompido por ela: "Sou a esposa dele". O terreno estava mais do que obstruído, o caminho estava minado. Ela era linda, o chefe uma pessoa idosa, digamos, fora dos padrões de estética vigente para coroas bonitões. A lógica do Canalha, então, processou automaticamente: mulher linda+ velho feio, chato e rico = casamento por interesse. A conversa terminou com um sorriso insosso dele para ela. O texto ficara pronto. Foi aprovado. Quando saiu do santuário de Deus, ela se despediu dizendo que outro dia emprestaria um daqueles compactos a ele. 

Naquele mesmo dia, em casa, o Canalha já estava maldizendo-se por ter um emprego tão escroto quando a campainha tocou. Meio atordoado, o Canalha abriu a porta para a esposa de Deus. Nas mãos, ela trazia alguns compactos. "Você não precisava se preocupar em trazer hoje", tentou falar sem tremer o Canalha. "Ah, isso? Nem sei quais compactos são esses", respondeu. "Como assim?", se espantou o garoto. "No início até tentei lembrar quais você havia mencionado. Como não consegui, peguei qualquer um, afinal eles são só um pretexto mesmo", provocou.

Ela fechou a porta com as próprias costas. Fitando-o. Não havia porque se segurar. Nada foi comentado, mas estava claro que, pelo nervosismo dela, não teriam muito tempo ali. O Canalha a pegou pelos braços, imprensou-a contra a porta, e quanto mais ele a espremia, mais ela parecia puxá-lo, numa sucção de libido voraz e arrebatadora. Ela mesmo levantou a saia, arredou a calcinha e se fez penetrar. Ela expirava fazendo um suave "sss" a cada subida dele, a perfeição dos seios dela eram quase sagrados na boca erética dele.

Então, sem medo de pecar, o Canalha profanou o sofá da sala de estar a pondo de quatro para concluir ali a celebração. Quando estava para gozar ela começou a gemer. Um gemido baixo, mas lindo, avisando a ele que o céu estava próximo. "Eu vou chegar dentro de você", avisou ele. "Vem! Vem!", suplicou em resposta aquela mulher que naquele momento ganhou sabor de esposa do chefe e ele recheio de empregado do marido quando a penetrou o máximo ao cumprir o prometido.

...

No dia seguinte o Canalha foi trabalhar normalmente. Mas quem tinha semblante de Deus com os chifres passou a parecer um simples diabinho. A cada bronca, a cada ordem, a cada leseira do chefe, o Canalha continha como podia a vontade de rir. Muitos vinis ainda foram entregues depois daquela noite. Muitas promoções vieram também. O Canalha passou a ser referência de empenho e inteligência emocional na empresa. Depois que o Canalha saiu dali pra abrir negócio próprio os vinis perderam um pouco da graça.

10 comentários:

Ale disse...

Duvido o lugar que não tenha um canalha, e muitos vinis,

Uma semana linda,

Bj

Rossana disse...

Muitoooo bommmm Eraldo!!!Adorei!
Boa semana!Bj =)

byTONHO disse...



Tenho alguns VINIS,
mas não sou K'nalha com eles!

♫ Si a Nalha não quizé i eu vo só...♪

:o)

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Belíssimo! No fundo todos nós temos um pouco de canalhice qdo a volúpia e o tesão se apossam de nossa alma ... #FATO

2edoissao5 disse...

hummm
as vezes precisamos de subterfugios para pecar! rsrsrsrs

Alline disse...

Esse Canalha, apesar de canalha, me diverte como poucos!

Beijo, Eraldo!

Antônio LaCarne disse...

o tal canalha em si me arrancou boas risadas. gostei muito do seu texto. percebi um certo humor que é contido, e ao finalizar a leitura do texto percebi que estamos aí, diante da vida, aturando ou sendo um canalha. rs

abração.

Diário Virtual disse...

"libido voraz e arrebatadora"

u te re rê!!!

adorei, como sempre.

;)

Sil disse...

Obrigada pela visita... e pelo apoio!...

Um beijo!

Eraldo Paulino disse...

O Canalha me disse que está muito feliz com os comentários de vós!

Abraços e beijos!