Ela tinha um namorado. Ele não. Ela orava todas as vezes que
namorava, no pátio de casa; uma oração inicial, uma oração final, alguns beijos
insossos no meio disso, muita conversa, e o medo de pecarem demais temperava
aquela relação de dar orgulho à toda família. Ele, digamos, não namorava assim.
Ela sempre orava antes de dormir. Ele lia qualquer coisa de Galeano na maioria
das noites, pois se lendo-o acordado já sonhava alto, nos sonhos teriam um
potencial de grandeza e maravilhas ainda maiores dessa, acreditava. Ela era
famosa por ser virgem, a única da turma (segundo ela mesma). Ele já tinha
comido quase todas as outras.
Ela via nele a criatura mais agradável do mundo profano,
pois apesar de todo aquele jeito extravagante era muito simpático. Ele a via
como a mensagem mais legal do reino dos céus, pois apesar de ser da igreja, não
mantinha certas frescuras típicas. Ela respeitava a doidice dele e ele adorava
entender a (para ele) exótica caminhada dela.
Certa vez, sob os sinos do acaso, eles conversavam
despretensiosamente, entre alguns amigos em comum. A conversa foi vestindo-se
de uma estampa agradável. No meio do grupo, os dois passaram a protagonizar os
temas polêmicos, discordando um do outro, mas apesar disso, cada vez mais
interessados pelo que o outro dizia. Súbito, se viram a sós. Estavam na
faculdade. Por acaso todos/as os/as outros/as tiveram de sair, e eles estavam
no meio de um assunto muito interessante, por isso nenhum dos dois estava com
vontade de deixar o papo pra depois. A conversa fluía com tamanha naturalidade,
que diversas vezes entre um assunto e outro eles se perguntavam como em mais de
6 semestres aquela era a primeira vez que conversavam daquele jeito. Ela sem
achá-lo mais um a querer tirar a virgindade dela e ele vendo nela a amiga
inatingível, a beleza de uma mulher além do sexo.
- O que você está bebendo?
- Nem sei, só sei que tem álcool.
- Tá forte?
- Não, mas eu não vou te dar.
- Por quê?
- Ah, eu não quero que isso ganhe contornos de cena clichê
em que o menino danado dá bebida à menina inocente e linda pra tentar abrir as
pernas dela mais facilmente depois.
Os dois riram. A conversa continuou fluindo. Mas depois da
última cena, o tema passou a ser relacionamentos. Ela finalmente pôde ouvir
alguém coerente falando sobre relações efêmeras e ele teve a oportunidade de
ouvir ótimos argumentos interessantes em favor de relações duradouras. Ele vai
ao banheiro. Deixa o copo. O copo estava perto dela. Ela estava perto do copo.
A mão no copo. O coração pulsante. O copo estava perto da boca. Ela com aquela
excitação intelectual. A boca estava no copo. O peito arde. O gosto é bom. Ela
bebe mais. O peito arde. Ele volta. O copo entre eles.
Estavam num daqueles típicos lugares em que estudantes vão
fazer aquelas coisas "erradas" que (como todo mundo sabe) os
estudantes fazem, como fumar maconha e transar no campus. No caso em questão,
estavam perto de uma lagoa. O clima era ótimo, o vento era gostoso, e o papo
aproximava o casal mais e mais. Os outros estudantes foram saindo. Estava para
começar uma festa, até que naquele lugar levemente escuro e aconchegante
restaram poucas pessoas. Por um acaso, as/os remanescentes não podiam vê-los e
vice-versa, devido a um arbusto entre o casal e o resto.
Aquele sorriso dele, aqueles argumentos, aquele charme de
homem safado, aqueles ombros, tudo passou a cativar a moça que já pouco falava.
Ele começou a estranhar o silêncio dela. Ele, que nunca imaginou um dia poderia
ficar com aquela, pois além de ser a mais bela da turma ainda era toda
certinha, começou a temer por ela fosse dizer a qualquer momento "já vou
embora". Ele então passou a quase tagarelar. Ela, por sua vez, não podia
esperar mais e tomou mais um gole, agora na presença dele.
- Caraaaaaaalho...
- Eu tomei enquanto não estava.
Ela se deitou um pouco. Fitando-o. Ele não era o melhor
aluno da turma, não era o mais inteligente, não era o mais bonito, não era
quase porra nenhuma que prestasse para o mercado ou para a sociedade certinha,
mas poucos na faculdade ou no mundo (segundo ele mesmo) conseguiam fazer a
leitura do olhar feminino como ele. De repente, um filme começou a passar na
mente dele numa fração de segundos: O gole. A saia. O lugar. O isolamento. A
chance que ela provavelmente nunca se permitiu de imaginar fazer aquilo. O
deitar.
O olhar. O possível tapa. O possível beijo. Os lábios dela. Os lábios
dela. Oslábiosdela...
Ele foi. Ela inicialmente se voltou pra trás. Mas como o
tapa não veio, ele foi mais. Chegou perto dos lábios dela, e , percebendo que
ela já esperava o beijo, foi ele quem parou, a centímetros dos lábios dela, os
dele aguardavam a reação dela. Ela reagiu. Ele surpreendeu-se com a qualidade
do beijo. O amolecer dos lábios dela, a língua
invadindo a boca quase gritando pra ser chupada. Ela não pensava em
nada, só pirava. O corpo dela retorcendo-se e encaixando no dele. O beijo
demorado demorando. ficando cada vez melhor, a cada nova inclinação de cabeça,
a cada apertar de nuca. Algum tempo depois ele colocou as mãos sob a saia dela,
pegou na coxa e ela levou mão de dele até a vagina. Estava molhada. Muito
molhada. O coração dele disparou ainda mais, e o pênis dele ficou tão duro que
parecia não caber mais nas calças. O
beijo fluiu com a mesma harmonia do papo. Ele já chupava com certa voracidade
os seios, ao som dos gemidos mais maravilhosos do mundo quando ela arredou a calcinha. Ele colocou o
dedo. Depois mais um. Ele pôs o pau pra fora. Ela pegou. No início não soube o
que fazer, mas depois de algumas instruções passou a manejar como uma veterana.
Num momento de loucura, ele tentou perguntar se ela queria mesmo aquilo, e ela,
a pessoa mais inteligente dali, interrompeu perguntando se ele não ia fazer
logo aquilo direito.
Ele então tirou a calcinha. Ia com toda sede para chupar a
buceta dela quando ela segurou a cabeça dele. O olhar dela era quase um
implorar.
- É agora ou nunca. Sussurrou ela.
- Então vai ser agora.
Ele deveria ir devagar, afinal de contas tratava-se de uma
virgem. Mas não foi. Ela gemeu o mais alto que poderia gemer num local
público.Aquela dor passou a diluir-se na melhor sensação que já sentira na
vida. E Ele quase não sentiu dor, mesmo depois que as unhas dela provavelmente
já haviam arrancado todas as espinhas da costa dele. Ele já tinha transado duas
vezes naquele dia. Estava longe de gozar, permitindo que apesar de aquele ser o
momento mais sensual da vida dele, só gozasse depois de vê-la chegar ao orgasmo
duas vezes. A última vez eles chegaram juntos.
...
O que ele mais temia ao fim daquilo, era ouvir no outro dela
que estava arrependida. O que ela mais tinha medo era que ele não quisesse
mais, enjoasse dela após comê-la já no "primeiro encontro". Ela não
disse. Ele quis mais. Ele namorou sério pela primeira vez na vida. Ela NAMOROU
pela primeira vez na vida. O amor, para eles, passou a ser uma quimera. Sublime e safado, e eterno mesmo
depois do fim. Os pais dela o gostaram muito dele, pois, para eles, ela dizia
que estava conseguindo convertê-lo. Os
dois saíam muito para ir a vigílias. Os pais dele também gostaram muito
dela, e sempre topavam omitir certas bobagens aos sogros do filho, ao não
dizer, por exemplo, que a vigília a qual eles iam toda semana eram na verdade
no quarto dele.
PS: o que aconteceu com o namorado dela fica por conta da
imaginação de vocês!
19 comentários:
Muito bom o texto!
Me fez lembrar bons tempos!
Nuss, adorei o conto. Fiquei presa as tuas palavras..
xD
Que bom que "posso" dar um final a esta história, mas gostaria de saber a tua...ficarei pensando como será?
Qt a tua opinião q não concorda q a solução é ir embora do país, tb concordo, mas quem pensa assim, é o meu filho, ele tem 14 anos.Não eu.
Tenhas um ótimo feriado.
Grande abraço
Captou o momento sublime de dois jovens cheios de desejos.
BeijooO*
Deu até vontade (sacanagem boa sempre me dá vontade, aliás)...
Beijo, querido!
ℓυηα
hehehe parece q vc protagonizou este conto.
amei o texto...
Nossa, podemos dizer que voce me fez sentir hehe
É impresionante como duas pessoas tão diferentes fazem um ser singular.
beijos.
Bom.
Muito bom!
bj
Rossana
o namorado levou um pé, coitado.
gostei do conto, demais.
adoro a riqueza de detalhes.
Acho que ele rodou, não é?
Mas alguns encontros parecem que só o destino explica....
Fique com Deus, menino Eraldo.
Um abraço.
Poxa vida, adorei teu cantinho. Passei pra retribuir a visita... e adorei! :) muito bom.
Nossa, uau. Conseguiu me prender até o final...
não vou mais largar este canto aqui!
Uau!!!!
Sem folego aqui!
Adorei, adorei!!
meu caro amigo fantastico o conto
não me é supreza vc é otimo nisso
um forte abraço.
Nego nago
Oi Eraldo,
Quando olhei, pensei nossa tudo isso de texto..rs. Mas devo confessar que me prendeu de tal forma, não é átoa, você escreve com extrema qualidade.
Adorei o enderedo, as palavras, teu jeito límpido de escrever. Excelente!
Beijos meu
Me prendeu inteira. Gosto de histórias assim, bem contadas.
Delícia, Eraldo!
Beijo!!
Anônimo:
Obrigado anônimo. Espero que sejam lembranças boas. Bjs
Nini C:
Acontece sempre isso comigo no teu espaço. Bjs
Mariana:
No meu final o corno arruma outra que também o chifra. Então ele entra ao seminário rs. Bjs
Valéria:
Obrigado. Vindo de ti, qualquer elogio é uma honra. Bjs
Luna Sanches:
Então bora!
Kelly:
Quem dera que fosse eu rs. Bjs
Lury:
Obrigado, querida, pois, sexo verbal também faz meu estilo.
Meninadobatom:
Obrigado. Muito obrigado mesmo.Bjs
Luna:
Como diria Renato: "quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração".
Daniel: Rodou mesmo. rs. Abs
Nika:
Obrigado, querida. Volte sempre. Bjs
Dear: Obrigado, querida! Bjs
Rê:
Querendo ajuda... rs. Bjs
Nego:
Valeu!
Fátima:
Que bom que veio até aqui. É sempre bem vinda. rsrs Bjs
Aline:
Ainda bem que gostas. Bjs
Texto bom, né? De dar água na boca!
;)
beijo
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