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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Luta de Classes. Parte 2 de 3

Guto descia as escadas, degrau a degrau, com um nó na garganta e uma sensação de raiva misturada com vergonha. Lá em cima Yasmin observava a porta que dá acesso às escadarias balançar. Ensaiou várias vezes descer, mentir que a mãe não era tão chata assim, mas desistiu quando foi intimada a entrar pela velha.  No outro dia o rapaz não voltou. Ela perguntou por ele ao responsável pela impermeabilização da piscina, que não soube dizer para onde teria sido remanejado. Ele pensa nela na obra, num o mormaço sob uma sombra de concreto. É sempre bom lembrar, mas sempre dói. Ela pensa nele enquanto dirige com os vidros abertos para poupar gasolina. Lembranças estranhas de um momento estranho.

O tempo passa. Primeiro dias, depois semanas. Estudante de direito que era, Yasmin conseguiu acesso à Divisão de Atendimento ao Adolescente (DATA) para fazer uma pesquisa. Ele conseguiu outro emprego. Agora era barman dia sim dia não em uma choperia. De dia continuava fazendo cursinho. Numa noite dessas Yasmin apareceu lá. Junto com uns jovens, um homem mais velho e a mãe dela. Parecia celebração familiar. Ele pediu pra ir embora. Alegou estar se sentindo mal, mas o imediato dele pediu que pelo amor de deus aguentasse, que compraria até remédio, mas não havia como substituí-lo.

Para completar, logo depois disso "aquela bruxa", como ele a definiu, veio pedir um drinque especial para o sobrinho. Mas pediu que um garçom levasse só depois da meia noite. Ele completaria dezoito anos, seria o presente simbólico da maioridade. Ela até pareceu simpática. Não o reconheceu. Provavelmente ela falaria do mesmo modo com uma máquina de lavar do tipo que fica invisível quando desligada. A noite passou rápido. Antes que Guto notasse a família de Yasmin fora embora.

No dia seguinte ela acordou tarde. Não estava com ressaca, mas como só teria as últimas aulas a tarde, e estava em dia com as tarefas acadêmicas, resolveu ouvir música. Ele acordou cedo. Foi ao cursinho. Ela recebeu um telefonema. "Precisa vir aqui. Acabamos de saber que o Conselho Tutelar apreendeu muitos adolescentes numa boca de fumo com armas e muita droga", disse o contato dela na DATA. Ela se arrumou. Contrariada. E foi. Quase ao mesmo tempo o telefone de Guto tocou.

- Alô. É o senhor Augusto?

- É ele sim. Quem fala?

- Aqui é o cabo John da Polícia Militar. Acabamos de encontrar seu irmão, o menor conhecido como "Carlinhos" numa boca de fumo no meio de um bando de vagabundo no bairro da Cabanagem. Estamos levando ele pra DATA. É bom a mãe de vocês ou você mesmo se for de maior ir lá responder por ele.

- ...

A mãe é hipertensa e certamente passaria mal ao saber dessa notícia. O pai já se foi. Ele mesmo teria de ir à DATA.

Conclui semana que vem...

2 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

aguardemos o desfecho ... o q o Mestre dos Contos nos reserva eim???

Homem, Homossexual e Pai disse...

Belissimo conto, e as tres partes criaram cada umapor si, diferentes emoções! parabens