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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ladrão de super-mercado - Parte 2 de 2

Na postagem anterior, vimos que um sujeito mal vestido e com cara de pobre fora capturado pelos seguranças de um supermercado e estava sofrendo um lixamento moral quando tirou do bolso a carteira da OAB.

Aos olhos dos seguranças e do gerente, toda aquela certeza imagética e preconceituosa que rotula o perfil dos vagabundos foi gradativamente desbotando e dando o tom cinza das incertezas angustiantes. O rapaz levantou da cadeira como quem vira a amante de quatro. "Do que é que vocês estavam me chamando mesmo?", perguntou o rapaz. O gerente, acostumado a ser indagado naquele tom somente pelo chefe, tentou colocar aquela figura exótica no seu devido lugar. "Não me interessa o que você é, se é que é advogado mesmo. Você deve saber muito bem que roubo é roubo. Mesmo sendo um pacote de M & M, você roubou", reagiu o gerente.

O rapaz puxou um gravador de voz do bolso e disse que tudo o que foi dito até então fora gravado. Imediatamente um segurança, tentando garantir a próxima promoção provavelmente, reagiu dizendo que o furto dele é que tinha sido gravado pelo sistema de segurança. "Você tá fodido, seu ladrão", concluiu berrando o segurança, dando um pequeno banho de cuspe no rapaz que tranquilo, com uma soberba real, disse aos demais que aquilo era o que precisava ouvir mesmo. Nesse momento, o gerente aproveitou a deixa do segurança pra descontar nele toda a frustração daquele momento, com xingamentos e tapas na cara do funcionário que deveria ter quase o dobro do tamanho do chefe ali. Sem perder o pique da indignação, o gerente virou para o rapaz. "Olha só, nós temos tudo gravado, mas é bom pararmos logo por aqui. Pode ficar com esse negócio, come até ter dor de barriga e some", falou puxando o rapaz pelo braço em direção à porta.

"Eu só saio daqui depois que pagar", disse o rapaz, mas foi ignorado pelo gerente. Então, num rompante de fúria o rapaz agarrou o braço magro do gerente e empurrou contra a mesa. "Acho que você não tá me entendendo, então deixa eu explicar", gritou o rapaz, parecendo o almirante da tropa. "Tenho uma câmera escondida aqui na camisa. Lá fora, tem uma amiga minha que é jornalista captando e gravando todas as imagens desa conversa, agora olha a porra do preço do M & M no sistema, caralho". O Gerente, engolindo um enorme sapo, começou a procurar o preço. "Anda, caralho", ordenava o rapaz, e quem escutasse de fora, imaginaria que se tratava de mais um menino pobre do bairro levando uma lição e uns tapas pra deixar de ser vagabundo. Entretanto, quanto mais o gerente procurava e não achava o preço, mas ele suava. "Não está registrado no sistema, senhor", falou com voz fina o gerente.

"É claro que não, seu filho da puta", urrou o rapaz. "Assim como a dez anos atrás, eu peguei essa porra dessa embalagem aberta, de um produto que não vende aqui. Só que a dez anos, eu era um moleque da favela que foi humilhado, e mesmo eu dizendo que não havia roubado, fui torturado moralmente, mas hoje eu sou um advogado formado que veio se vingar", berrava o rapaz. "Naquele dia, tu não quis olhar a gravação, mas agora tu vai olhar. Olha aí a gravação daquele corredor as dez da manhã. O gerente viu e atestou. O próprio rapaz havia deixado lá a embalagem, sob algumas outras. 

Então, o gerente começou a implorar para que o advogado ali pedisse o que quisesse. A exposição da imagem dele, e pior, da imagem do supermercado na mídia seria o fim da carreira dele, a humilhação perante parentes, amigos e conhecidos, então ele se colocou de joelhos diante do rapaz e começou a implorar clemência. "Levanta, seu fodido do caralho, que nem os moleques que tu humilha aqui são tão fracos assim", disse o advogado empurrando-o contra a parede. "Agora vira de costas aí, encosta as mãos na parece e abre as pernas", esporrou o vingativo, que logo foi obedecido pelo gerente. Em seguida, ele pediu para que o segurança humilhado a pouco, o maior dos dois, com cerca de 2m de altura enfiasse o dedo médio no cu do gerente.

De início, o gerente tentou negociar, mas a pressão do advogado foi muita, e coube ao gerente continuar de perna aberta. O segurança, bastante constrangido, mas no fundo querendo rir, enfiou então o dedo no cu do gerente como quem procura o útero de alguém. O gerente se esguichou pra cima e soltou um gemido de desconforto. Depois, o advogado ordenou que o gerente não demitisse aquele vigia por pelo menos um ano, e que no dia seguinte, àquela mesma hora, procurasse no endereço dado o cartão de memória com a gravação, a qual teria certeza que se trataria da original.

O gerente, com muita desconfiança, mas sem muita escolha, teve de aceitar. No dia seguinte, no endereço marcado, estava lá o envelope com o cartão de memória. cinco dias adiante, quando finalmente criou coragem para ver, pra sua surpresa só havia um arquivo de power point com uma mensagem escrita ali: "A única parte verdadeira dessa história é que eu fui uma vítima sua a dez anos atrás". Restou ao gerente, portanto, dar o ano de estabilidade ao segurança, para que este não desconfiasse que tudo aquilo era bem pior do que parecia.

Não pararam de tentar roubar o supermercado depois daquele dia, mas depois de alguns dias o gerente percebeu que no cartão de memória havia uma sigla também de três letras: E C A. E após tomar no cu, o gerente começou a deixar que a justiça fosse aplicada como se deve naquele supermercado.

16 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Fantástico ... Fantástico mesmo ...

O Garoto do Blog. disse...

muito bom...pra você como é o nosso pais...sabe na minha cidade...uma pequena cidade no interior do maranhão...todos os empresario só olham a aparencia da pessoas sendo elas cliente ou funcionarios...o que eu acho muito triste...eu ja me acostumei a ser julgado o tempo todo pela minha aparencia...me julgam sem ao menos falar comigo...no meu trabalho, meu rendimento não cem por cento porque eu não posso ser eu mesmo...

Cara esse lugar aqui ta so o luxo...parabens viu mano....

Sinceramente: O GAroto do Blog.

Milene R. F. S. disse...

Muito bom Eraldo!Me fez rir muito aqui, e realmente como as pessoas em geral julgam os outros pela aparência né! Beijão.

Batom e poesias disse...

Um protesto sério contra o preconceito, escrito de forma absolutamente hilária.
Santa criatividade...

Rindo até agora do pobre do gerente.

beijinhos
Rossana

Luna Sanchez disse...

Que cena inusitada! Só podia ter vindo da tua cabeça, seu doido querido!

Um beijo.

CARLA STOPA disse...

Adorei o espaço...

CARLA STOPA disse...

Adorei o espaço...

byTONHO disse...



Ge..nte! re! re! re!

G...rente, rés, reles... chão!
Vingança alcançada!

Super Marcado o G...

SUPER... Paulino!


Polícia!
Para quem precisa de polícia...♪


:o)

Suzana Martins disse...

Saudade.s...

Beijos

Unknown disse...

Eraldo querido!! sempre presente e carinhoso com suas palavras, adoor tuas visitas e comentários em meu humilde espaço, obrigada viu!!! textos tão maravilhosos aqui, fico deslumbrada! parabéns sempre, super beijo!!

Henrique dias disse...

ERALDO, cara que blog legal, legal de verdade, várias figuras ai, Gand, chê, adorei.

obrigado pelo comentário.
show de bola ai os teus textos vou te dar uma linkada lá no?

Umguiadecomoviverbem.blogspot.com

para que possa tah te acompanhando.
abraço.
(...)

Henrique dias disse...

Cara, show de bola, que belo texto narrativo, história empogante, tanto é que te enviei 1 comentário e fui dá uma olhada, nos teus textos,. Li o primeiro ladrão de supermercado e quiz ler o seguundo parte 2 de 2.

Que legal, bicho muito bom.
Escreve mais desses, foi engraçado.

Não sei se foi de verdade, mas valeu a pena ler.
(...)

Mirian Oliveira disse...

realmente vc me surpreende...
pensei um zilhão de coisas e me surpreendeu... nunca imaginei nesse desfechefe... estais de parabéns.

Aguardo os próximos textos...
bjs

Valdeir Almeida disse...

Eraldo,

Obrigado pela visita e comentário que deixou no meu blog. Gostei do seu blog também. Seus textos são de qualidade.

Abraços.

Tânia Meneghelli disse...

Oi Eraldo!

O pior que é assim mesmo. O povo olha só a fachada, como se não existissem ladrões com uma bela estampa.

Sabe o que mais me estarrece? É que tem gente que se acha tão superior, mas não se dá conta de que no fim, todos são exatamente iguais: é saco preto pra todo mundo, sem exceção. Que não seja na hora do enterro (alguns cheios de pompa e circunstância), mas quando exumados todos viram um montinho que vai pra dentro do saco, é inevitável.

Bom, como sempre, seu texto me prendeu do começo ao fim.

Beijoca, querido! Saudade de você!

2edoissao5 disse...

fudeu com o gerente! rsrsrs