Ele entrou no supermercado com uma roupa aparentemente normal. Blusa de algodão, calça jeans, tênis. O problema é que era tudo gasto, desbotado, um tanto sujo. Assim que entrou o guarda começou a falar ao rádio, pedindo aos colegas da segurança que ficassem de olho. Ele aparentemente não percebeu e continuou a andar pela loja com um carrinho quase vazio, com apenas duas ou três garrafas de vinho barato. Chegando mais a frente, ele avistou uma embalagem de m&m. Parou perto, disfarçou, andou para um lado, para o outro e acabou pegando a embalagem e colocando no bolso. O fiscal do sistema de câmeras de segurança gravou tudo. O rapaz ainda andou pelo super-mercado por mais uns cinco minutos, abandonou o carrinho e foi saindo quando os seguranças o abordaram. Pediram para acompanhá-los. Ele, com a cara fingida de quem não estava entendendo nada acompanhou os seguranças que tinham o dobro do tamanho dele cada um.
Chegando a sala da gerência, o guarda o encostou de frente pra parede, revistou os bolsos e retirou o pacote de m&m. "Aonde você ia com isso?", pergunta o guarda. Ele não responde, e apesar de estar de costas, o guarda tem a sensação de que ele está rindo. "Seu vagabundo, filho da puta. Tu vai se queimar com chocolate?", debocha o guarda enquanto o força a sentar numa cadeira. Quando ele levanta a vista, se percebe rodeado por três guardas do tipo armário e um engravatado. Essa era a estratégia adotada pela loja pra coibir os pequenos furtos que quase sumiram depois que aquele engravatado (gerente) chegara ali 10 anos atrás.
Conforme o treinamento, o gerente começaria a tortura psicológica com ameaças, berros e humilhações. Em seguida, o gerente jogaria a nota com o valor do(s) produtos(s) na cara do infeliz e ordenaria que ele pagasse aquilo até o dia seguinte. Do contrário, a polícia o acharia onde fosse e só Deus sabe o que viria depois. O meliante então, com medo, contava o endereço correto e no outro dia ia pagar. Essa estratégia jamais falhou durante 10 anos, e afastava os ladrões sem gerar repercussões que pudessem fazer os granfinos que iam a loja se sentirem inseguros. para a loja, espetacularizar os crimes era sinal de prejuízo.
O gerente começou. Berrou ao ouvido dele que lugar de vagabundo era na cadeia. Em seguida, os seguranças, muito bem treinados, continuavam gritando e cuspindo toda sorte de ofensas e ameaças. Mas, inexplicavelmente, a reação do vagabundo ali era de calma. Nem semblante de ódio, nem de desespero. Nada. A face dele estava serena, como se ele fosse o patrão ali. Em meio aos gritos, ele tirou a carteira do bolso. "Ah, agora tu vai pagar, é seu fodido?", berrou um dos guardas, meio sem graça com a situação inusitada. Mas ele não puxou dinheiro nenhum, e sim uma carteirinha. Os gritos silenciaram. Os guardas não haviam treinado para aquilo. O gerente recolheu a carteirinha e ficou que nem um menino quando é pego se masturbando no banheiro pela mãe quando percebeu do que se tratava. Olhou o rosto do ladrão. Olhou a foto de novo. A carteirinha poderia ser falsa, mas também poderia ser verdadeira. O gerente então, sentindo gosto de merda na boca, mostrou a carteirinha aos seguranças, apontando para três letras em especial: O A B.
Conclui na próxima postagem...
13 comentários:
Já imaginei vários desfechos para esta história...
Bj :D
com certeza surgem vários desfechos nessa história. adoro as suas criações, eraldo. seus textos são ótimos de se ler.
abração.
Gosto de textos assim...Tão reais que tenho a sensação de que estou lá,no meio da tua história.
Beijo no coração.
Vim agradecer o carinho, lindinho.
Aguardando a parte 2.
bjs
Rossana
Passei por aqui e antes de ler adorei especialmente duas coisas: o Che Guevara e o logo da PJ!!
Hj em dia a vida me levou meio pra longe, mas fui PJoteira por longos anos, e creio que ainda sou, pq certas coisas não se arranca no coração.
E ainda ontem estive na Feira de Economia Solidária e advinha qual a primeira coisa q comprei? Um chaveiro do Che, com a foto dele e atrás escrito "um otro mundo es possible"
Abração!
Tá mas...Aaaaaaaaahhhhh...quando continuuuuuuuuaaaaaa???
Beijos.
Tanto escarcéu por um pacotinho de m&m. Será que essa carteirinha da OAB mudará a atitude dos gorilas engravatados?
BeijooO*
Quero a parte 2, Eraldo!!
:D
Vc é muito fofo!
Adorei seu comentário lá no blog..
Depois eu vejo como faço aquilo que me indicou tá..
Bjos
O bom de ler esse tipo de narrativa é que nós leitores, de uma forma ou de outra, nos trnsportamos para a realidade que está sendo descrita...
Muito bom o texto!
bjoxxxxxxxxxxx no coração
fiquei tão envaidecida com teu coment lá no post de aniversario do blog! rs
continua logo isso! rsrsr
adooooooorei o texto...
qnd escreves assim consegue me prender de um jeito q ñ sei explicar....
rsrsr
fico anciosa pela continuação...
se será algo lógico ou algo totalmente surpreendente...
saudades...
te cuida
bjs
Agradeço a todos os comentários. Vocês são gostosuras de pessoas!
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