... a única coisa que pode ser nova
é nenhuma regra ter.
É nunca fazer nada que o mestre mandar.
Sempre desobeder. Nunca reverenciar.
(Belchior)
O que nasceu primeiro, o pecado ou a lei? Não sei dizer. Mas o romance astral entre a obediência e a desobediência costuma parir as grandes e profundas mudanças da sociedade ao longo do tempo. Estou convencido de que, para o bem ou para o mal, jamais chegaríamos no ponto onde estamos não fosse a desobediência das regras postas. Acredito que a imoralidade de nossa alma nos faz transcender.A maior figura de nossa era foi, no mínimo, desobediente, graças à desobediência às regras impostas pelas autoridades religiosas e políticas do seu tempo, e por obediência ao que ele acreditava ser um bem maior. Jesus era transgressor. O Evangelho, a "Boa Nova", é uma aula de desobediência. E atire a primeira pedra quem nunca desobedeceu uma regra que lhe pareceu absurda.

Segundo o rabino Nilton Bonder, é nossa alma que nos leva a trair. Quando a menina foge de casa com o namorado; quando fumamos maconha dentro do quartel da PM; quando fazemos sexo dentro da casa paroquial; quando fazemos algo dito imoral, que só nos eleva, é nossa alma que nos está elevando a uma outra condição, que não esta, que não limitada, que não perecível.
A transcendência de nossa existência só é possível a partir da traição, da desobediência à regras que não criamos, e que, ainda que não admitamos, não aceitamos. Mais tarde, essa desobediência se torna regra, até que outro venha e desobedeça. E assim caminha a humanidade. Oprimindo através do corpo e as leis. Libertando atráves dos pecados da alma.Então, que saibamos cair nas tentações que nossa alma grite serem certas.