Na postagem anterior, vimos que um sujeito mal vestido e com cara de pobre fora capturado pelos seguranças de um supermercado e estava sofrendo um lixamento moral quando tirou do bolso a carteira da OAB.
Aos olhos dos seguranças e do gerente, toda aquela certeza imagética e preconceituosa que rotula o perfil dos vagabundos foi gradativamente desbotando e dando o tom cinza das incertezas angustiantes. O rapaz levantou da cadeira como quem vira a amante de quatro. "Do que é que vocês estavam me chamando mesmo?", perguntou o rapaz. O gerente, acostumado a ser indagado naquele tom somente pelo chefe, tentou colocar aquela figura exótica no seu devido lugar. "Não me interessa o que você é, se é que é advogado mesmo. Você deve saber muito bem que roubo é roubo. Mesmo sendo um pacote de M & M, você roubou", reagiu o gerente.
O rapaz puxou um gravador de voz do bolso e disse que tudo o que foi dito até então fora gravado. Imediatamente um segurança, tentando garantir a próxima promoção provavelmente, reagiu dizendo que o furto dele é que tinha sido gravado pelo sistema de segurança. "Você tá fodido, seu ladrão", concluiu berrando o segurança, dando um pequeno banho de cuspe no rapaz que tranquilo, com uma soberba real, disse aos demais que aquilo era o que precisava ouvir mesmo. Nesse momento, o gerente aproveitou a deixa do segurança pra descontar nele toda a frustração daquele momento, com xingamentos e tapas na cara do funcionário que deveria ter quase o dobro do tamanho do chefe ali. Sem perder o pique da indignação, o gerente virou para o rapaz. "Olha só, nós temos tudo gravado, mas é bom pararmos logo por aqui. Pode ficar com esse negócio, come até ter dor de barriga e some", falou puxando o rapaz pelo braço em direção à porta.

"Eu só saio daqui depois que pagar", disse o rapaz, mas foi ignorado pelo gerente. Então, num rompante de fúria o rapaz agarrou o braço magro do gerente e empurrou contra a mesa. "Acho que você não tá me entendendo, então deixa eu explicar", gritou o rapaz, parecendo o almirante da tropa. "Tenho uma câmera escondida aqui na camisa. Lá fora, tem uma amiga minha que é jornalista captando e gravando todas as imagens desa conversa, agora olha a porra do preço do M & M no sistema, caralho". O Gerente, engolindo um enorme sapo, começou a procurar o preço. "Anda, caralho", ordenava o rapaz, e quem escutasse de fora, imaginaria que se tratava de mais um menino pobre do bairro levando uma lição e uns tapas pra deixar de ser vagabundo. Entretanto, quanto mais o gerente procurava e não achava o preço, mas ele suava. "Não está registrado no sistema, senhor", falou com voz fina o gerente.
"É claro que não, seu filho da puta", urrou o rapaz. "Assim como a dez anos atrás, eu peguei essa porra dessa embalagem aberta, de um produto que não vende aqui. Só que a dez anos, eu era um moleque da favela que foi humilhado, e mesmo eu dizendo que não havia roubado, fui torturado moralmente, mas hoje eu sou um advogado formado que veio se vingar", berrava o rapaz. "Naquele dia, tu não quis olhar a gravação, mas agora tu vai olhar. Olha aí a gravação daquele corredor as dez da manhã. O gerente viu e atestou. O próprio rapaz havia deixado lá a embalagem, sob algumas outras.

Então, o gerente começou a implorar para que o advogado ali pedisse o que quisesse. A exposição da imagem dele, e pior, da imagem do supermercado na mídia seria o fim da carreira dele, a humilhação perante parentes, amigos e conhecidos, então ele se colocou de joelhos diante do rapaz e começou a implorar clemência. "Levanta, seu fodido do caralho, que nem os moleques que tu humilha aqui são tão fracos assim", disse o advogado empurrando-o contra a parede. "Agora vira de costas aí, encosta as mãos na parece e abre as pernas", esporrou o vingativo, que logo foi obedecido pelo gerente. Em seguida, ele pediu para que o segurança humilhado a pouco, o maior dos dois, com cerca de 2m de altura enfiasse o dedo médio no cu do gerente.
De início, o gerente tentou negociar, mas a pressão do advogado foi muita, e coube ao gerente continuar de perna aberta. O segurança, bastante constrangido, mas no fundo querendo rir, enfiou então o dedo no cu do gerente como quem procura o útero de alguém. O gerente se esguichou pra cima e soltou um gemido de desconforto. Depois, o advogado ordenou que o gerente não demitisse aquele vigia por pelo menos um ano, e que no dia seguinte, àquela mesma hora, procurasse no endereço dado o cartão de memória com a gravação, a qual teria certeza que se trataria da original.
O gerente, com muita desconfiança, mas sem muita escolha, teve de aceitar. No dia seguinte, no endereço marcado, estava lá o envelope com o cartão de memória. cinco dias adiante, quando finalmente criou coragem para ver, pra sua surpresa só havia um arquivo de power point com uma mensagem escrita ali: "A única parte verdadeira dessa história é que eu fui uma vítima sua a dez anos atrás". Restou ao gerente, portanto, dar o ano de estabilidade ao segurança, para que este não desconfiasse que tudo aquilo era bem pior do que parecia.
Não pararam de tentar roubar o supermercado depois daquele dia, mas depois de alguns dias o gerente percebeu que no cartão de memória havia uma sigla também de três letras: E C A. E após tomar no cu, o gerente começou a deixar que a justiça fosse aplicada como se deve naquele supermercado.